segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Homenagem ao compositor da Bossa Nova Carlos Lyra

 






Em 16 de dezembro faleceu um grande nome da Música Brasileira, o cantor, violonista e compositor Carlos Lyra. Ele tinha 90 anos e foi  internado no dia 14 com um quadro de febre. Ele se destacou entre os compositores da Bossa Nova, foi parceiro de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli e outros artistas. Foi autor de sucessos como “Coisa mais linda”, “Minha namorada”, “Primavera', “Sabe você”, “Primavera”, “Influência do Jazz” e “Você e eu”. Era integrante de um grupo de Bossa Nova mais ativista, propondo o retorno do ritmo às suas raízes no samba.

Ao todo Carlos Lyra deixou um repertório de 196 obras musicais e 355 gravações cadastradas no banco de dados da gestão coletiva no Brasil. Ele foi um dos responsáveis por fundar o Centro Popular de Cultura, o CPC, da União Nacional dos Estudantes, em 1961.

O compositor nasceu em 11 de maio de 1933, na cidade do Rio de Janeiro. Seu nome todo era Carlos Eduardo Lyra Barbosa. Seus pais eram José Domingos Barbosa, um oficial da Marinha e Helena Lyra Barbosa. Seus irmãos eram o também oficial da Marinha Sérgio Henrique Lyra Barbosa e Maria Helena Lyra Fialho, professora de teatro e artista plástica.

Na adolescência, Carlos Lyra quebrou a perna e teve de ficar em repouso por seis meses. Como passatempo lhe deram um violão que ele aprendeu a tocar. Ao terminar esse período ele já sabia tocar violão. Em um dos colégios que estudou ele conheceu o compositor Roberto Menescal, com quem montou a primeira Academia de Violão. Por lá passaram Marcos Valle, Edu Lobo, Nara Leão,  Wanda Sá etc.

Carlos Lyra deixou o curso universitário de Arquitetura para se dedicar às atividades musicais. E assim participou da primeira geração da Bossa Nova ao lado de Ronaldo Boscôli, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto, que estão ligados ao álbum Chega de Saudade, de 1959.

A primeira canção escrita por Carlos Lyra foi "Quando chegares", em 1954. Em 1956 passou a trabalhar como músico, tocando violão elétrico no conjunto de Bené Nunes. E no mesmo ano foi gravado pelo grupo vocal Os Cariocas o samba de Lyra "Criticando”, precursor de "Influência do jazz". A partir de 1957 começou a compor com Ronaldo Bôscoli. Com ele compôs nessa época as canções “Lobo bobo" e "Se é tarde me perdoa”. No mesmo ano participou do show apresentado em cartaz da seguinte forma:  "Hoje, Sylvia Telles, Carlos Lyra e os bossa nova”. Foi realizado na Sociedade Hebraica de Laranjeiras e a expressão “Bossa Nova” foi utilizada pela primeira vez para descrever a música do compositor e seus companheiros de palco daquela noite.

Em 1958 Carlos Lyra compôs, em parceria com Geraldo Vandré as  canções "Quem quiser encontrar o amor"  e "Aruanda". Em 1959 João Gilberto gravou no álbum Chega de Saudade as canções "Maria Ninguém", "Lobo Bobo" e "Saudade fez um samba", todas compostas por Carlos. O primeiro disco de Carlos Lyra foi gravado em 1960: Carlos Lyra: bossa nova. E no mesmo ano escreveu a trilha sonora de A mais-valia vai acabar, seu Edgard, peça teatral de Oduvaldo Vianna Filho. Ainda nesse ano conheceu Vinicius de Moraes, que foi seu parceiro em composições como "Você e eu", "Coisa mais linda", "Primavera" e "Minha namorada".  Compôs em 1961 junto com Ronaldo Bôscoli  "Canção que morre no ar". Também escreveu o o musical infantil O dragão e a fada, cujas letras foram compostas com a parceria de Nelson Lins e Barros e musicou a peça teatral de Chico de Assis e Nelson Lins e Barros Um americano em Brasília.

No samba Influência do jazz (1962),  Carlos Lyra abordou com fina ironia o quanto de jazz podia haver na bossa nova brasileira. Envolveu-se nos anos 60 com o Teatro de Arena e filiou-se ao Partido Comunista do Brasil. Com Vinicius de Moraes compôs a trilha sonora do musical Pobre menina rica (1964). Quando a Bossa Nova perdeu força no tempo dos festivais de músicas e a Jovem Guarda estava se sobressaindo, Carlos foi para o México, ficando neste país de 1968 a 1971.

