terça-feira, 30 de abril de 2019

Operação Mincemeat: uma operação de espionagem na Segunda Guerra Mundial











Em 30 de abril de 1943 aconteceu o início da Operação Mincemeat (Operação Carne Picada). Essa operação consistiu em um plano bem sucedido de contra-informação dos ingleses contra os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

Fazia parte dos planos gerais de outra operação, a Operação Barclay, que era um esquema de despistamento sobre a invasão da Sicília pelos aliados a partir do norte da África. Por meio da Mincemeat o alto comando alemão foi enganado, pois foi convencido de que a invasão seria na Grécia e na Sardenha e não na Sicília. 


Para que a Operação Mincemeat desse certo, foi usado um cadáver de um inglês com documentos forjados com falsos objetivos de uma invasão aliada. O cadáver foi lançado de um submarino ao mar, na costa da Espanha, onde havia forte presença do serviço secreto alemão.  A necessidade de despistar os alemães era porque era preciso que as defesas estivessem mais fracas na Sicília quando do desembarque aliado, evitando um número de baixas maior e até mesmo evitando o fracasso do desembarque na ilha (Operação Husky). 

O terreno montanhoso era favorável aos defensores e se eles tivessem suas tropas reforçadas pior seria para os aliados. Era necessário que o Eixo (nazistas e fascistas) desviasse parte considerável de suas forças para outros lugares. 


Os dois oficiais britânicos que elaboraram o plano com a utilização do cadáver foram Ewen Montagu e  Sir Archibald Cholmondley. Para isso foi escolhido um cadáver com características de um homem que tivesse morrido afogado. Foi descoberto um homem em um hospital que morreu com os pulmões encharcados de líquido (o que parecia que ele tinha morrido afogado). Foi arranjado para que parecesse que um correio aliado tinha sido morto ao cair seu avião e o corpo então tinha ido parar na costa. Foi usado um submarino para colocar o corpo no mar. Foi suposto que as autoridades franquistas da Espanha acionariam o serviço secreto alemão, com o qual tinha boas relações. A família do morto foi convencida a cooperar liberando o cadáver. 


Foi criada uma nova identidade para o morto. Ficou decidido que seria um membro da Marinha Real, um oficial chamado William Martin. Foram então inventadas características pessoais a ele: fotografias e cartas de amor de uma noiva; uma carta do pai; contas para pagar; chaves; fósforos; moedas; bilhetes de teatro e outros objetos que seriam encontrados em seus bolsos. Criou-se um bilhete de identidade falso. E, então, foram criados documentos falsos secretos que iriam numa mala com o cadáver. Os documentos diziam que os desembarques seriam na Sardenha e em pontos dos Balcãs, incluindo a Grécia. Os planos forjados estavam descritos numa carta falsa escrita por um general da Inglaterra endereçada a outro general desse país. Também havia uma segunda carta do chefe das Operações Combinadas, Lord Mountbatten para um almirante inglês que explicava que o oficial que levava a correspondência tinha participado no ataque a Dieppe, na costa francesa.


O submarino inglês que levava o corpo emergiu na madrugada de 30 de abril próximo à costa espanhola. Foi colocado um colete salva-vidas no corpo e deixado no mar. Foi apanhado pouco tempo depois por um barco de pesca que o levou ao porto e não demorou muito para que um agente alemão tivesse conhecimento.


Os espanhois devolveram a mala com os documentos para a embaixada da Inglaterra. Ao chegarem à Londres,  foram examinados e se teve certeza de que tinha sido manuseados e possivelmente fotografados. Com a certeza de que os documentos estavam sendo analisados pelos alemães, os agentes ingleses mandaram um mensagem para o primeiro ministro Churchill: a carne picada foi toda comida.


Na Espanha, major Martin, foi enterrado com honras militares e flores teriam sido envidas de sua noiva (mais uma fraude inglesa). Na revista Times houve a menção de seu nome na lista de baixas. Era mais um fator a ser levado em conta pela Abwehr (serviço secreto alemão). 


Todo esse embuste deu certo. Os alemães acreditaram e desviaram divisões de seu exército para reforçar a Grécia, a Córsega e a Sardenha. Além de deixarem de reforçar a área correta de desembarque aliado, os alemães enfraqueceram o front russo ao enviarem duas divisões blindadas para a Grécia em um momento que o exército alemão precisava muito delas contra as forças russas. 

Para piorar para o Eixo, suas tropas que estavam na Sicilia não esperavam o ataque, sendo pegas de surpresa pelo ataque aliado. A Sicília foi tomada por completo em agosto de 1943. Assim, a Operação Mincemeat foi muito útil para o sucesso aliado !


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+O+Homem+que+nunca+existiu
 

O Édito de Nantes










Em referência ao dia 30 de abril na História, destaco neste artigo o Édito de Nantes, de 30 de abril de 1598, que concedeu aos protestantes calvinistas franceses (chamados na época de huguenotes)  a garantia de tolerância religiosa.


