domingo, 28 de maio de 2017

A Queda de Constantinopla



 
Em 29 de maio de 1453 a cidade de Constantinopla, capital do que restava do outrora poderoso Império Bizantino, caiu sob domínio turco otomano depois de um penoso cerco e após vigorosos ataques, inclusive com os maiores canhões da época. Segundo uma divisão histórica tradicional, esse fato representou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. 

Constantinopla era a antiga cidade grega de Bizâncio, que já fazia parte do Império Romano. Bizâncio passou por uma reformulação, com mudanças urbanas importantes a  mando do imperador romano Constantino, no século IV. Depois, em homenagem a esse imperador, Bizâncio (chamada a partir da reformas de a "Nova Roma", para Constantino) passou a ser chamada Constantinopla, tornando-se capital do império romano. Constantino tinha conquistado o trono romano após disputas com Magêncio e Licínio. 

Em 395, com a divisão planejada por Teodósio em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente, Constantinopla estava destinada a ser a capital desse novo império. Quando Teodósio morreu foi enfim feita essa divisão e os dois filhos dele governaram os impérios. Honório ficou com o Império Romano do Ocidente e Arcádio  ficou com o Império Romano do Oriente. Foi a capital das províncias romanas orientais, ou seja, daquelas áreas do Império localizadas no sudeste de Europa, sudoeste da Ásia e na parte nordeste de África, que incluíam os países atuais da península Balcânica, Turquia ocidental, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Chipre, Egito e a região mais oriental da Líbia.

Constantinopla localizava-se numa projeção de terra sobre o estreito do Bósforo em direção à Anatólia. Era como uma ponte para as rotas comerciais entre a Europa a Ásia por terra e se constituía no principal porto nas rotas que iam e vinham entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo.

A queda de Constantinopla também significou uma conquista considerável para o Império Otomano, formado a partir de um sultanato turco em 1299. Com essa conquista turca sobre Constantinopla, findava-se por completo o Império Romano do Oriente, como tinha sido também chamado o Império Bizantino.

Durante a Idade Média vários povos atacaram o Império Bizantino e Constantinopla era uma cidade comercial muito importante e cobiçada tendo sido alvo de ataques de povos como os hunos, os persas, os árabes e até uma cruzada cristã que chegou a conquistá-la em 1204 e manteve sua conquista por um tempo até que os bizantinos a tomaram de volta em 1261, mas sem voltar o império a ter o mesmo território que antes da cruzada e também houve um considerável enfraquecimento econômico do império. 

Os ataques de inimigos externos e mais os conflitos internos foram responsáveis pelo enfraquecimento do Império Bizantino que foi perdendo territórios. Um fator a ser considerado na questão de relacionamento entre os cristãos do ocidente e os do oriente foi o cisma religioso que ocorreu,  passando a haver a Igreja Católica Romana, chefiada pelo papa e a Igreja Católica Ortodoxa, com influência do imperador bizantino. 

Foi o sultão Mehmed II (ou Maomé II) que causou o  golpe fatal contra a cidade. Embora Constantinopla tivesse uma muralha bem reforçada, o sultão tinha um exército numeroso, bem armado e com canhões de grande potência. Após meses de cerco e ataques, por mar e terra, Constantinopla caiu e foi islamizada. Sua maior igreja virou uma mesquita e várias outras igrejas foram destruídas. Constantino XI, o último imperador bizantino, morreu na última batalha. 

Passado um tempo depois a cidade de Constantinopla seria Istambul (nome que significa “na cidade”) e se tornaria a sede do Império Otomano, que sobreviveu até o início do século XX, terminando quando os turcos foram derrotados no fim da I Guerra Mundial. Depois de ter conquistado  a cidade, o sultão Maomé II procurou revitalizá-la, convidando e forçando a nela se fixarem muitos muçulmanos, judeus e cristãos de outras partes da Anatólia, criando assim uma sociedade cosmopolita.

Estando Constantinopla dominada pelos turcos, o comércio entre Europa e Ásia sofreu um impacto, pois mercadores tinham mais dificuldades para seguir para a Índia e a China, de onde provinham as especiarias. Portugal e Espanha, com sua novas rotas para atingir o Oriente, passaram cada vez mais a ter destaque nas chamadas "Grandes Navegações" nos séculos XV e  XVI, enquanto Gênova e Veneza declinavam.

A seguir alguns trechos do livro "A Queda de Constantinopla, 1453" de Steven Runciman: 

"...Ao longo do trecho das muralhas terrestres ao sul do Lico, os cristãos haviam repelido todos os ataques dos turcos. Mas agora, um após outro, os regimentos penetravam pelas brechas na paliçada e se espalhavam para todos os lados para abrir todos os portões. Os soldados nas muralhas se viram cercados. Muitos foram mortos tentando escapar da armadilha, mas a maioria dos comandantes, entre os quais Filipo Contarini e Demétrio Cantacuceno, foram capturados vivos..."