Ao retornar ao Brasil, Carlos Lyra teve como parceiros Chico Buarque e Ruy Guerra. Gravou os álbuns E no entanto é preciso cantar (1971), Eu & elas… (1972) e Herói do medo (1975). A partir da década de 1980 participou em discos e shows sobre a Bossa Nova e começou parcerias com artistas como Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro. Criou novas músicas como Carioca de algema (1994) e Além da bossa (2019).

 Foi casado com a atriz e modelo norte-americana  Katherine Lee Riddell, conhecida no Brasil como Kate Lyra. O casal teve uma filha, Kay Lyra, cantora. Em 2004 o casamento de Carlos e Kate acabou e ele se casou com sua produtora Magda Botafogo, com quem ele ficou casado até sua morte.

 

           Discografia

·         1959 - Bossa Nova

·         1961 - Carlos Lyra

·       1962 - Bossa Nova Mesmo - Carlos Lyra / Laís / Lúcio Alves /Silvia Telles / Vinícius de Moraes /Conjunto Oscar Castro Neves

·         1963 - Depois do carnaval, O Sambalanço de Carlos Lyra

·         1964 - Pobre Menina Rica

·         1965 - The Sound of Ipanema - Paul Winter / Carlos Lyra

·         1967 - Carlos Lyra

·         1969 - Carlos Lyra / Saravá

·         1971 - …E no Entanto é Preciso Cantar

·         1972 - Eu & Elas

·         1974 - Carlos Lyra

·         1975 - Herói do Medo

·         1987 - 25 Anos de Bossa Nova

·         1993 - Bossa Lyra

·         1994 - Carioca de Algema

·         1994 - Songbook

·       1999 - Vivendo Vinícius ao Vivo - Baden Powell / Carlos Lyra / Miúcha / Toquinho

·         2000 - Enciclopédia musical brasileira

·         2000 - Millennium

·         2003 - Coisa mais linda – As canções de Carlos Lyra

·         2004 - Sambalanço

·         2005 - DVD Carlos Lyra - 50 Anos de Música

·         2006 - CD Carlos Lyra - 50 Anos de Música

·       2008 - Os Bossa Nova - com Marcos Valle, João Donato e Roberto Menescal

·         2010 - Era no tempo do Rei

·         2019 - Além da Bossa

  

Algumas letras de Músicas:.

Minha Namorada

Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser...
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer...
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque...
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você...
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho no silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Composição: Carlos Lyra / Vinícius de Moraes

Quando Chegares

Quando chegares aqui
Podes entrar sem bater
Ligue a vitrola baixinho
Espera o anoitecer

Logo que ouvires meus passos
Corre pra me receber
Sorri, me beija e me abraça
Não me perguntes por quê

Quando estiver em teus braços
Pensa somente em nós dois
Fecha de leve os teus olhos
E abre os teus lábios depois

E quando já for bem cedinho
Não quero ouvir tua voz
Sai sem adeus, de mansinho
Esquece o que ouve entre nós

 

Coisa Mais Linda

Coisa mais bonita é você, assim, justinho você
Eu juro, eu não sei por que você.
Você é mais bonita que a flor, quem dera, a primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza, que é o amor
Perfumando a natureza, numa forma de mulher
Por que tão linda assim não existe, a flor,
nem mesmo a cor não existe,
E o amor, nem mesmo o amor existe
Por que tão linda assim não existe,
E eu fico um pouco triste
Um pouco sem saber
Se é tão lindo o amor
Que tenho por você

 

Sabe Você

Você é muito mais que eu sou
Está bem mais rico do que eu estou
Mas o que eu sei você não sabe
E antes que o seu poder acabe
Eu vou mostrar como e por que
Eu sei, eu sei mais que você

Sabe você o que é o amor? Não sabe, eu sei
Sabe o que é um trovador? Não sabe, eu sei
Sabe andar de madrugada tendo a amada pela mão
Sabe gostar, qual sabe nada, sabe, não

Você sabe o que é uma flor? Não sabe, eu sei
Você já chorou de dor? Pois, eu chorei
Já chorei de mal de amor, já chorei de compaixão
Quanto a você meu camarada, qual o que, não sabe não

E é por isso que eu lhe digo e com razão
Que mais vale ser mendigo que ladrão
Sei que um dia há de chegar e isso seja quando for
Em que você pra mendigar, só mesmo o amor
Você pode ser ladrão quando quiser
Mas não rouba o coração de uma mulher
Você não tem alegria, nunca fez uma canção
Por isso a minha poesia, ah, ah, você não rouba não
Ah, ah, você não rouba não

Composição: Carlos Lyra / Vinícius de Moraes. 

