Em 6 de maio deste
ano a Índia bombardeou território paquistanês. Segundo informações, houve
mortes, incluindo uma criança. O governo indiano afirmou ter destruído “nove
acampamentos terroristas e o governo paquistanês disse ter abatido cinco aviões
indianos. O ataque indiano seria uma resposta às ações de um grupo terrorista
contra civis, com 26 mortos e 17 feridos na Caxemira indiana, no dia 22 de
abril de 2025. O governo indiano acusou o Paquistão de envolvimento
direto. O ataque indiano seria então uma resposta ao Paquistão, acusado pela
Índia de apoiar o ataque terrorista.
Há uma questão histórica de décadas envolvendo a Caxemira, região do norte do subcontinente indiano dividida entre três países: Índia, Paquistão e China.
O império britânico dominou a maior parte do que se chama de subcontinente indiano que envolve os atuais países Índia, Paquistão, Butão, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka e Maldivas desde o século XIX até pouco depois da Segunda Guerra Mundial.
Histórico
O termo “Caxemira”
está relacionado historicamente ao vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia
(cadeia de montanhas) . Na atualidade “Caxemira” tem uma área mais extensa,
incluindo as regiões de Jamu, Caxemira e Ladaque. O nome “Caxemira” tábém tem
ligação com a lã de caxemira, produzida por meio de cabras da região e
considerada um material têxtil de alta qualidade. O nome está ligado à “Ka”
(água) e “Shimir” (dessecar). Então Caxemira seria: "uma terra dessecada
da água".Há uma outra versão que diz que Caxemira é uma contração de
Kashyap-mira ou Kashyapmir ou Kashyapmeru, o "Mar ou Montanha de Kashyapa”
(o sábio que teria, segundo as crenças regionais, drenado as águas do lago
Satisar primordial, que Caxemira foi antes de ser recuperado). “Mira” segundo
uma explicação, significa o lago do mar ou a montanha do Sábio Kashyapa. Os
gregos antigos chamavam-no de 'Kashyapa-pura', que foi identificado com
Kaspapyros de Hecataeus e Kaspatyros de Herodotus. Há outras explicações para o
nome, mas não me deterei nisso para não alongar o artigo.
O território que envolve a Caxemira tem sido objeto de disputas entre
Índia (de maioria hindu) e Paquistão (de maioria muçulmana) desde que os dois
países conseguiram suas independências em 1947. A
Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma resolução dizendo que a a
população local deveria decidir a situação política da Caxemira por meio de um plebiscito,
mas este nunca aconteceu e toda a região da Caxemira foi anexada à Índia, após
o marajá que governava a Caxemira ter decidido que todo essa região seria parte
da Índia, mesmo tendo uma grande população muçulmana, o que provocou a reação
paquistanesa com a guerra de 1947 a 1948, havendo então a divisão da Caxemira:
o Paquistão ficando com a Caxemira Livre e Territórios do Norte e a outra parte
com a Índia.
Em 1962 a China entra na questão conquistando um trecho de Jamu e
Caxemira (Aksai Chin). Em 1963 o Paquistão cede à China uma faixa dos
Territórios do Norte. Houve um outro conflito em agosto de 1965 sem
modificações nos territórios. Vários milhares de insurgentes
paquistaneses entraram na Caxemira indiana com objetivo de provocar uma
rebelião popular. Houve 17 dias de conflitos que terminaram após a intervenção
da ONU.
Em 1971 o governo
indiano apoiou o movimento de independência do Paquistão Oriental que deu
origem ao Bangladesh. Houve uma guerra entre Índia e Paquistão e o Bangladesh
se tornou independente.
Em 1972, o
Paquistão e a Índia assinaram um acordo de paz na cidade indiana de Shimla. O
Paquistão supostamente ratificou a Linha de Controle que divide a Caxemira
por 720 quilômetros. Mas tempos depois esse governo negou tal acordo.
A partir da década de 1980 começam ações de grupos
guerrilheiros separatistas na Caxemira indiana. A Índia tem acusado apoio do
governo paquistanês a estes grupos que desejam uma unificação com o Paquistão.
