No dia 17 de junho é comemorado o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca,
criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover a conscientização
a respeito da necessidade de cuidar das regiões semiáridas, alertar sobre a
degradação do solo, a escassez de água e fortalecer a adoção de medidas de
combate nos países atingidos e realizar a coexistência sustentável com essas
adversidades.
O processo de desertificação tem sido agravado pela seca e pelas atividades humanas e está ameaçando a segurança alimentar e a biodiversidade, alcançando milhões de pessoas em todo o mundo.
De acordo com as
Nações Unidas, a desertificação, a degradação da terra e a seca estão entre os
desafios ambientais atuais mais urgentes. Até 40% de toda a área terrestre é
considerada degradada. A demanda por recursos naturais cresce e a atual
população mundial está estimada em 8 bilhões de habitantes. Há assim uma
pressão muito grande sobre a terra a ponto de degradação.
No Brasil o Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e o
Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), fizeram uma pesquisa que identificou
áreas de clima árido, como nos desertos, no norte da Bahia nos últimos 30 anos.
Com as mudanças climáticas se acentuando, há mais a perda de vegetação natural, tais áreas tem ficado mais secas, com menos disponibilidade de água, havendo condições
parecidas com as encontradas em áreas desérticas.
O desmatamento da
Caatinga aumentou significativamente nos últimos 10 anos, tendo atingido uma
área próxima ao tamanho de Portugal. Esta área está atualmente com quase 50% do
seu território atingido por processos acentuados e severos de desertificação.
No Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí a situação é gravíssima. No
Semiárido, a situação é muito preocupante porque as condições ambientais são vulneráveis à exploração
extrativista ou à administração inadequada dos recursos naturais.
No mundo o
desmatamento é um fator de destaque que contribui com o aquecimento global,
pois as florestas são responsáveis por reduzir o CO2 presente na atmosfera.
Entre janeiro e
agosto de 2024 o Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, contabilizou
um aumento de 78% de queimadas no Brasil em relação ao mesmo período de 2023.
Esta situação causa a degradação de terras e florestas, liberando ainda mais
dióxido de carbono. Outra questão: os aterros para lixo são uma das principais
fontes de emissões de metano. O desmatamento tem como uma de suas consequências
o desenvolvimento de áreas secas de forma mais intensa ao longo dos anos.
Todos os continentes
foram afetados em 2024 por secas que impactaram muito os recursos hídricos, a
agricultura, os ecossistemas e comunidades vulneráveis. O primeiro setor a ser
afetado pelas secas é a agricultura, em especial os pequenos agricultores,
influenciando para que haja escassez de alimentos e crises humanitárias.
Com as maiores
temperaturas a capacidade de retenção de água da atmosfera, as circulações
oceânicas e aéreas que impulsionam os sistemas de chuva estão mudando. Há,
portanto, riscos de secas e inundações aumentarem em diferentes tempos e
lugares. Temperaturas maiores fazem as secas piorarem e há um aumento de perda
de água nos solos através da evaporação e transpiração das plantas.
As secas que são
intensificadas pelo calor prolongado podem ser terríveis para as florestas
tropicais que não resistem a períodos de baixa pluviosidade e altas
temperaturas. O que está acontecendo pode causar a liberação de grandes
quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, provocando uma aceleração do
processo do aquecimento global.
Com a desertificação
há a perda de capacidade produtiva de terras férteis. Esse processo atinge em
especial regiões semiáridas. Aproximadamente 3 bilhões de pessoas vivem em
áreas suscetíveis à desertificação.
Secas que se
prolongam afetam lavouras e comprometem o abastecimento urbano, afetando a
saúde, reduzindo a biodiversidade e aumentando a vulnerabilidade das populações
rurais.
Para se combater a seca são
recomendadas as seguintes medidas:
- Educação ambiental e reflorestamento
- Uso
inteligente da água
-Adoção de tecnologias sustentáveis no campo
- Proteção das nascentes e matas ciliares
- Apoiar
produtores sustentáveis
As pessoas precisam evitar o
desperdício de água, plantar e cuidar de árvores; divulgar boas práticas
ambientais.
