terça-feira, 27 de maio de 2025

Campanhas de Maio e o Dia da Abelha

 

Datas especiais de Maio/ Campanhas em Maio.

 

Em maio diversas campanhas de conscientização e ações de combate a diversos problemas sociais e de saúde são realizadas. Entre essas campanhas há o Maio Amarelo, com foco em segurança no trânsito, e o Maio Laranja, que aborda a violência sexual contra crianças e adolescentes. Além destas, também há o Maio Roxo, que se concentra nas doenças inflamatórias intestinais, o Maio Vermelho, que busca prevenir o câncer bucal e o Maio Furta Cor, sobre a saúde mental das mães. Também em maio são comemorados o Dia das Mães e o Dia da Abelha. Abaixo estão explicações sobre estas campanhas e sobre o Dia da Abelha.






1-Maio Amarelo. Ano 2025

O Tema de 2025 é  Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana. Há o destaque à responsabilidade que todos devem ter no trânsito.  O objetivo do Maio Amarelo é a promoção da segurança no trânsito e conscientizar sobre a importância da prevenção de acidentes. O Maio Amarelo busca chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. É um  movimento internacional de conscientização para redução de acidentes de trânsito. Deve  haver uma ação coordenada entre o Poder Público (exemplos: ministérios, secretarias, órgãos públicos, escolas públicas) e a sociedade civil (exemplos: empresas, escolas privadas).

A verdadeira mobilidade humana se constrói quando todos se sentem seguros e respeitados. Vamos fazer da responsabilidade individual uma prioridade coletiva. Juntos, podemos transformar nossas cidades em espaços mais seguros e inclusivos para todos. O mês de Maio foi o escolhido para está luta, pois, em 11 de maio de 2011, a ONU decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito.E o amarelo simboliza atenção e também a sinalização e advertência no trânsito.







2-Maio Furta-cor:

É uma Campanha de saúde mental materna no Brasil. Busca-se com esta campanha promover a conscientização e o apoio às mulheres que estão grávidas ou que acabaram de ter filhos. Visa: 1- a sensibilização da população para a causa da saúde mental materna com a realização de ações de conscientização em saúde mental materna com base em evidências científicas; 2-estimular a construção de políticas públicas de saúde através de projetos de lei que instituam o Maio Furta-cor como estratégia de política pública de saúde para mulheres- mães.  Por que Furta-cor? Porque Furta-Cor é uma cor cuja tonalidade se altera de acordo com a luz que recebe, não tendo uma cor absoluta. No espectro da maternidade não é diferente, nele cabem todas as cores.

 



 


 3- Maio Laranja

É uma campanha promovida pelo Governo Federal no Brasil . O objetivo é o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. a campanha  visa a conscientização da população sobre a importância da prevenção desses crimes. A data de 18 de maio foi escolhida em memória à menina Araceli Cabrera Sánchez, que foi vítima de abuso e assassinato em 1973. Dia 18 de maio é o dia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil.

Maio Laranja é uma campanha do Governo Federal no Brasil dedicada ao combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Instituída por lei, a campanha busca conscientizar a população sobre a importância da prevenção desses crimes. A data de 18 de maio foi escolhida em memória à menina Araceli Cabrera Sánchez, que foi vítima de abuso e assassinato em 1973. Dia 18 de maio é o dia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil. A lei que criou essa campanha foi a de nº 14.432/2022, sendo decretada em 3 de agosto. A escolha pela cor laranja é porque faz referência a uma flor extremamente frágil e vulnerável chamada gérbera, muito comum no Brasil. 

Em 2022, foram registradas no Brasil quase 112 mil denúncias de abuso e exploração sexual infantil na internet. A campanha nasce assim de modo a dar visibilidade ao tema, fazendo com que a sociedade se mantenha informada sobre esse assunto e participe da luta contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. 




4-Maio Roxo:  

O mês de maio, e, principalmente,  o dia 19, é dedicado no Brasil à conscientização sobre as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs). A campanha diz respeito à importante necessidade de estar atento aos sinais e procurar um médico especialista. É essencial que haja o tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais, com as orientações de um médico gastroenterologista. O objetivo principal do tratamento das DIIs é manter o controle da doença, considerando o bem-estar físico, social e emocional dos pacientes.



5- Maio Vermelho

A campanha Maio Vermelho acontece em maio e é relacionada ao câncer de boca, buscando orientar as pessoas sobre a questão. Este tipo de câncer atinge os lábios e regiões como a gengiva, bochecha, língua, freio lingual inferior (parte abaixo da língua) e o céu da boca. Segundo informações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), há uma incidência de cerca de 15.190 casos e 6.192 óbitos por ano no Brasil. As principais causas são tabagismo e o consumo excessivo de álcool. Outras causas: Higiene bucal precária; Exposição excessiva e sem proteção dos lábios aos raios ultravioletas; Exposição a certos materiais como o amianto, óleo de corte, poeira de madeira e de couro, solventes orgânicos e agrotóxicos.







