Adeus ao pianista brasileiro Arthur Moreira Lima

 

No dia 30 de janeiro de 2024 morreu o talentoso pianista brasileiro Arthur Moreira Lima. Ele tinha 84 anos. Esteve internado no Hospital Imperial de Caridade que fica em Florianópolis (SC), cidade onde vinha morando desde 1993. A causa da morte foi um câncer no intestino.

Arthur nasceu em 16 de julho de 1940 na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Começou com seis anos a estudar piano com a professora Lúcia Branco, que deu aulas também para Tom Jobim e Nelson Freire. Quanto tinha oito anos, Moreira Lima um concerto de Mozart com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Além de Lúcia Branco, teve aulas com Marguerite Long (de Paris) e Rudolf Kehrer , do Conservatório Tchaikovsky de Moscou. Em Belém do Pará houve o primeiro recital profissional em 1949, no Theatro da Paz. Venceu nessa época importantes concursos no Brasil, como os Jovens Solistas, promovidos pela Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), em 1949 e 1952.

Em 1965 o jovem Arthur ficou em segundo lugar na Competição Internacional de Piano Frederic Chopin, conseguindo assim projeção internacional. Outra competição em que se destacou foi a Competição Internacional Tchaikovsky, em 1970, ficando em terceiro lugar. Na sua carreira apresentou-se em vários concertos na Europa, América Latina, Estados Unidos e Rússia. Ele se apresentou na década de 70 com as filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia, com as sinfônicas de Berlim, Viena e Praga e também com as orquestras da BBC de Londres e a Nacional da França.

Foi um intérprete de sucesso de compositores românticos como Chopin e Liszt, como também de modernistas como Villa-Lobos e Prokofiev. Foi também bem sucedido como intérprete da música popular brasileira, tendo gravado por exemplo Ernesto Nazareth e clássicos do choro e do samba. Tocou com o grupo Época de Ouro. Em 1982 gravou o álbum clássico "ConSertão" com Elomar, Paulo Moura e Heraldo Do Monte, pela gravadora Kuarup. Apresentou o programa "Toque de classe", na década de 80, na extinta TV Manchete, tendo convidado nomes destacados da música como Moreira da Silva, João Nogueira, Ney Matogrosso, Nelson Gonçalves e Milton Nascimento. Nos anos 90 o pianista apresentou-se em concertos populares em locais como a Mangueira e a Rocinha. Suas gravações, em 1998, foram distribuídas em 41 CDs vendidos em bancas de jornais.

 Moreira Lima foi criador do projeto Piano pela Estrada, que fazia uma mistura do popular com o erudito. Esse projeto estava inserido em uma campanha pela democratização da cultura erudita. A música era levada por meio de um caminhão e era montado a partir dele um palco com apresentações em diversos lugares do Brasil. Foram mais de 500 concertos nesse caminhão-teatro por centenas de cidades brasileiras.

Arthur foi filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) e depois ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), que teve como um de seus fundadores Filipe Moreira Lima, pai do pianista. Optou por levar uma vida mais ligada ao Brasil que ter sido solista em gravações a Filarmônica de Viena ou com a Sinfônica de Boston, sob a direção de grandes regentes do final do século 20.

Em setembro de 2024 a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) homenageou Arthur Moreira Lima com o título Doutor Honoris Causa. Foi um ilustre torcedor do clube Fluminense do Rio de Janeiro.

A enteada de Arthur Moreira Lima disse sobre ele após sua morte:

"Um ser humano admirável, uma pessoa surpreendente, de muitos valores. Eu sempre aprendi muito, muito da vida com ele. E eu tive o privilégio de ter esses 24 anos com uma pessoa muito honrosa, muito humilde, muito divertida". 

 

Para assistir:

Hino do Fluminense no piano por Arthur Moreira Lima

 https://www.youtube.com/watch?v=3EGsbOBgowY

(Moreira Lima)Chopin Nocturne Op.48, No. 1

https://www.youtube.com/watch?v=QmF2F8YBU3E

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagens+antigas+de+arthur+moreira+lima

 

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Eleição na Moldávia e o poeta romeno / moldavo Mihai Eminescu

 

No dia 20 de outubro na Moldávia, pequeno país do leste europeu, que foi uma república da antiga União Soviética, houve eleição para Presidente da República e também uma consulta ao povo sobre se o país deve aderir à União Europeia. O “sim” à adesão à UE venceu por alguns milhares de votos com resultado de 50,45% dos votantes favoráveis à emenda constitucional pela adesão. Havia antes uma previsão de que o “sim” ganharia por 55%. O resultado de menos de 51% foi uma vitória modesta para Maia Sandu que esperava um apoio maior em relação à adesão.

