Em 26 de julho de
2024 faleceu em Bezerros, Estado de Pernambuco, o pintor, poeta, cordelista e
xilógrafo brasileiro José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges. Ele
tinha 88 anos e nasceu em Bezerros em 4 de agosto de 1935. Ele começou a
trabalhar com xilogravura para poder ilustrar suas histórias e cordéis.
Na sua infância, J.
Borges aos 8 anos passou a trabalhar na terra com o pai e aos dez começou a
fabricar colheres de pau que vendia na feira. Foi oleiro, fazia brinquedos
artesanais e também passou a vender livros de cordel. Seu talento o levou a ser
considerado um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco. Morou aproximadamente 15 anos nos municípios de Escada e Ribeirão, na
Zona da Mata de Pernambuco.
Foi com 21 anos que
José decidiu que ia ser escritor de cordel. Escreveu " O
Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina " , obra que
foi xilogravada por Mestre Dila. Essa obra vendeu mais de cinco mil exemplares
em dois meses. Sem dinheiro para ficar recorrendo a um ilustrador, Borges
começou a entalhar na madeira a fachada da igreja de Bezerros. Nessa época criou O
Verdadeiro Aviso de Frei Damião. Nesse tempo passou a fazer matrizes
por encomenda e também para ilustrar os mais de 200 cordéis que lançou.
Colecionadores
e marchands descobriram o trabalho dele que fazia matrizes por
encomenda e para ilustrar os cordeis que fazia. Obras dele passaram a ser
levadas aos meios acadêmicos do país. Nos anos 70 do século passado,
Borges desenhou a capa da obra " As Palavras Andantes " ,
do escritor Eduardo Galeano. Outro escritor que teve capa de livro ilustrada
por J. Borges foi José Saramago. A vida de Borges inspirou documentários
e também o desfile
da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, em 2018.
Na novela Roque
Santeiro da Rede Globo, gravuras dele foram usadas na abertura. Foi
por esse tempo que Borges começou a gravar matrizes não associadas a cordeis.
Assim, começou em 1992 a expor em lugares estrangeiros (Zurique, Novo México).
Em outras ocasiões expôs na Europa e nos Estados Unidos, nos quais, à convite,
deu aulas de xilogravura.
O presidente
Fernando Henrique Cardoso condecorou Borges com a comenda Ordem do Mérito e o
artista recebeu o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural. Ilustrou
, em 2002, junto com mais doze artistas, o calendário anual das Nações Unidas,
que começava com a sua xilogravura A Vida na Floresta . O
jornal The New York Times fez uma reportagem sobre ele em 2006. Era considerado
pelo escritor Ariano Suassuna como o melhor gravador popular do Nordeste.
Intelectuais,
artistas e colecionadores de arte compraram as xilogravuras de Borges, que eram
impressas em grande quantidade, em diversos tamanhos. Tinha uma técnica própria
de colorir as imagens. Ele atendeu pedidos para representar o cotidiano do
pobre, como também o cangaço, o amor, os castigos do céu, os mistérios, crimes
e corrupção, folguedos populares, religiosidade etc. Eram sempre aspectos
relacionados aos nordestinos. Na cidade onde nasceu há o Memorial J.
Borges, com exposição de parte de sua obra e objetos pessoais. O Museu
de Arte do Rio em janeiro de 2022 abriu a exposição J. Borges
– O Mestre da Xilogravura.
Desde
2016 J. Borges tinha uma parceria com o Diário de Pernambuco, assinando todas
as artes do recall de marcas mais importantes do estado, o Marcas
Preferidas. Ele teve obras expostas em todo o Brasil, no Museu Louvre,
na França, e no acervo da Biblioteca Nacional de Washington, nos EUA.
Borges
disse certa vez em uma entrevista: "Eu, quando inicio um cordel para escrever ou
uma gravura para fazer, eu penso logo se vai tocar no sentimento do
povo”. Também em uma entrevista o entrevistador perguntou
se ele concordava em ser chamado de "Picasso do Nordeste". Borges respondeu:
"Eu não sei porque eu não conheci Picasso (risos). Hoje, um trabalho
dele custa um ou dois milhões de dólares. O meu ainda custa R$ 30, R$ 40”.
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagens+de+J+Borges
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