6- O Dia Mundial das Abelhas:


Há mais de 20 mil espécies de abelhas pelo mundo. Além da produção de mel as abelhas são polinizadoras essenciais para a biodiversidade e para a produção de alimentos. Grande parte das espécies de abelhas não produzem mel. As abelhas tem papel significativo para os ecossistemas e para a preservação ambiental. As abelhas são muito importantes pela sua função primordial na manutenção da biodiversidade. Trata-se da a polinização.

A ONU, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2017, criou o O Dia Mundial das Abelhas, que passou a ser comemorado todo dia 20 de maio desde 2018. O dia escolhido foi uma homenagem ao esloveno Anton Janša, nascido em 1734 e considerado o pioneiro da apicultura moderna. Segundo a ONU, a "data foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas para lembrar a importância da polinização para o desenvolvimento sustentável".

Daniel Malusá Gonçalves, diretor da ONG Bee or not to be, associação civil brasileira sem fins lucrativos e de caráter sócio-ambientalista que atua na defesa de todas as espécies de abelhas disse: “A maior parte das abelhas é solitária e não vive em sociedade, mas todas atuam como polinizadoras importantíssimas”. 

Por meio da polinização, com o transporte  de pólen, há a fertilização de plantas e sua reprodução. Em algumas espécies de plantas isso é fundamental para a sobrevivência. Em outras, com destaque para  espécies frutíferas, a polinização também está relacionada à qualidade nutricional da fruta.

Graças às abelhas há variação genética tão importante ao desenvolvimento e reprodução das plantas e, com isso, garantem o equilíbrio dos ecossistemas e que existam plantas suficientes para a produção de oxigênio.

Especialistas apontaram perigos para a existência das abelhas

O aumento de guerras e conflitos armados que está prejudicando as abelhas deixando os polinizadores com menos opções de alimento ao longo do ano;

Contaminação de colmeias na Europa por partículas de microplásticos;

 Os polinizadores noturnos tiveram suas visitas às flores reduzidas em cerca de 62% por causa da luz artificial proveniente da iluminação de rua;

Os insetos polinizadores estão com sua sobrevivência muito afetada pela poluição atmosférica;

As abelhas estão sendo atingidas pelo uso de antibióticos na agricultura,, contaminando o mel e alterando o comportamento dos polinizadores, incluindo a redução da procura por flores.

As misturas de pesticidas, mesmo quando dentro dos limites legais considerados “seguros”, podem causar efeitos tóxicos imprevistos ao interagir com outras substâncias químicas.

Diante disso que foi apresentado, os especialistas propõem várias medidas para proteger as abelhas, incluindo leis mais rigorosas sobre a poluição por antibióticos, transição para veículos elétricos para reduzir a poluição do ar, criação de habitats ricos em flores e o desenvolvimento de culturas agrícolas  com pólen e néctar mais nutritivos para melhorar a alimentação dos polinizadores.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História 

 

 

domingo, 25 de maio de 2025

Homenagem ao fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado

 




Em 23 de maio de 2025 faleceu  o famoso e talentoso fotógrafo documental e fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado. Ele foi um dos fotógrafos mais destacados da fotografia mundial. Ele enfrentava problemas de saúde desde o tempo que contraiu malária devido a uma expedição que fez à Indonésia.  Por mais de cinco décadas ele trabalhou como fotógrafo e deixou um legado em fotografias em preto e branco, tendo tido uma preocupação especial com questões sociais e ambientais. Entre essas questões, a situação da Amazônia e a realidade de refugiados e comunidades indígenas.

O nome todo dele era Sebastião Ribeiro Salgado Júnior . Ele nasceu em Conceição do Capim, no município de Aimorés, Minas Gerais,  em 8 de fevereiro de 1944. Para realizar seus projetos fotográficos ele viajou por mais de 120 países. Seu trabalho foi mostrado em exposições itinerantes em várias partes do mundo. Procurava demonstrar por meio de suas fotos o que acontecia com as pessoas, destacando a dignidade dos povos e criticando a violação de direitos fundamentais dos seres humanos por causa de guerras, pobreza extrema e diversas injustiças sociais.

Sebastião Salgado foi Embaixador da Boa Vontade da UNICEF e em 1982 recebeu o prêmio W. Eugene Smith Memorial Fund, tendo sido membro honorário estrangeiro da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos desde 1992 e também foi membro da Academia de Belas Artes de Paris. Em 1993 recebeu a Medalha do Centenário e Bolsa Honorária da Royal Photographic Society (HonFRPS). Era graduado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Tinha mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo e doutorado também nessa área de conhecimento  pela Universidade de Paris.

