terça-feira, 20 de agosto de 2024

O ator francês Alain Delon

 




Em 18 de agosto de 2024 faleceu Alain Delon. Era um ator e empresário franco-suiço de origem romani. Ficou muito conhecido em vários países pelo filme de suspense O Sol por Testemunha, no qual seu papel foi de Tom Ripley Tornou-se um dos atores mais destacados da Europa e considerado um símbolo sexual das décadas de 60 e 70 do século passado. Especialistas e artistas o descreveram como um "gigante da cultura francesa". Ele nasceu em Sceaux, França, em 8 de novembro de 1935.

 Os pais de Alain se divorciaram quando ele tinha quatro anos. Ele foi adotado por um casal, porém esse casal foi assassinado e Alain foi viver com sua mãe, que tinha um novo marido. Ele teve dois meio-irmãos e uma meia-irmã. Sua infância foi difícil, tendo sido expulso de várias escolas e parou de estudar aos 15 anos. Aos 17 anos ele serviu na Marinha francesa e lutou na Indochina. Foi viver em Paris em 1956. Trabalhou como porteiro, garçon e vendedor. Nessa época veio a ser a sua vizinha a futura cantora Dalida, com a qual, segundo ele, teve um caso amoroso e se tornaram depois grandes amigos.

Alain Delon chamou a atenção (por sua aparência), de pessoas que estavam no Festival de Cannes, quando ele foi lá em 1957 com um amigo. Uma dessas pessoas foi David O. Selznick, o qual ofereceu a Delon um contrato, porém ele tinha de aprender a falar Inglês. Por isso Alain foi a Paris para esse aprendizado. Nessa cidade conheceu o cineasta Yves Allégret que disse para ele começar sua carreira na França e assim Delon fez seu primeiro filme em 1957 com esse cineasta: Uma tal Condessa ( título original em francês: Quandlafemmes’em mele). Em outro filme, Christine, ele contracenou com a atriz Romy Schneider, por quem se apaixonou. Eles foram em 1959morar juntos e viveram um relacionamento por cinco anos. 

Em 1959 Alain teve seu primeiro grande papel em O Sol por Testemunha, cujo diretor era René Clément. O filme era baseado num livro da escritora Patrícia Highsmith.  No ano seguinte Alain trabalhou no filme Rocco e Seus Irmãos. O diretor era Luchino Visconti. O filme foi um dos mais apreciados pelo público na história do cinema. Com o mesmo diretor, com o qual estabeleceu uma amizade, fez o filme clássico O Leopardo, em 1963, filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Apesar de passar a ser conhecido como um símbolo sexual, Alain Delon queria ser reconhecido como um grande ator e não só por ser considerado belo. Atuou em 1962 no filme O Eclipse, dirigido por Michelangelo Antonioni. Alain trabalhou nos filmes La samourai (1967), O Círculo Vermelho (1970) e O Expresso para Bordeaux (1972), dirigidos por Jean-Pierre Melville. Com Valério Zurlini trabalhou em A primeira noite de tranquilidade (1972), Cidadão Klein (1976) e O Assassinato de Trotsky com Joseph Losely e em 1990 trabalhou em Nouvelle vague, com Jean-Luc Godard. Todos esses três considerados grandes cineastas.

Delon casou-se em 1964 com a atriz Nathalie Delon. O casal ficou junto até 1969, tendo um filho, o ator Anthony Delon. Após a separação, Alain teve um relacionamento longo com a atriz Mireile Darc. Na época desse relacionamento houve um fato considerado um escândalo: um guarda-costas do ator apareceu morto por um tiro. Houve suspeitas de que o ator e outras pessoas de destaque estavam envolvidos.

