sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A escritora ítalo-Brasileira Marina Colasanti

 



                                                       Marina Colasanti


Faleceu em 28 de janeiro de 2025 a escritora, contista, jornalista, tradutora e artista plástica ítalo-brasileira Marina Colasanti. Ela nasceu em 26 de setembro de 1937 em Asmara, na Eritreia, que fazia parte do império colonial italiano. Ela foi autora de mais de 70 obras para crianças e adultos.

Características presentes em obras da autoraintertextualidade; caráter mitológico; protagonismo feminino; questões do universo feminino; fatos do cotidiano; crítica social e de costumes; lirismo; elementos do conto de fadas; realismo fantástico; frases curtas; crítica ao individualismo.

Marina passou parte de sua infância em Trípoli, na Líbia, na época uma colônia italiana e depois na Itália. Seu pai, Manfredo Colasanti, era ator, assim como seu irmão, Arduíno Colasanti. Um de seus avôs era professor de uma escola de artes, crítico de arte e escritor e a tia-avó dela Gabriella Bezanzoni era cantora lírica. Em 1948 Marina e familiares mudaram-se para a cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Quando ela tinha 16 anos sua mãe morreu.

No período entre 1952 e 1956 Marina estudou pintura com Caterina Baratelli e em 1956 ela entra para a Escola Nacional de Belas Artes como professora de desenho. Essa formação de artista plástica é que deu a ela a possibilidade de ela mesma ilustrar futuras obras suas. Trabalhou como jornalista por 11 anos no Jornal do Brasil a partir de 1962. Foi nessa época redatora, repórter, editora, colunista e cronista. Escreveu para veículos de comunicação como as revistas SenhorFatos e FotosEle e ElaFair-playCláudia Joia. Após esse período ela trabalhou na editora Abril, na Revista Nova, na qual ficou por 18 anos. Também ia publicando livros e apresentou programas televisivos, assim como criou alguns roteiros para filmes e novelas. Foi também editora da seção Segundo Tempo do Jornal dos Sports.

A primeira obra de Marina foi Eu Sozinha, que escreveu em 1968. Depois passou a publicar mais livros, direcionados para o público infantil e também para os adultos. Foi tradutora de obras da língua italiana. Publicou ao todo mais de 70 livros (contos, poesias, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil. São obras variadas, que tem atraído leitores de diversas faizas etárias, com temas diversos como histórias de amor, o papel da mulher na sociedade, os relacionamentos interpessoais etc. Muitos livros dela foram traduzidos para outras línguas.

Ela ficou famosa por seus livros infantis e ganhou como escritora diversos prêmiosliterários, como o Jabuti em 1993, 1994, 1997, 2009, 2010, 2011 e, em 2014, venceu o prêmio na categoria Livro do Ano de Ficção.A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil deu a ela o prêmio O Melhor para o Jovem. Seu livro Passageira em trânsito recebeu o Prêmio Jabuti em 2010. Ganhou o 13º Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil, em 2017 e em 2023 passou a ser a primeira mulher vencedora do Prêmio Machado de Assis, dado pela Academia Brasileira de Letras, devido ao conjunto de suas obras. Foi indicada cinco vezes ao Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da Literatura Infantil mundial. Foi homenageada como Personalidade Literária de 2024, na última edição do Prêmio Jabuti.

Marina Colasanti se declarou feminista histórica e integrou o primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Escreveu quatro livros relacionados a temas ligados ao feminino no mundo. Foi casada com o escritor Affonso Romano de Sant’Anna desde 1971, que sofre de mal de Alzheimer. O casal teve duas filhas: Alessandra (atriz, roteirista e diretora) e Fabiana (que morreu em 2021). 

Museu da Pessoa entrevistou Marina em 2008. Uma das perguntas foi sobre suas lembranças a respeito do primeiro livro que havia lido em sua vida. Ela respondeu:

"Não tenho, porque eu não tenho lembrança de ausência de livro. Eu sou de uma cultura leitora. Um país... Mais do que um país, a Europa. A Europa é leitora, a Itália é um país leitor, então uma casa sem livro pra mim é inconcebível. Eu nunca ganhei um primeiro livro, os livros estavam ao meu redor sempre. Quando eu não sabia ler, a minha mãe lia pra mim. Então depois é que eu aprendi a ler. É um contínuo. Não tem um momento que o livro entra, o livro sempre esteve."

Marina faleceu aos 87 anos na cidade do Rio de Janeiro, de pneumonia. O corpo dela foi velado no Parque Lage, que serviu de casa para a sua família, quando chegou da Itália, em 1948. O engenheiro e empresário Henrique Lage ergueu a casa e era casado com a tia de Marina, a cantora lírica Gabriela Bezansoni. A relação de Marina com a casa e seus tios foi descrita na obra de 2021, Vozes de Batalha.