Trabalhou como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC). Fez sua primeira sessão de fotos na década de 1970. Identificou-se com o ato de fotografar e em 1973 tornou-se fotógrafo independente, no trabalho de fotojornalista e foi para Paris. Depois de passar pelas agências de fotografia Sygma e Gamma, entrou para a Magnum em 1979. Incumbido de fazer de uma série de fotos sobre os primeiros 100 dias de governo de  Ronald Reagan, presidente dos EUA, Salgado documentou o atentado a tiros contra o presidente em 30 de março de 1981. Com a venda de fotos sobre esse atentado para diversos jornais, Salgado conseguiu financiar seu primeiro projeto pessoal: uma viagem à África.

Em 1986 Sebastião Salgado publicou seu primeiro livro: Outras Américas. Era a respeito dos pobres da América Latina. Ainda no mesmo ano publicou Sahel:  O "Homem em Pânico” , fruto de colaboração de doze meses com a organização Médicos sem Fronteiras, a respeito da seca no Norte da África. Outra obra sua foi Trabalhadores, que consistia na documentação do trabalho manual em todo o mundo, obra que foi realizada entre 1986 e 1992, sendo um feito grandioso, aumentando sua reputação como um documentarista de sucesso.

O fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas chamou a atenção de Salgado, que realizou trabalho sobre isso de 1993 a 1999, dando origem à obra Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo, publicada no ano 2000. Na introdução da obra ele escreveu: "Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…". Com apoio da ONU e do UNICEF Salgado organizou uma exposição no Escritório das Nações Unidas em Nova Iorque, com 90 retratos de crianças desalojadas extraídos de sua obra Retratos de Crianças do Êxodo.

Por seus trabalhos fotográficos Sebastião Salgado teve reconhecimento internacional e recebeu prêmios de fotografia importantes. Em 1994 ele fundou a sua própria agência de notícias: As Imagens da Amazônia. Ele e a sua esposa Lélia Wanick Salgado se estabeleceram em Paris, França. Eles tiveram dois filhos. Um deles, Juliano, dirigiu com o fotógrafo Wim Wenders o documentário Sal da Terra, sobre o trabalho de Sebastião Salgado. Esse documentário foi indicado ao Oscar de 2015 de melhor documentário.

Sebastião Salgado contribuiu com organizações humanitárias como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional. Também dedicou-se às causas ambientalistas, por meio do Instituto Terra, para reflorestamento e revitalização comunitária em área do Estado de Minas Gerais.  Sebatião e sua esposa decidiram em 1998 reflorestar a Fazenda Bulcão, em Aimorés, Minas Gerais. Graças a essa ação, houve a recuperação da biodiversidade local, aliada a um desenvolvimento rural sustentável às margens da Bacia do Rio Doce.

Sebastião Salgado faleceu em Paris, aos 81 anos de idade. A causa da morte foi uma leucemia grave que surgiu devido à evolução de uma malária que contraiu em uma expedição fotográfica realizada na Indonésia.

Segundo Ângela Locatelli (23 de maio de 2025):

“Reconhecido mundialmente como um dos fotógrafos mais geniais da história, o brasileiro Sebastião Salgado transformou a maneira como um registro em preto e branco pode impactar as pessoas através de seu olhar sobre a natureza e os conflitos sociais e humanos, como guerras e a exploração de pessoas.  

Sebastião Salgado morreu nesta sexta-feira, 23 de maio, aos 81 anos, como confirmaram informações dadas pelo Instituto Terra, organização não-governamental fundada pelo documentarista e sua mulher, Lélia Wanick Salgado, com quem ficou casado por 61 anos. 

Lélia era sua parceira também na vida profissional: foi usando uma câmera comprada por ela que Salgado começou a fotografar; tempos depois, ela se tornou responsável por editar seus livros, além de organizar as exposições fotográficas do marido, que chegaram a diversas cidades do mundo.

 

Homenagem do Instituto Terra a Sebastião Salgado:

 

"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora".

 

Frases de Sebastião Salgado:

 

“Não sou religioso, mas acredito na evolução. É uma pena vivermos apenas 80 ou 90 anos no máximo. Se pudéssemos viver mil anos, seríamos capazes de entender nosso planeta mil vezes melhor, e viver de outra forma.”

 

 “A fotografia é a memória de todos nós. É através dela que o mundo nos vê.”

 

“Os fotógrafos não têm uma profissão. Têm uma forma de viver. Quando eu saio para fotografar, sou um homem totalmente livre, em ligação total com o meu planeta.”

 

Não podemos ser apenas espectadores da destruição. Precisamos ser agentes de mudança.”

“Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda a sua cultura.”

 

“Constatamos que o mundo está dividido em duas partes: de um lado a liberdade para aqueles que têm tudo, do outro a privação de tudo para aqueles que não têm nada.”

 

“Quem não gosta de esperar não pode ser fotógrafo.”

 

“É preciso ter paciência para esperar o que vai acontecer. Pois algo vai acontecer, necessariamente. Na maioria dos casos, não há como acelerar os fatos. É preciso descobrir o prazer da paciência.”

 

“Não tenho nenhuma preocupação nem nenhuma pretensão de como serei lembrado. É minha vida que está nas fotos e nada mais.”

 

“As maiores viagens que fiz na vida foram dentro de mim mesmo.”