Delon e a cantora Dalida fizeram um dueto a convite dela, em 1973. Cantaram a canção Paroles, paroles, um grande sucesso na época. Em 1987, durante a exibição do videoclipe de uma canção que o ator interpretou (Commeau cinema), ele conheceu a modelo holandesa Rosalie Van Bremen. Eles, com diferença de 32 anos de idade, tiveram um relacionamento do qual nasceram dois filhos. E em 1997 Delon anunciou que não mais atuaria pois estava decepcionado com os rumos do cinema francês. O divórcio entre ele e Rosalie, em 2001, causou nele períodos de depressão e ele chegou a dizer que pensou em suicídio. A última atuação de Alain Delon foi em 2008, no filme Asterix nos Jogos Olímpicos, no qual fez o papel de Júlio César.

Em 2012 Alain Delon sofreu um AVC. Em março de 2022 disse publicamente que queria se submeter a um procedimento de suicídio assistido, que é legal na Suiça onde ele estava vivendo na época.  E então, em Douchy-Montcorbon, na França, em 18 de agosto de 2024, cercado de membros da família ele faleceu.

Há vários produtos com o nome de Alain Delon, como roupas, perfumes, óculos e cigarros. Ele recebeu a Palma de Ouro Honorária no Festival de Cinema de Cannes de 2019. No 45º Festival Internacional de Cinema de Berlim, ele ganhou o Urso de Ouro Honorário. Ele foi feito Cavaleiro (Cavaleiro) da Légion d’honneur em 21 de fevereiro de 1991. Ele foi promovido a Oficial (Oficial) em 2005. No décimo segundo álbum de estúdio de Madonna, a música BeatifulKiller é uma homenagem a Delon.

 

Citações de personalidades a respeito da morte de Alain Delon:


"Monsieur Klein ou Rocco, o Guepardo ou o Samurai, Alain Delon desempenhou papéis lendários e fez o mundo sonhar. Emprestando seu rosto inesquecível para virar nossas vidas de cabeça para baixo. Melancólico, popular, secreto, ele era mais que uma estrela: um monumento francês".

Emmanuel Macron


"As pessoas me pedem para colocar em palavras... mas a tristeza é intensa demais. Uno-me à dor de seus filhos, de seus entes queridos, de seus fãs... A bola acabou. Tancredi foi dançar com as estrelas. Para sempre tua, Angélica."

Claudia Cardinale

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+alan+delon


domingo, 11 de agosto de 2024

A "Caixa preta"

 

Gravador de dados




Gravador de voz da cabine


Existem em aviões, e, em tempos mais recentes em países europeus e nos Estados Unidos também nas locomotivas, um sistema de registro de voz e dados conhecido popularmente como caixa-preta. Quando um acidente aéreo acontece, a busca pela caixa-preta é prioridade após o resgate de possíveis sobreviventes. As caixas-pretas utilizam atualmente chips como meio de gravação, com proteção contra chamas e impactos, com uma maior capacidade de gravação. Elas não são muito grandes, pesando cerca de 4,5 kg e contêm quatro partes principais: Um chassi ou interface projetada para proteger o dispositivo e facilitar a gravação e reprodução; um farol localizador subaquático; a carcaça do núcleo ou "Unidade de memória de sobrevivência a choques" feita de aço inoxidável ou titânio; e dentro de tudo isso é onde ficam as gravações armazenadas em chips ou outros formatos.

Uma parte deste sistema, o "Gravador de Voz", ou CVR (de Cockpit Voice Recorder) grava o som ambiente das cabinas de comando e do sistema de áudio. Outra parte, o equipamento conhecido como "Gravador de Dados", ou FDR (de Flight Data Recorder), grava os dados de performance como velocidade, aceleração, altitude e ajustes de potência, entre tantos outros. São equipamentos distintos e independentes, mas ambos com uma inscrição eletrônica de tempo. Essa inscrição é muito importante para fazer a relação entre os eventos de voz e os eventos de performance. Os dois equipamentos tem as suas próprias fontes de energia elétrica.