Obras de Marina Colasanti

  • Eu Sozinha (1968)
  • Nada de Manga (1975)
  • Zoológico (1975)
  • A Morada do Ser (1978)
  • Uma Ideia Toda Azul (1978)
  • Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (1978)
  • A Menina Arco-Íris (1984)
  • O Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina (1985)
  • E Por Falar em Amor (1985)
  • O Verde Brilha no Poço (1986)
  • Contos de Amor Rasgado (1986)
  • Um Amigo Para Sempre (1988)
  • Aqui Entre Nós (1988)
  • O Menino Que Achou Uma Estrela (1988)
  • Cada Bicho Seu Capricho (1992)
  • Um Amor Sem Palavras (1995)
  • Longe Como o Meu Querer (1997)
  • Gargantas Abertas (1998)
  • Fragatas Para Terras Distantes (2004)
  • Uma Estrada Junto ao Rio (2005)
  • Acontece na Cidade (2005)
  • Minha Ilha Maravilha (2007)
  • Passageira em Trânsito (2010)
  • Hora de Alimentar Serpentes (2013)
  • Como Uma Carta de Amor (2014)
  • Mais de Cem Histórias Maravilhosas (2015)
  • Melhores Crônicas - Marina Colasanti (2016)
  • Tudo Tem Princípio e Fim (2017).

 

Poemas de Marina Colassanti:

“Lá fora, a noite”

É quando a família dorme
— inertes as mãos nas dobras dos lençóis
pesados os corpos sob a viva mortalha —
que a mulher se exerce.
Na casa quieta
onde ninguém lhe cobra
ninguém lhe exige
ninguém lhe pede
nada
caminha enfim rainha
nos cômodos vazios
demora-se no escuro.
E descalços os pés
aberta a blusa
pode entregar-se
plácida
ao silêncio.

“Frutos e flores”

Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.

 

Frases de Marina Colassanti:

 

"Todos os meus livros continuam valendo, como sabem os acadêmicos que me atribuíram o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra".

“Sem amor também não se vive.”

“Não existe metro nem fita métrica para medir a felicidade.”

“O amor é inconsútil, não tem medida.”

“A diversidade dos desejos não pode ser ignorada.”

“Assim a vida vai, entre os revolucionários que gostam de mudanças, e os conservadores que não gostam delas.”

“Estamos chegando demasiado perto da beira do precipício.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+marina+colasanti#vhid=


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O Dia Nacional da Bossa Nova

 





                                                         Tom Jobim e Vinicius de Moraes


No dia 25 de janeiro é comemorado no Brasil o Dia Nacional da Bossa Nova. É uma celebração referente à música brasileira. É uma homenagem a um dos mais importantes movimentos musicais do Brasil, que surgiu na década de 1950, que mistura a suavidade do samba com a influência do jazz. A data foi sancionada pela lei nº 11.926, de 17 de abril de 2009. A razão da escolha desta data é por causa do aniversário do maestro Tom Jobim (1927-1994), um dos precursores do gênero.

Segundo o jornalista Ruy Castro , a bossa nova era uma simplificação extrema da batida da escola de samba” . Segundo o maestro Júlio Medaglia "desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'". As letras da Bossa Nova abordavam temáticas leves e descompromissadas, em contraste com as letras dos sucessos de rádio da época, em que prevaleciam os chamados sambas de fossa. A expressão bossa nova teria começado na década de 1940 para certos sambas de breque, que tinham como base o talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas. O jornalista Moisés Fuks em 1957,deu destaque ao mesmo termo.  

A música Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes foi o marco inicial da Bossa Nova. De início a a canção foi gravada pela cantora Elizeth Cardoso (1920-1990) e, depois ficou imortalizada na voz de João Gilberto (1931-2019).

O local onde surgiu a Bossa Nova foi a cidade do Rio de Janeiro, em uma época onde havia efervescência cultural e social. Esse movimento estava muito associado ao crescimento urbano brasileiro — que teve forte impulso devido à fase desenvolvimentista do Governo Juscelino Kubitschek. Jovens músicos que buscavam uma nova forma de expressão musical, de modo que tivesse relação com a modernidade e a urbanidade daqueles tempos, impulsionaram o movimento que deu origem à Bossa Nova. Entre os principais idealizadores  desse movimento podemos citar Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que compuseram sucessos da Bossa Nova.

Bossa Nova” tem a ver com “nova maneira”, havendo a busca por uma nova estética musical. Características da Bossa Nova: harmonia sofisticada, melodias suaves e letras poéticas, que frequentemente abordam temas como amor, natureza e a vida cotidiana.

Além dos já mencionados Tom Jobim e Vinicius de Moraes temos João Gilberto, considerado o “pai da bossa nova”, que usou uma técnica de tocar com o dedilhar, revolucionando a forma de tocar samba e Nara Leão, que ajudou a popularizar o gênero, incorporando elementos do folk e da música popular brasileira.

O único show ("O Encontro") que reuniu Tom Jobim , Vinicius de Moraes e João Gilberto foi em 1962, na boate carioca Au Bon Gourmet que também teve a participação do quarteto vocal Os Cariocas e do baterista Milton Banana. Foi nesse show que houve a primeira audição da música “Garota de Ipanema”.