 

Sugestões para assistir:

 Carlos Lyra & Miucha - "Sabe Você"

https://www.youtube.com/watch?v=aMyoT7AbRtA

Carlos Lyra e Kay Lyra - Você e Eu + Coisa Mais Linda

https://www.youtube.com/watch?v=iyALE1gFfxo

Carlos Lyra & Leila Pinheiro - Saudade Fez Um Samba - Se É Tarde Me Perdoa

https://www.youtube.com/watch?v=tXOTy0hFZfI

 

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Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+carlos+lyra#vhid=KglOHa4eRrGNuM&vssid


sábado, 9 de dezembro de 2023

Poema "Esse Quibe"

 







Dezembro veio,

Com seu desejo

De Natal.

Leio,

Nos sites de notícia,

Vejo,

No Jornal,

Notícias de guerra:

A da Ucrânia que não finda,

Palestina ainda,

E agora há fortes rumores

Sobre Essequibo.

“Essequibo?”

Fica perguntando,

O Kiko,

Sobrinho do Fernando,

Que está em seu suplício.

O que houve com o Fernando?

Depois de uma confraternização de fim de ano,

Está no banheiro se lamentando:

“Esse quibe!”

Lamento alto,

O Kiko que estava calado,

Ouve, dá um salto

E vai logo falando:

“Não tio Fernando,

Está errado,

É Essequibo!”

Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+quibe#vhid=_Zq4dgxqLkdmwM&vssid


quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A Questão de Essequibo entre Venezuela e Guiana

 







Tenho acompanhado com certa preocupação a questão que o governo da Venezuela tem levantado sobre a região de Essequibo, reivindicando a anexação da área incorporando-a ao território venezuelano. A região mencionada corresponde a cerca de 70% do território da Guiana e é rica em petróleo. A reivindicação do governo Maduro acontece no contexto da descoberta de petróleo por parte da empresa Exxon Mobil dos Estados Unidos, no oceano Atlântico, em águas guianenses. A Guiana ainda importa da Venezuela o petróleo que precisa.

A origem do nome do rio Essequibo vem do sobrenome do oficial espanhol  Juan de Esquivel que era subordinado a Diego Colón, no século XVI. A grafia do termo foi mudando por causa de mudanças fonéticas derivadas da pronúncia indígena e europeia.

Segundo o diplomata Celso Amorim, ex-chanceler do Brasil e conselheiro do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assuntos internacionais, este desejo da Venezuela de anexar a região de Essequibo representa um risco de conflito militar.

Houve recentemente um referendo sobre a questão de Essequibo e, segundo o governo venezuelano, grande parte da população venezuelana demonstrou apoio à anexação da área. Para Amorim, ainda que não exista a possibilidade imediata de intervenção militar venezuelana, ele não duvida totalmente de que possa haver. Ele disse: “Essas coisas às vezes saem do controle”. Um grande receio de Amorim é de que um conflito armado na região possa levar à entrada de tropas estrangeiras no norte da América do Sul. Para ele, até a oposição venezuelana poderá também utilizar a questão de Essequibo em seus discurso político: “A oposição apoia e pode tornar essa reivindicação irreversível. Isso é uma reivindicação histórica da Venezuela. Não vou entrar no mérito, mas está lá dormente. Até no período do Chávez ficou dormente. O Chávez fez até a Petrocaribe. A Guiana participava da Petrocaribe. Por que isso está sendo ressuscitado dessa forma agora é uma matéria de interpretação, mas eu acho perigoso — observa.”

A parte da população venezuelana que participou da consulta popular  apoiou as propostas do governo de  Nicolás Maduro, entre elas a criação do Estado de Guiana Essequiba, que seria então uma nova unidade territorial venezuelana e seus habitantes receberiam a cidadania venezuelana.  Do lado da Guiana, o seu governo considera ilegal o plano venezuelano de anexação de Essequibo.

Características da Guiana Essequiba ou Território Essequibo (também com o nome de Zona em Disputa na Venezuela):

 

É um território do Planalto das Guianas, entre o rio Cuvani e o rio Essequibo, com extensão territorial de 159.500 km², fazendo parte integrante da República Cooperativa da Guiana, porém havendo pela Venezuela a contestação por meio do Acordo de Genebra de 17 de fevereiro de 1966.

A região de Essequibo possui, além do petróleo, recursos como ouro, bauxita, urânio e também um significativo potencial hidrelétrico.