O édito determinava que o catolicismo permanecia como religião oficial do Estado, mas aos calvinistas franceses era permitido exercer o seu culto. Por 36 anos havia existido perseguição aos huguenotes, com destaque para o Massacre da noite de São Bartolomeu, em 1572, quando milhares deles foram mortos a mando do rei. O édito ficou conhecido nos séculos XVI e XVII como "édito de pacificação". O rei que tinha assinado o édito foi Henrique IV, um nobre protestante que se converteu ao catolicismo ao subir ao trono. 

O Édito de Nantes foi revogado pelo rei Luís XIV por meio do Édito de Fontainebleu,em 1685,  mesmo contra a vontade do papa Inocêncio XI. A perseguição aos huguenotes voltou e a maioria deles (entre 200 mil e 500 mil) fugiu para o exterior. A saída deles causou prejuízos econômicos à França, pois muitos eram hábeis artesãos ou negociantes e os países que os acolheram foram beneficiados com os talentos deles. 


A revogação do Édito de Nantes foi um erro do rei francês, que resolveu seguir pelo caminho da intolerância religiosa ( o que hoje em dia é considerado um desrespeito aos direitos humanos) para acabar com a paz outrora reinante entre católicos e protestantes e expulsando pessoas que contribuíam para o desenvolvimento econômico da  nação. Não havia sido a primeira vez na história em que a questão religiosa prejudicou um país ao forçar a saída de muitos que tinham conhecimentos válidos para a economia, ciência etc, como aconteceu também com a expulsão de judeus da Península Ibérica, no século XVI, que foram se refugiar em países como a Holanda, que muito ganhou com os conhecimentos dos refugiados. 


Infelizmente atualmente ainda existem casos de falta de respeito aos que tem práticas religiosas diferentes e os atos de terrorismo que são cometidos por fanáticos contra fieis de outra religião são exemplos desse fanatismo.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:  https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/59/Edit_de_nantes.jpg



quinta-feira, 18 de abril de 2019

O imperador e filósofo Marco Aurélio












Em 26 de abril de 121 nascia Marco Aurélio (em latim Marcus Aurelius), imperador romano (de 161 a 180) e filósofo estoico. Seu nome todo era César Marco Aurélio Antonino Augusto.  Foi chamado de "o último dos cinco bons imperadores". Era dedicado a estudos filosóficos e escreveu a obra Meditações. Foi um inteligente militar, um pensador e um bom administrador. No seu reinado o Império Romano enfrentou partas na fronteira oriental e povos germanos na fronteira norte. Foi designado aos 17 anos herdeiro do seu tio, imperador Antonino Pio em 138. Mas também seu tio tinha também designado Lucio Vero como sucessor.


O pai de Marco Aurélio era de uma distinta família da classe senatorial com vínculos com a província da Hispânia, que ficara rica com a plantação de oliveiras e produzindo azeite e o seu bisavô foi pretor e senador. A mãe, Domitia Lucilla, era uma mulher muito rica, que herdou de sua mãe um complexo de olarias e fábricas de tijolos perto de Roma.

A família teve ascensão política com a subida de Adriano (originário da Hispânia) ao trono. Famílias aristocráticas dessa província foram beneficiadas e muitas tinham parentesco com Adriano e com o seu antecessor Trajano. Na época do governo de seu tio, Marco Aurélio foi cônsul três vezes.  Em relação ao avô, Marco Aurélio demonstrou gratidão, por lhe ter ensinado  a ter “bom caráter e evitar o mau gênio”.

Dos sete aos onze anos, a educação básica de  Marco Aurélio ficou a cargo de tutores. Aos doze anos foi educado por dois grammatici e também estudou ciências e artes, assim como filosofia. Quando adolescente ele adotou o costume de se vestir como um filósofo grego e também dormia no chão.

Com a morte de Antonino, Marco Aurélio e Lucio Vero subiram ao trono como augustos. Mas a posição de Marco era superior a de Vero. Este, até a sua morte, em 169, de peste em uma guerra,   permaneceu leal à Marco Aurélio e lutou em campanhas dos romanos contra os germânicos.

Marco Aurélio casou-se com a filha de Antonino Pio, Faustina, a Jovem, em 145. Ela gerou 13 filhos durante 30 anos de casamento. Uma filha, Lucila, casou-se com Lúcio Vera, para fortalecer a aliança com Marco Aurélio. 


O imperador Marco Aurélio teve de enfrentar invasões vindas de vários povos germânicos e ainda uma tentativa de tomada do trono por um general romano do oriente. Houve também uma grande peste na época que dizimou parte da população do império.

Em 17 de março de 180, Marco Aurélio veio a falecer durante uma campanha contra os germanos Marcomanos, que ameaçavam Vindobona (na atual Áustria) . A Gália (região da Europa ocidental, atualmente ocupada pela França, Bélgica, Holanda e oeste da Suíça) naqueles tempos era atacada por tribos germânicas. Os Marcomanos (os “homens da fronteira”, na língua germânica), foram auxiliados em ataques ao Império pelos Quados, outro povo germânico. Esses povos  cruzaram o Danúbio, chegando a derrotar um exército de 20 mil romanos em Carnuntum.