Foi em 1939 que os engenheiros franceses François Hussenot e Paul Beaudoin, no Centro de ensaios em voo de Marignane, na França, fizeram as primeiras tentativas para produzir um gravador de dados de voo, que era basicamente um dispositivo fotográfico. Era em um longo filme fotográfico com oito metros de comprimento por 88 milímetros de largura que o registro era feito, com registro de imagem por um raio de luz desviado por um espelho que se inclinava conforme a magnitude dos dados de altitude, velocidade e outros. Em 1947 foi fundada por Hussenot e Beaudouin, em associação com Marcel Ramolfo a Sociedade Francesa de Instrumentos de Medição (Société Française d'Instruments de Mesure - SFIM) para comercializar seus projetos. A empresa destacou-se por fornecer gravadores de dados, utilizados não só em aviões, mas também em trens e outros veículos. Tempos depois o grupo Safran, da área aeropespacial, comprou a SFIM.

Durante a Segunda Guerra Mundial o aparelho para gravação de dados foi melhorado, havendo a utilização de fita de metal ou bobinas de alumínio, que resistiam mais às chamas. Não havia ainda a gravação de áudio a bordo.

Em 1953 o o cientista e engenheiro de aviação australiano David Warren tinha prestado auxílio nas investigações de várias quedas inexplicadas de aviões Comet. Ele começou  a desenvolver o projeto de um dispositivo de gravação de áudio da cabine do piloto e dos dados do voo. O protótipo que chamou de "Unidade de Memória de Voo" podia gravar quatro horas de conversas na cabine e registrava as leituras dos controles. O áudio era gravado em uma bobina de aço magnetizada. E em 1958, David Warren, cientista e engenheiro de aviação australiano, produziu um protótipo que chamou de "Unidade de Memória de Voo". Mas as autoridades de aviação não deram a atenção necessária e rejeitaram o dispositivo. Houve pilotos que não queriam porque achavam que seriam “espionados” e que não seria bom para suas carreiras. No Reino Unido Warren teve apoio de autoridades e fabricantes para desenvolver sua invenção. O equipamento a partir de 1960 ficou conhecido nos Estados Unidos, país que já iniciava os procedimentos para fosse obrigatório nos aviões comerciais.

Os equipamentos são normalmente colocados na cauda do avião e são feitos de materiais bastante resistentes. Estes materiais podem suportar uma alta aceleração, um grande impacto, altas temperaturas, pressão hidrostática em profundidades de até     6000 m e resistência também a baixas temperaturas, corrosão por água salgada e outros fluidos.

Em relação aos modernos FDRs, eles registram mais de 80 parâmetros, tais como tempo, pressão, altitude, velocidade do ar, aceleração vertical, orientação magnética, posição dos controles (manches), posição dos pedais do leme, posição dos estabilizadores horizontais, suprimento e vazão de combustível etc.

Há unidades de FDRs e CVRs que são auto-ejetáveis, com o uso de energia cinética do impacto para separarem-se da aeronave. No futuro, as conexões em tempo real com satélites de comunicação para transferir os dados, que já são usadas em certos tipos de sondas espaciais, poderão ser usadas também na aviação comercial.

A incorporação de FDRs e CVRs permitiu a melhoria da segurança nas viagens aéreas, com possibilidade de detectar falhas que anteriormente causavam acidentes graves cuja razão não era possível ou muito difícil de determinar. O nome “caixa-preta” veio do costume de pilotos estadunidenses nos anos 50 do século passado de apelidar os novos equipamentos que eram acrescentados aos aviões: another "black box" installed in our plane (outra “caixa preta” instalada em nosso avião). Os primeiros registradores de voz de cabina eram realmente pretos. Mas foi percebido que seria mais fácil achar um equipamento se ele pudesse ser achado com uma cor mais destacada. Atualmente os equipamentos são de cor laranja ou vermelho e se o avião ficar submerso há a emissão de um pulso sonoro até a profundidade de 4267 m.