 

 História da disputa:

No século XIX os ingleses compraram a região de Essequibo, que estava sob controle holandês. Esse território, junto às colônias britânicas de Berbice e Demarara, formou a Guiana Inglesa. O naturalista Robert Schomburgk realizou expedições para o Reino Unido nesse século para estabelecer fronteiras. Surgiu então a Linha Schomburgk. Essa linha fronteiriça foi contestada por Brasil e Venezuela. Com o Brasil, houve a Questão do Pirara. O negociador diplomático brasileiro foi Joaquim Nabuco. Da área em disputa, após arbitragem internacional, a maioria territorial (59%)l ficou com a Coroa Inglesa e o Brasil com 41%. Nabuco ficou muito desapontado com a decisão.

Enquanto os ingleses diziam que a região era mesma sua, a Venezuela este país considerava Essequibo como região sua, por ter sido uma área de atuação de missões espanholas no tempo que a Venezuela fazia parte do Império Colonial da Espanha. Quando ouro foi descoberto na região, colonos britânicos começaram a explorar e uma companhia mineradora foi criada. A Venezuela protestou e pediu uma arbitragem internacional para resolver a questão, porém a Inglaterra só aceitou essa proposta quando os Estados Unidos passaram a apoiar a reivindicação da Venezuela, que em 1897 tinha rompido relações com a Inglaterra.

Os Estados Unidos convocaram um tribunal internacional para decidir a questão, apoiados na Doutrina Monroe (“América para os americanos”), concordando com a posição venezuelana, considerando que a Inglaterra estava se intrometendo numa questão americana . Assim, por dois anos e meio um tribunal se reuniu em Paris para fazer uma análise . Eram cinco juristas (um dos Estados Unidos, um da Venezuela, dois ingleses e um russo). Dessas reuniões surgiu o Laudo de Paris. Foi definido em 1899 que a maior parte do território disputado seria inglês ( a área entre os rios Essequibo e Cuyuni) e uma parte menor (a oeste do rio Cuyuni) seria venezuelano. Os dois lados concordaram com o acordo em 1905.

Em 1962 o governo venezuelano contestou o que foi decidido pelo Laudo de Paris. Nesse ano os governantes venezuelanos lançaram dúvida sobre a posição que tinha sido adotada nas reuniões de Paris pelo diplomata russo, pois ele tinha estudado em uma universidade inglesa. Também questionou-se o número de representantes ingleses nas reuniões. Eram dois. Enquanto a Venezuela tinha um. O outro americano era dos Estados Unidos.

Na ocasião da contestação venezuelana em 1962, é de ressaltar o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos ao governo venezuelano, considerando-se aí o contexto ideológico, pois a Guiana Inglesa estava próxima de se separar da Inglaterra e as principais lideranças da Guiana eram adeptas do socialismo leninista. Era a época da Guerra Fria e os Estados Unidos receavam a existência de mais países socialistas na América, principalmente após a revolução cubana, vitoriosa em 1959, que depois seguiu os rumos do socialismo e aproximou-se da União Soviética. Então, nesse contexto, houve a assinatura do Acordo de Genebra, surgindo uma Comissão Mista para se voltar às negociações. O Governo venezuelano passou a dizer que a região do Essequibo era parte da Venezuela.

O Brasil nos anos 70 era governado por militares de direita. O governo brasileiro militarizou sua fronteira com a República da Guiana, que tinha um governo de esquerda.  O governo da Guiana, percebendo a situação, procurou uma aproximação com o governo venezuelano.  Mesmo quando a Guiana passou a ter um governo de direita, a Venezuela não deixou de contestar e se opôs à construção de uma hidrelétrica pela Guiana na região do Essequibo. Os dois países passaram a considerar a Questão de Essequibo como questão de segurança nacional.

A ONU na década de 80 passou a interferir na disputa e relações amistosas entre Venezuela e Guiana foram estabelecidas, havendo colaboração entre os países, como a integração elétrica e a aliança militar contra o tráfico de drogas. O governo Hugo Chavez aumentou essa aproximação, perdoando a dívida da Guiana com a Venezuela.

Mudança de posição da Venezuela

O governo Maduro vem tendo outro posicionamento e passou a reclamar Essequibo como parte da Venezuela. Há de se considerar a descoberta de petróleo pela empresa multinacional Exxon Mobil no ano de 2015  em águas guianenses no oceano Atlântico. Esta descoberta pode levar ao fim da dependência da Guiana em relação ao petróleo venezuelano e pode também transformar a Guiana em concorrente exportador de petróleo na América do Sul, o que não seria desejável pelo governo atual da Venezuela.. Além disso, Maduro pode não estar vendo com bons olhos a influência dos Estados Unidos na Guiana. Por fim, é preciso considerar a própria política interna da Venezuela, com eleições marcadas para o ano que vem e Maduro pode estar usando a questão de Essequibo como um artifício político a seu favor , apelando para o nacionalismo venezuelano para conseguir mais apoio do povo.

