quinta-feira, 19 de junho de 2025

O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca

 





No dia 17 de junho é comemorado o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover a conscientização a respeito da necessidade de cuidar das regiões semiáridas, alertar sobre a degradação do solo, a escassez de água e fortalecer a adoção de medidas de combate nos países atingidos e realizar a coexistência sustentável com essas adversidades.

O processo de desertificação tem sido agravado pela seca e pelas atividades humanas e está ameaçando a segurança alimentar e a biodiversidade, alcançando milhões de pessoas em todo o mundo. 

De acordo com as Nações Unidas, a desertificação, a degradação da terra e a seca estão entre os desafios ambientais atuais mais urgentes. Até 40% de toda a área terrestre é considerada degradada. A demanda por recursos naturais cresce e a atual população mundial está estimada em 8 bilhões de habitantes. Há assim uma pressão muito grande sobre a terra a ponto de degradação. 

No Brasil o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), fizeram uma pesquisa que identificou áreas de clima árido, como nos desertos, no norte da Bahia nos últimos 30 anos. Com as mudanças climáticas se acentuando, há mais a perda de vegetação natural,  tais áreas tem ficado mais secas, com menos disponibilidade de água, havendo condições parecidas com as encontradas em áreas desérticas.

O desmatamento da Caatinga aumentou significativamente nos últimos 10 anos, tendo atingido uma área próxima ao tamanho de Portugal. Esta área está atualmente com quase 50% do seu território atingido por processos acentuados e severos de desertificação. No Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí a situação é gravíssima. No Semiárido, a situação é muito preocupante porque as condições ambientais são vulneráveis à exploração extrativista ou à administração inadequada dos recursos naturais.

No mundo o desmatamento é um fator de destaque que contribui com o aquecimento global, pois as florestas são responsáveis por reduzir o CO2 presente na atmosfera.

Entre janeiro e agosto de 2024 o Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, contabilizou um aumento de 78% de queimadas no Brasil em relação ao mesmo período de 2023. Esta situação causa a degradação de terras e florestas, liberando ainda mais dióxido de carbono. Outra questão: os aterros para lixo são uma das principais fontes de emissões de metano. O desmatamento tem como uma de suas consequências o desenvolvimento de áreas secas de forma mais intensa ao longo dos anos.

Todos os continentes foram afetados em 2024 por secas que impactaram muito os recursos hídricos, a agricultura, os ecossistemas e comunidades vulneráveis. O primeiro setor a ser afetado pelas secas é a agricultura, em especial os pequenos agricultores, influenciando para que haja escassez de alimentos e crises humanitárias. 

Com as maiores temperaturas a capacidade de retenção de água da atmosfera, as circulações oceânicas e aéreas que impulsionam os sistemas de chuva estão mudando. Há, portanto, riscos de secas e inundações aumentarem em diferentes tempos e lugares. Temperaturas maiores fazem as secas piorarem e há um aumento de perda de água nos solos através da evaporação e transpiração das plantas. 

As secas que são intensificadas pelo calor prolongado podem ser terríveis para as florestas tropicais que não resistem a períodos de baixa pluviosidade e altas temperaturas. O que está acontecendo pode causar a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, provocando uma aceleração do processo do aquecimento global. 

Com a desertificação há a perda de capacidade produtiva de terras férteis. Esse processo atinge em especial regiões semiáridas. Aproximadamente 3 bilhões de pessoas vivem em áreas suscetíveis à desertificação.

Secas que se prolongam afetam lavouras e comprometem o abastecimento urbano, afetando a saúde, reduzindo a biodiversidade e aumentando a vulnerabilidade das populações rurais.

Para se combater a seca são recomendadas as seguintes medidas:

     -  Educação ambiental e reflorestamento

     -  Uso inteligente da água

       -Adoção de tecnologias sustentáveis no campo

      - Proteção das nascentes e matas ciliares

  - Apoiar produtores sustentáveis

 As pessoas precisam evitar o desperdício de água, plantar e cuidar de árvores; divulgar boas práticas ambientais. 