Há outros grandes nomes da Bossa Nova como: João Donato, Sérgio Mendes, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Luiz Bonfá, Sérgio Ricardo, Oscar Castro-Neves, Baden Powell, Durval Ferreira, Alaíde Costa, Leny Andrade e Newton Mendonça.

No Dia Nacional da Bossa Nova são realizados eventos em várias partes do Brasil, como shows, palestras e exposições. A data também é para se refletir sobre a história do movimento que deu origem à Bossa Nova e sobre a música brasileira. É uma forma de se celebrar aspectos importantes da identidade cultural brasileira.

 

Para assistir:

A História da Bossa Nova

 https://www.youtube.com/watch?v=6yvAcY5qqbI

 

João Gilberto e Bebel Gilberto - Chega de Saudade / TV Globo 1980

https://www.youtube.com/watch?v=Y3GodFsDUFU

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagens+de+artistas+da+bossa+nova


Um drink no inverno

 






 

Sim,

Eu escrevo para ti

Sem pressas,

Enquanto tento ver a conjunção dos planetas

Embora as nuvens sejam espessas.

Sim,

Não sei se choras,

Ou se ris,

Agora.

Só sei que escrevo para ti,

Estando tu vestida para a festa

Ou nua,

Deusa linda de uma densa floresta!

Sim,

Eu escrevo para ti,

Musa,

Ágil Pantera ,

Forte como uma ursa,

Fera

Que tira

A blusa

E abusa

De ser tão linda.

Sim escrevo para ti,

Imaginando a primeira vez que te vi

Exuberante ,

Provocante;

Um livro que eu li,

Que eu saboreei em cada palavra,

Deliciosa em cada linha,

Sonhando em ser teu amante

Em teus sonhos,

Desejando ser o ponto de exclamação

Na tua redação;

Beijando teus pontos,

Gramaticais

E cardeais,

O personagem principal de teus contos.

E então,

Acordar do meu sono quando Potira,

De uma antiga nação,

Cantar sua canção.

Ó bela,

Quando aquela pipira,

Pousar no parapeito,

Da janela,

Olha bem para ela,

Que te leva a mensagem do meu coração;

E aí uma gota de chuva cairá em teu peito,

Deitada estarás,

No chão

Que fizeste de leito,

Embaixo da samaumeira.

Tu me perguntas,

Se o país ainda tem jeito.

É Potira a grande guerreira

Que te responderá.

Escrevo para ti,

Querendo beijos.

A esperança virá,

Com a chuva da tarde,

A água da chuva molhando,

O teu corpo ;

Em um copo

Derramo o vinho

Da minha vontade.

Um riozinho

Vira gigante,

Transbordamento de tua sensualidade

Gritante;

Explosão de desejos.

Ah! Tempestade!

Curupira?

Há gente que diz que existe!

Lenda,

Ou verdade?

Se vier o demônio da noite tenebrosa?

Calma!

Quero que tu me entendas,

Tens a beleza da rosa

Tão terno é teu sorriso;

Doce manifestação de tua alma!

Quando vens assim tão maravilhosa,

Tão poderosa,

Eu tomo um drink no inverno

E me lembro logo da Salma.


Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura: https://www.google.com/search?q=Imagens+de+salma+hayek+como+rainha+pandemonio.&client=firefox-b-d&sca

  

 

 


sábado, 25 de janeiro de 2025

O Cineasta David Lynch

 


 

Em 15 de janeiro de 2025 faleceu o diretor, roteirista, produtor, artista visual, músico e ator David Keith Lynch. Ele ficou conhecido por seus filmes surrealistas. O estilo cinematográfico dele foi chamado de “Lynchiano”, no qual há imagens de sonhos e desenho sonorometiculoso.

David Lynch nasceu em Missoula, Estado de Montana, Estados Unidos, em uma família de classe média, em 20 de janeiro de 1946. Seu pai,Donald Walton Lynch, era um pesquisador do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e a mãe era uma professora de inglês, Edwina "Sunny" Lynch. A criação de David foi influenciada pelos ensinamentos da religião presbiteriana.

Em sua infância ele esteve em vários locais do interior do país por causa do trabalho de seu pai. Sobre sua infância ele disse: "casas elegantes, ruas arborizadas, o leiteiro, construindo fortes no quintal, aviões zumbindo, céu azul, cercas de estacas, grama verde, cerejeiras. O centro da América como deveria ser." Depois foi estudar pintura. Deixou o curso que estava fazendo e foi para a Europa. Quando voltou aos Estados Unidos, foi estudar na Academia de Belas Artes da Pensilvânia. Casou-se em 1967 e teve uma filha, que seria depois diretora de cinema,

Em Los Angeles,em 1971, Lynch frequentou o Conservatório de Estudos Avançados de Cinema do famoso American Film Institute.  Fez filmes tipo curta-metragens: Six Men Getting Sick (1966), The Alphabet (1968), The Grandmother (1970) e The Amputee (1974). Foi em Los Angeles que ele produziu seu primeiro filme longa-metragem Eraserhead, um terror surrealista, em 1977 e que demorou cinco anos para ser concluído. Nesse período o seu casamento acabou. Em 1980 ele foi contratado para dirigir The Elephant Man, que foi produzido por Mel Brooks. O filme lhe deu retorno financeiro e foi elogiado pela crítica, tendo recebido oito indicações para o Oscar, entre elas o de melhor diretor. Nesse filme se vê o absurdo bullying social sofrido por Joseph Merrick, exposto até mesmo em circos de aberrações.