Um conflito militar no norte da América do Sul seria algo péssimo. Além de mortes e destruição que acontecem em guerras, milhares de refugiados poderiam procurar ajuda nos países próximos à Guiana, causando uma situação social muito grave. Também existe a possibilidade de envolvimento internacional, pois a Guiana tem apoio dos Estados Unidos e a Venezuela tem se aproximado muito da Rússia, que inclusive já forneceu em anos anteriores equipamento militar às forças armadas venezuelanas. Espera-se que a diplomacia evite uma guerra, talvez com a Guiana oferecendo alguma compensação à Venezuela, sem no entanto ceder Essequibo. O governo brasileiro já se ofereceu como mediador e defende uma solução pacífica para a questão.

Segundo a Folha de São Paulo em 07 de dezembro de 2023:

 “(...) Na terça (5), Maduro apresentou o que considera o novo mapa de seu país, amputando 70% do território do país vizinho, anunciou concessões petrolíferas em terras que não tem e nomeou um general para assumir um posto fronteiriço como "única autoridade" da região.

No processo, todo ele ao arrepio da lei internacional, esqueceu de falar sobre os moradores de Essequibo, cerca de 120 mil pessoas, e reservou os apupos de praxe contra os Estados Unidos, apontados como potência colonial porque a americana Exxon Mobil explora desde 2019 os campos de petróleo da região disputada desde o século 19.

Com tudo isso, Maduro tenta mascarar o fato de que apenas 50,7% dos 20,7 milhões aptos a votar no plebiscito do domingo (3) apareceram, isso segundo o governo. A oposição aponta que o número pode ser bem menor (...)”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+regi%C3%A3o+de+essequibo&client=firefox-b-d&sca_esv=


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O filme Assassinos da Lua das Flores

 




Vi recentemente o filme Assassinos da Lua das Flores, dirigido por Martin Scorsese, com os atores de renome Leonardo Di Caprio e Robert De Niro. O filme é baseado na obra do autor David Grann, que fez um trabalho de investigação para escrever o livro que serviu posteriormente de base para o filme.

Os roteiristas Martin Scorsese e Eric Roth procuraram agir com respeito ao povo Osage. Scorsese se consultou com lideranças desse povo para evitar estereótipos negativos contra nativos americanos. A atriz indígena Lily Gladstone teve destaque no filme. Ela disse em uma entrevista para a Variety"conforme a comunidade [indígena] se aqueceu com nossa presença, mais eles ficaram envolvidos com o filme. É uma obra diferente daquela que [Scorsese] chegou para fazer, por conta do que a comunidade [Osage] tinha a dizer sobre como o filme estava sendo feito e o que ele estava retratando".

Por que “Assassinos da Lua das Flores”? Na verdade o autor do livro usou uma metáfora para se referir aos homens que seguem uma ganância e se apoiam no preconceito para tocar em frente as ações de sua vida. O livro foi lançado em 2017. No livro o autor explica que é comum uma grande lua aparecer no mês de maio e aí plantas maiores engolem as menores.

Como se vê no filme, os Osage foram expulsos de suas terras originais pelo governo dos Estados Unidos, que se valia de seu forte exército para intervir junto às nações nativas e para garantir a superioridade dos descendentes de europeus, que tomavam as terras para plantar, criar gado e morar, além de caçar os animais que davam sustento aos indígenas. O povo Osage, embora forçado a migrar, teve a “sorte” de encontrar petróleo em suas novas terras no final do século XIX, no Oklahoma, o que os deixou ricos, mas ainda explorados, discriminados e o que é pior, sujeitos a assassinatos. A situação do Oklahoma (declarado Estado em 1907) era, no início do século XX , assim como outros Estados dos Estados Unidos, de considerável preconceito dos brancos em relação aos indígenas e negros.

Os Osage aparentemente pareciam gozar de certa liberdade e aceitação, mas essa situação era ilusória, pois a riqueza do petróleo os colocou como alvos da cobiça do homem branco. Além da questão dos Osage, havia outras questões sociais graves em diversos Estados, que revelavam muitas injustiças . Um caso que ficou famoso, que até é rapidamente mencionado no filme, é o massacre de Tulsa (31 de maio a 1 de junho de 2021), com um número de mortos entre 100 a 300, sendo a maioria de negros. Nesse massacre participaram multidões de brancos que atacaram pessoas negras e suas residências e comércios. Houve centenas de feridos e mais de 6000 negros foram presos e detidos por dias.

