Em 29 de maio de 1453 a cidade de Constantinopla, capital do que restava do outrora poderoso Império Bizantino, caiu sob domínio turco otomano depois de um penoso cerco e após vigorosos ataques, inclusive com os maiores canhões da época. Segundo uma divisão histórica tradicional, esse fato representou o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Constantinopla
era a antiga cidade grega de Bizâncio, que já fazia parte do Império Romano.
Bizâncio passou por uma reformulação, com mudanças urbanas importantes a mando do imperador romano Constantino, no
século IV. Depois, em homenagem a esse imperador, Bizâncio (chamada a partir da
reformas de a "Nova Roma", para Constantino) passou a ser chamada
Constantinopla, tornando-se capital do império romano. Constantino tinha
conquistado o trono romano após disputas com Magêncio e Licínio.
Em
395, com a divisão planejada por Teodósio em Império Romano do Ocidente e
Império Romano do Oriente, Constantinopla estava destinada a ser a capital
desse novo império. Quando Teodósio morreu foi enfim feita essa divisão e os dois
filhos dele governaram os impérios. Honório ficou com o Império Romano do
Ocidente e Arcádio ficou com o Império
Romano do Oriente. Foi a capital das províncias romanas orientais, ou seja,
daquelas áreas do Império localizadas no sudeste de Europa, sudoeste da Ásia e
na parte nordeste de África, que incluíam os países atuais da península
Balcânica, Turquia ocidental, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Chipre, Egito e
a região mais oriental da Líbia.
Constantinopla
localizava-se numa projeção de terra sobre o estreito do Bósforo em direção à
Anatólia. Era como uma ponte para as rotas comerciais entre a Europa a Ásia por
terra e se constituía no principal porto nas rotas que iam e vinham entre o mar
Negro e o mar Mediterrâneo.
A
queda de Constantinopla também significou uma conquista considerável para o
Império Otomano, formado a partir de um sultanato turco em 1299. Com essa
conquista turca sobre Constantinopla, findava-se por completo o Império Romano
do Oriente, como tinha sido também chamado o Império Bizantino.
Durante
a Idade Média vários povos atacaram o Império Bizantino e Constantinopla era
uma cidade comercial muito importante e cobiçada tendo sido alvo de ataques de
povos como os hunos, os persas, os árabes e até uma cruzada cristã que chegou a
conquistá-la em 1204 e manteve sua conquista por um tempo até que os bizantinos
a tomaram de volta em 1261, mas sem voltar o império a ter o mesmo território que antes
da cruzada e também houve um considerável enfraquecimento econômico do império.
Os
ataques de inimigos externos e mais os conflitos internos foram responsáveis
pelo enfraquecimento do Império Bizantino que foi perdendo territórios. Um fator
a ser considerado na questão de relacionamento entre os cristãos do ocidente e
os do oriente foi o cisma religioso que ocorreu, passando a haver a Igreja Católica Romana,
chefiada pelo papa e a Igreja Católica Ortodoxa, com influência do imperador
bizantino.
Foi
o sultão Mehmed II (ou Maomé II) que causou o
golpe fatal contra a cidade. Embora Constantinopla tivesse uma muralha
bem reforçada, o sultão tinha um exército numeroso, bem armado e com canhões de
grande potência. Após meses de cerco e ataques, por mar e terra, Constantinopla
caiu e foi islamizada. Sua maior igreja virou uma mesquita e várias outras
igrejas foram destruídas. Constantino XI, o último imperador bizantino, morreu
na última batalha.
Passado um tempo depois a
cidade de Constantinopla seria Istambul (nome
que significa “na cidade”) e se tornaria a sede do Império Otomano, que sobreviveu
até o início do século XX, terminando quando os turcos foram derrotados no fim
da I Guerra Mundial. Depois de ter conquistado a cidade, o sultão Maomé II procurou revitalizá-la,
convidando e forçando a nela se fixarem muitos muçulmanos, judeus e cristãos de
outras partes da Anatólia, criando assim uma sociedade cosmopolita.
Estando Constantinopla dominada pelos turcos, o
comércio entre Europa e Ásia sofreu um impacto, pois mercadores tinham mais
dificuldades para seguir para a Índia e a China, de onde provinham as
especiarias. Portugal e Espanha, com sua novas rotas para atingir o Oriente,
passaram cada vez mais a ter destaque nas chamadas "Grandes
Navegações" nos séculos XV e XVI, enquanto Gênova e Veneza declinavam.
A seguir alguns trechos do livro "A Queda de
Constantinopla, 1453" de Steven Runciman:
"...Ao longo do trecho das muralhas terrestres
ao sul do Lico, os cristãos haviam repelido todos os ataques dos turcos. Mas
agora, um após outro, os regimentos penetravam pelas brechas na paliçada e se
espalhavam para todos os lados para abrir todos os portões. Os soldados nas
muralhas se viram cercados. Muitos foram mortos tentando escapar da armadilha,
mas a maioria dos comandantes, entre os quais Filipo Contarini e Demétrio Cantacuceno,
foram capturados vivos..."
"...O sultão Maomé já sabia havia várias horas
que a grande cidade era sua. O dia estava nascendo quando seus homens
irromperam pela paliçada; pouco depois, com a lua pálida ainda alta no céu, ele
foi pessoalmente examinar a brecha pela qual haviam passado. Mas esperou até a
tarde para fazer sua entrada triunfal na cidade, quando os primeiros excessos
de massacres e pilhagens já tivessem passado e alguma ordem tivesse sido
restaurada..."
"...No entanto, a data de 29 de maio de 1453
representa um marco decisivo na História. Marca o fim de uma velha história, a
da civilização bizantina. Durante mil e cem anos existira no Bósforo uma cidade
na qual o intelecto era admirado e a cultura e as letras do passado clássico
eram estudadas e preservadas. Sem a atuação dos comentaristas e escribas
bizantinos, hoje em dia saberíamos muito pouco sobre a literatura da Grécia
Antiga. Era também uma cidade cujos dirigentes ao longo dos séculos haviam inspirado
e incentivado uma escola de arte sem paralelo na história humana, uma arte que
surgiu de uma mescla sempre variável do contido senso cerebral grego da
adequação das coisas com um profundo senso religioso que via nas obras de arte
a encarnação do divino e a santificação da matéria. Além disso, era uma grande
cidade cosmopolita, onde, junto com as mercadorias, havia uma livre troca de
ideias e cujos cidadãos se viam não como um grupo racial, mas como os herdeiros
de Grécia e Roma, santificados pela fé cristã. Tudo isso estava
acabado..."
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Imagem: Google.
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