terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Maduro e Trump: Ainda bem vivos na política.





















Tenho lido os noticiários sobre estas duas figuras tão diferentes, mas ambas ambiciosas e apegadas ao poder. Líderes que mesmo com tantas pressões contrárias, permanecem com apoios fortes e não há certezas quanto ao futuro que os reserva.

Em relação a Maduro, em 2018 e 2019 seu governo sofreu com sanções internacionais capitaneadas pelos Estados Unidos e também sentiu a insatisfação de grande parte da população venezuelana em um cenário de graves problemas sociais e econômicos. Mas eis que recentemente começou a adotar certas medidas antes talvez consideradas muito improváveis por analistas. Ele começou a permitir que dólares fluíssem livremente e deu mais liberdade para a iniciativa privada em tentativas de dar sobrevida ao seu governo já combalido.

Não se pode dizer que Maduro tenha, a partir de algumas mudanças, recuperado a popularidade perdida, mas há sinais de que a emigração está se reduzindo e já existem venezuelanos voltando. Assim, ainda que seu adversário político Juan Guaidó tenha tido contatos com lideranças mundiais que lhe foram simpáticas, reconhecendo-o como um líder legítimo, não há como dizer que o regime atual na Venezuela agora esteja tão fraco a ponto de ruir de vez.

Há alguns meses Maduro parecia estar se enfraquecendo politicamente, o que dava uma aparência de que seria possível ele sair de cena e dar lugar para a oposição liberal. Só que, de forma até mesmo surpreendente para alguns observadores da política venezuelana, Maduro parece estar se recompondo. Além da  ajuda internacional de países como Rússia, China, Turquia e Índia que tem negócios com a Venezuela, Maduro teve conversas secretas com capitalistas detentores de cerca de 60 bilhões de dólares em títulos, fazendo a oferta de atrelar tais títulos a uma petroleira estrangeira que passaria a ter direitos sobre campos de petróleo da Venezuela como uma garantia em relação à dívida.  Segundo pessoas próximas a Maduro, um acordo assim está dando mais confiança a Maduro.


Há notícias de que o dólar aparece cada vez mais nos cardápios de cafeterias e lojas nas proximidades do palácio presidencial. Em Caracas já aparecem algumas lojas cheias de champanhe francês, salmão selado a vácuo e queijo italiano Grana Padano.

Em 23 de fevereiro deste ano, o jornal The New York Times publicou que o venezuelano dono das empresas Polar, Lorenzo Mendoza, estabeleceu um acordo com Maduro. Por meio de intermediários próximos ao presidente, o empresário conseguiu que o governo parasse a perseguição à empresa. Foi feito então um pacto. Mendoza pararia com comentários contra o Chavismo e deixaria a vida pública e assim o governo deixaria sua perseguição às empresas Polar, não fazendo também interferências em políticas internas da empresa. 

 Conforme diz um relatório divulgado:"O governo parou de forçar a Polar a entregar seus produtos a preços reduzidos. Hoje, o governo fornece matérias-primas aos principais produtores privados e negocia compras de alimentos em termos de mercado, segundo fontes do setor. As lojas estão cheias novamente, mesmo que os produtos estejam fora do alcance da maioria dos venezuelanos".
 
O New York Times afirmou que este pacto passou a vigorar em 2018. O regime, mesmo que conservando aspectos autoritários, parece assim estar disposto a exibir um novo modelo onde há concessões ao capitalismo. Embora não seja o suficiente para resolver os principais problemas da Venezuela, deu novas forças para setores da economia venezuelana e permitiu alguns investimentos que antes não estavam sendo feitos, possibilitando ao regime de Maduro sobreviver às pressões dos Estados Unidos e ao isolamento que lhe impõe vários países.

Em relação à Trump, vemos um presidente que se porta muitas vezes de forma arrogante, mas que chega a ser ídolo de muitos conservadores, como o atual presidente do Brasil.

Para muitos que observam  Trump no momento presente, diante de condições que o levaram a sofrer em 2019 um pedido de afastamento pela câmara de deputados dos Estados Unidos, pode parecer até mesmo  impossível que ele consiga se reeleger em 2020. Ele é um presidente que em 2016 nem mesmo conseguiu a maioria dos votos dos eleitores, tendo sido eleito graças ao sistema indireto de Colégio Eleitoral e ao começar seu mandato tinha uma baixa popularidade. Ainda nos dias de hoje seu índice de aprovação é de 45%, segundo o instituto Gallup. É um governo que ficou famoso por escândalos.