Voltando ao povo nativo (relatado no filme), vou contar um pouco da história dele. Os Osage são também conhecidos como NiuKonska ou Ni-U-Kon-Ska, (“filhos das águas médias). O nome no idioma osage é Wazházhe, que os franceses chamaram de Ouazhigi e na língua inglesa ficou Osage.

Os Osage habitaram regiões centrais e do nordeste da América do Norteantes da chegada dos colonizadores e fizeram parte da cultura do Mississipi. Sua alimentação era baseada no milho, na abóbora e em carne de cervo e búfalo.  Foram um povo guerreiro e chegaram a ter armas de fogo no tempo que a colonização branca estava em andamento, tendo controlado a região entre o Oeste estadunidense, com muitos povos indígenas, e o crescente Leste colonizado e até o século XIX controlaram o comércio entre colonizadores e indígenas.  O governo dos Estados Unidos assinou acordos com os Osage no período de 1809 a 1870 fazendo o esse povo perder mais de 40 mil quilômetros de território, tendo a nação Osage a migrado em 1872 para as áreas de Pawhuska, Hominy e Gray Horse. Tornaram-se a única nação indígena a comprar sua própria reserva (um lugar seco e cheio de pedras no Oklahoma) e foi nessa reserva que, em 1894 foi descoberto petróleo.

Segundo a Sociedade Histórica de Oklahoma: “Os royalties eram pagos à Tribo como um todo e distribuídos igualmemte entre os mebros, com cada beneficiário recebendo uma fatia igual”.  E também disse a mesma sociedade: 

“Esse direito era hereditário e repassado aos herdeiros legais imediatos de um beneficiário falecido. E não era preciso pertencer à tribo Osage para herdar esse direito”.

O FBI, que investigou o caso dos assassinatos disse: “À medida que a notícia (da fortuna) se espalhou, oportunistas chegaram às terras dos Osage, procurando separá-los da sua riqueza por qualquer meio necessário – até mesmo assassinato”.

Baseando-se na história dos Osage em relação ao petróleo e as tentativas de acabar com este povo para roubar sua riqueza nesse recurso , o autor David Grann escreveu sua obra. Os Osage passaram a ser o povo nativo norte-americano o mais rico per capita do mundo no começo dos anos 20 do século passado. Em locais como Gray Horse surgiram várias casas luxuosas e carros grandes, assim como indígenas com empregados. Porém, uma camada de homens brancos se organizou para enganar , roubar e matar indígenas, com a conivência de autoridades e forças de segurança.  Foi uma época que os Osage definiram como uma “orgia de golpes e exploração”.

Essa história triste tem sido ignorada e não é estudada nas escolas nos Estados Unidos. O cabeça do bando de ladrões e assassinos de indígenas era William King Hale, proprietário de bancos e lojas e detentor de grande influência política,que elaborou o plano que envolvia roubo e destruição do povo Osage. Pelo lado indígena, a osage Mollie Burkhart perdeu sua família devido aos assassinatos, intoxicações, desaparecimentos e mortes por doenças estranhas.

O sistema de leis que começava as injustiças contra os indígenas dizia que os direitos de exploração os recursos da reserva só podiam chegar a mãos alheias à sua linhagem por herança. O Estado declarou os Osage menores de idade e nomeou um tutor branco para cada fortuna do petróleo . Aproveitando o contexto, homens brancos casavam com mulheres osage para depois as matarem e o bando herdar os bens dos indígenas. Segundo Grann, o livro vai além de uma pesquisa clássica em busca de saber quem havia cometido o crime, passando a descrever “uma cultura do assassinato”.

Para procurar saber o que estava acontecendo, para saber a razão da morte de tantos indígenas de formas trágicas os Osage contrataram detetives particulares como o famoso William J. Burns e profissionais da agência Pinkerton. Porém, a conivência das autoridades, da polícia e dos juízes com os assassinos causou muitas dificuldades e não houve sucesso no trabalho desses investigadores. O advogado W.W. Vaughan, que se interessou pela causa dos indígenas foi assassinado. Ele possuía provas concretas sobre os planos sujos contra os Osage. A imprensa mencionava uma trama contra os “índios ricos”, porém não eram tomadas providências legais para se acabar com as injustiças e mortes. Houve na época a participação nas investigações da agência federal dos Estados Unidos que deu origem depois ao FBI.

O FBI originou-se do órgão criado em 1908 e sua figura central era J. Edgar Hoover. Na década de 20 do século passado a agência ainda era frágil e com pouca jurisdição em casos de assassinatos, porém com autonomia para agir em terras indígenas.