 Passou a trabalhar para a De Laurentiis Entertainment Group e fez os filmes Dune (um épico de ficção científica que não foi bem avaliado pela crítica e não teve sucesso de bilheteria), em 1984 e depois Blue Velvet(1986), um filme de crime neo-noir, muito elogiado e que teve indicação ao Oscar.Na realização desse filme iniciou-se uma parceria com o compositor Angelo Badalamenti que continuaria para outros filmes.

Nos anos 90 criou a série de tv Twin Peaks (1990-1991) que teve continuação em 2017 e o filme Twin Peaks: Fire Walk with Me (1992), que não teve sucesso comercial. Na série e no filme o ator principal foi Kyle MacLachlan, que trabalhou com Lynch em Duna e Veludo Azul. Na série Lynch dirigiu o piloto e cinco dos 29 episódios das duas primeiras temporadas. Outras criações dessa época foram Wild at Heart,de1990 (filme que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes) e The Straight Story (1999). Os filmes seguintes seguiram mais para o surrealismo, com base na “lógica dos sonhos”: Lost Highway, de 1997; Mulholland Drive (2001) e Inland Empire (2006). Nesse início do século XXI Lynch produziu programas para a web como DumbLand (2002), que era uma animaçãoe o sitcom surreal Rabbits (2002).

Lost Highway, de 1997, foi um thriller dentro do estilo fantástico que foi considerado como a obra mais insana de Lynch e logo depois ele lançou The Straight Story (1999), um tipo “mais calmo” de filme. Mulholland Drive (2001) foi uma obra de Lynch que foi planejada como série, porém os produtores não gostaram e então foi adaptada para o cinema. Nesse trabalho Lynch voltou ao seu estilo anterior, Nesse filme foi revelada a atriz Naomi Watts e Lynch ganhou o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes. O último filme que Lynch fez foi Inland Empire. Lynch criou filmes em animação e em seu site pessoal havia um grande conjunto de trabalhos. Em 2020 ganhou um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra. Tinha ganhado um Globo de Ouro em 1991 de melhor série dramática com a série Twin Peaks. Recebeu duas vezes o Prêmio César de Melhor Filme Estrangeiro, em 1982 por "O Homem Elefante" e em 2002 por "Cidade dos Sonhos".Participou como ator do longa Os Fablemans (2022), no papel do diretor John Ford.

Lynch era um seguidor das práticas de meditação transcendental desde os anos 1970 e encorajava a a intuição como ferramenta de compreensão dos filmes. Ele liderou a Fundação para a Educação Baseada na Consciência e Paz Mundial, que é dedicada ao apoio junto a veteranos de guerra, refugiados africanos e pessoas em situação de rua. Ele foi casado por quatro vezes e deixou quatro filhos. Faleceu aos 78 anos. A causa provável da morte foi enfisema pulmonar. Ele fumou muito em sua vida, tendo dito: “Fumar é algo que eu absolutamente amei, mas no fim das contas, isso me afetou”.

A família de Lynch anunciou nas redes sociais: “É com profundo pesar que nós, sua família, anunciamos o falecimento do homem e artista, David Lynch. Gostaríamos de ter um pouco de privacidade neste momento. Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria: ‘Fique de olho no donut e não no buraco.’ É um lindo dia com sol dourado e céu azul por todo o caminho”. “(...) "Existe uma enorme lacuna no mundo, agora que ele (Lynch) não está mais conosco".

Filmes:  Eraserhead, 1977 (Lynch foi diretor, produtor, escritor); The Elephant Man,1980 (Lynch foi diretor, produtor, escritor e ator); Dune, 1984 (Lynch foi diretor, escritor e ator); Blue Velvet, 1986 (Lynch foi diretor e escritor); Zelly & Me, 1988 (Lynch foi ator);Wild at Heart, 1990 (Lynch foi diretor, escritor e ator); Twin Peaks: Fire Walk with me,1992 (Lynch foi diretor, produtor, escritor e ator); Lost Highway, 1997 (diretor e escritor); The Straight Story, 1999 (Lynch foi diretor); Mulholland Drive,2001 (Lynch foi diretor, produtor e escritor), devido a esse filme ele ganhou o prêmio Palma de Ouro em Cannes de melhor diretor; Inland Empire, 2006 (Lynch foi diretor, produtor, escritor e ator). Outras obras: Twin Peaks: The Missing Pieces, 2014 (Foi diretor, produtor, escritor e ator)Girlfriend's Day, 2017 (ator); Lucky, 2017 (ator).