Muitos moldavos não querem se comprometer muito com o Ocidente, temendo uma intervenção russa.  Nicu Popescu, ex-ministro das Relações Exteriores da Moldávia disse a respeito da vitória do sim: "Mesmo uma vitória apertada ainda é uma vitória. Nas democracias, os perdedores aceitam o resultado. A Europa não é apenas um sonho, é um projeto comum, e continuaremos a fortalecer o lugar da Moldávia na Europa à qual pertencemos”. Diante da vitória apertada ele fez comparações com outros casos na história recente da Europa:  “Por exemplo, o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, foi obtido com 52%, enquanto a Suécia e Malta entraram na União Europeia com 52 ou 53%.” Porém, esse resultado na consulta popular não foi muito bom para Maia Sandu, que não foi reeleita porque ainda haverá um segundo turno em 3 de novembro. Ela obteve 42% dos votos no primeiro turno e irá enfrentar no próximo turno o ex-promotor Alexander Stoianoglo, de 57 anos, que obteve 26% dos votos, apoiado pelos socialistas pró-russos. Ele já foi procurador-geral da Moldávia e foi demitido por Maia Sandu por acusações de corrupção. Ele receberá apoio de candidatos derrotados que apoiam vínculos com a Rússia, que pelo seu lado tem ligações com uma região da Moldávia que quer se separar : a Transnístria. Lá existem cerca de 1500 soldados russos. O território dessa região, que se considera uma república, corresponde a aproximadamente 10% do território da Moldávia.

A Moldávia não possui saída para o mar e tem fronteiras com a Romênia a oeste e Ucrânia a norte, leste e sul. É uma república parlamentarista com presidente e primeiro-ministro. Seu território é um pouco maior que o Estado do Rio de Janeiro e tem uma população de cerca de 3 milhões e 600 mil habitantes, a  capital da Moldávia é Chisinau, a maior cidade moldava. A língua oficial é chamada no país de moldava, mas veio da língua romena, só que com alguns regionalismos. No tempo da União Soviética o idioma era escrito em alfabeto cirílico, o mesmo utilizado para a escrita do russo. Em 1989, pouco antes da independência, voltou-se à escrita do idioma em alfabeto latino, seguindo o modelo romeno. Na verdade, dois terços dos moldavos tem origens romenas. Há traços culturais comuns entre a Moldávia e a Romênia. Com exceção da Transnístria, de maioria étnica russa (com a presença também de ucranianos), o restante da Moldávia já foi parte da Romênia com o nome de Bessarábia.  Após a Segunda Guerra Mundial, a Bessarábia foi unida à Transnístria, formando a República Socialista Soviética da Moldávia

A Moldávia tem estado desde os anos 90 do século XX sob influência tanto do Ocidente como da Rússia.  Atualmente o governo moldavo tem líderes a favor de uma integração com a União Europeia e procura controlar o movimento de grupos pró-Rússia. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a questão da Transnístria se acirrou, pois a região tem fronteira com a Ucrânia. Os deputados da Transnístria reclamam de uma suposta política de bloqueios de importações essenciais pelo governo moldávio contra a região.

Houve já em anos anteriores neste século aspirações de unir a Moldávia com a Romênia, devido às semelhanças culturais entre os países. Mas esse desejo não foi o mesmo na Transnístria com grande parte da população a favor da Rússia, inclusive com a criação de um governo, capital e moeda próprios.

Dia 3 de novembro será uma data muito importante, pois se a atual presidente vencer ela possivelmente dará continuação aos planos de maior aproximação com a União Europeia. Porém se ela não for eleita e uma liderança pró-Moscou for vitoriosa aí com certeza essa aproximação será muito difícil de acontecer. Que a Moldávia fique em paz e encontre o que for melhor para si, embora a questão toda seja complexa e o que ela achar que seja melhor para si pode talvez enfrentar uma forte oposição de uma nação vizinha poderosa. 