 

Algumas fotografias de Sebastião Salgado:



                                                                                        Serra Pelada



                                                        Trabalhadores nordestinos

                                      


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


terça-feira, 20 de maio de 2025

A cantora lírica brasileira Maria Lúcia Godoy

 




Em 16 de maio de 2025 faleceu a cantora lírica brasileira Maria Lúcia Godoy. Ela se especializou em cantar músicas do compositor brasileiro Villa-Lobos e ficou famosa por sua gravação das Bachianas brasileiras n° 5 desse autor. Participou dos filmes "Os senhores da terra" (1970), de Paulo Thiago; "Navalha na carne" (1997), de Neville de Almeida; "Poeta de 7 faces" (2002), de Paulo Thiago, e "Glauber, o filme – Labirinto do Brasil" (2003), de Sílvio Tendler. Em "Poeta de 7 faces" cantou a “Cantiga do Viúvo” de autoria de Villa-Lobos, com base no poema de Carlos Drummond de Andrade.

Maria Lúcia nasceu em Mesquita (Minas Gerais), em 2 de setembro de 1924 e ainda criança foi para Belo Horizonte e nessa cidade formou-se em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atualmente Faculdade de Letras da UFMG. Quando adolescente fazia declamações poéticas em saraus realizados pela família Godoy em Belo Horizonte. Após sua formação na faculdade foi cronista do jornal Estado de Minas por 11 anos. Como poetisa teve poesias suas publicadas nos livros Ninguém reparou na primavera (Editora Lê) e Um passarinho cantou (Editora Rio Gráfica), ambos de 1985.

Maria Lúcia iniciou estudos musicais com Honorina Prates e depois com Pasquale Gambardella, na cidade do Rio de Janeiro. Ganhou uma bolsa de estudos para estudar música na Alemanha. Foi solista principal do Madrigal Renascentista. Casou-se com o maestro Isaac Karabtchevsky, regente desse madrigal. Ela destacou-se como cantora de câmara e solista sinfônica, apresentando-se em grandes cidades do Brasil e de outros países.

Reunia excelente técnica vocal com sua capacidade de interpretação e assim cantava obras clássicas e populares. A renomada soprano Bidu Sayão a considerou “sua única sucessora”. Interpretou papeis importantes de óperas como Lola (Cavalleria Rusticana), Liú (Turandot), Mimi (La Boheme), Rosina ( O Barbeiro de Sevilha) e outros. Cantou obras diversas, como modinhas imperiais e de autores brasileiros de sucesso como Edino Krieger, Cláudio Santoro, Ronaldo Miranda, Waldemar Henrique, Tom Jobim, Milton Nascimento, Chico Buarque de Holanda etc. Também cantou obras complexas como canções sinfônicas. Ela gravou as 14 Serestas, a Bachianas nº 5 e a Suíte Para Voz e Violão, obras de Villa-Lobos.

Quando houve o translado dos restos mortais de Dom Pedro I ao Brasil Maria Lúcia cantou em homenagem ao imperador no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, Portugal. Ela, a convite do presidente Juscelino Kubitschek, cantou na cerimônia de inauguração de Brasília e homenageou o diretor de cinema Glauber Rocha cantando  Bachianas nº 5 de Villa-Lobos. Recebeu a Medalha de Honra da UFMG em cerimônia no no auditório da reitoria da universidade em 19 de dezembro de 2002 e o título de Doutora Honoris Causa pela UFMG no dia 15 de setembro de 2016 no mesmo auditório, ocasião em que disse: “Sinto-me honrada por fazer parte da cultura do meu país, sempre buscando fazer da música uma ponte para a sensibilidade, o crescimento humano e o encontro com as mais profundas raízes artísticas”.

A voz de Lúcia Godoy foi comparada, pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, ao ouro de Minas e por Ferreira Gullar, a um pássaro voando. O professor Mauro Chantal da UFMG disse sobre ela: “Maria Lúcia Godoy se destacou como intérprete única da canção de câmara brasileira, e seu nome é referência para estudo desse material, por sua dicção perfeita e atributos musicais inquestionáveis”.

Maria Lúcia faleceu em Belo Horizonte (MG) com cem anos de idade.

 Sugestão de vídeos: 


Maria Lúcia Godoy (1976)

https://www.youtube.com/watch?v=3Ik0AYnF_uc

 

Maria Lúcia Godoy - BACHIANAS BRASILEIRAS nº 5 - Cantilena e Martelo - H.Villa-Lobos

https://www.youtube.com/watch?v=DUWtEmrp9sU

 

Maria Lucia Godoy - SABIÁ - Tom Jobim e Chico Buarque

https://www.youtube.com/watch?v=K8jNRWT8kec

 

Maria Lucia Godoy - TORNA A SORRIENTO

https://www.youtube.com/watch?v=45wpOLjzG8o

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2025/05/16/velorio-cantora-lirica-maria-lucia-godoy


segunda-feira, 12 de maio de 2025

A situação atual entre Índia e Paquistão

 

   
Mapa da Caxemira: Em verde parte paquistanesa, em azul parte indiana e em vermelho a parte chinesa. 