TelevisãoLes Français vus par, 1988 (Foi produtor);   Twin Peaks, 1990-1991(Foi criador, produtor, escritor e ator); On The Air, 1992 (Foi criador, produtor e escritor); Hotel Room, 1992 ( Foi criador, produtor e escritor); Twin Peaks: The Return (Foi criador, produtor, escritor e ator).

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Segundo David Fear, da revista Rolling Stone ( EUA):

“O diretor combinou a inocência da era Eisenhower e o cinema experimental para forjar uma das carreiras mais inovadoras e sombriamente hilárias do cinema americano.

 Se você viu Veludo Azul, então você se lembra da abertura — e quer você ame ou odeie a obra-prima de David Lynch de 1986, não é um filme que você é capaz de esquecer. A câmera se move para baixo em uma cerca branca, enquanto Bobby Vinton canta sua faixa-título da versão de 1963. As rosas pontilhando a parte inferior do quadro são tão vermelhas Technicolor que machuca seus olhos ao olhar para elas. Um caminhão de bombeiros, completo com um dálmata no aparador, passa. Um guarda de trânsito ajuda crianças em idade escolar a atravessar a rua. Uma mulher em uma sala de estar suburbana toma café e assiste a um filme na TV. Seu marido está regando o quintal lá fora. É um dia perfeito para fotos em Smalltown, EUA.

Então o homem tenta desembaraçar sua mangueira e, sem aviso, cai no chão. Um cachorro estala suas mandíbulas para o jato ascendente enquanto uma criança com um pirulito entra no fundo. E então a câmera começa a descer, descer, descer na grama. Uma conversa profana preenche a trilha sonora e o que parece ser dezenas e dezenas de insetos pretos brilhantes se contorcendo e rangendo mutualmente. Eles podem ser besouros, dado o leve brilho de sua carapaça, ou podem ser formigas — estas últimas logo aparecem deslizando sobre uma orelha decepada. Mas, independentemente disso, essas criaturas estão vasculhando logo abaixo da superfície plácida, saída diretamente da era Eisenhower. Tudo parece ótimo acima do solo. O que está acontecendo no subsolo, no entanto, é outra história completamente diferente (...)”

 E ainda o mesmo autor

 “(...) Blue Velvet pode ser o filme definidor da era Reagan por volta de 1986 — um retorno para uma era passada que violentamente fura o mito da cidade brilhante em uma colina e pede que voltemos nossa atenção para os homens da areia coloridos fazendo coisas indizíveis a portas fechadas. É onde o termo "Lynchian" nasceu como uma descrição para sua mistura particular de surrealismo, ironia, humor inexpressivo e horror mortalmente sério. O adjetivo definiu todo o seu trabalho depois, fosse em comparação com essa sensibilidade ou em contraste com ela. (O filme mais chocante que Lynch já fez, de longe, ainda é Uma História Real, seu filme da Disney de 1999 sobre um homem idoso que faz uma viagem pelo país em um cortador de grama para visitar seu irmão afastado, simplesmente porque ele interpreta uma história completamente séria.) E se sua continuação, a homenagem distorcida ao Mágico de Oz, Coração Selvagem (1990), inicialmente sugeriu que Lynchian era um gosto adquirido, seu outro projeto naquele ano logo provou que o grande público estava preparado para receber uma versão para a telinha de seu estilo característico de contar histórias.

 É difícil resumir o quão radical e popular Lynch e Mark Frost, cocriador de Twin Peaks, eram quando chegaram às ondas do rádio no início dos anos 1990, ou o quão rápido sua tão citada vibe "Peyton Place com ácido" e personagens excêntricos se tornaram parte do vernáculo cotidiano. Lynch estava na capa da revista Time, e todo mundo queria um pedaço da torta de cereja. Ele fracassou durante sua segunda temporada, mas, naquela época, Lynch e Frost revelaram que esse modelo para futuros procedimentos de garotas mortas era, na verdade, uma história de abuso. Outra fachada suburbana perfeita, outro pires cheio de segredos sendo sorvidos desleixadamente nas sombras (...)”. ...Agora David Lynch se foi, deixando para trás um extraordinário corpo de trabalho que mapeia a Nova e Estranha América que ele testemunhou em primeira mão, e no exato momento em que os insetos espreitando sob os gramados bem cuidados de nossa nação estão abrindo caminho acima do solo em massa. Ele foi o grande cronista da escuridão americana. Mas, antes de tudo, ele foi um verdadeiro artista que seguiu sua musa singular além das barreiras da imaginação e do pensamento racional (...)".