Existem já aviões com sistemas mais modernos que enviam dados de posição e velocidade para satélites, com a utilização de pings, que são retransmitidos para centros de manutenção. Nestes casos os FDR's são equipados com sinal de GPS, com tecnologia ADS-B.

Os equipamentos de gravação de voz (CVR) possuem um botão de apagar, que possibilita que o conteúdo gravado seja apagado após um pouso normal.

 Sugestões para ver:

Como funciona a caixa-preta de um avião - Folha - UOL

 

https://www1.folha.uol.com.br/webstories/tec/2021/11/como-funciona-a-caixa-preta-do-aviao/

 

CAIXA PRETA de avião - O que tem dentro e COMO FUNCIONA?

https://www.youtube.com/watch?v=8xySEuIToRU

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


sábado, 3 de agosto de 2024

Anita Garibaldi: Heroína de Dois Mundos

 




Agosto é o mês do nascimento e de morte de Anita Garibaldi, que lutou junto  a Giuseppe Garibaldi na chamada Revolução Farroupilha, no sul do Brasil e na guerra pela unificação da Itália. É conhecida como "Heroína dos Dois Mundos".   Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva nasceu em Laguna, Santa Catarina, Brasil (na época Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves), em 30 de agosto de 1821. Seu pai era Bento Ribeiro da Silva e sua mãe era Maria Antônia de Jesus Antunes. Ela era a terceira de dez filhos ( seis meninas e quatro meninas). Seu pai era tropeiro, transportava gado por estradas do sul do Brasil. A mãe era descendente de açorianos.

A maior parte da infância de Anita foi no lugar chamado Morrinhos, perto de Laguna. Quando o pai morreu a família passou por sérias dificuldades financeiras. Nesse tempo o tio de Anita, irmão de seu pai, Antônio da Silva Ribeiro, republicano, que como tropeiro fazia visitas à Laguna, era defensor de que deveria haver uma revolução para acontecerem mudanças. Seu posicionamento político foi desaprovado por uma autoridade local que o perseguiu, tendo a casa de Antônio em Lages sido incendiada. Ele se fixou em Laguna e suas ideias influenciaram Anita.

A mãe de Anita, diante da falta de recursos, incentivou a filha a casar-se em 30 de agosto de 1835 com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar. Ela tinha só 14 anos e não gostou do casamento arranjado, tendo se queixado para seu tio. Ela não teve filhos com Manuel. Não demonstravam interesse um pelo outro.  Ele abandonou Anita e se alistou como soldado da Monarquia por volta do ano de 1837.

A Revolução Farroupilha tinha começado no Rio Grande do Sul em 1835 e em 1836 foi proclamada a República Riograndense. Em Laguna muitos habitantes eram simpáticos ao movimento farroupilha que tomou a vila em julho de 1839, após derrotar os navios da marinha imperial nas proximidades. Nessa invasão destacou-se o italiano Giuseppe Garibaldi, no comando do barco Seival.  Garibaldi estava no Brasil desde 1835 após fugir da Itália onde tinha sido condenado à morte por suas atividades revolucionárias. Nesse mesmo ano ele se juntou à Revolução Farroupilha. Em 29 de julho foi proclamada na câmara de Laguna a República Catarinense (também chamada de Juliana)

Anita conheceu Garibaldi quando ela tinha 18 anos e ele 32. Ele era o comandante das forças farroupilhas ligadas ao general rebelde David Canabarro que atacaram Laguna pelo mar.

Anita passa a seguir Garibaldi na sua luta, subindo em seu navio em 20 de outubro de 1839 para uma expedição militar. A expedição naval foi atacada em Imbituba por navios imperiais. Em 15 de novembro Anita participa da batalha naval de Laguna contra o oficial militar imperial Frederico Mariath. Nessa batalha ela se arriscou muito. Após outra batalha ela descansou no Natal de 1839 em Lages.