 

Em 6 de maio deste ano a Índia bombardeou território paquistanês. Segundo informações, houve mortes, incluindo uma criança. O governo indiano afirmou ter destruído “nove acampamentos terroristas e o governo paquistanês disse ter abatido cinco aviões indianos. O ataque indiano seria uma resposta às ações de um grupo terrorista contra civis, com 26 mortos e 17 feridos na Caxemira indiana, no dia 22 de abril de 2025.  O governo indiano acusou o Paquistão de envolvimento direto. O ataque indiano seria então uma resposta ao Paquistão, acusado pela Índia de apoiar o ataque terrorista.

Há uma questão histórica de décadas envolvendo a Caxemira, região do norte do subcontinente indiano dividida entre três países: Índia, Paquistão e China.

O império britânico dominou a maior parte do que se chama de subcontinente indiano que envolve os atuais países Índia, Paquistão, Butão, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka  e Maldivas desde o século XIX até pouco depois da Segunda Guerra Mundial.

Histórico

O termo “Caxemira” está relacionado historicamente ao vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia (cadeia de montanhas) . Na atualidade “Caxemira” tem uma área mais extensa, incluindo as regiões de Jamu, Caxemira e Ladaque. O nome “Caxemira” tábém tem ligação com a lã de caxemira, produzida por meio de cabras da região e considerada um material têxtil de alta qualidade. O nome está ligado à “Ka” (água) e “Shimir” (dessecar). Então Caxemira seria: "uma terra dessecada da água".Há uma outra versão que diz que Caxemira é uma contração de Kashyap-mira ou Kashyapmir ou Kashyapmeru, o "Mar ou Montanha de Kashyapa” (o sábio que teria, segundo as crenças regionais, drenado as águas do lago Satisar primordial, que Caxemira foi antes de ser recuperado). “Mira” segundo uma explicação, significa o lago do mar ou a montanha do Sábio Kashyapa. Os gregos antigos chamavam-no de 'Kashyapa-pura', que foi identificado com Kaspapyros de Hecataeus e Kaspatyros de Herodotus. Há outras explicações para o nome, mas não me deterei nisso para não alongar o artigo.

O território que envolve a Caxemira tem sido objeto de disputas entre Índia (de maioria hindu) e Paquistão (de maioria muçulmana) desde que os dois países  conseguiram  suas independências em 1947. A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma resolução dizendo que a a população local deveria decidir a situação política da Caxemira por meio de um plebiscito, mas este nunca aconteceu e toda a região da Caxemira foi anexada à Índia, após o marajá que governava a Caxemira ter decidido que todo essa região seria parte da Índia, mesmo tendo uma grande população muçulmana, o que provocou a reação paquistanesa com a guerra de 1947 a 1948, havendo então a divisão da Caxemira: o Paquistão ficando com a Caxemira Livre e Territórios do Norte e a outra parte com a Índia.

Em 1962 a China entra na questão conquistando um trecho de Jamu e Caxemira (Aksai Chin). Em 1963 o Paquistão cede à China uma faixa dos Territórios do Norte. Houve um outro conflito em agosto de 1965 sem modificações nos territórios. Vários milhares de insurgentes paquistaneses entraram na Caxemira indiana com objetivo de provocar uma rebelião popular. Houve 17 dias de conflitos que terminaram após a intervenção da ONU.

Em 1971 o governo indiano apoiou o movimento de independência do Paquistão Oriental que deu origem ao Bangladesh. Houve uma guerra entre Índia e Paquistão e o Bangladesh se tornou independente.

Em 1972, o Paquistão e a Índia assinaram um acordo de paz na cidade indiana de Shimla. O Paquistão supostamente ratificou a Linha de Controle que divide a Caxemira por 720 quilômetros. Mas tempos depois esse governo negou tal acordo.

A partir da década de 1980 começam ações de grupos guerrilheiros separatistas na Caxemira indiana. A Índia tem acusado apoio do governo paquistanês a estes grupos que desejam uma unificação com o Paquistão. Além dos conflitos entre Índia e Paquistão pelo controle da região há também significativos movimentos locais pela independência.  Essa tensão toda levou a uma militarização das fronteiras e para uma corrida armamentista, tendo Índia e Paquistão desenvolvido armas nucleares na década de 1990. Em 1999 houve combates de maio a julho com vitória indiana. Nessa década houve atentados terroristas com explosões em cidades paquistanesas. Houve uma série de ações terroristas no Paquistão e na Índia. Em julho de 2000  fracassam negociações de paz entre o governo da  Índia e os separatistas muçulmanos da Caxemira. Uma trégua é anunciada em agosto pelo principal grupo separatista islâmico da Caxemira em agosto de 2000. Mas a Índia se recusa na época a aceitar o Paquistão nas negociações de paz.