Neste ano, o lema das Nações Unidas é “Restaurar
a Terra. Desbloquear as Oportunidades”.
Segundo Leticia Yamakami (17 jun 2025,
Revista VEJA) :
“A renda das famílias de algumas das
principais cidades que se espalham pela Caatinga, um dos biomas brasileiros
mais ameaçados pelas mudanças climáticas, está muito abaixo do nível que seria
necessário para cobrir suas despesas mais básicas. Essa distância, por sua vez,
não só deixa essas pessoas mais vulneráveis aos efeitos das secas e outros
eventos extremos, como também colabora para piorar o processo acelerado de
desertificação que acomete a região. É o que afirma a Fundação IDH, organização
global voltada para tornar os mercados agrícolas mais sustentáveis e
inclusivos, com base em um estudo recente feito em parceria com a Anker
Research Institute, centro americano de estudos sobre salário e renda, e o
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e divulgado com
exclusividade. e divulgado com exclusividade por VEJA.
A renda de quem trabalha no campo,
quando insuficiente para uma vida sem privações, impossibilita a estruturação e
a manutenção de cadeias produtivas com práticas regenerativas”, afirma
Grazielle Cardoso, gerente do Programa Raízes da Caatinga, da Fundação IDH. O
programa tem como foco de atuação a elevação dos rendimentos e da qualidade de
vida da população rural dos territórios analisados no estudo, a fim de gerar
impactos ambientais, econômicos e sociais positivos. Esta terça-feira, 17 de
junho, foi escolhida pela Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial
de Combate à Desertificação e à Seca. De acordo com a pesquisadora, o primeiro
passo para o combate à degradação de terras na Caatinga é garantir a renda e o
salário dignos desses profissionais. Assim, eles têm uma salvaguarda para se
adaptar em caso de mudanças climáticas que afetem os territórios, além de
conseguirem investir em práticas agrícolas mais sustentáveis. Após a garantia
da estabilidade financeira, o programa passa a oferecer acesso ao crédito e ao
mercado junto da assistência técnica, que consiste na divulgação de informações
e orientações sobre o problema da degradação dos solos e como incluir práticas
sustentáveis no dia a dia do trabalhador rural (...)”
E ainda a mesma autora: “
“(...) O estudo estipula os rendimentos
dignos para uma moradia com quatro pessoas, sendo dois adultos e dois
dependentes de até 18 anos.
A renda digna diz respeito ao dinheiro
que uma família que depende exclusivamente da atividade agrícola ganha. Já o
salário digno é o recebido pelo trabalhador agrícola contratado sob as
Consolidações das Leis do Trabalho.
As chamadas práticas regenerativas
consistem em maneiras de abordar a agricultura com modelos de produção que
contribuem para o desenvolvimento sustentável na produção de alimentos,
bioenergia e outros agroprodutos. A finalidade desses sistemas é assegurar a
sustentabilidade do setor agrícola, além de construir um caminho para um futuro
alimentar mais equitativo, saudável e resiliente . Além disso, pode ser uma
solução valiosa no combate à desertificação.”
Para Helena Moreira e Albano Beja-Pereira:
“Desertificação é a lenta agonia do
solo. Sem políticas públicas sólidas, conhecimento aplicado e compromisso com o
território, a terra continuará a morrer – e com ela comunidades inteiras.
O Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertificação foi instituído
pelas Nações Unidas em 1994 e celebrado pela primeira vez no ano seguinte, a 17
de junho. Trinta anos volvidos, nunca a sua evocação foi tão necessária e, ao
mesmo tempo, tão desoladoramente simbólica. Estes fenômenos afetam
diretamente cerca de 250 milhões de pessoas e mais de um terço da
superfície terrestre.
Convém esclarecer que a desertificação não é o alastrar dos desertos, nem a
saída em massa das populações para zonas mais verdes (essas vêm depois).
Desertificação é a lenta, quase imperceptível, agonia do solo. É a
erosão da sua fertilidade, a perda contínua da cobertura vegetal, a morte
silenciosa do que se esconde sob aquilo que já se revela visivelmente
moribundo.