Além dos conflitos entre Índia e Paquistão pelo controle da região há também
significativos movimentos locais pela independência. Essa tensão
toda levou a uma militarização das fronteiras e para uma corrida armamentista,
tendo Índia e Paquistão desenvolvido armas nucleares na década de 1990. Em 1999
houve combates de maio a julho com vitória indiana. Nessa década houve
atentados terroristas com explosões em cidades paquistanesas. Houve uma série
de ações terroristas no Paquistão e na Índia. Em julho de
2000 fracassam negociações de paz entre o governo
da Índia e os separatistas muçulmanos da Caxemira. Uma trégua é
anunciada em agosto pelo principal grupo separatista islâmico da Caxemira em
agosto de 2000. Mas a Índia se recusa na época a aceitar o Paquistão nas
negociações de paz.
Em novembro de 2003, pela primeira vez em 56 anos,
Índia e Paquistão assinaram um cessar-fogo ao longo de toda a linha
divisória da Caxemira. Em setembro de 2006, os dois governos concordaram
na cidade cubana de Havana em retomar o processo de paz. Porém, foram
suspensas as negociações destinadas a melhorar as relações depois que houve
um atentado múltiplo em 2008, em Mumbai, na Índia, tendo o governo indiano
culpado um grupo terrorista baseado no Paquistão. De novo se sentou para
negociar a paz em 2010. Mas não se obteve sucesso até a atualidade. A Índia tem
feito acusações ao Paquistão dizendo que este país apoia o "terrorismo
transfronteiriço" e que permite e patrocina operações de terroristas
em seu território para atacar alvos indianos e acusa também o governo
paquistanês de incentivar protestos separatistas entre a população da Caxemira.
Especialistas em
segurança e alguns militares indianos de alta patente, que já estiveram de
serviço na Caxemira, criticam o governo de Modi por usar a questão nacionalista
indiana sobre a região para agradar apoiadores e dizem que este governante não
deu importância aos sinais de alerta sobre atividades terroristas.
Em 2019 um
carro-bomba suicida explodiu na Caxemira indiana. O governo indiano na ocasião
retirou Caxemira de sua semiautonomia e a colocou sob controle direto do
governo federal. As tensões diminuíram, no entanto, a força repressiva deu uma
sensação de segurança que atraiu nos últimos tempos milhões de turistas
indianos à região. Mas as forças de segurança indiana não conseguiram impedir o
ataque terrorista de 22 de abril. Houve pressão popular na Índia, baseada em
clamores nacionalistas, por uma resposta em relação ao Paquistão.
Esta questão nacionalista vem desde os primeiros conflitos entre os países na
década de 1940. Os especialistas em segurança indianos que analisaram o ataque
aos turistas em 22 de abril deste ano fizeram uma relação com um acontecimento
em março, quando um trem de passageiros no Paquistão foi atacado por
guerrilheiros balúchis (há reivindicações de independência de parte da
população balúchi em relação ao Paquistão) . O governo paquistanês acusou o
governo indiano de ter apoiado o ataque, que causou 25 mortes. O suposto apoio
ao atentado de 22 de abril, analisando por esta ótica, pode ter sido uma reação
do governo paquistanês ao ataque de março ao trem.
Que Índia e
Paquistão escolham o caminho do bom senso. São nações populosas, dotadas de
armas nucleares. É preciso achar uma solução pacífica para a Caxemira depois de
décadas de conflitos que já levaram a dezenas de milhares de mortos.
___________________________________________________
Situação quanto à população da Caxemira
considerando a religião:
Em 1901 o governo britânico na ìndia dizia que
havia na Caxemira 74% de muçulmanos no Estado principesco de Caxemira e Jamu;
24% de hindus e o restante era budista. Em Jamu a maioria era de hindus (cerca
de 80% da população local) e no vale de Caxemira a população era de
93% de muçulmanos. Em 2003 , com os dois países independentes, no vale de
Caxemira a população era de 95% de muçulmanos e em Jamu de 66% de hindus. Além
de muçulmanos e hindus, há na Caxemira outras populações menores: siques e
budistas. Em 2001 eram 207 mil siques e 113 mil budistas.
__________________________________________________________
Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
https://www.google.com/search?q=iamgens+da+Caxemira+mapa&client=firefox-b-d&sca_esv=b703f1cd0674f892&ei=-
Nenhum comentário:
Postar um comentário