quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Considerações sobre o "Dia da Proclamação da República"










Hoje,  dia 15 de novembro, se comemora a proclamação da república no Brasil. Em 15 de novembro de 1889 um marechal de passado monarquista, Deodoro da Fonseca, ex-combatente da Guerra do Paraguai, onde destacou-se pela bravura, que tinha pertencido aos círculos mais próximos ao imperador Dom Pedro II, um homem adoentado, influenciado por colegas republicanos do exército, colocou-se a frente de tropas no Rio de Janeiro e depôs o ministério. Era o primeiro passo para a instalação da República no Brasil.


A partir de então, esse marechal que nunca tinha pensado em se tornar o líder máximo do país passa a ser o primeiro presidente por meio de um golpe. O imperador foi banido, a Constituição de 1824 anulada, os senadores vitalícios perderam o cargo, não havia mais o Poder Moderador, a Igreja foi separada do Estado, houve o começo do federalismo, os governadores monarquistas foram afastados, passaram a não existir mais os partidos Liberal e Conservador que eram dominantes no II Império.


Parecia que a Proclamação da República  iria mudar radicalmente o Brasil. Mas não foi bem assim. A maior parte da população continuava nas mesmas condições de antes, com desigualdades enormes e direitos reduzidos. A nova Constituição, a primeira da república e a segunda do Brasil, não permitia o voto aos analfabetos e às mulheres (assim a maior parte da população brasileira não podia votar). Os grandes fazendeiros continuavam com imenso poder político e econômico.  No campo os camponeses em sua maioria permaneciam sem educação e empobrecidos. Nas cidades uma classe média ávida por novas oportunidades queria enfim ocupar posições que não tinha ainda conquistado. O operariado era reduzido, assim como o número de industriais. As indústrias estavam localizadas principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo. O país continuava basicamente agrário.


Deodoro e Floriano Peixoto foram os presidentes da chamada República da Espada, primeira fase do período republicano conhecido como República Velha. Nos governos dos  dois militares, o Brasil viu-se diante de movimentos armados: as duas revoltas da Armada (Marinha de Guerra)  e a "Revolução Federalista".  Também o Brasil passou por momentos econômicos difíceis, como a crise do "Encilhamento".


E terminado o governo de Floriano Peixoto, os fazendeiros puderam então assumir o poder que tanto desejavam. Com Prudente de Moraes inicia-se os governos das oligarquias, poderosos grupos ligados ao setor agrário brasileiro, com destaque para a oligarquia cafeeira.

Na República Velha houve eleições controladas pelos "coroneis" (líderes oligárquicos que dominavam o interior brasileiro, os mandões locais);  a "Política dos Governadores" e a degola política de adversários por meio da Comissão Verificadora de Poderes;  o aumento da industrialização e do operariado, a luta desse grupo por direitos trabalhistas;  a insatisfação de boa parte da classe média diante do poder das oligarquias, inclusive os oficiais de baixa patente, os tenentes, que queriam reformas políticas. Houve também movimento sociais como a Revolta da Chibata, contra os abusos dos oficiais da Marinha de Guerra; as Guerras de Canudos e Contestado, envolvendo a questão da terra e a exploração do campesinato.

A República Velha morreu em 1930, diante dos conflitos que existiam entre as oligarquias, sendo os oligarcas descontentes apoiados por grande parte  dos "tenentes",  com influência dos fatores externos, pois a crise mundial de 1929 afetou muito a economia brasileira, em especial os fazendeiros cafeicultores, os mais fortes economicamente e politicamente, mas que não conseguiram mais manter seu domínio.

Novos períodos nós brasileiros tivemos na República, como a Era Vargas, o período populista de 1946-1964, os governos militares e o período atual, de 1985 até hoje. Houve várias mudanças desde quando a república foi proclamada. Houve um processo maior de industrialização e apesar de terem existido governos autoritários, conseguiu-se a conquista de direitos como o direito de votos das mulheres e direitos trabalhistas.

É de se desejar que, a situação republicana que foi conquistada, com a democracia (ainda longe de um modelo que seria o ideal)  que hoje temos, possa ser mantida. A liberdade  e mais participação popular  por tantos e por tanto tempo foi esperada, desde as lutas dos primeiros movimentos republicanos, como as conjurações mineira e baiana e de ativistas do Brasil Império como os líderes da Revolução Praieira em Pernambuco e outros republicanos a favor dos mais humildes como Lopes Trovão e Silva Jardim. Não devemos perder o que já foi conquistado durante os anos de república e temos que continuar na busca por um aperfeiçoamento constante da nossa república, lutando por um país que seja mais justo, mais desenvolvido e  com menos desigualdades sociais.

A seguir um trecho do livro "O Brasil Imperial, Volume III, texto de Renato Lemos:

" Já os interesses regionais de classes dominantes contariam sempre com o cuidado da república. O federalismo impresso na Constituição de 1891 institucionalizaria suas conquistas como prerrogativas estaduais. Entre as franquias então conquistadas pelos grupos dominantes nos estados merecem registro espacial as faculdades de elaborar constituições próprias, de administrar terras devolutas do patrimônio da União, de organizar forças militares sob o seu comando e de contrair empréstimos no exterior. O Pacto entre os poderes regionalizados seria aperfeiçoado, no final do século, pela "política dos governadores", um arranjo político destinado a conferir estabilidade à ordem republicana, que marca o fim da conjuntura de crise da monarquia e transição para a república".


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://monarquiaconstitucional.jusbrasil.com.br/artigos/

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