Tenho
lido os noticiários sobre estas duas figuras tão diferentes, mas ambas
ambiciosas e apegadas ao poder. Líderes que mesmo com tantas pressões
contrárias, permanecem com apoios fortes e não há certezas quanto ao futuro que
os reserva.
Em
relação a Maduro, em 2018 e 2019 seu governo sofreu com sanções internacionais
capitaneadas pelos Estados Unidos e também sentiu a insatisfação de grande
parte da população venezuelana em um cenário de graves problemas sociais e
econômicos. Mas eis que recentemente começou a adotar certas medidas antes
talvez consideradas muito improváveis por analistas. Ele começou a permitir que
dólares fluíssem livremente e deu mais liberdade para a iniciativa privada em
tentativas de dar sobrevida ao seu governo já combalido.
Não
se pode dizer que Maduro tenha, a partir de algumas mudanças, recuperado a
popularidade perdida, mas há sinais de que a emigração está se reduzindo e já
existem venezuelanos voltando. Assim, ainda que seu adversário político Juan
Guaidó tenha tido contatos com lideranças mundiais que lhe foram simpáticas,
reconhecendo-o como um líder legítimo, não há como dizer que o regime atual na
Venezuela agora esteja tão fraco a ponto de ruir de vez.
Há
alguns meses Maduro parecia estar se enfraquecendo politicamente, o que dava
uma aparência de que seria possível ele sair de cena e dar lugar para a
oposição liberal. Só que, de forma até mesmo surpreendente para alguns
observadores da política venezuelana, Maduro parece estar se recompondo. Além
da ajuda internacional de países como Rússia, China, Turquia e Índia que
tem negócios com a Venezuela, Maduro teve conversas secretas com capitalistas
detentores de cerca de 60 bilhões de dólares em títulos, fazendo a oferta de
atrelar tais títulos a uma petroleira estrangeira que passaria a ter direitos
sobre campos de petróleo da Venezuela como uma garantia em relação à dívida. Segundo
pessoas próximas a Maduro, um acordo assim está dando mais confiança a Maduro.
Há
notícias de que o dólar aparece cada vez mais nos cardápios de cafeterias e lojas
nas proximidades do palácio presidencial. Em Caracas já aparecem algumas lojas
cheias de champanhe francês, salmão selado a vácuo e queijo italiano Grana
Padano.
Em
23 de fevereiro deste ano, o jornal The New York Times publicou que o
venezuelano dono das empresas Polar, Lorenzo Mendoza, estabeleceu um acordo com
Maduro. Por meio de intermediários próximos ao presidente, o empresário
conseguiu que o governo parasse a perseguição à empresa. Foi feito então um
pacto. Mendoza pararia com comentários contra o Chavismo e deixaria a vida
pública e assim o governo deixaria sua perseguição às empresas Polar, não
fazendo também interferências em políticas internas da empresa.
Conforme
diz um relatório divulgado:"O governo parou de forçar a Polar a entregar
seus produtos a preços reduzidos. Hoje, o governo fornece matérias-primas aos
principais produtores privados e negocia compras de alimentos em termos de
mercado, segundo fontes do setor. As lojas estão cheias novamente, mesmo que os
produtos estejam fora do alcance da maioria dos venezuelanos".
O
New York Times
afirmou que este pacto passou a vigorar em 2018. O regime, mesmo que
conservando aspectos autoritários, parece assim estar disposto a exibir um
novo modelo onde há concessões ao capitalismo. Embora não seja o suficiente
para resolver os principais problemas da Venezuela, deu novas forças para
setores da economia venezuelana e permitiu alguns investimentos que antes não
estavam sendo feitos, possibilitando ao regime de Maduro sobreviver às pressões
dos Estados Unidos e ao isolamento que lhe impõe vários países.
Em
relação à Trump, vemos um presidente que se porta muitas vezes de forma
arrogante, mas que chega a ser ídolo de muitos conservadores, como o atual presidente
do Brasil.
Para
muitos que observam Trump no momento presente, diante de condições que o
levaram a sofrer em 2019 um pedido de afastamento pela câmara de deputados dos
Estados Unidos, pode parecer até mesmo impossível que ele consiga se
reeleger em 2020. Ele é um presidente que em 2016 nem mesmo conseguiu a maioria
dos votos dos eleitores, tendo sido eleito graças ao sistema indireto de
Colégio Eleitoral e ao começar seu mandato tinha uma baixa popularidade. Ainda
nos dias de hoje seu índice de aprovação é de 45%, segundo o instituto Gallup.