Foi em março de 1923 que o conselho tribal pediu ao governo federal que enviasse detetives para ajudar a investigar os casos. Entra em cena o Bureau of Investigation (BOI, precursor do FBI), que mandou um grupo de agentes para o território Osage. Era uma agência ainda pequena, com menos de 20 anos de existência. As mortes dos indígenas Osage passaram a ser seu primeiro grande caso de homicídio, sendo consideradas um marco crucial na criação do FBI.

No caso o chefe da investigação foi o agente White, um texano que não usava armas e que era respeitado. Segundo Grann sobre o caso investigado pelo FBI: “Hoover o usou para avançar em todos os sentidos. Foi assim que acumulou todo o poder e começou a abusar dele. Tinha apenas 28 anos, mas já se via seu gênio organizativo, sua megalomania e sua obsessão pela boa imprensa”.

Devido às investigações da agência federal o líder criminoso William  Hale foi condenado em relação a alguns assassinatos. O autor do livro descobriu que a situação era mais complexa do que tinha sido revelado pela agência. Disse Grann:

 “Sou um grande leitor de romances policiais e isso me ajudou muito. Além disso, as pessoas viveram aquilo como um mistério. Mollie não sabia quem seria o próximo a morrer, quem os estava matando. Com essa forma de narrar tento capturar o leitor e transmitir a realidade da melhor forma possível”. Uma neta de uma das vítimas indígenas disse: “Estas terras estão encharcadas de sangue”.

No total, cerca de 60 pessoas, entre indígenas, testemunhas e investigadores não indígenas, morreram no caso dos Osage no período entre 1921 e 1925. Essa série de crimes ficou conhecida como “Reinado do Terror”.

Segundo os arquivos do FBI, a respeito dos primeiros casos que chamaram a atenção em maio de 1921: “O corpo decomposto de Anna Brown, uma indígena Osage, foi encontrado em um barranco em uma área remota. O agente funerário descobriu um ferimento a bala em sua nuca”. Também nessa época houve os casos de Charles Whitehorn, encontrado morto com marcas de tiros e Minnie, irmã de Anna, morreu por causa de uma doença misteriosa. Em 1923 foi morto a tiros Henry Roan, primo de Anna e Rita Smith, casada com William E. Smith e irmã de Anna foi morta junto com o marido e uma empregada devido uma explosão que destruiu a casa onde estavam. Em seguida, outras 20 mortes ocorreram sem explicação. Quem suspeitasse ou apontasse evidências sobre os crimes era ameaçado ou assassinado.  Segundo a Sociedade Histórica de Oklahoma:

 

“As mortes de algumas supostas vítimas que não apresentavam ferimentos visíveis foram simplesmente atribuídas a "indigestão", "doenças peculiares" ou "causas desconhecidas”. Um fator comum a todos os Osage mortos é que tinham direitos à renda de petróleo, que poderiam repassar a seus herdeiros. Mollie, por exemplo, casada com Ernest Burkhardt, um homem branco herdou uma fortuna devido à morte de Anna, Lizzie e Rita. Segundo a agência de investigação federal: “Mollie Burkhart estava arrasada e também afligida por uma doença misteriosa.” Investigações descobriram que ela estava sendo envenenada. O tio de Ernest era Hale, o chefe do esquema criminoso. Relato da agência federal disse: “Se Anna (a primeira vítima), sua mãe e duas irmãs morressem, todos os direitos (relativos à renda com o petróleo) passariam para Ernest, e Hale poderia assumir o controle”.

 

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A ação do enviado especial para comandar as investigações pela agência federal BOI ( que veio a originar o FBI), Tom White, junto com outros agentes disfarçados de vendedores de seguros ou compradores de gado, entre outras profissões, foi crucial para desvendar o caso. Conseguiu-se provar que Hale tinha sido o mandante do assassinato dos membros da família de Mollie  para herdar os direitos ao petróleo.  Assim, Hale, Burkhart e Ramsey foram as pessoas detidas em janeiro de 1926 e depois de três meses foram presos também Kelsie Morrison e Byron Burkhart, irmão de Ernest Burkhardt

Por três anos houve julgamentos em tribunais estaduais e federais, com bastante acompanhamento da mídia. Apesar de Ernest Burkhart, Hale, Ramsey e Morrison terem sido sentenciados à prisão perpétua, alguns anos depois ganharam a liberdade