Marco Aurélio havia escolhido,alguns  anos antes de sua morte, o seu filho Cômodo para ser seu herdeiro, o futuro imperador, que foi feito co-imperador em 177.


Cômodo não foi um bom sucessor. Não estava preparado para governar e era uma pessoa egoísta. Sua ascensão ao poder após a morte de seu pai para muitos historiadores significou o começou do  declínio do Império Romano.


Marco Aurélio escrevia seus pensamentos geralmente em acampamentos, em campanhas militares. Tais pensamentos eram reflexões para si, com frases curtas e profundas, que tratavam por exemplo, sobre como a glória e a vida são efêmeras. As palavras escritas de Marco Aurélio foram organizadas por um discípulo em um pequeno livro ao qual deu o nome de Meditações.

Houve críticas de historiadores cristãos contra os atos de Marco Aurélio, pois houve perseguições ordenadas por ele contra os cristãos, possivelmente muitas prisões. Mas é provável que ele apenas tenha seguido uma política que outros imperadores da época já realizavam, pois os cristãos eram denunciados pelos praticantes das religiões tradicionais e por autoridades porque se recusavam a participar de cultos dessas religiões e nem faziam culto à figura do imperador, como era costume.

 Marco Aurélio escreveu sobre seu pai:
"Em meu pai, observei suavidade de temperamento e resolução imutável nas coisas que ele determinava após a devida deliberação. Não possuía nenhuma vaidade nas coisas que os homens chamam de honras. Ele era dedicado e perseverante no trabalho. Estava sempre disposto a ouvir aqueles que tinham qualquer coisa a propor para o bem comum. Ele possuía firmeza inabalável, atribuindo a cada pessoa conforme os seus méritos. Observei que ele havia superado todas as paixões infantis. Observei, também, o seu hábito de investigação cuidadosa em todos os assuntos que requeriam a sua deliberação. Além disso, ele possuía uma persistência inabalável e nunca interrompia a sua análise e pesquisa até estar satisfeito com os fatos; não se deixando enganar pelas aparências que primeiro se apresentavam. Ele era capaz de prever coisas muito antecipadamente e procurava não se exibir e nem se deixava afetar pelos elogios, lisonjas e aplausos populares. Ele estava sempre atento às coisas necessárias para a administração dos negócios e era um bom gestor das despesas, suportando com paciência a responsabilidade pelos imprevistos. Ele sempre demonstrou sobriedade e firmeza nas decisões tomadas em todas as coisas públicas e particulares. Nunca demonstrou quaisquer pensamentos ou ações ruins. Ele estava preparado para ceder sem inveja aos que possuíam alguma habilidade particular e valorizava os profissionais para que desfrutassem da sua reputação de acordo com seus méritos e conhecimentos. Ele sempre agiu de acordo às instituições do país, sem demonstrar qualquer afetação por cumprir com o seu dever. Além disso, ele era metódico em sua rotina e disciplinado nas suas obrigações." 



A estátua equestre de Marco Aurélio está hoje nos Museus Capitolinos. Foi restaurada por Michelangelo e tornou-se um modelo para todas as estátuas equestres do Renascimento. 


A figura de Marco Aurélio está presente nos seguintes filmes com representação de atores dos Estados Unidos:



A Queda do Império Romano (1964)

Gladiador (2000) 


Pensamentos de Marco Aurélio: 


“Cada um vive apenas o momento presente, breve. O mais da vida, ou já se viveu ou está na incerteza. Exíguo, pois, é o que cada um vive. Exíguo, o cantinho da terra onde vive. Exígua, até a mais longa memória na posteridade, essa mesma transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si próprio conhecem, quanto menos a alguém falecido há muito.”


"Nada de desgosto, nem de desânimo; se acabas de fracassar, recomeça."


"O melhor modo de vingar-se de um inimigo, é não se assemelhar a ele."


"A nossa vida é aquilo que os nossos pensamentos fizerem dela."


"Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa."


"Se te ocorrer, de manhã, de acordares com preguiça e indolência, lembra-te deste pensamento: «Levanto-me para retomar a minha obra de homem»."


"Escava dentro de ti. É lá que está a fonte do bem, e esta pode jorrar continuamente, se a escavares sempre."


"A arte de viver é mais parecida com a luta do que com a dança, na medida em que está pronta para enfrentar tanto o inesperado como o imprevisto e não está preparada para cair."


"Quanto não ganha em tranquilidade quem não se preocupa com o que o vizinho diz, faz ou pensa, mas apenas com os seus próprios atos."


"Pratica cada um dos teus atos como se fosse o último da tua vida."


"Mais penosas são as consequências da ira do que as suas causas."


"Mudar de opinião e seguir quem te corrige é também o comportamento do homem livre."

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:  https://www.google.com/search?q=imagem+do+imperador+marco+aurélio&tbm