Dia 30 de janeiro é comemorado o Dia da
Saudade. A palavra saudade é utilizada em relação ao
sentimento de falta de algumas pessoas, objetos, lugares ou acontecimentos
vividos e segundo certas fontes, a expressão apareceu entre os portugueses que
vinham para o Brasil no período colonial e sofriam ao se lembrarem de sua
terra, sua casa e familiares que ficaram em Portugal.
Saudade tem sido
fonte de inspiração de escritores, compositores, poetas. Sentir saudade
é normal, mostra por exemplo sentimento, consideração, por quem morreu e tínhamos uma
importância afetiva; por alguém que está distante; nossa relação emocional com lugares, como
quando ficamos longe da terra onde nascemos e nos criamos ou de fatos,
como antigos encontros familiares,
quando muitos entes queridos estavam presentes, inclusive os que já morreram.
O que não deve haver é uma saudade obsessiva,
exagerada, como um luto interminável ou a infelicidade persistente por não
poder voltar mais a determinada ocasião ou lugar, pois certas coisas passam e
não tem mais volta, embora permaneçam vivas na lembrança, o que é
compreensível, desde que não de uma forma torturante. Pode-se lembrar com
ternura certos aspectos do passado, sem necessariamente ficar preso a ele.
Podemos também ter saudade de quem está distante,
em outro lugar; da cidade querida que pode-se
ver algum dia. Portanto, tendo saudade e a esperança ao mesmo tempo de que o
que nos motivou a saudade será ou poderá ser reencontrado. Quando há o
reencontro, ainda que por pouco tempo, aí se diz que se "matou a saudade".
Viver de nostalgia, como os que ficam sempre
querendo que a realidade retorne a um ponto que existiu no passado, com um
saudosismo inútil, uma apego extremado a algum tipo de sociedade que existiu,
mas que não é mais possível agora, não é algo bom e pode gerar conflitos
internos e até mesmo sociais, se um grupo teimar em querer fazer voltar o
tempo, tentando impor uma forma de viver antiga, de uma maneira irreal.
Podemos tomar como exemplo alguns que valorizam demais uma Belém de uma outra
época e que acham que era bem melhor naqueles tempos e que gostariam que se
voltasse àquela época. Seria possível fazer
Belém voltar exatamente ao que foi? E certas pessoas podem estar
valorizando somente certos aspectos que elas gostavam. Mas será que tais aspectos
eram prazerosos a todos? Será que estas pessoas que valorizam tais momentos não
estão deixando de considerar outros que tenham sido ruins?
Portanto, nada de mal em sentir saudade, mas sem
exageros, sem perder o senso de realidade. Sou tunante, tenho às vezes saudade
dos momentos que presenciei quando a Tuna foi campeã nacional por duas vezes.
Sei que o contexto era outro e creio que para a Tuna voltar a trilhar um
caminho de grandes glórias terá de batalhar muitíssimo. Não vivo daquele
passado, embora me alegre quando me lembro e gosto de ver fotos antigas que
mostram aquelas conquistas, assim como acho importante o clube lembrar os bons
momentos, mas desde que também procure ir construindo um novo tempo glorioso,
por mais difícil que possa ser, ainda que não se consiga ter exatamente a mesma
grandeza de outrora.
Também sou torcedor do Fluminense e gosto de
lembrar do inesquecível time dos anos 80. Hoje os tempos são diferentes e torço
sempre por novas conquistas. Tenho uma certa saudade de ver aqueles gols
memoráveis de jogadores tricolores daqueles tempos como os do saudoso Assis. Um
time como aquele para mim foi único na história tricolor e me marcou. Outros
torcedores tricolores podem ter como referência de maior grandeza outros times
de sucesso em outras décadas. Para mim a lembrança mais forte é a dos anos 80. Gosto de vez em quando me lembrar, porém não
me prendo na saudade daquela era de glórias, pois outras glórias vieram depois
e com certeza outras virão, pois se em alguns momentos o clube enfrenta
dificuldades sérias, tenho fé que passado um tempo conseguirá superá-las.
Fico pensando em alguns momentos como será a
saudade dos refugiados de guerras. Com certeza tem saudade de tempos em que
conseguiam viver em seus locais de origem e com suas famílias sem ficar temendo
bombardeios ou chacinas. Mas não tem evidentemente nenhuma saudade de ver suas
cidades e suas terras arrasadas. Agora eles buscam tempos melhores, mesmo que
em lugares desconhecidos, estranhos e passando dificuldades várias.
Viva o "Dia da Saudade". Que haja
saudades que nos toquem, sem
necessariamente nos dilacerar, nos lembrando que somos humanos, que temos
sentimentos, que nos importamos com quem fez diferença em nossas vidas, que
valorizamos certas coisas que são
significativas para nós e que podem ter nos deixado marcas positivas que nos
fizeram crescer e ser quem nós somos.
Para terminar, um poema:
Saudade
na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.
Que saudade...
Mario Quintana
na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.
Que saudade...
Mario Quintana
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Márcio José Matos Rodrigues - Professor de História e
Psicólogo