"...O sultão Maomé já sabia havia várias horas que a grande cidade era sua. O dia estava nascendo quando seus homens irromperam pela paliçada; pouco depois, com a lua pálida ainda alta no céu, ele foi pessoalmente examinar a brecha pela qual haviam passado. Mas esperou até a tarde para fazer sua entrada triunfal na cidade, quando os primeiros excessos de massacres e pilhagens já tivessem passado e alguma ordem tivesse sido restaurada..."

"...No entanto, a data de 29 de maio de 1453 representa um marco decisivo na História. Marca o fim de uma velha história, a da civilização bizantina. Durante mil e cem anos existira no Bósforo uma cidade na qual o intelecto era admirado e a cultura e as letras do passado clássico eram estudadas e preservadas. Sem a atuação dos comentaristas e escribas bizantinos, hoje em dia saberíamos muito pouco sobre a literatura da Grécia Antiga. Era também uma cidade cujos dirigentes ao longo dos séculos haviam inspirado e incentivado uma escola de arte sem paralelo na história humana, uma arte que surgiu de uma mescla sempre variável do contido senso cerebral grego da adequação das coisas com um profundo senso religioso que via nas obras de arte a encarnação do divino e a santificação da matéria. Além disso, era uma grande cidade cosmopolita, onde, junto com as mercadorias, havia uma livre troca de ideias e cujos cidadãos se viam não como um grupo racial, mas como os herdeiros de Grécia e Roma, santificados pela fé cristã. Tudo isso estava acabado..."
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Imagem:  Google.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

O Surfista Prateado e Kwai Chang Caine da Série Kung Fu




O Surfista Prateado, personagem de revistas em quadrinhos e o Caine, da Série de Tv Kung Fu, são dois andarilhos. Ambos são pacifistas e muitas vezes incompreendidos. Mas também são diferentes.  O Surfista gosta de se expressar de modo poético e meio filosófico,  de um modo existencialista, questionando-se sobre os seres humanos que habitam a Terra, enquanto Cane é mais introspectivo, sendo bastante discreto. Ambos tem habilidades especiais, sendo que o Surfista tem o domínio sobre uma poderosa força energética e mentalmente sobre uma prancha que o possibilita voar e Caine é um exímio praticante da arte de luta Kung Fu. 

Vou falar sobre os dois personagens, começando pelo Surfista Prateado. Ele é um super- heroi de revistas em quadrinhos publicadas pela editora Marvel Comics, dos Estados Unidos.  Apareceu pela primeira vez na revista Fantastic Four 48, em 1966, sendo criado por Stan Lee e Jack Kirby. O Surfista Prateado surgiu no arco de histórias em quadrinhos do Quarteto Fantástico conhecido como "A Trilogia de Galactus", um ser muito poderoso que consumia planetas para se alimentar. O surfista era um arauto de Galactus, mas sentiu as qualidades que há nos humanos e convenceu-se de que devia ficar ao lado dos terráqueos e assim ele, o Quarteto Fantástico e o ser extraterrestre de elevado saber chamado Vigia salvaram a Terra.

Não me prenderei a detalhes da história de como ele foi criado pela editora. Vou me deter nas características do personagem. Depois da primeira história, o Surfista passou a aparecer em outras histórias, chegando a enfrentar o Doutor Destino e o Hulk. Segundo seus criadores autorais, ele era originalmente Norrin Radd, um jovem nobre astrônomo do planeta Zenn-La. Concordou servir como arauto à entidade Galactus, a fim de conservar seu planeta e salvar a vida de sua amada Shalla Bal. Galactus deu poderes ao Surfista e poupou o planeta.

Sentindo-se traído pelo Surfista, pois ele defendeu a Terra, o devorador de mundos o puniu, colocando um bloqueio que impedia o ser prateado de sair além da órbita terrestre. Posteriormente, um dos membros do Quarteto, o Sr. Fantástico conseguiu fazer com que o Surfista ficasse livre de seu aprisionamento e ele então passou a vagar pelo espaço, numa mistura de aventureiro e filósofo cósmico, não hesitando em lutar contra as injustiças das quais toma conhecimento. 

O personagem Surfista Prateado possui capacidades incríveis, podendo controlar o "poder cósmico", absorvendo e manipulando as energias cósmicas ambientais do universo, podendo aumentar sua força a níveis incalculáveis, e é quase indestrutível. Pode viajar pelo  espaço sideral, o hiper-espaço e através de barreiras dimensionais e pode voar em velocidades praticamente ilimitadas em sua prancha, em algumas ocasiões incorporando o hiper-espaço quando excede a velocidade da luz , tendo sido  capaz de viajar no tempo em algumas ocasiões. Ele é imune aos extremos da temperatura e à maioria das radiações, podendo sobreviver em ambientes do vácuo tais como o espaço sideral e o hiper-espaço. É como se fosse um anjo que luta pelas boas causas e defendendo os mais fracos. 

