Marina Colasanti
Faleceu em 28 de janeiro de 2025 a
escritora, contista, jornalista, tradutora e artista plástica ítalo-brasileira
Marina Colasanti. Ela nasceu em 26 de setembro de 1937 em Asmara, na Eritreia,
que fazia parte do império colonial italiano. Ela foi autora de mais de 70
obras para crianças e adultos.
Características
presentes em obras da autora: intertextualidade;
caráter mitológico; protagonismo feminino; questões do universo feminino; fatos
do cotidiano; crítica social e de costumes; lirismo; elementos do conto de
fadas; realismo fantástico; frases curtas; crítica ao individualismo.
Marina passou
parte de sua infância em Trípoli, na Líbia, na época uma colônia italiana e
depois na Itália. Seu pai, Manfredo Colasanti, era ator, assim como seu irmão,
Arduíno Colasanti. Um de seus avôs era professor de uma escola de artes,
crítico de arte e escritor e a tia-avó dela Gabriella Bezanzoni era cantora
lírica. Em 1948 Marina e familiares mudaram-se para a cidade do Rio de Janeiro,
no Brasil. Quando ela tinha 16 anos sua mãe morreu.
No período entre
1952 e 1956 Marina estudou pintura com Caterina Baratelli e em 1956 ela entra
para a Escola Nacional de Belas Artes como professora de desenho. Essa formação
de artista plástica é que deu a ela a possibilidade de ela mesma ilustrar
futuras obras suas. Trabalhou como jornalista por 11 anos no Jornal do
Brasil a partir de 1962. Foi nessa época redatora, repórter, editora,
colunista e cronista. Escreveu para veículos de comunicação como as revistas Senhor, Fatos
e Fotos, Ele e Ela, Fair-play, Cláudia e Joia. Após
esse período ela trabalhou na editora Abril, na Revista Nova, na
qual ficou por 18 anos. Também ia publicando livros e apresentou programas
televisivos, assim como criou alguns roteiros para filmes e novelas. Foi também editora da
seção Segundo Tempo do Jornal dos Sports.
A primeira obra de
Marina foi Eu Sozinha, que escreveu em 1968. Depois passou a
publicar mais livros, direcionados para o público infantil e também para os
adultos. Foi tradutora de obras da língua italiana. Publicou ao todo mais de 70
livros (contos, poesias, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil. São
obras variadas, que tem atraído leitores de diversas faizas etárias, com temas
diversos como histórias de amor, o papel da mulher na sociedade, os
relacionamentos interpessoais etc. Muitos livros dela foram traduzidos para
outras línguas.
Ela ficou famosa
por seus livros infantis e ganhou como escritora diversos prêmiosliterários,
como o Jabuti em 1993, 1994, 1997, 2009, 2010, 2011 e, em 2014, venceu o prêmio
na categoria Livro do Ano de Ficção.A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
deu a ela o prêmio O Melhor para o Jovem. Seu livro Passageira
em trânsito recebeu o Prêmio Jabuti em 2010. Ganhou
o 13º Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil, em 2017 e
em 2023 passou a ser a primeira mulher vencedora do Prêmio Machado de
Assis, dado pela Academia Brasileira de Letras, devido ao conjunto de suas
obras. Foi indicada cinco vezes ao Prêmio Hans Christian Andersen,
considerado o Nobel da Literatura Infantil mundial. Foi homenageada como
Personalidade Literária de 2024, na última edição do Prêmio Jabuti.
Marina Colasanti
se declarou feminista histórica e integrou o primeiro Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher. Escreveu quatro livros relacionados a temas ligados
ao feminino no mundo. Foi casada com o escritor Affonso Romano de
Sant’Anna desde 1971, que sofre de mal de Alzheimer. O casal teve duas filhas:
Alessandra (atriz, roteirista e diretora) e Fabiana (que morreu em 2021).
O Museu da
Pessoa entrevistou Marina em 2008. Uma das perguntas foi sobre suas
lembranças a respeito do primeiro livro que havia lido em sua vida. Ela
respondeu:
"Não tenho,
porque eu não tenho lembrança de ausência de livro. Eu sou de uma cultura
leitora. Um país... Mais do que um país, a Europa. A Europa é leitora, a Itália
é um país leitor, então uma casa sem livro pra mim é inconcebível. Eu nunca
ganhei um primeiro livro, os livros estavam ao meu redor sempre. Quando eu não
sabia ler, a minha mãe lia pra mim. Então depois é que eu aprendi a ler. É um
contínuo. Não tem um momento que o livro entra, o livro sempre esteve."
Marina faleceu aos
87 anos na cidade do Rio de Janeiro, de pneumonia. O corpo dela foi velado no Parque Lage,
que serviu de casa para a sua família, quando chegou da Itália, em 1948. O
engenheiro e empresário Henrique Lage ergueu a casa e era casado com a tia de
Marina, a cantora lírica Gabriela Bezansoni. A relação de Marina com a casa e
seus tios foi descrita na obra de 2021, Vozes de Batalha.
Obras de Marina
Colasanti
- Eu
Sozinha (1968)
- Nada
de Manga (1975)
- Zoológico
(1975)
- A
Morada do Ser (1978)
- Uma
Ideia Toda Azul (1978)
- Doze
Reis e a Moça no Labirinto do Vento (1978)
- A
Menina Arco-Íris (1984)
- O
Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina (1985)
- E
Por Falar em Amor (1985)
- O
Verde Brilha no Poço (1986)
- Contos
de Amor Rasgado (1986)
- Um
Amigo Para Sempre (1988)
- Aqui
Entre Nós (1988)
- O
Menino Que Achou Uma Estrela (1988)
- Cada
Bicho Seu Capricho (1992)
- Um
Amor Sem Palavras (1995)
- Longe
Como o Meu Querer (1997)
- Gargantas
Abertas (1998)
- Fragatas
Para Terras Distantes (2004)
- Uma
Estrada Junto ao Rio (2005)
- Acontece
na Cidade (2005)
- Minha
Ilha Maravilha (2007)
- Passageira
em Trânsito (2010)
- Hora
de Alimentar Serpentes (2013)
- Como
Uma Carta de Amor (2014)
- Mais
de Cem Histórias Maravilhosas (2015)
- Melhores
Crônicas - Marina Colasanti (2016)
- Tudo
Tem Princípio e Fim (2017).
Poemas de Marina Colassanti:
“Lá fora, a noite”
É quando a família dorme
— inertes as mãos nas dobras dos lençóis
pesados os corpos sob a viva mortalha —
que a mulher se exerce.
Na casa quieta
onde ninguém lhe cobra
ninguém lhe exige
ninguém lhe pede
nada
caminha enfim rainha
nos cômodos vazios
demora-se no escuro.
E descalços os pés
aberta a blusa
pode entregar-se
plácida
ao silêncio.
“Frutos e flores”
Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.
Frases de Marina Colassanti:
"Todos os meus livros continuam
valendo, como sabem os acadêmicos que me atribuíram o Prêmio Machado de Assis
pelo conjunto da obra".
“Sem amor também não se vive.”
“Não existe metro nem fita métrica para
medir a felicidade.”
“O amor é inconsútil, não tem medida.”
“A diversidade dos desejos não pode ser
ignorada.”
“Assim a vida vai, entre os
revolucionários que gostam de mudanças, e os conservadores que não gostam
delas.”
“Estamos chegando demasiado perto da
beira do precipício.”
____________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+marina+colasanti#vhid=
Nenhum comentário:
Postar um comentário