segunda-feira, 12 de maio de 2025

A situação atual entre Índia e Paquistão

 

   
Mapa da Caxemira: Em verde parte paquistanesa, em azul parte indiana e em vermelho a parte chinesa. 


 

Em 6 de maio deste ano a Índia bombardeou território paquistanês. Segundo informações, houve mortes, incluindo uma criança. O governo indiano afirmou ter destruído “nove acampamentos terroristas e o governo paquistanês disse ter abatido cinco aviões indianos. O ataque indiano seria uma resposta às ações de um grupo terrorista contra civis, com 26 mortos e 17 feridos na Caxemira indiana, no dia 22 de abril de 2025.  O governo indiano acusou o Paquistão de envolvimento direto. O ataque indiano seria então uma resposta ao Paquistão, acusado pela Índia de apoiar o ataque terrorista.

Há uma questão histórica de décadas envolvendo a Caxemira, região do norte do subcontinente indiano dividida entre três países: Índia, Paquistão e China.

O império britânico dominou a maior parte do que se chama de subcontinente indiano que envolve os atuais países Índia, Paquistão, Butão, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka  e Maldivas desde o século XIX até pouco depois da Segunda Guerra Mundial.

Histórico

O termo “Caxemira” está relacionado historicamente ao vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia (cadeia de montanhas) . Na atualidade “Caxemira” tem uma área mais extensa, incluindo as regiões de Jamu, Caxemira e Ladaque. O nome “Caxemira” tábém tem ligação com a lã de caxemira, produzida por meio de cabras da região e considerada um material têxtil de alta qualidade. O nome está ligado à “Ka” (água) e “Shimir” (dessecar). Então Caxemira seria: "uma terra dessecada da água".Há uma outra versão que diz que Caxemira é uma contração de Kashyap-mira ou Kashyapmir ou Kashyapmeru, o "Mar ou Montanha de Kashyapa” (o sábio que teria, segundo as crenças regionais, drenado as águas do lago Satisar primordial, que Caxemira foi antes de ser recuperado). “Mira” segundo uma explicação, significa o lago do mar ou a montanha do Sábio Kashyapa. Os gregos antigos chamavam-no de 'Kashyapa-pura', que foi identificado com Kaspapyros de Hecataeus e Kaspatyros de Herodotus. Há outras explicações para o nome, mas não me deterei nisso para não alongar o artigo.

O território que envolve a Caxemira tem sido objeto de disputas entre Índia (de maioria hindu) e Paquistão (de maioria muçulmana) desde que os dois países  conseguiram  suas independências em 1947. A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma resolução dizendo que a a população local deveria decidir a situação política da Caxemira por meio de um plebiscito, mas este nunca aconteceu e toda a região da Caxemira foi anexada à Índia, após o marajá que governava a Caxemira ter decidido que todo essa região seria parte da Índia, mesmo tendo uma grande população muçulmana, o que provocou a reação paquistanesa com a guerra de 1947 a 1948, havendo então a divisão da Caxemira: o Paquistão ficando com a Caxemira Livre e Territórios do Norte e a outra parte com a Índia.

Em 1962 a China entra na questão conquistando um trecho de Jamu e Caxemira (Aksai Chin). Em 1963 o Paquistão cede à China uma faixa dos Territórios do Norte. Houve um outro conflito em agosto de 1965 sem modificações nos territórios. Vários milhares de insurgentes paquistaneses entraram na Caxemira indiana com objetivo de provocar uma rebelião popular. Houve 17 dias de conflitos que terminaram após a intervenção da ONU.

Em 1971 o governo indiano apoiou o movimento de independência do Paquistão Oriental que deu origem ao Bangladesh. Houve uma guerra entre Índia e Paquistão e o Bangladesh se tornou independente.

Em 1972, o Paquistão e a Índia assinaram um acordo de paz na cidade indiana de Shimla. O Paquistão supostamente ratificou a Linha de Controle que divide a Caxemira por 720 quilômetros. Mas tempos depois esse governo negou tal acordo.