Em novembro de 2003, pela primeira vez em 56 anos, Índia e Paquistão assinaram um cessar-fogo ao longo de toda a linha divisória da Caxemira. Em setembro de 2006, os dois governos concordaram na cidade cubana de Havana em retomar o processo de paz. Porém, foram suspensas as negociações destinadas a melhorar as relações depois que houve um atentado múltiplo em 2008, em Mumbai, na Índia, tendo o governo indiano culpado um grupo terrorista baseado no Paquistão. De novo se sentou para negociar a paz em 2010. Mas não se obteve sucesso até a atualidade. A Índia tem feito acusações ao Paquistão dizendo que este país apoia o "terrorismo transfronteiriço" e que permite e patrocina operações de terroristas em seu território para atacar alvos indianos e acusa também o governo paquistanês de incentivar protestos separatistas entre a população da Caxemira.

Especialistas em segurança e alguns militares indianos de alta patente, que já estiveram de serviço na Caxemira, criticam o governo de Modi por usar a questão nacionalista indiana sobre a região para agradar apoiadores e dizem que este governante não deu importância aos sinais de alerta sobre atividades terroristas.

Em 2019 um carro-bomba suicida explodiu na Caxemira indiana. O governo indiano na ocasião retirou Caxemira de sua semiautonomia e a colocou sob controle direto do governo federal. As tensões diminuíram, no entanto, a força repressiva deu uma sensação de segurança que atraiu nos últimos tempos milhões de turistas indianos à região. Mas as forças de segurança indiana não conseguiram impedir o ataque terrorista de 22 de abril. Houve pressão popular na Índia, baseada em clamores nacionalistas,  por uma resposta em relação ao Paquistão. Esta questão nacionalista vem desde os primeiros conflitos entre os países na década de 1940. Os especialistas em segurança indianos que analisaram o ataque aos turistas em 22 de abril deste ano fizeram uma relação com um acontecimento em março, quando um trem de passageiros no Paquistão foi atacado por guerrilheiros balúchis (há reivindicações de independência de parte da população balúchi em relação ao Paquistão) . O governo paquistanês acusou o governo indiano de ter apoiado o ataque, que causou 25 mortes. O suposto apoio ao atentado de 22 de abril, analisando por esta ótica, pode ter sido uma reação do governo paquistanês ao ataque de março ao trem.

Que Índia e Paquistão escolham o caminho do bom senso. São nações populosas, dotadas de armas nucleares. É preciso achar uma solução pacífica para a Caxemira depois de décadas de conflitos que já levaram a dezenas de milhares de mortos.

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Situação quanto à população da Caxemira considerando a religião:

Em 1901 o governo britânico na ìndia dizia que havia na Caxemira 74% de muçulmanos no Estado principesco de Caxemira e Jamu; 24% de hindus e o restante era budista. Em Jamu a maioria era de hindus (cerca de 80% da população local)  e no vale de Caxemira a população era de 93% de muçulmanos. Em 2003 , com os dois países independentes, no vale de Caxemira a população era de 95% de muçulmanos e em Jamu de 66% de hindus. Além de muçulmanos e hindus, há na Caxemira outras populações menores: siques  e budistas. Em 2001 eram 207 mil siques e 113 mil budistas.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

https://www.google.com/search?q=iamgens+da+Caxemira+mapa&client=firefox-b-d&sca_esv=b703f1cd0674f892&ei=-


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Conclave: O que é e história

 



A pedido de um leitor de meus artigos neste blog decidi escrever sobre a reunião realizada por representantes da Igreja Católica chamada de “conclave”.

Mas o que é o conclave? A palavra “conclave” vem sendo usada desde 1274. Foi o papa Gregório X que a usou pela primeira vez nesse ano, criando-se assim as bases para os conclaves que foram realizados até a atualidade. Trata-se de um processo desenvolvido pela Igreja Católica de escolha de um novo papa (o chefe da Igreja Católica), por meio de uma reunião do Colégio de Cardeais. No decorrer de todo esse tempo desde a sua criação, esse processo passou por mudanças conforme os contextos em que ocorreram.

Foi durante o Segundo Concílio de Lyon, em 1274, que o papa Gregório X , preocupado com a possibilidade de demora na escolha e com possíveis interferências políticas externas, assinou um decreto que determinava que os cardeais eleitores deveriam ficar trancados em seclusão (isolamento) cum clave ( “com chave”). Eles não poderiam sair até que o processo da eleição tivesse terminado, com um novo papa eleito.

No início da história da Igreja Católica o bispo de Roma (que posteriormente passou a ser considerado o papa) era escolhido pelo consenso do clero e dos leigos da diocese. Mas a regra mudou em 1059 quando o Colégio de Cardeais foi designado como o único corpo de eleitores. O Papa Paulo VI em 1970 fez outra mudança: os eleitores seriam cardeais com menos de 80 anos. Houve outras alterações feitas depois pelos papas João Paulo II e Bento XVI.  Atualmente é preciso um voto de maioria qualificada de dois terços para eleger o novo papa.