Anita foi aprisionada em 12 de janeiro de 1840, na ocasião da batalha de Curitibanos. Ela conseguiu enganar o comandante do exército imperial fingindo procurar o cadáver de Garibaldi e fugiu roubando um cavalo. Ela chegou no Rio Grande do Sul e encontrou-se com Garibaldi.

O primeiro filho de Anita e Garibaldi nasceu em setembro de 1840 na vila de Mostardas, no Rio Grande do Sul. Foi chamado de Menotti Garibaldi.  Ela novamente conseguiu fugir dias depois, quando a casa foi cercada por uma tropa imperial. Pegou um cavalo e partiu com o filho nos braços. Escondeu-se em um bosque onde depois Garibaldi foi encontrá-la.

Garibaldi pediu em 1841 ao comandante geral dos rebeldes farroupilhas, general Bento Gonçalves, a sua liberação do exército republicano. Então, Anita, Garibaldi e o filho deles partiram para o Uruguai, chegando em Montevidéu em junho de 1841. Foi nessa cidade que ela e Garibaldi se casaram em 1842. Ele foi indicado comandante da frota uruguaia que estava enfrentando a armada argentina.  Nasceram no Uruguai duas filhas de Anita e Garibaldi (Rosa e Teresa) e mais um filho (Ricciotti) . Rosa faleceu aos dois anos de idade por causa de uma infecção na garganta. Garibaldi em 1846 tentou enviar Anita e os filhos para a Itália, mas não conseguiu permissão do ministro dos negócios estrangeiros. Em 1847, Anita e os filhos, assim como familiares de outros combatentes italianos no Uruguai, conseguem embarcar para a Itália . Ao chegar lá, Anita foi com a mãe de Garibaldi para Nizza, cidade que na época era italiana (hoje em dia é francesa, com nome de Nice).

Anita e Garibaldi estavam em Roma quando em 9 de fevereiro de 1849 foi proclamada a República Romana. Mas os exércitos da França e do império austríaco invadiram Roma e o casal teve de deixar a cidade . As forças reduzidas de Garibaldi tiveram de deixar Roma. Perseguindo essas forças estavam tropas francesas, espanholas e napolitanas, totalizando quarenta mil contra 3900 de Garibaldi. Ao norte existia o exército austríaco com quinze mil soldados. Anita estava grávida do quinto filho e estava no meio de uma situação de guerra.

 Anita queria que o marido estivesse sem a obrigação de cuidar dela para que se dedicasse à guerra pela libertação da Itália. Ela quis chegar até onde a mãe de Garibaldi estava para ficar lá com seus filhos. Porém, quando Garibaldi e seu exército chegaram em San Marino as condições de saúde dela ficaram muito precárias. Ela estava com febre tifoide.

Garibaldi e Anita continuaram em sua fuga, eles não tinham como enfrentar forças numericamente tão superiores e se fossem presos ficariam muito tempo na cadeia, podendo até morrer. Anita, que estava com febre, grávida e com o exército austríaco se aproximando, foi levada a uma fazenda próxima à cidade de Ravena. Ela e seu filho não aguentaram e morreram a 4 de agosto de 1849, deixando Garibaldi em profunda tristeza. Ele não pôde acompanhar o sepultamento de Anita e teve de se exilar por dez anos. Os restos mortais de Anita foram exumados sete vezes. Atualmente o corpo está sepultado em Roma .

Dois municípios em Santa Catarina tem seus nomes em homenagem à Anita:  Anita Garibaldi e Anitápolis.  Anita é personagem da série A Casa das Sete Mulheres (2003), da Rede Globo; do filme Anita e Garibaldi (2013) e do filme Anita (2016). Em 1999, no Carnaval do Rio de Janeiro a escola de samba Viradouro fez uma homenagem à Anita Garibaldi no desfile com o enredo “Anita Garibaldi - a Heroína das Sete Magias”.