É um governo que ficou famoso por escândalos.
Considerando-se
a história das eleições nos Estados Unidos, apenas 17 dos 44 presidentes foram
reeleitos, uma taxa de sucesso de aproximadamente 38%. Mas conforme alguns
analistas, não tem sido rara a tendência para segundos mandatos nos últimos
anos, mostrando uma força do Poder Executivo na atualidade.
No
caso de Trump, é notória a sua capacidade de influenciar nas notícias na mídia
e há dados econômicos que o favorecem. Também a forma como se desenvolverá a
política internacional dele poderá ter influência, assim como não é
nada desprezível a fidelidade de sua base política. O que o favorece igualmente são
os fatores desfavoráveis para os democratas, como a falta de uma união como a
que há entre os republicanos no momento.
Segundo
o colunista do jornal Times Leader sobre uma votação regional : "Se
os democratas conseguirem um candidato que os mobilize e os leve às urnas, têm
chances. Democratas precisam ver por que um sujeito vulgar e ególatra se
transformou em porta-voz da América trabalhadora: ele lhes falou de coisas que
lhes importam, como recuperar empregos que foram embora do país e proteger as
fronteiras.”
Outro
que opiniou sobre a eleição para presidente foi Geoffrey Skelley,
analista eleitoral do site Five Thirty Eight: “A polarização do país também
joga a seu favor, já que, embora o nova-iorquino seja muito impopular (mal
alcançou 40% de aprovação durante toda a sua presidência), assim que os democratas
lançarem seu candidato os republicanos moderados, inclusive aqueles que não
gostam de Trump, podem acabar se alinhando a ele para evitar que o outro
ganhe”.
Trump
foi escolhido por republicanos tradicionais – 80% deles –, e muitos,
perguntados depois, responderam que não gostavam do candidato, mas que
jamais iriam votar nos democratas e sabiam que seu candidato, se fosse
vitorioso, reduziria impostos e garantiria juízes conservadores na Suprema
Corte.
Para
a professora de Harvard, Theda Skocpol, que passou meses fazendo pesquisa em
condados que aderiram a Trump em 2016, os democratas estão recuperando terreno
em zonas suburbanas em nível nacional, inclusive entre mulheres republicanas e
democratas moderados de perfil empresarial, como se viu em 2018. Algo parecido
ela espera em 2020 em lugares-chaves como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan,
porém Trump resiste naqueles Estados marcados por “tensões pela imigração”.
Há
de se considerar a realidade nos Estados Unidos, pois segundo o The York
Times, mostra uma situação em que, pela primeira vez em um século, todos os
Estados, exceto Minnesota, têm seus Parlamentos locais (Câmara e Senado
estaduais) controlados por um só partido, muitas vezes o mesmo que ocupa o
cargo de governador, o que está tornando a política bipartidária quase
impossível.
Tendo
um estilo agressivo e polarizador, Trump fortaleceu uma reprovação elevada e há
pouco espaço para ele crescer. Só que ainda assim tem chance de vencer em
novembro de 2020. Está conseguindo levantar mais dinheiro para a campanha do
que qualquer candidato democrata, tendo a retaguarda do Partido Republicano,
que fala de seus oponentes como se fossem radicais com pouco entendimento da
realidade da população. Também é de se ressaltar que sua vantagem geográfica
(dentro do sistema de lá, baseado em colégios eleitorais) é considerável. Ele
poderia receber 5 milhões de votos a menos do que o rival e mesmo assim ganhar,
segundo um estudo.
Diante
do foi colocado, nada está decidido. E considerando-se a forma que é eleito o
presidente nos Estados Unidos e qual será o candidato democrata a enfrenta-lo,
há a possibilidade de Trump ser reeleito.
As
realidades de Estados Unidos e Venezuela são bem complexas e envolvem diversos
fatores políticos, sociais, econômicos. Desta forma, a queda de Maduro diante
de pressões internacionais, que antes já pareceu tão próxima, provavelmente
hoje em dia não esteja assim e a reeleição de Trump, que mostra um estilo
mandão, nacionalista, ríspido e ultraconservador, pode não ser uma coisa tão
absurda de se acreditar. O que quis demonstrar neste artigo não são certezas e
sim possibilidades diante dos fatos.
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Márcio
José Matos Rodrigues-Professor de História
Figuras: https://www.google.com/search?q=imagem+de+bandeira+da+venezuela&client=firefox
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+bandeira+dos+estados+unidos