O mais longo tempo para escolha de um papa aconteceu com a morte do Papa Clemente IV. Em Viterbo, na Itália, no dia 29 de novembro de 1268, teve início a mais longa eleição papal da História da Igreja que só teve fim em 1º de setembro de 1271. Dos 19 cardeais eleitores que iniciaram a reunião, dois morreram nesse período. A população da cidade perdeu a paciência e trancou os cardeais eleitores no Palácio Papal de Viterbo. A entrega de alimentos era controlada rigorosamente e a cobertura do local onde os cardeais estavam foi removida em parte deixando-os expostos à temperatura ambiente. Finalmente foi escolhido Teobaldo Visconti, que nem cardeal era e não estava na reunião. Ele encontrava-se na Terra Santa e demorou 4 meses para ele chegar em Viterbo e em 27 de março, em Roma, tornou-se o papa Gregório X.

A expressão “conclave” aparece pela primeira vez na Constituição Apostólica Ubi Periculum , em relação ao local em que se reúnem os cardeais para a eleição do novo Papa, e à assembleia constituída com esta finalidade.

Na atualidade, quando há a morte de um papa, durante nove dias os cardeais celebram exéquias de sufrágio por sua alma , conforme o que está escrito no documento Ordo Exsequiaram Romani Pontifici

Quando um papa morre ou renuncia a Sé Apostólica é considerada vacante até a data de eleição de um novo pontífice. Durante este tempo o Cardeal Decano ou Camerlengo fica responsável pelos assuntos da Igreja. Ele é que tem que comprovar oficialmente a morte do Papa, fazendo-o na presença do Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dos Prelados Clérigos e dos Secretário e Chanceler da Câmara Apostólica. Também é o Decano que redige a ata em relação ao falecimento do Papa. É convocado o Sagrado Colégio dos Cardeais para que seja reunido o Conclave. O Camerlengo também tem a função de recolher o selo e o anel pontifícios, fechando os aposentos e dependências onde o papa que morreu viveu e trabalhou.

A eleição é feita no Vaticano pelos cardeais reunidos que não tenham completado 80 anos até o anúncio da Sé Apostólica vacante. O último papa que não era cardeal foi Urbano VI, em 1378. A eleição é realizada no Estado do Vaticano ( na Capela Sistina), com os cardeais isolados do mundo exterior, sem poderem se comunicar para fora de onde estão.

O Papa Paulo VI por meio do documento do Motu Proprio Ingravescentem Aetatem, de 21 de novembro de 1970, refez regras de eleição e foi publicada a Constituição Apostólica Romano Pontífice Eligendo em 1975 que reafirma o documento de 1970. Foram decretadas por esse papa três modalidades para a eleição: 'por aclamação' (um cardeal propõe um nome e os outros cardeais aceitam-no imediatamente); 'por compromisso', isto é, por aceitação do nome decidido por um grupo de Cardeais, e 'por votação'. Neste último caso, o nome do Cardeal mais votado tinha que somar dois terços dos votos. Mas João Paulo II na Constituição Apostólica Universi Dominci Gregis, de Constituição Apostólica modificou as regras de escolha: a eleição de um papa seria só por votação, com três passos.  O primeiro é a contagem dos votos, o segundo a sua verificação e o terceiro a sua destruição pelo fogo.

O sigilo durante o processo eleitoral no Conclave é para os cardeais e todas as pessoas chamadas a prestar apoio técnico ou logístico às sessões do Conclave. Geralmente os conclaves duram de 2 a 5 dias. O processo mais rápido na atualidade foi em 1939 quando foi escolhido Pio XII em dois dias, em três votações e o mais longo foi em 1922 na escolha Pio XI. Em outras épocas da História houve o processo de escolha do Papa Celestino V que começou em 1292 e terminou em 1294 (no total 27 meses) e como destaque de rapidez o de escolha do Papa Júlio II em 1503 que levou algumas horas.

 Ao começa o Conclave o Camerlengo lê o juramento solene que obriga todos os cardeais eleitores a aceitar as condições do processo , a rejeitar todas as influências externas e a manter secretas as suas deliberações. Após isso, ele procede à chamada dos eleitores. Ao ouvir o seu nome, cada cardeal levanta-se e dirige-se para a mesa onde estão os três vasos de vidro e a bandeja de prata, perante a qual, em voz alta, declara o juramento com a mão direita sobre a Bíblia. O Camerlengo destaca a importância das decisões dos eleitores e diz: "Que o Senhor vos abençoe a todos!" Começa então um sorteio para escolha de três cardeais escrutinadores que tem a responsabilidade de verificar e contar os votos. Esses cardeais recebem a designação de 1.º, 2.º e 3.º escrutinador. São sorteados também os três cardeais infirmarii que devem recolher os votos dos cardeais que adoeceram, eventualmente, durante o Conclave. São sorteados, por fim,  os três Cardeais revisores, encarregados de fiscalizar os trabalhos dos cardeais escrutinadores.