Finalmente, em 1925 foi aprovada uma lei pelo Congresso dos Estados Unidos proibindo pessoas que não sejam Osage de herdar os direitos (ao petróleo) de membros desse grupo. Porém segundo os Osage há ainda 26% desses direitos nas mãos de pessoas e instituições que não tem relação com esta nação indígena

A atriz descendente de indígenas DeveryJacobs fez algumas críticas ao filme. Segundo ela a visão de Scorsese sobre os Osage no filme foi "dolorosa, cansativa e desnecessariamente gráfica".  Disse ainda:

"Para mim, como nativa, assistir a esse filme foi como ir ao inferno. Imagine as piores atrocidades cometidas contra seus antepassados, então assista a um filme explicitamente preenchido com elas, com o único descanso sendo cenas de 8 minutos, com homens brancos assassinos falando sobre como pretendem fazer seus assassinatos.

Deve-se notar que Lily Gladstone é uma lenda absoluta e carrega Mollie com tremenda graça. Todos os incríveis atores indígenas foram os únicos fatores redentores deste filme. Deem a Lily seu maldito Oscar!

Mas embora todas as performances tenham sido fortes, se você olhar proporcionalmente, cada um dos personagens Osage parece dolorosamente subscrito, enquanto os homens brancos receberam muito mais cortesia e profundidade.

No entanto, entendo que a direção técnica de Martin Scorsese é convincente, e ver os US$ 200 milhões em tela é um espetáculo. Eu entendo que o objetivo dessa violência é adicionar um valor de choque brutal, que força o entendimento dos verdadeiros horrores que aconteceram com essa comunidade, mas... Não sinto que essas pessoas muito reais tenham recebido honra ou dignidade no retrato horrível de suas mortes.

Ao contrário, acredito que, ao mostrar mais mulheres indígenas assassinadas na tela, isso normaliza a violência cometida contra nós e desumaniza ainda mais nosso povo.

E ainda por cima, ver como os nerds do cinema estão comemorando isso? Faz meu estômago doer!

Não acredito que isso precise ser dito, mas povos indígenas existem além de nossa dor, trauma e atrocidades. Nosso orgulho de ser nativo, nossas línguas, culturas, alegria e amor são muito mais interessantes e humanizadores do que mostrar os horrores que os homens brancos nos infligiram.

Este é o problema de quando os diretores não-nativos têm a liberdade de contar nossas histórias, eles centram a perspectiva branca e se concentram na dor dos povos nativos.

Para as comunidades Osage envolvidas na criação deste filme, imagino o quão catártico é ter essas histórias finalmente reconhecidas, especialmente em uma plataforma tão prestigiada como este filme. Houve um belo trabalho feito por muitos Wazhazhe neste filme.

Mas, admito, eu preferiria ver um cineasta Osage contando essa história em um filme de US$ 200 milhões.

E me desculpe, mas Scorsese optar por terminar com uma cena de danças e batuques de Ilonshka? Isso não absolve o filme de fazer dos nativos vítimas indefesas sem assistência.

R.I.P. para Mollie, Anna, Minnie, Rita, e todas as outras pessoas Osage muito reais que foram assassinadas por ganância. Sinto muito pelo povo Osage de hoje, cujas histórias familiares foram marcadas por essas atrocidades. A dor é real e não se limita às 3h e 26 minutos do filme.

E um enorme dane-se para a vida real, pros brancos de Oklahoma, que ainda carregam e se beneficiam dessas cabeças manchadas de sangue.

Em suma, o que foi retratado no cinema, essa é realmente a representação que precisávamos?"

Sobre o filme disse o crítico de cinema Marco Antônio Moreira:

“Assassinos da Lua das Flores comprova Martin Scorsese como um cineasta que atingiu a plenitude de sua expressão artística, ao criar um filme que desvela os trágicos assassinatos de indígenas Osage nos Estados Unidos na década de 1920. Inspirado no livro  de David Grann, o filme tece uma narrativa envolvente que revela  as complexas dinâmicas  de poder dos homens brancos que exploraram oportunidades de enriquecimento por meio das terras pertencentes à tribo Osage.

Com uma abordagem cuidadosa, o filme ilustra de maneira paciente e perspicaz as múltiplas formas de manipulação, seja no âmbito financeiro, emocional ou político, em relação aos indígenas. Essa abordagem revela imagens  e palavras  com um profundo respeito pelo espectador por meio  de uma linguagem que permite a progressão gradual da trama. Ao contrário das produções contemporâneas que muitas vezes cedem à pressa Scorsese entrega um filme de longa duração no qual cada minuto é precioso, proporcionando ao espectador uma compreensão profunda e necessária dos horrores desse triste capítulo da historia dos Estados Unidos...”

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


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