Esta pandemia atingiu diversos países no início do
século XX, começou no final da Primeira Guerra Mundial em 1918 e durou até
1920, tendo matado milhões de pessoas. O vírus dessa doença foi uma variação do
Influenza H1N1. A sua ação devastadora ceifou cerca de 60 milhões de vidas
humanas (muito mais que a Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, que teve
entre 8 e 9 milhões de mortos). Cerca de 500 milhões de pessoas foram
infectadas no mundo.
Quem ficava muito doente devido a Gripe Espanhola, indo a falecer, antes
de sua morte ficava com os pulmões destroçados pela infecção, com sangramentos
no interior do corpo e a pessoa não conseguia mais respirar. O vírus H1N1 de 1918 tinha características próprias.
Quem ficava infectado sangrava pelo nariz, pelos ouvidos, pelos olhos. Houve
relatos de que as pessoas doentes ficavam azuis com a falta de oxigênio e em
horas podiam morrer.
Assim como a China no início da atual pandemia
procurou ocultar os primeiros casos, também Alemanha, França, Grã-Bretanha e
Estados Unidos na época tentaram esconder seus primeiros casos, enquanto a
guerra estava acontecendo, para que os soldados não se apavorassem e para que as
populações não entrassem em pânico. Foi a Espanha, que não participava do
conflito, que noticiou que estava ocorrendo uma epidemia. E assim a gripe que
começou entre as tropas dos Estados Unidos passou a ser chamada de Gripe
Espanhola.
Há mais de uma hipótese sobre onde surgiu a Gripe Espanhola. Uma que é mais aceita é
de que o primeiro caso teria sido de um soldado dos Estados Unidos, no Fort
Riley, no estado do Kansas, em março de 1918. É possível que o vírus tenha sido
originário de aves migratórias que o passaram para porcos no Kansas e daí de
alguma forma chegou no soldado.
Desse quartel, a doença se espalhou pelos
contingentes americanos. A doença foi mortal entre pessoas de 20 a 35 anos. Das
tropas americanas, a doença deve ter se espalhado para soldados de outros
países e para os civis das cidades.
Entre os habitantes da cidade de São Paulo, houve
5300 mortes. Os mortos ficavam nas ruas até serem recolhidos e a situação era
parecida na cidade do Rio de Janeiro.
Não existiam equipamentos de proteção para os que
cuidavam dos doentes. Não existiam antibióticos que pudessem tratar as
infecções secundárias. A maioria dos infectados morria em suas próprias
casas. Houve desorganização econômica e social, pois portos e vários serviços
públicos não funcionavam. Naquela época havia entre os médicos brasileiros a
crença de que decretar a quarentena e fechar fronteiras não conseguiriam deter
o avanço da epidemia.
Percebeu-se que era necessário coordenar ações de
combate à pandemia no Brasil. O cientista político e historiador da saúde
Gilberto Hochman disse sobre a questão: “A gripe
espanhola expôs os limites e levou a uma valorização do sistema público de
saúde, indispensável para enfrentar uma epidemia, e dos profissionais da área
médica".
Segundo a historiadora Heloisa Starling:
"Estudei em detalhes a gripe
espanhola em Belo Horizonte. Foram adotadas medidas drásticas de
isolamento, os comerciantes protestaram muito, mas nenhum governo estadual, a
prefeitura ou governo federal disse que não se podia parar por razões
econômicas. Há 100 anos, ninguém saiu às ruas contra as medidas de proteção da
sociedade. A sociedade se mobilizou para se proteger. O isolamento durou três
meses..."
Assim, com o estudo da história de outras epidemias
e pandemias como a chamada Gripe
Espanhola, vemos o quanto a Humanidade sofreu, como essas doenças se
espalharam pelo mundo e a luta para superar as dificuldades. Hoje em dia,
quando o mundo enfrenta outra pandemia, espera-se que as medidas tomadas sejam
capazes de reduzir o número de mortes e que as questões econômicas e
financeiras que são muito importantes, não sejam colocadas em um nível maior
que a vida humana e que os governantes dos países depois de vencida esta fase
que estamos passando possam fazer um planejamento sério e com mais
investimentos em ciência e tecnologia voltados para um bem estar maior das
populações, com uma ação integrada dos organismos de saúde pelo mundo e com
medidas de prevenção mais aperfeiçoadas, com mais humanismo e mais
solidariedade.
Vemos que com o excesso de liberalismo, com muito
poder para as grandes empresas e com pouca interferência do Estado não é
possível enfrentar com mais eficácia certos grandes problemas que afetam as
populações. O Estado não precisa ser um Leviatã todo poderoso, mas também não
deve se omitir ou ser altamente permissivo em relação ao grande capital. Na
época da Gripe Espanhola, como agora,
foi e é preciso a ação dos governos para proteger as populações, uma ação que
pode estar em desacordo com desejos de determinados grupos poderosos e muito
influentes, mas que é necessária para garantir a segurança social e a saúde dos
povos, assim com a proteção aos mais fracos.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.metro1.com.br/noticias/mundo/89953,coronavirus-e-gripe-espanhola-fotos-antigas-mostram-semelhancas-
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