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Surrealismo, meditação e gnose em David Lynch por Wilson Roberto Vieira Ferreira

“O surrealismo foi deixado para trás, lá no século XX, e hoje suas imagens viraram de pôsteres que decoram das casas de amantes da arte cult às psyOps publicitárias que fisgam o inconsciente do consumidores. Mas, em plena cena do chamado “cinema da meia-noite” dos anos 1970, David Lynch (que deixou esse mundo aos 78 anos no último dia 15) resgatou a essência incômoda do surrealismo: o cinema como instrumento para revelar como no cotidiano o psiquismo preenche aquele “gap” existente entre a alma e a realidade. Lynch foi o mestre em pegar histórias banais e transformá-las em labirintos obscuros de pistas falsas num mix de filme noir, gótico americano e humor negro. Em uma filmografia que surge o seu principal protagonista: o Detetive – no cotidiano banal que oculta o mundo dos sonhos (e pesadelos), somente o Detetive pode, através das imagens, resolver enigmas através da experiência de estranheza e alienação. Porém, no final, David Lynch descobre que nem o cinema é capaz disso, porque feito pela mesma lógica onírica – montagem, edição etc. Depois de desconstruir tudo, restou a ele o seu entusiasmo pela meditação transcendental: silenciar toda linguagem e a mente. E, quem sabe, encontrar a gnose.

Talvez o surrealismo tenha sido deixado para trás no século XX. Se na década de 1930, os surrealistas e dadaístas chocavam a sociedade do velho capitalismo fordista revendo em imagens os conteúdos proibidos dos sonhos, no pós-guerra tudo mudou. A publicidade, a sociedade de consumo e a indústria do entretenimento ironicamente realizaram a agenda vanguardista – transformaram a linguagem onírica dos sonhos em ferramenta mercadológica. 

Por exemplo, as imagens de Dalí mostraram como era possível colocar imagens do inconsciente em uma tela. Pois a Publicidade e Hollywood transformaram isso num negócio – diariamente vemos desejos, fantasias e imagens oníricas em filmes e vídeos publicitários. 

No entanto, ninguém foi capaz de trazer o surrealismo ao mundo contemporâneo com tanta arte como David Lynch. Desde a estreia com Eraserhead (1977) até o curta de 2016, What Did Jack Do? (um curta que retornou à estranheza de Erasearhead como um ciclo que se fechou) Lynch foi um diretor que entrou em mundos indescritíveis, que não podem ser entendidas através de palavras. E é por isso que é mais sensato simplesmente experimentar seus trabalhos e não os explicar.

Talvez por isso Lynch ter sido um forte adepto e divulgador da meditação transcendental – principalmente seus últimos trabalhos, desde Cidade dos Sonhos (2001), principalmente Império dos Sonhos (2006) passaram a ser exercícios de desconstrução da linguagem cinematográfica, lembrando os cut ups dadaístas e a escrita automática dos surrealistas – o exercício em registrar o que vem à mente, sem preocupação com a lógica ou o sentido racional.

Era como se Lynch quisesse ir para além da linguagem, porque os seus signos não conseguem descrever os mundos nos quais Lynch obsessivamente queria representar. Basicamente, a meditação é um exercício para silenciar a mente e a linguagem para buscar a transcendência.

E que mundos indescritíveis eram esses? Aqueles mundos entre a alma e a realidade, intervalos que são preenchidos pelo psiquismo humano – o imaginário, fantasias, desejos, ilusões e pesadelos.

Sabemos que Freud descobriu que o psiquismo era a interface entre a alma e a materialidade das funções corporais: alimento, excreção, reprodução e morte. A forma como a alma vivenciará e expressará essas experiências corporais será sempre por meio das fantasias, do desejo e dos simbolismos manifestos nos sonhos, atos falhos e neuroses. 

Do corpo para a realidade cotidiana, o psiquismo será uma espécie de “airbag emocional”, a racionalização diante das experiências sejam desagradáveis ou felizes – busca sentidos, propósitos, explicações, que sempre serão imaginárias: a religião, a ideologia, o sonho, os chistes, os atos falhos etc.

Se nos escritos de Freud tudo é abordado de forma intelectual e abstrata (esses mundos imaginários são descritos em termos de formações reativas e na linguagem onírica das condensações (metáforas) e deslocamentos (metonímias), nos dadaístas e surrealistas do início do século XX está a fantástica descoberta: podemos registrar tudo isso graficamente, através de imagens, telas, instalações, performances etc.

E o cinema faria parte disso. Pelo menos era o que pensavam teóricos do início do cinema como Eisenstein, Jean Epstein e Rudolf Arheim – acreditavam que o cinema deveria evitar a mera representação realista da realidade, seja através da montagem dialética (Eisenstein), como a percepção antecede a linguagem (Arheim) ou como o filme revela não a realidade, mas o surreal, o falso, o irreal. 

David Lynch e o “Cinema da Meia-Noite”

Surrealistas, dadaístas e cubistas foram os primeiros a defender o cinema como arte através da possibilidade do diretor modelar o mundo fílmico e enquadrá-lo dentro de uma ideia abstrata e se enveredar pelas imagens do psiquismo e do inconsciente. 

Tudo isso foi esquecido pela vitória do realismo cinematográfico hollywoodiano do pós-guerra: a essência do cinema residia em sua capacidade de reproduzir mecanicamente a realidade, não em sua diferença da realidade.