 A seguir vou apresentar um resumo da história do poeta  Mihai Eminescu.

 

Mihai Eminescu nasceu em 15 de janeiro de 1850, em Botosani (que atualmente fica na Moldávia). Lá ele passou sua infância. Ele foi um poeta romântico e o mais importante e conhecido  poeta da literatura romena, sendo o poeta nacional da Romênia e da República da Moldávia.  

Mihai estudou no ginásio de Cernauti (que hoje em dia faz parte da Ucrânia) e de lá fugiu várias vezes para se juntar a grupos de artistas ambulantes. Em uma dessas fugas ele foi até a região da Transilvânia. Passou a viver na boemia nas cidades de Giurgi e Bucareste. Mas seu pai o tendo encontrado em 1869 mandou-o a Viena para ele estudar. Apesar de ter estudado Filosofia e Filologia, não se formou. Mihai na verdade tinha o nome de família Eminovici. Ele trocou por Eminescu para romenizar seu nome, pois ici é eslavo e escu é romeno.

O poeta publicou seus primeiros versos na revista Junimea, tendo sido ator, inspetor de escolas e bibliotecário em Iasi, lugar onde conheceu e se apaixonou por Verônica Micle, que o inspirou e se tornou o seu grande amor. Estudou nos cursos dos filósofos Düring e Zeller em 1872 em Berlim, no entanto sem ter obtido diploma de formação. Em 1877 escreveu para o jornal conservador Timpul, onde expunha suas ideias. Em 1883, com transtorno mental, tratou-se em Viena e logo depois foi para a Romênia onde teve novamente problemas mentais e veio a falecer em Bucareste em 15 de junho de 1889 devido a uma síncope cardíaca. Ele influenciou outros poetas de língua romena. A filosofia de Schopenhauer teve influência em poesias filosóficas dele, caracterizadas por um profundo pessimismo. O maior prêmio de poesia da Roménia tem o nome de Mihai Eminescu.

 

Algumas poesias de Mihai Eminescu:

 

 ESTRELA

 Até à estrela que reluz

há uma distância de trespasse;

correu milênios sua luz para que enfim nos alcançasse.

 

 Talvez há muito já se fora

no longe azul o extinto astro;

porém seus raios só agora

ao nosso olhar mostram seu rastro.

 

A aura da estrela que morreu

grimpando o céu se faz dar fé;

era, e ninguém a percebeu,

hoje que a vemos, já nao é ...

Nossa saudade se faz dor

e na abissal noite se finda.

Porém a luz do extinto amor

os nossos passos segue ainda.

 

 SONOLENTOS PASSARINHOS

Sonolentos passarinhos

 - que o seu ninho os acoite –

se escondem por entre os ramos

Boa Noite!

Somente as fontes suspiram,

o bosque em silêncio jaz;

no jardim, flores cochilam

 - Dorme em Paz!

 

Desliza o cisne nas águas,

deita entre os juncos sem dono

 - que os anjos façam mais doce

O Teu Sono!

 

A noite é toda magia

ao sair da mansa lua;

tudo é sonho e harmonia

 - A Noite é Tua!

 

 O QUE É O AMOR?

O que é o amor? Um prolongado

motivo para a dor;

mil prantos nao lhe têm bastado,

pois mais exige o amor.

 

Com um sinal feito ao passar,

ela a alma te encarcera;

jánao a podes olvidar

por tua vida inteira.

 

Se ela te espera nesse instante

sob um caramanchao,

se nesse encontro faz-se amante

como requer teu coração.

 

 Desaparecem céu e terra,

teu peito forte bate,

de uma palavra tudo esperas,

murmurada à metade.

 

Segue-te um passo, já vão dias,

que teu passo aconselha;

há um doce aperto nas mãos frias,

tremor de sobrancelha.

 

Seguem-te luzes que, dispersas,

sol e lua parecem;

de dia, por vezes diversas,

sempre, quando anoitece.

 Estava escrito que tua vida

de amor em si não caiba,

presa do amor, como invadida

pelas lianas da água.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura 1: https://www.google.com/search?q=imagem+do+mapa+da+mold%

 

Figura 2: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=Mihai+Eminescu.