Resumidamente, o Surfista é um ser poderoso e solitário, no fundo carregando uma tristeza pela perda de sua amada e de seu planeta natal. É sensível, tem emoções e empatia por outros seres vivos, não utilizando seus poderes para dominar ou causar grandes destruições. Simboliza a justiça, a generosidade, a inquietação existencial, a solidariedade com os mais fracos e ao mesmo tempo o espanto diante da ingratidão e do preconceito em alguns momentos, pois nem sempre os humanos o entenderam e foram gratos por suas boas ações, o que por vezes deixava o Surfista surpreso e mais questionador sobre a Humanidade.

Em relação a Caine, o filme "piloto", Kung Fu, estreou nos Estados Unidos no dia 22 de fevereiro de 1972, na rede ABC. O personagem, um sino-americano, não usava o Kung Fu como uma forma arrogante de agredir brutalmente outros, mas como uma forma de se defender e de defender quem estava em perigo ou era injustiçado. A grande maioria das cenas de luta foram filmadas em câmera lenta. E durante os episódios o personagem Caine lembrava em certos momentos dos ensinamentos filosóficos de seus mestres da escola Shaolin, na China. Em um momento de raiva, o personagem mata o  assassino de seu mestre  Po, que apelidava Caine carinhosamente de gafanhoto. Como o assassino de seu mestre era sobrinho do imperador, Caine foge para os Estados Unidos, no Velho Oeste, não usando armas de fogo e se defendendo só com o Kung Fu. Muitas vezes ele presencia injustiças contra os mais fracos e até mesmo a discriminação contra os chineses imigrantes, não raramente pobres trabalhadores.

Caine, um homem solitário,  representa a justiça, o amor, o pacifismo, a simplicidade e a humildade, uma pessoa que não despreza os ensinamentos de seus antigos mestres e que procura relacionar tais aprendizados com vários momentos de sua vida adulta, para entender as situações e as pessoas. Mesmo que no início do seriado Caine tenha cometido um crime, não era violento e só chegou ao ato de matar por um momento de ira ao ver seu querido mestre, um homem bom e sábio ser assassinado de forma brutal e cruel. Caine não agiu de forma premeditada, foi uma reação imediata, devendo ser considerado também o contexto que é retratado.

Procurei assim, demonstrar nestes dois personagens fictícios, o simbolismo que há neles. São seres que mesmo tendo capacidades específicas não as utilizam negativamente, mas em direção ao que consideram moralmente correto, dentro de um padrão ético de justiça, respeito aos mais fracos e sem abuso de poder.

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Márcio José Matos Rodrigues-Psicólogo

Imagem: Google. 


sábado, 13 de maio de 2017

Dia das Mães




Neste domingo, dia 14, está se comemorando o Dia das Mães.  Aproveito a ocasião para falar um pouco do histórico desta data.

Na verdade, foi a partir de uma comemoração nos Estados Unidos que depois se espalhou por outros países, que o Dia da Mães passou a ser comemorado no Brasil. 

O processo para que a data se firmasse começou em 1850, quando Ann Reeves Jarvis fundou clubes de trabalho que funcionavam nos chamados "Dia das Mães". O objetivo era que as mulheres trabalhassem para diminuir a mortalidade infantil, com meios melhores de condições sanitárias. Também esses grupos passaram a cuidar de feridos durante a Guerra de Secessão (1861-1865). 

Jarvis passou a organizar piqueniques nos chamados "Dias das Mães. Nos anos seguintes, esses piqueniques passaram a ser organizados para encorajar mais mulheres a participarem na política e promover a paz. No entanto, a data como é hoje conhecida, foi estabelecida por sua filha, Anna Jarvis, que não teve filhos, mas que desejou homenagear as mães, tocada pela morte de sua mãe em 1905. A intenção dela era de que o dia especial criado serviria para os filhos visitarem suas mães, passando o dia com ela, agradecendo a dedicação delas na criação. Assim, algumas cidades passaram a adotar o "Dia das Mães" no segundo domingo de maio. Depois de algum tempo, começou a aparecer o hábito de dar presentes às mães, mas Anna não concordava com este aspecto comercial, chegando a organizar protestos. 

No Brasil, a data foi oficializada por Getúlio Vargas no segundo domingo de maio em 1932.

Como curiosidades, aponto que na Grécia antiga a referência às mães em um dia específico se dava em homenagem à Rhea, mulher de Cronos e mãe dos deuses e em Roma antiga as festas eram em homenagem à Cybele, a mãe dos deuses romanos.

 
Deixo aqui minhas felicitações às mães e termino este artigo com um poema de Drumond:

Poema Canção Amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Carlos Drumond de Andrade
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História



Imagem: https://acrediteounao.com/10-curiosidades-sobre-o-dia-das-maes