As causas são conhecidas, repetidas e banalizadas, como o menu de um
restaurante demasiado folheado: desflorestação, sobrepastoreio, mobilização
excessiva dos solos, negligência dos seus ecossistemas microbiológicos, e
claro, as alterações climáticas. E, por trás de tudo isto, a personagem
principal: o ser humano. Aquele que tudo explora, que tudo exige, mas pouco
devolve.
A seca, que outrora foi excepcional, tornou-se num fenômeno estrutural.
Deixou de surpreender para se tornar previsível. Atualmente, um quarto da
população mundial vive sob escassez hídrica, com a qualidade da água em
declínio, tanto para a irrigação como para uso doméstico. Cerca de 70% das
áreas agrícolas em zonas áridas estão em risco de colapso. E quando os campos
secam, secam também as aldeias. As pessoas partem. Para onde podem... como
podem...
África continua a ser o continente mais atingido, mas ninguém escapa.
Nem os Estados Unidos, nem a China, nem a Espanha. Nem Portugal, que entre
fogos, monoculturas e abandono parece ensaiar uma espécie de suicídio
agrário. A seca avança, a desertificação instala-se, de baixo para cima, do
interior para o litoral, e o país assiste como quem vê as ondas subir: com
espanto e sem escapatória.
A resiliência dos sistemas agrícolas está em declínio. O apoio técnico às
populações é episódico, disperso e tímido. E a política, essa entidade quase
literária, encontra-se mais árida do que os solos que devia proteger. Faltam
visão, estratégia e ciência aplicada ao território. Já ninguém quer ser
agrónomo e dos bons. E já ninguém representa, de forma genuína e
desinteressada, a agricultura e o desenvolvimento rural. Enquanto isso, a
Europa deslumbra-se com a sua biodiversidade de catálogo, onde o verde se
fotografa melhor do que se cultiva.
Se os anos noventa do século passado e a primeira década deste século
foram marcados pela desindustrialização, estas segunda e terceira décadas são,
sem dúvida, as da desagriculturização. Um processo tão silencioso quanto
devastador. É urgente reconhecer a seca e a desertificação como prioridades
políticas, ambientais e sociais. Falar de transição ecológica sem falar de
regeneração dos solos é como falar de nutrição sem falar de alimentos.
Precisamos de práticas agrícolas adaptadas, de culturas resistentes ao stress
hídrico, de educação ambiental enraizada nos territórios e de políticas que
façam mais do que subsidiar o abandono.”
MENSAGEM DO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA O DIA MUNDIAL DE COMBATE À
DESERTIFICAÇÃO E À SECA
17 de junho de 2025
“O que é bom para a terra, é bom para
as pessoas e para as economias.
Mas a humanidade está a degradar os
solos a um ritmo alarmante, o que custa à economia global cerca de 880 mil
milhões de dólares por ano — muito mais do que os investimentos necessários
para enfrentar o problema.
As secas estão a forçar pessoas a
abandonar as suas casas e a agravar a insegurança alimentar – o número de
pessoas deslocadas recentemente atingiu o nível mais alto dos últimos anos.
Reparar os danos que causamos aos
nossos solos oferece enormes benefícios, incluindo um elevado retorno do
investimento. Pode reduzir a pobreza, criar empregos, garantir o abastecimento
de água, proteger a produção alimentar e melhorar os direitos à terra e os
rendimentos – especialmente para os pequenos agricultores e para as mulheres.
O tema do Dia da Desertificação e da
Seca deste ano – “Restaurar a Terra. Abrir Oportunidades” – é ao mesmo tempo
uma afirmação e um apelo à ação.
Apelo aos governos, empresas e
comunidades que respondam a este apelo e acelerem a ação relativamente aos
nossos compromissos globais comuns sobre o uso sustentável dos solos. Temos de
inverter a degradação e aumentar o financiamento para a restauração – inclusive
desbloqueando investimento privado.
Vamos agir agora para curar a Terra,
aproveitar oportunidades e melhorar vidas.”
___________________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História e Psicólogo
Figura:
https://cfbio.gov.br/2023/06/17/dia-mundial-de-combate-a-desertificacao/
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