Considerando-se a história das eleições nos Estados Unidos, apenas 17 dos 44 presidentes foram reeleitos, uma taxa de sucesso de aproximadamente 38%. Mas conforme alguns analistas, não tem sido rara a tendência para segundos mandatos nos últimos anos, mostrando uma força do Poder Executivo na atualidade.

No caso de Trump, é notória a sua capacidade de influenciar nas notícias na mídia e há dados econômicos que o favorecem. Também a forma como se desenvolverá a política internacional dele poderá ter influência, assim como não é nada desprezível a fidelidade de sua base política. O que o favorece igualmente são os fatores desfavoráveis para os democratas, como a falta de uma união como a que há entre os republicanos no momento.

Segundo o colunista do jornal Times Leader  sobre uma votação regional : "Se os democratas conseguirem um candidato que os mobilize e os leve às urnas, têm chances. Democratas precisam ver por que um sujeito vulgar e ególatra se transformou em porta-voz da América trabalhadora: ele lhes falou de coisas que lhes importam, como recuperar empregos que foram embora do país e proteger as fronteiras.”


Outro que opiniou sobre a eleição para presidente foi  Geoffrey Skelley, analista eleitoral do site Five Thirty Eight: “A polarização do país também joga a seu favor, já que, embora o nova-iorquino seja muito impopular (mal alcançou 40% de aprovação durante toda a sua presidência), assim que os democratas lançarem seu candidato os republicanos moderados, inclusive aqueles que não gostam de Trump, podem acabar se alinhando a ele para evitar que o outro ganhe”. 


Trump foi escolhido por republicanos tradicionais – 80% deles –, e muitos, perguntados depois, responderam  que não gostavam do candidato, mas que jamais iriam votar nos democratas e sabiam que seu candidato, se fosse vitorioso, reduziria impostos e garantiria juízes conservadores na Suprema Corte.


Para a professora de Harvard, Theda Skocpol, que passou meses fazendo pesquisa em condados que aderiram a Trump em 2016, os democratas estão recuperando terreno em zonas suburbanas em nível nacional, inclusive entre mulheres republicanas e democratas moderados de perfil empresarial, como se viu em 2018. Algo parecido ela espera em 2020 em lugares-chaves como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, porém Trump resiste naqueles Estados marcados por “tensões pela imigração”.


Há de se considerar a realidade nos Estados Unidos, pois segundo o The York Times, mostra uma situação em que, pela primeira vez em um século, todos os Estados, exceto Minnesota, têm seus Parlamentos locais (Câmara e Senado estaduais) controlados por um só partido, muitas vezes o mesmo que ocupa o cargo de governador, o que está tornando a política bipartidária quase impossível.


Tendo um estilo agressivo e polarizador, Trump fortaleceu uma reprovação elevada e há pouco espaço para ele crescer. Só que ainda assim tem chance de vencer em novembro de 2020. Está conseguindo levantar mais dinheiro para a campanha do que qualquer candidato democrata, tendo a retaguarda do Partido Republicano, que fala de seus oponentes como se fossem radicais com pouco entendimento da realidade da população. Também é de se ressaltar que sua vantagem geográfica (dentro do sistema de lá, baseado em colégios eleitorais) é considerável. Ele poderia receber 5 milhões de votos a menos do que o rival e mesmo assim ganhar, segundo um estudo.


Diante do foi colocado, nada está decidido. E considerando-se a forma que é eleito o presidente nos Estados Unidos e qual será o candidato democrata a enfrenta-lo, há a possibilidade de Trump ser reeleito. 


As realidades de Estados Unidos e Venezuela são bem complexas e envolvem diversos fatores políticos, sociais, econômicos. Desta forma, a queda de Maduro diante de pressões internacionais, que antes já pareceu tão próxima, provavelmente hoje em dia não esteja assim e a reeleição de Trump, que mostra um estilo mandão, nacionalista, ríspido e ultraconservador, pode não ser uma coisa tão absurda de se acreditar. O que quis demonstrar neste artigo não são certezas e sim possibilidades diante dos fatos.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figuras: https://www.google.com/search?q=imagem+de+bandeira+da+venezuela&client=firefox
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+bandeira+dos+estados+unidos



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