Neste ano, o lema das Nações Unidas é “Restaurar a Terra. Desbloquear as Oportunidades.

Segundo Leticia Yamakami (17 jun 2025, Revista VEJA) :

“A renda das famílias de algumas das principais cidades que se espalham pela Caatinga, um dos biomas brasileiros mais ameaçados pelas mudanças climáticas, está muito abaixo do nível que seria necessário para cobrir suas despesas mais básicas. Essa distância, por sua vez, não só deixa essas pessoas mais vulneráveis aos efeitos das secas e outros eventos extremos, como também colabora para piorar o processo acelerado de desertificação que acomete a região. É o que afirma a Fundação IDH, organização global voltada para tornar os mercados agrícolas mais sustentáveis ​​e inclusivos, com base em um estudo recente feito em parceria com a Anker Research Institute, centro americano de estudos sobre salário e renda, e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e divulgado com exclusividade. e divulgado com exclusividade por VEJA.

A renda de quem trabalha no campo, quando insuficiente para uma vida sem privações, impossibilita a estruturação e a manutenção de cadeias produtivas com práticas regenerativas”, afirma Grazielle Cardoso, gerente do Programa Raízes da Caatinga, da Fundação IDH. O programa tem como foco de atuação a elevação dos rendimentos e da qualidade de vida da população rural dos territórios analisados no estudo, a fim de gerar impactos ambientais, econômicos e sociais positivos. Esta terça-feira, 17 de junho, foi escolhida pela Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca. De acordo com a pesquisadora, o primeiro passo para o combate à degradação de terras na Caatinga é garantir a renda e o salário dignos desses profissionais. Assim, eles têm uma salvaguarda para se adaptar em caso de mudanças climáticas que afetem os territórios, além de conseguirem investir em práticas agrícolas mais sustentáveis. Após a garantia da estabilidade financeira, o programa passa a oferecer acesso ao crédito e ao mercado junto da assistência técnica, que consiste na divulgação de informações e orientações sobre o problema da degradação dos solos e como incluir práticas sustentáveis no dia a dia do trabalhador rural (...)”

E ainda a mesma autora: “

“(...) O estudo estipula os rendimentos dignos para uma moradia com quatro pessoas, sendo dois adultos e dois dependentes de até 18 anos.

A renda digna diz respeito ao dinheiro que uma família que depende exclusivamente da atividade agrícola ganha. Já o salário digno é o recebido pelo trabalhador agrícola contratado sob as Consolidações das Leis do Trabalho.

As chamadas práticas regenerativas consistem em maneiras de abordar a agricultura com modelos de produção que contribuem para o desenvolvimento sustentável na produção de alimentos, bioenergia e outros agroprodutos. A finalidade desses sistemas é assegurar a sustentabilidade do setor agrícola, além de construir um caminho para um futuro alimentar mais equitativo, saudável e resiliente . Além disso, pode ser uma solução valiosa no combate à desertificação.”

Para Helena Moreira e Albano Beja-Pereira:

“Desertificação é a lenta agonia do solo. Sem políticas públicas sólidas, conhecimento aplicado e compromisso com o território, a terra continuará a morrer – e com ela comunidades inteiras.

O Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação foi instituído pelas Nações Unidas em 1994 e celebrado pela primeira vez no ano seguinte, a 17 de junho. Trinta anos volvidos, nunca a sua evocação foi tão necessária e, ao mesmo tempo, tão desoladoramente simbólica. Estes fenômenos afetam diretamente cerca de 250 milhões de pessoas e mais de um terço da superfície terrestre.

Convém esclarecer que a desertificação não é o alastrar dos desertos, nem a saída em massa das populações para zonas mais verdes (essas vêm depois). Desertificação é a lenta, quase imperceptível, agonia do solo. É a erosão da sua fertilidade, a perda contínua da cobertura vegetal, a morte silenciosa do que se esconde sob aquilo que já se revela visivelmente moribundo.

