Neste dia primeiro de maio
comemora-se internacionalmente o Dia do Trabalhador. É uma data histórica em
que se deve relembrar grandes conquistas dos trabalhadores desde o século XIX e também para se
refletir sobre o trabalho na atualidade.
A segunda fase da Revolução
Industrial tinha começado na Inglaterra
na segunda metade do século XVIII e no decorrer do século XIX espalhava-se para
outros países da Europa, chegando até aos Estados Unidos e também ao Japão. Foi
nessa fase que os trabalhadores começaram na Inglaterra e depois na França a se
organizar contra a grande exploração das empresas industriais. O movimento
cartista na Inglaterra após anos de luta conseguiu algumas vitórias importantes
e os sindicatos começaram a ser formados. Mas a luta dos operários ingleses,
franceses, norte-americanos, entre outros, foi dura. Manifestações eram
reprimidas, com trabalhadores presos, espancados e até mesmo mortos no confronto
com policiais e seguranças dos capitalistas. Nos Estados Unidos até mesmo a
máfia se infiltrou nas questões trabalhistas do século XX.
Foi graças aos primeiros
movimentos, aos primeiros sindicatos e às primeiras lutas que direitos
começaram a ser conquistados em relação à jornada, aos salários, à questão do
trabalho infantil etc. Greves foram organizadas e partidos de orientação trabalhista
começaram a aparecer. Visando aumentar a produtividade e os lucros,os modelos
taylorista e fordista formaram métodos de controle do trabalho à custa da saúde
física e mental dos trabalhadores. Exemplos deste controle são mostrados em
filmes como: "A Classe Operária vai ao Paraíso" e "Tempos
Modernos".
No Brasil, no início do
século XX, os anarquistas passaram a liderar movimentos por direitos dos
trabalhadores e greves de diversas categorias aconteceram. Durante os anos 20,
30 e 40, os partidos europeus ligados às ideologias do fascismo e do nazismo
tiraram a liberdade sindical e passaram a ter um controle estatal severo sobre
os trabalhadores. Na URSS, nascida por meio de uma luta de soldados, camponeses
e operários, o Estado Stalinista passou a controlar com mãos de ferro a sociedade
e os trabalhadores foram submetidos a um modelo excessivamente centralizador e
autoritário. No Estado Novo de Vargas, que imitava certos aspectos do fascismo,
os sindicatos brasileiros foram dominados pelo governo e uma legislação
trabalhista foi criada.
Depois da Segunda Guerra
Mundial, as multinacionais europeias e principalmente dos Estados Unidos foram
se expandindo ainda mais pelos continentes. O Japão a partir dos anos 60 passou
a ser uma outra potência capitalista e suas empresas também se instalaram em
outros países. No Brasil as empresas de tais países se fizeram presentes e hoje
são responsáveis pela fabricação de muitos produtos. Elas representam o poder
do poderoso capital internacional.
Mais recentemente, temos uma
China de partido socialista que se desenvolve economicamente ao custo da exploração considerável de
seus trabalhadores industriais. O capitalismo estatal chinês está em competição com os Estados Unidos. E as ideias neoliberais que nas últimas três
décadas tem se disseminado pelo mundo pregam uma intervenção mínima do Estado
em relação à proteção dos direitos dos trabalhadores, o que está de acordo com
o grande capital.
As novas tecnologias, com a automação cada vez maior, tem tirado empregos e a fusão de
multinacionais tem provocado o aviltamento de salários e desemprego na busca
por mais lucros. Esta busca por mais
lucros muitas vezes tem piorado as relações nas empresas e causado um aumento
do desgaste físico e psicológico dos trabalhadores, o que no Brasil se agrava
com as intenções do governo federal de retirar direitos adquiridos dos
trabalhadores e de aumentar a terceirização, assim como há a desvalorização dos servidores públicos, que
tem visto seus salários perderem o poder aquisitivo diante de uma inflação que
pelos números oficiais se apresenta controlada, mas que na verdade atinge
desfavoravelmente o nível de vida da população, que tem que pagar impostos variados e enfrentar
também dificuldades decorrentes da situação nacional repleta de casos de
corrupção, com consequências negativas como o sucateamento da máquina estatal (hospitais
públicos com inúmeras dificuldades, rodovias problemáticas, sistema de
segurança fragilizado etc).
Assim, espera-se que, apesar
das diversas dificuldades que os trabalhadores atualmente enfrentam, novos tempos possam surgir. No entanto para
que a mudança aconteça é preciso que os setores populares se organizem em busca
de uma sociedade melhor, na qual os direitos dos trabalhadores sejam
assegurados, que encontrem mais prazer
no trabalho e a população possa ter uma qualidade de vida melhor.
A seguir um trecho das
autoras Rosângela Moraes e Rosa Acevedo Marin, autoras do artigo: O trabalho e
a automação no pólo industrial de Manaus: relatos de prazer-sofrimento de
operadores", do livro de 2007: "Atores sociais, trabalho e dinâmicas
territoriais" (organizadores Edna Castro, Thomas Hurtienne, Ligia Simonian
e Norbert Fenzl).
"O trabalho na
atualidade apresenta uma nova morfologia, incluindo múltiplas possibilidades.
Observa-se que a redução do emprego no padrão de acumulação fordista
corresponde à intensificação do trabalho, bem como a sua precarização. Quanto
mais se aprofunda a investigação do contexto de transformações do mundo de
trabalho, mais se percebe o agravamento das condições subjetivas de trabalho, o
que demanda políticas públicas que reduzam os riscos e promovam a saúde dos
trabalhadores".
E ainda:
"As novas configurações
do mundo do trabalho tem exigido cada vez mais tempo e energia dos
trabalhadores. O estudo da relação subjetiva com o trabalho mostra que, mesmo
nos outros espaços da vida, permanecem as preocupações relativas ao trabalho.
Assim, os elementos psíquicos e sociais da vida fora do tempo e local de
trabalho encontram-se eivados de referências a tal atividade, que se torna
central no plano psíquico e também nos planos social e econômico.
Cito também um trecho de
outra obra: "Qualidade de Vida no Trabalho", especificamente sobre um texto de Kátia Barbosa
Macedo e Ana Magnólia Mendes.
"Para Freud, o trabalho
é concebido como "estruturante psíquico", o que significa se
constituir como um caminho para a construção de pessoas livres e realizadas e
não aprisionadas em si mesmas. Conforme essa concepção, o trabalho, quando
realizado de forma adequada, pode gerar satisfação e prazer, pois representa
uma possibilidade de a pessoa se realizar e poder, através da sublimação,
administrar seus impulsos de agressividade e tensão".
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Márcio José Matos
Rodrigues-Psicólogo e Professor de História.
Figura: Google