As votações para escolha do novo papa são realizadas em sessões de manhã e à tarde, duas em cada sessão, com exceção do primeiro dia onde se realiza apenas uma votação. Na hora da votação cada Cardeal pega num boletim, de papel branco e forma retangular, que tem escrito na parte superior ''Eligo in summum pontificem" (Elejo como Sumo Pontífice), ali há o espaço que o cardeal eleitor deve escrever em letras maiúscula o nome do escolhido por ele. O voto precisa ser dobrado ao meio. Primeiro votam os cardeais mais idosos. Os eleitores colocam o voto na bandeja de prata e vão até a boca do primeiro vaso de vidro, inclinam a bandeja e o voto cai no vaso. Quando a votação termina, o primeiro Cardeal escrutinador pega o vaso de vidro e leva-o para a mesa de escrutínio e aí agita-o para misturar bem os votos e depois coloca os votos no segundo vaso de vidro, conta-os um por um e diz em voz alta para que todos ouçam claramente. Se os votos contados não estiverem correspondendo ao total de cardeais eleitores, serão queimados e será feita a segunda votação.

Quando cada voto é tirado pelo primeiro escrutinador, ele é desdobrado e é anotado numa folha de papel o nome votado. O voto depois de ter passado pelo primeiro escrutinador é entregue ao segundo escrutinador, que procede de igual modo, entregando o voto ao terceiro escrutinador. Este lê cada nome votado em voz alta e de modo que todos entendam. E assim se procede até que todos os votos sejam contados e anunciados.  No fim deste processo, o terceiro escrutinador fura e cose cada boletim de voto com agulha e linha. Depois os votos são colocados no terceiro vaso de vidro. Cada um dos três escrutinadores deve somar os votos constantes do papel em que os foi anotando. Após esse trabalho, os cardeais revisores vão até a mesa de escrutínio e, cada um por seu lado, contam os votos e conferem o número total de votos com o registro feito por cada escrutinador.

Se houver três dias sem resultados suspendem-se os escrutínios durante o máximo de um dia, com o fim de criar uma pausa para oração e livre diálogo entre os cardeais eleitores.

O anúncio dizendo que o processo eleitoral terminou ou não é por meio de "fumatas". A fumaça que sai de uma chaminé instalada numa estufa do tipo salamandra na Capela Sistina, é, pela sua cor, o sinal dado ao exterior. Se não houver ainda conclusão, isto é, se o nome de um candidato não somar dois terços dos votos, volta tudo à primeira forma. Os eleitores devem dar ao Camerlengo as notas pessoais que porventura tomaram durante a eleição. As notas, juntamente com todos os votos, são metidas numa caixa onde já se encontram as tiras de papel relativas ao sorteio dos cardeais escrutinadores, infirmarii e revisores. A caixa é conduzida para o fogão contíguo à Capela Sistina, onde tudo é queimado.

A partir do conclave de 2005 há um novo sistema para a fumata que permite distinguir bem a fumaça branca, que indica a eleição do pontífice, da fumaça preta, que indica que o processo ainda não convergiu num nome. Para obter cor preta usa-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre e para fumaça branca é usada uma mistura de clorato de potássio, lactose e colofónia.

Escolhido o novo papa são chamados pelo último dos Cardeais Diáconos dois cardeais: o cardeal que é Secretário do Colégio dos Cardeais e o cardeal que é Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. O Cardeal Diácono pede então o consentimento do cardeal que foi eleito Papa dizendo:

Pergunta 1-Acceptasne electionem de te canonice factam in Suumum Pontificem? Aceitas a tua eleição canónica como Sumo Pontífice?

Resposta- Aceito em nome do Senhor (o Cardeal pode rejeitar e volta-se a fazer uma nova votação).

Pergunta 2- Quo nomine vis vocare? Com qual nome queres ser chamado?

O novo Papa releva o nome que deseja ter. A seguir, recebe o 'ato de obediência' por parte de todos os Cardeais. Um a um, vão até ele de pé. Então, a caixa que contém os votos, os apontamentos dos Cardeais e as tiras do sorteio dos escrutinadores é levada a queimar dentro do fogão da Capela Sistina. Sai neste caso a fumaça branca, anunciando a escolha do novo Papa. O Cardeal Protodiácono vai até a varanda da basílica anunciar o resultado.

 

Annuntio vobis gaudium magnum:
Habemus Papam!
Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum,
Dominum [primeiro nome],
Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem [sobrenome],
qui sibi nomen imposuit [nome papal].

"Anuncio-vos com grande alegria:
Temos Papa!
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor,
Senhor [primeiro nome],
Cardeal da Igreja Católica Romana [sobrenome],
que escolheu para si o nome de [nome papal]."

Em um momento posterior o Papa aparece na varanda central da Basílica de São Pedro e deve então dar a a bênção Urbi et Orbi .Desde a eleição do Papa João Paulo II o papa que foi eleito fala ao povo com um discurso precedente à benção.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.gettyimages.com.br/search/2/image?phrase=conclave