As causas são conhecidas, repetidas e banalizadas, como o menu de um restaurante demasiado folheado: desflorestação, sobrepastoreio, mobilização excessiva dos solos, negligência dos seus ecossistemas microbiológicos, e claro, as alterações climáticas. E, por trás de tudo isto, a personagem principal: o ser humano. Aquele que tudo explora, que tudo exige, mas pouco devolve.

A seca, que outrora foi excepcional, tornou-se num fenômeno estrutural. Deixou de surpreender para se tornar previsível. Atualmente, um quarto da população mundial vive sob escassez hídrica, com a qualidade da água em declínio, tanto para a irrigação como para uso doméstico. Cerca de 70% das áreas agrícolas em zonas áridas estão em risco de colapso. E quando os campos secam, secam também as aldeias. As pessoas partem. Para onde podem... como podem...

África continua a ser o continente mais atingido, mas ninguém escapa. Nem os Estados Unidos, nem a China, nem a Espanha. Nem Portugal, que entre fogos, monoculturas e abandono parece ensaiar uma espécie de suicídio agrário. A seca avança, a desertificação instala-se, de baixo para cima, do interior para o litoral, e o país assiste como quem vê as ondas subir: com espanto e sem escapatória.

A resiliência dos sistemas agrícolas está em declínio. O apoio técnico às populações é episódico, disperso e tímido. E a política, essa entidade quase literária, encontra-se mais árida do que os solos que devia proteger. Faltam visão, estratégia e ciência aplicada ao território. Já ninguém quer ser agrónomo e dos bons. E já ninguém representa, de forma genuína e desinteressada, a agricultura e o desenvolvimento rural. Enquanto isso, a Europa deslumbra-se com a sua biodiversidade de catálogo, onde o verde se fotografa melhor do que se cultiva.

Se os anos noventa do século passado e a primeira década deste século foram marcados pela desindustrialização, estas segunda e terceira décadas são, sem dúvida, as da desagriculturização. Um processo tão silencioso quanto devastador. É urgente reconhecer a seca e a desertificação como prioridades políticas, ambientais e sociais. Falar de transição ecológica sem falar de regeneração dos solos é como falar de nutrição sem falar de alimentos. Precisamos de práticas agrícolas adaptadas, de culturas resistentes ao stress hídrico, de educação ambiental enraizada nos territórios e de políticas que façam mais do que subsidiar o abandono.”


MENSAGEM DO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA O DIA MUNDIAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E À SECA

17 de junho de 2025

“O que é bom para a terra, é bom para as pessoas e para as economias.

Mas a humanidade está a degradar os solos a um ritmo alarmante, o que custa à economia global cerca de 880 mil milhões de dólares por ano — muito mais do que os investimentos necessários para enfrentar o problema.

As secas estão a forçar pessoas a abandonar as suas casas e a agravar a insegurança alimentar – o número de pessoas deslocadas recentemente atingiu o nível mais alto dos últimos anos.

Reparar os danos que causamos aos nossos solos oferece enormes benefícios, incluindo um elevado retorno do investimento. Pode reduzir a pobreza, criar empregos, garantir o abastecimento de água, proteger a produção alimentar e melhorar os direitos à terra e os rendimentos – especialmente para os pequenos agricultores e para as mulheres.

O tema do Dia da Desertificação e da Seca deste ano – “Restaurar a Terra. Abrir Oportunidades” – é ao mesmo tempo uma afirmação e um apelo à ação.

Apelo aos governos, empresas e comunidades que respondam a este apelo e acelerem a ação relativamente aos nossos compromissos globais comuns sobre o uso sustentável dos solos. Temos de inverter a degradação e aumentar o financiamento para a restauração – inclusive desbloqueando investimento privado.

Vamos agir agora para curar a Terra, aproveitar oportunidades e melhorar vidas.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História e Psicólogo

 

Figura: https://cfbio.gov.br/2023/06/17/dia-mundial-de-combate-a-desertificacao/


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