terça-feira, 7 de abril de 2020

A Gripe Espanhola












Esta pandemia atingiu diversos países no início do século XX, começou no final da Primeira Guerra Mundial em 1918 e durou até 1920, tendo matado milhões de pessoas. O vírus dessa doença foi uma variação do Influenza H1N1. A sua ação devastadora ceifou cerca de 60 milhões de vidas humanas (muito mais que a Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, que teve entre 8 e 9 milhões de mortos). Cerca de 500 milhões de pessoas foram infectadas no mundo. 

Quem ficava muito doente devido a Gripe Espanhola, indo a falecer, antes de sua morte ficava com os pulmões destroçados pela infecção, com sangramentos no interior do corpo e a pessoa não conseguia mais respirar. O vírus  H1N1 de 1918 tinha características próprias. Quem ficava infectado sangrava pelo nariz, pelos ouvidos, pelos olhos. Houve relatos de que as pessoas doentes ficavam azuis com a falta de oxigênio e em horas podiam morrer. 

Assim como a China no início da atual pandemia procurou ocultar os primeiros casos, também Alemanha, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos na época tentaram esconder seus primeiros casos, enquanto a guerra estava acontecendo, para que os soldados não se apavorassem e para que as populações não entrassem em pânico. Foi a Espanha, que não participava do conflito, que noticiou que estava ocorrendo uma epidemia. E assim a gripe que começou entre as tropas dos Estados Unidos passou a ser chamada de Gripe Espanhola. 

Há mais de uma hipótese sobre onde surgiu a Gripe Espanhola. Uma que é mais aceita é de que o primeiro caso teria sido de um soldado dos Estados Unidos, no Fort Riley, no estado do Kansas, em março de 1918. É possível que o vírus tenha sido originário de aves migratórias que o passaram para porcos no Kansas e daí de alguma forma chegou no soldado.

Desse quartel, a doença se espalhou pelos contingentes americanos. A doença foi mortal entre pessoas de 20 a 35 anos. Das tropas americanas, a doença deve ter se espalhado para soldados de outros países e para os civis das cidades. 

Entre os habitantes da cidade de São Paulo, houve 5300 mortes. Os mortos ficavam nas ruas até serem recolhidos e a situação era parecida na cidade do Rio de Janeiro.

Não existiam equipamentos de proteção para os que cuidavam dos doentes. Não existiam antibióticos que pudessem tratar as infecções secundárias. A maioria dos infectados  morria em suas próprias casas. Houve desorganização econômica e social, pois portos e vários serviços públicos não funcionavam. Naquela época havia entre os médicos brasileiros a crença de que decretar a quarentena e fechar fronteiras não conseguiriam deter o avanço da epidemia. 

Percebeu-se que era necessário coordenar ações de combate à pandemia no Brasil. O cientista político e historiador da saúde Gilberto Hochman disse sobre a questão: “A gripe espanhola expôs os limites e levou a uma valorização do sistema público de saúde, indispensável para enfrentar uma epidemia, e dos profissionais da área médica". 

Segundo a historiadora Heloisa Starling: "Estudei em detalhes a gripe espanhola em Belo Horizonte. Foram adotadas medidas drásticas de isolamento, os comerciantes protestaram muito, mas nenhum governo estadual, a prefeitura ou governo federal disse que não se podia parar por razões econômicas. Há 100 anos, ninguém saiu às ruas contra as medidas de proteção da sociedade. A sociedade se mobilizou para se proteger. O isolamento durou três meses..."

Assim, com o estudo da história de outras epidemias e pandemias como a chamada Gripe Espanhola, vemos o quanto a Humanidade sofreu, como essas doenças se espalharam pelo mundo e a luta para superar as dificuldades. Hoje em dia, quando o mundo enfrenta outra pandemia, espera-se que as medidas tomadas sejam capazes de reduzir o número de mortes e que as questões econômicas e financeiras que são muito importantes, não sejam colocadas em um nível maior que a vida humana e que os governantes dos países depois de vencida esta fase que estamos passando possam fazer um planejamento sério e com mais investimentos em ciência e tecnologia voltados para um bem estar maior das populações, com uma ação integrada dos organismos de saúde pelo mundo e com medidas de prevenção mais aperfeiçoadas, com mais humanismo e mais solidariedade. 

Vemos que com o excesso de liberalismo, com muito poder para as grandes empresas e com pouca interferência do Estado não é possível enfrentar com mais eficácia certos grandes problemas que afetam as populações. O Estado não precisa ser um Leviatã todo poderoso, mas também não deve se omitir ou ser altamente permissivo em relação ao grande capital. Na época da Gripe Espanhola, como agora, foi e é preciso a ação dos governos para proteger as populações, uma ação que pode estar em desacordo com desejos de determinados grupos poderosos e muito influentes, mas que é necessária para garantir a segurança social e a saúde dos povos, assim com a proteção aos mais fracos. 
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.metro1.com.br/noticias/mundo/89953,coronavirus-e-gripe-espanhola-fotos-antigas-mostram-semelhancas-


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