A partir da década de 1980 começam ações de grupos guerrilheiros separatistas na Caxemira indiana. A Índia tem acusado apoio do governo paquistanês a estes grupos que desejam uma unificação com o Paquistão. Além dos conflitos entre Índia e Paquistão pelo controle da região há também significativos movimentos locais pela independência.  Essa tensão toda levou a uma militarização das fronteiras e para uma corrida armamentista, tendo Índia e Paquistão desenvolvido armas nucleares na década de 1990. Em 1999 houve combates de maio a julho com vitória indiana. Nessa década houve atentados terroristas com explosões em cidades paquistanesas. Houve uma série de ações terroristas no Paquistão e na Índia. Em julho de 2000  fracassam negociações de paz entre o governo da  Índia e os separatistas muçulmanos da Caxemira. Uma trégua é anunciada em agosto pelo principal grupo separatista islâmico da Caxemira em agosto de 2000. Mas a Índia se recusa na época a aceitar o Paquistão nas negociações de paz.

Em novembro de 2003, pela primeira vez em 56 anos, Índia e Paquistão assinaram um cessar-fogo ao longo de toda a linha divisória da Caxemira. Em setembro de 2006, os dois governos concordaram na cidade cubana de Havana em retomar o processo de paz. Porém, foram suspensas as negociações destinadas a melhorar as relações depois que houve um atentado múltiplo em 2008, em Mumbai, na Índia, tendo o governo indiano culpado um grupo terrorista baseado no Paquistão. De novo se sentou para negociar a paz em 2010. Mas não se obteve sucesso até a atualidade. A Índia tem feito acusações ao Paquistão dizendo que este país apoia o "terrorismo transfronteiriço" e que permite e patrocina operações de terroristas em seu território para atacar alvos indianos e acusa também o governo paquistanês de incentivar protestos separatistas entre a população da Caxemira.

Especialistas em segurança e alguns militares indianos de alta patente, que já estiveram de serviço na Caxemira, criticam o governo de Modi por usar a questão nacionalista indiana sobre a região para agradar apoiadores e dizem que este governante não deu importância aos sinais de alerta sobre atividades terroristas.

Em 2019 um carro-bomba suicida explodiu na Caxemira indiana. O governo indiano na ocasião retirou Caxemira de sua semiautonomia e a colocou sob controle direto do governo federal. As tensões diminuíram, no entanto, a força repressiva deu uma sensação de segurança que atraiu nos últimos tempos milhões de turistas indianos à região. Mas as forças de segurança indiana não conseguiram impedir o ataque terrorista de 22 de abril. Houve pressão popular na Índia, baseada em clamores nacionalistas,  por uma resposta em relação ao Paquistão. Esta questão nacionalista vem desde os primeiros conflitos entre os países na década de 1940. Os especialistas em segurança indianos que analisaram o ataque aos turistas em 22 de abril deste ano fizeram uma relação com um acontecimento em março, quando um trem de passageiros no Paquistão foi atacado por guerrilheiros balúchis (há reivindicações de independência de parte da população balúchi em relação ao Paquistão) . O governo paquistanês acusou o governo indiano de ter apoiado o ataque, que causou 25 mortes. O suposto apoio ao atentado de 22 de abril, analisando por esta ótica, pode ter sido uma reação do governo paquistanês ao ataque de março ao trem.

Que Índia e Paquistão escolham o caminho do bom senso. São nações populosas, dotadas de armas nucleares. É preciso achar uma solução pacífica para a Caxemira depois de décadas de conflitos que já levaram a dezenas de milhares de mortos.

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Situação quanto à população da Caxemira considerando a religião:

Em 1901 o governo britânico na ìndia dizia que havia na Caxemira 74% de muçulmanos no Estado principesco de Caxemira e Jamu; 24% de hindus e o restante era budista. Em Jamu a maioria era de hindus (cerca de 80% da população local)  e no vale de Caxemira a população era de 93% de muçulmanos. Em 2003 , com os dois países independentes, no vale de Caxemira a população era de 95% de muçulmanos e em Jamu de 66% de hindus. Além de muçulmanos e hindus, há na Caxemira outras populações menores: siques  e budistas. Em 2001 eram 207 mil siques e 113 mil budistas.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

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