O revival do surrealismo nos EUA só poderia mesmo ter emergido nos anos 1970, num momento de filmes esquizos (Um Estranho no Ninho ou Taxi Driver) e dos estranhos filmes que agitavam as sessões da meia-noite em Nova York de filmes estranhos como El Topo de Jodorowski ou Rock Horror Picture Show.

Nesse cenário surge Eraserhead, a estreia de David Lynch. Quando estreou em 1977 recebeu poucos comentários especializados e pobres bilheterias. Não fosse os esforços do distribuidor Ben Berenholtz em convencer proprietários de alguns cinemas de Nova York do circuito dos “Cinemas da Meia-Noite”, o filme não conquistaria a base de fãs leais que tornaria Eraserhead o mais famoso de todos os filmes cult. 

O filme foi uma verdadeira carta de intenções do diretor sobre a ideia principal que defenderia em toda a carreira: nossa relação com as percepções físicas da realidade é filtrada e simbolizada pelo psiquismo. Nunca vemos a realidade como ela é, mas a partir das nossas sensações de estranhamento e alienação em relação ao real.

Não são nossos olhos que enxergam o mundo, mas o psiquismo que faz a mediação entre a alma e o mundo. Lynch se interessava nesse estranhamento, nessa fricção entre a alma e o mundo e como o psiquismo expressava isso. Caberia ao cinema, assim como os surrealistas e dadaístas pretendiam, através das imagens, representar esses mundos estranhos.

Blue Velvet (1987) é um bom exemplo. Tudo começa com uma orelha encontrada na grama de um parque público. A câmera mergulha na cavidade auricular para conhecermos um submundo ocultado pela superfície das cercas cuidadosamente pintadas e flores da frente das casas em tons pasteis – um submundo para além das aparências da normalidade, envolvendo o drug-dealler Frank (Denis Hopper) que aspirava através de uma máscara nitirito de amila para ter prazer sexual e uma galeria de personagens violentos e caricatos.

O Detetive e a paranoia

Nada é estável, tudo é aparência e miragem. Como a cantora de cabaré Dorothy Vallens (Isabella Rosellini), o fio de Ariadne de paixão e culpa que o conduz ao submundo do alucinado vilão Jack.

A atmosfera é neo-noir, de onde emerge o protagonista Jeffrey (Kyle McLachler), o proto-detetive que mais tarde retornaria como o agente especial do FBI Dale Cooper, na série Twin Peaks (1990-91).

O Detetive (no sentido literal e metafórico) é um protagonista recorrente em David Lynch. Mais do que um personagem, mas como um verdadeiro arquétipo contemporâneo – aquele que transforma a sensação de estranhamento e alienação com o mundo (marca constante dos protagonistas lynchanos) como um mistério que precisa ser desvendado. Começa a suspeitar que os objetos ao seu redor são ilusórios, precisando, portanto, discernir entre o realismo das percepções e a insanidade dos sonhos e alucinações. São personagens que vivem sempre numa espécie de limbo, correndo o risco de cair de um lado ou para outro.

Em Lynch a paranoia é um elemento chave do universo de Lynch, como chave de iluminação espiritual. Seus protagonistas estão sempre perdidos em labirintos obscuros, emaranhados de falsas pistas, traições, mulheres fatais capazes de usar a própria sensualidade para destruir a vida dos homens – como o drama do macaquinho Jack (What Did Jack Do?), suspeito de assassinato, enlouquecido pelos “seios fartos por baixo das penas” da galinha Toototabon.

Cinema e meditação transcendental

Porém, David Lynch sempre foi inquieto. Essa relação de alienação e estranhamento não tardaria a se voltar contra o veículo que transforma os fenômenos do psiquismo em imagem: o próprio dispositivo cinematográfico.

Tudo começa com Cidade dos Sonhos, o mergulho psicanalítico nos sonhos de uma jovem atriz que chega na terra de Hollywood, Los Angeles – um tour de force no emaranhado da narrativa onírica na cidade onde os sonhos são fabricados no cinema, entretenimento e audiovisual.

Para Lynch, uma narrativa onírica somente poderia ser concebida na cidade da indústria dos sonhos, que se apropriou da grande descoberta dos surrealistas para transformar em um negócio mercadológico.

Mas é em Império dos Sonhos que Lynch chega à desconstrução total do dispositivo cinematográfico - mais de três horas de sequências aleatórias para descobrirmos que estamos naquilo que em cinema chama-se “narrativa em abismo” (assistimos a um filme que mostra outro filme sendo construído): todas as sequências fragmentadas, obscuras e caóticas nada mais eram do que um filme não editado, porque seu realizador morreu, vítima de uma maldição...

     Tanto em Império dos Sonhos quanto em What Did Jack Do?, David Lynch aplica a lógica onírica na própria linguagem cinematográfica: jogo, aleatoriedade e ironia em linhas de diálogo caoticamente desarticuladas como se tivessem sido elaboradas pelo processo criativo de cut-up (“recorte”) baseado na crença dadaísta da aleatoriedade – se você colocar três ou quatro ideias desassociadas juntas, podem ser criadas estranhas relações significativas entre elas. Uma “inteligência inconsciente” surge desses pareamentos, gerando ideias e associações provocativas.