Os cidadãos de Laguna, em 1998,  acionaram a justiça para garantir o reconhecimento de que Anita Garibaldi nascera mesmo na cidade. Havia a dúvida por parte de pesquisadores de que ela tivesse nascido em Lages, também em Santa Catarina.

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Segundo Juliana Bezerra, professora de História e Mestre em História da América Latina e União Europeia:

“(...) Giuseppe Garibaldi veio para a América por conta do seu envolvimento com as lutas pela unificação da Itália e havia sido condenado à morte por conspiração pelo Reino da Sardenha (atual Itália).

Anita Garibaldi após uma temporada no Rio de Janeiro, se une às tropas de David Canabarro (1796-1867) e conquista Laguna, em 20 de julho de 1839. Seu barco havia naufragado e ele passava os dias a bordo observando a cidade com sua luneta. Súbito, deparou-se com uma jovem que lhe chamou a atenção pela beleza.

Em terra travou conhecimento com um local e este o convidou a sua casa. A primeira pessoa que lhe foi apresentada era a sobrinha, que por coincidência, era a jovem que havia visto do navio.

Anos mais tarde, ele recordaria com minúcia o primeiro encontro entre os dois:

“Um homem que tinha conhecido convidou-me a tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que me apareceu era Anita. A mãe dos meus filhos! A companheira da minha vida, nos bons e nos maus momentos! A mulher cuja coragem tantas vezes ambiciono! Ficamos ambos estáticos e silenciosos, olhando-nos reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'.

Junto a Garibaldi, Anita combateria as tropas imperiais. Recebeu seu batismo de fogo quando o barco foi atacado pela Marinha Imperial em 1839, onde utilizou a carabina para se defender.

Anita Garibaldi participaria da luta conduzindo colunas em marcha, organizando um hospital para cuidar dos feridos e combatendo também nas batalhas.

Quando os farrapos foram derrotados em Santa Catarina, o casal decidiu ir para o Uruguai, o único país da época que aceitava o divórcio e que havia reconhecido a República Rio-Grandense.

Conduzindo um rebanho de 900 reses, o Garibaldi e Anita se estabelecem em Montevidéu onde se casam em 1842 e tem mais três filhos. Eles viveriam na capital uruguaia de 1841 a 1848.

Garibaldi foi feito comandante da Marinha no Uruguai e chefiaria a Legião Italiana formada por compatriotas exilados. A marca desta tropa era o uso de camisas vermelhas e assim se tornariam conhecidos.

Giuseppe Garibaldi nunca havia esquecido a terra natal, nem as lutas que ali aconteciam. Por isso, envia a mulher e os três filhos para Nizza (atualmente Nice, na França) a fim de preparar sua chegada. Elege-se deputado em Roma em 1849 e se envolve novamente na luta pela unificação da península italiana.

Entretanto, Anita não aceita ficar em casa e vai ao encontro do marido para lutar ao seu lado contra os austríacos e franceses. Em 1849, as tropas de Garibaldi são derrotadas pelos franceses em Roma e Giuseppe e Anita, saem em retirada. Anita se recusa abandoná-lo e segue com ele, mesmo estando doente.

Anita Garibaldi morreu aos 28 anos, em 1849, grávida do quinto filho. Foi sepultada sete vezes, sendo que quatro por motivos políticos. Quanto a Garibaldi, seria vitorioso nas guerras da Unificação da Itália e considerado um dos seus fundadores.

Anita e Giuseppe Garibaldi tiveram quatro filhos e três chegaram à vida adulta. Os restos mortais de Anita Garibaldi descansam num monumento inaugurado em 1932 por Benito Mussolini, em Roma (...)”.

 

Sugestão para assistir:

Anita e Garibaldi-Trailer Oficial. YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=NiFE9ZEbL2o


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+anita+garibaldi#vhid=UpMcrIV2rw9lRM&vssid