sexta-feira, 22 de junho de 2018

O escritor brasileiro Machado de Assis








No dia 21 de junho de 1839 nascia o grande escritor Joaquim Maria Machado de Assis,  na cidade do Rio de Janeiro. É considerado por especialistas e leitores como um dos maiores escritores do Brasil. Foi poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Foi testemunha de eventos históricos de sua época como a Guerra do Paraguai, a Abolição da Escravidão e a Proclamação da República. Estudou em escola pública, mas sua formação na verdade foi autodidata. Nunca foi à universidade.Tinha uma grande ambição intelectual que  o acompanhou por toda a vida.


Seu pai, um pintor de paredes, Francisco José de Assis, era filho de escravos e sua mãe, a lavadeira Maria Leopoldina da Câmara Machado, era portuguesa, oriunda dos Açores. Os pais de Machado de Assis sabiam ler e escrever, fato que não era comum na sua época e classe social.


Procurou se fortalecer intelectualmente, lutando para subir socialmente e interessado pela boemia e pela corte.  Trabalhou em cargos públicos, foi funcionário  no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, destacou-se em jornais nos quais publicou primeiras poesias e crônicas. 


O conjunto de suas obras é constituído por  nove romances, duzentos contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. É considerado um dos grandes gênios da história da literatura e o  introdutor do Realismo no Brasil. Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade etc.


Quando Machado de Assis tinha 10 anos, a sua mãe morreu e o pai se casou com sua madrasta Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854. Quando o pai morreu foi ela que cuidou de Machado. Ele cedo teve interesse por livros. Frequentou aulas no prédio da escola em que sua madrasta fazia doces e tinha aulas à noite de Francês com um imigrante que era padeiro . 


Em 1855, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito, um humanista. Sua livraria era ponto de encontro onde se discutiam assuntos diversos.

 
Foi contratado, aos dezessete anos de idade, como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde trabalhou de 1856 a 1858, tendo sido protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias, que o incentivou a prosseguir em sua carreira literária. Tempos depois passou a colaborar com o Correio Mercantil, um jornal importante daquela época. Já frequentava então teatros e outros meios artísticos.


Na sua juventude já era conhecido entre as rodas intelectuais cariocas e foi convidado por Quintino Bocaiúva para trabalhar no Diário do Rio de Janeiro, onde foi repórter e jornalista de 1860 a 1867. Colaborou para o Jornal das Famílias, escrevendo seu nome ou por meio de pseudônimos. 


Fundou em 1865 a sociedade artístico-literária chamada de Arcádia Fluminense, promovendo saraus com leitura de suas poesias e aumentando o contato com poetas e escritores diversos. 


Machado escrevia crítica teatral e aprendeu a língua grega para entender melhor Platão, Sócrates e o teatro grego. 


Em 1867 foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial por Dom Pedro II. Esse condecorou  Machado de Assis em 1888 com um título de oficial da Ordem da Rosa.


Com José de Alencar, seu amigo, aprendeu noções de Inglês. Os dois autores recepcionaram na imprensa da Corte do Rio de Janeiro o poeta Castro Alves.


Apaixonou-se por Carolina Augusta Xavier de Novaes, irmã de seu amigo, o poeta português Faustino Xavier de Novaes. Eles se casaram  em 12 de novembro de 1869. Os dois viveram juntos por 35 anos, até a morte dela em 194 aos 70 anos. Machado dedicou a ela o último soneto que criou : "A Carolina".


Em 1902,  Machado foi nomeado diretor-geral de Contabilidade no Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas. 


Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de Mendonça e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira, fundaram  com apoio de Machado de Assis, em 1897, a Academia Brasileira de Letras. Machado foi eleito o primeiro presidente da Academia. Das 96 sessões que essa instituição realizou sob sua presidência, Machado faltou somente a duas. Hoje em dia a Academia possui uma sala chamada de Espaço Machado de Assis


Depois que a esposa morreu, Machado iniciou um processo depressivo tornando-se cada vez mais recluso. Antes de sua morte, em 1908, ele viu serem publicadas suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1906) e Relíquias da Casa Velha (1906).


Nas suas últimas semanas de vida ainda escreveu algumas cartas a amigos como Salvador Mendonça, José Veríssimo, Mário de Alencar, Joaquim Nabuco e Oliveira Lima.

 
Machado de Assis, morre em 29 de setembro de 1908, aos sessenta e nove anos de idade, em sua casa de Cosme Velho, cercado por amigos (Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correa, Rodrigo Otávio, Euclides da Cunha etc). 


Suas principais obras:

  • Desencanto, teatro, 1861
  • Queda que as mulheres têm pelos Tolos, teatro, 1861
  • Quase Ministro, teatro, 1864
  • Crisálidas, poesia, 1864
  • Os Deuses de Casaca, teatro, 1866
  • Contos Fluminenses, conto, 1870
  • Falenas, poesia, 1870
  • Ressurreição, romance, 1872
  • História da Meia Noite, conto, 1873
  • A Mão e a Luva, romance, 1874
  • Americanas, poesia, 1875
  • Helena, romance, 1876
  • Iaiá Garcia, romance, 1878
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance, 1881
  • Tu, Só Tu, Puro Amor, teatro, 1881
  • Papéis Avulsos, conto, 1882
  • O Alienista, conto, 1882
  • Histórias Sem Data, conto, 1884
  • Páginas Recolhidas, conto, 1889
  • Quincas Borba, romance, 1891
  • Várias Histórias, conto, 1896
  • Dom Casmurro, romance, 1899
  • Poesias Completas, 1901
  • Esaú e Jacó, romance, 1904
  • Relíquias da Casa Velha, conto, 1906
  • Memorial de Aires, romance, 1908

Citações:


A Carolina
 
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis



Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.  Memórias póstumas de Brás Cubas.

Machado de Assis.


Passado, presente e futuro devem coexistir harmonicamente na mente humana. Quando um deles é priorizado e os demais são totalmente esquecidos surge alguma espécie de desequilíbrio, ou, no mínimo, a hipótese de que algo não esta correto, não esta bem.


Viva cada dia de uma vez, não deixe de viver bem o hoje em prol de um futuro que pode nem chegar, se esta infeliz no presente, busque motivos para se contentar com o que tem nele, não viva sonhando com o que terá num tempo incerto que ainda nem chegou e, quiçá, nem chegará
.

Machado de Assis.




 Os dois horizontes

Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.



 Machado de Assis.

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Márcio José Matos Rodrigues

 Figura: Google.