      Para David Lynch, o enigma do psiquismo permanece, porque o próprio veículo que seria o instrumento para desvendar o segredo dos sonhos (as imagens e o cinema) é, ele próprio, filmado, editado e montado a partir da mesma lógica onírica – para Lynch, definitivamente, é impossível um olhar de fora, externo, objetivo, isto é, racional, científico.

   Por isso, nada é banal para o cineasta. O que marca a sua obra é a sua capacidade de pegar argumentos tão banais, como em Eraserhead (uma garota engravida e convida seu namorado para apresentá-lo aos seus pais), para entrar em zonas de penumbra, revelando o surreal e o fantástico sob a banalidade cotidiana.

  Não é por menos a sua adesão à meditação transcendental desde 1977, no set de filmagem de Eraserhead, chegando a criar a “David Lynch Foundation” que visa disseminar a técnica milenar do guru indiano Mahesh Yogi.

   É como se David Lynch dissesse aos seus fãs: esqueça de tentar encontrar um propósito ou um sentido nos filmes. Pois tudo o que encontrará é a experiência gnóstica de estranhamento e alienação. Nem a decodificação freudiana dos sonhos e muito menos transpor os mundos oníricos para as imagens solucionam o enigma. 

   Porque tudo é prisioneiro da linguagem, da razão e do ego. Apenas através da meditação poderemos silenciar a mente e a linguagem. E ascendermos à gnose, para escapar da matrix desse mundo.

Que David Lynch tenha a encontrado após a morte.”

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 Homenagens de famosos a  David Lynch:

“David Lynch continuará "alimentando a nossa imaginação". “(...)..."É com infinita tristeza que tomamos conhecimento do falecimento de David Lynch; perdemos um artista único e visionário cuja obra influenciou o cinema como poucos antes" (Festival de Cinema de Cannes).

“Eu adorava os filmes de David. Veludo Azul (1986), Cidade dos Sonhos (2001) e O Homem Elefante (1980), o definiram como um sonhador visionário e singular que dirigiu filmes que pareciam feitos à mão. Eu conheci David quando ele interpretou John Ford em Os Fabelmans (2022). Aqui estava um dos meus heróis — David Lynch interpretando um dos meus heróis. Foi surreal e parecia uma cena de um dos próprios filmes de David. O mundo vai sentir falta de uma voz tão original e única. Seus filmes já resistiram ao teste do tempo e sempre resistirão” (Steven Spielberg, diretor de cinema ).

 “Há 42 anos, por razões além da minha compreensão, David Lynch tirou-me da obscuridade para protagonizar o seu primeiro e último filme de grande orçamento. Ele claramente viu algo em mim que nem eu reconheci. Devo toda a minha carreira e a minha vida à visão dele”(...) ... “O que vi nele foi um homem enigmático e intuitivo com um oceano criativo a explodir dentro dele. Ele estava em contato com algo que o resto de nós desejava ter. Sempre achei que ele era a pessoa mais autenticamente viva que já conheci. David estava em sintonia com o universo e com sua própria imaginação em um nível que parecia ser a melhor versão do ser humano. Ele não estava interessado em respostas porque entendia que as perguntas são o motor que nos torna quem somos. Embora o mundo tenha perdido um artista notável, eu perdi um amigo querido que imaginou um futuro para mim e me permitiu viajar por mundos que nunca poderia ter concebido sozinho. Sentirei falta dele mais do que os limites da minha linguagem podem dizer e do que meu coração pode suportar. Meu mundo está muito mais cheio porque eu o conheci e muito mais vazio agora que ele se foi. David, eu permaneço mudado para sempre, e para sempre seu Kale. Obrigado por tudo”. (Kyle MacLachlan, ator que trabalhou com David Lynch).

 

Frases de David Lynch:

“Ideias são como peixes. Se quiser pescar peixes pequenos, pode ficar na água rasa. Mas se quiser pescar o peixe grande, precisará ir mais fundo. No fundo, os peixes são mais poderosos e mais puros. São enormes e abstratos. E eles são muito bonitos.”

 "Eu amo a lógica dos sonhos… Tudo pode acontecer e faz sentido."

 "É assim que Estados Unidos é para mim. Há uma qualidade muito inocente e ingênua na vida, e há um horror e uma doença também. É tudo".

 

Sugestão de vídeo para assistir:

ADEUS A DAVID LYNCH: O MESTRE DOS SONHOS

https://www.youtube.com/watch?v=ccHjhIz7pT0

 

Para ouvir:

David Lynch Film & TV Music Essentials

https://music.apple.com/pt/playlist/david-lynch-film-tv-music-essentials/pl.d79386ce92a54a5ebb646d14d379067f

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Márcio José Matos Rodrigues-Psicólogo e Professor de História. 

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagens+de+david+lynch