Dia primeiro de maio é comemorado o Dia
do Internacional do Trabalhador. E, devido a isto, resolvi escrever um artigo
sobre a Greve Geral de 1917 ocorrida em julho de 1917 nas cidades de São Paulo,
Rio de Janeiro e no Estado do Rio Grande do Sul. A greve foi organizada pelo
movimento anarquista presente no meio operário e contando com apoio da imprensa
libertária. Envolveu principalmente operários de indústrias, mas também
camponeses e trabalhadores rurais. A maior manifestação foi na cidade de São
Paulo. As principais reivindicações eram em torno de direitos
trabalhistas, diminuição da jornada de trabalho, melhores condições de
trabalho e fim da exploração de menores. Na ocasião da greve estava acontecendo
a Primeira Guerra Mundial.
A politização do operariado brasileiro no inicio do século XX deu-se em grande parte graças à influência de trabalhadores imigrantes italianos e espanhóis. Os imigrantes italianos que na segunda metade do século XIX tinham vindo trabalhar no campo e na província (depois Estado) de São Paulo sofreram muito com a exploração de fazendeiros e parte deles conseguiu ir para a capital São Paulo. Lá esses imigrantes passaram a contestar também a exploração nas fábricas, com jornadas de muitas horas e salários baixos e com o desumano trabalho infantil. Trabalhadores imigrantes italianos, espanhóis e portugueses entraram em contato entre si e com líderes dos movimentos de trabalhadores brasileiros. Assim foram fundadas organizações e sindicatos para lutar por direitos dos trabalhadores.
Integrantes das camadas econômicas dominantes do Brasil começaram a encarar como perigosas as organizações do movimento operário. Assim, esses poderosos passaram a usar um discurso nacionalista contra os trabalhadores estrangeiros. Autoridades brasileiras afinadas com os empresários e também a mídia ligada a esses interesses se moveram contra os movimentos dos trabalhadores. Em 1906 o futuro presidente do Brasil, Washington Luís, que era secretario da segurança pública do Estado de São Paulo, combateu com rigor a Greve Geral de 1906.
O movimento anarcossindicalista, que existia também em países europeus, no Brasil mobilizou trabalhadores na luta por direitos, fundou sindicatos, creches, escolas de orientação libertária e jornais. A greve geral para os líderes anarquistas era defendida junto a trabalhadores rurais e urbanos como uma forma de luta por melhores condições de vida e libertação em relação às camadas que dominavam economicamente e politicamente a sociedade brasileira.
Na época que houve a greve de 1917 a luta era por resultados imediatos (melhores condições de trabalho e melhores salários) e existiam outros objetivos entre as lideranças anarquistas que eram mais abrangentes e ligados ao fim do capitalismo e à mudança para uma sociedade sem classe sociais. As manifestações dos trabalhadores aconteciam mais na cidade de São Paulo porque era a cidade mais industrializada do país. Em 1907 houve nessa cidade uma greve por oito horas de trabalho por dia, direito à férias , proibição do trabalho noturno para as mulheres, proibição do trabalho infantil, aposentadoria etc. Várias categorias de trabalhadores aderiram e além de São Paulo a greve chegou até as cidades paulistas de Santos, Ribeirão Preto, Campinas e outras.
A Primeira Guerra Mundial
afetou o Brasil, pois principalmente a partir de 1915 ele tornou-se um
importante exportador de alimentos para países da Tríplice Entente (formada por
França, Inglaterra e Rússia, tendo a mesma saído da guerra em 1917 e os Estados
Unidos entraram como país aliado de França e Inglaterra). A quantidade de
alimentos para consumo dos brasileiros diminuiu, porque a prioridade era a
exportação. Assim os preços dos alimentos aumentaram para o consumo interno. Os
preços aumentavam muito mais que os salários. O movimento contou com 70 mil
participantes e foi criado para defender a greve o Comitê de Defesa Proletária.
Edgard Leuenroth foi um dos principais porta-vozes.
Segundo
Edgard Leuenroth:
…a
greve geral de 1917 não pode, de maneira alguma, ser equiparada sob qualquer
aspecto que seja examinada, com outros movimentos que posteriormente se
verificaram como sendo manifestações do operariado. Isso não, absolutamente
não! A greve geral de 1917 foi um movimento espontâneo do proletariado sem a
interferência, direta ou indireta, de quem quer que seja. Foi uma manifestação
explosiva, conseqüentemente de um longo período da vida tormentosa que então
levava a classe trabalhadora. A carestia do indispensável à subsistência do
povo trabalhador tinha como aliada a insuficiência dos ganhos; a possibilidade
normal de legítimas reivindicações de indispensáveis melhorias de situação
esbarrava com a sistemática reação policial; as organizações dos trabalhadores
eram constantemente assaltadas e impedidas de funcionar; os postos policiais
superlotavam-se de operários, cujas residências eram invadidas e devassadas;
qualquer tentativa de reunião de trabalhadores provocava a intervenção brutal
da Policia. A reação imperava nas mais odiosas modalidades. O ambiente
proletário era de incertezas, de sobressaltos, de angústias. A situação
tornava-se insustentável.
Foi nesse contexto que começou
a Greve Geral de 1917, na cidade de São Paulo. Os grevistas foram
atacados em São Paulo em 9 de julho por uma força da cavalaria diante dos portões
da fábrica Mariângela, no Brás, morrendo o imigrante anarquista espanhol José
Martinez. Uma multidão compareceu ao seu funeral. Logo após esses fatos os
operários em duas fábricas têxteis do grupo industrial de tecidos de algodão
Rodolfo Crespi iniciaram uma greve. Servidores públicos aderiram e
trabalhadores de toda a cidade passaram a participar, espalhando-se por outras
cidades brasileiras. A inspiração eram as ideias anarquistas e socialistas.
Vários líderes imigrantes espanhois e italianos participaram ativamente. Havia
a participação de sindicatos por ramos e ofícios, as ligas e uniões operárias,
as federações estaduais e a Confederação Operária Brasileira (de tendência
anarquista).
Edgard
Leuenroth sobre tais fatos relatou:
"O enterro
dessa vitima da reação foi uma das mais impressionantes demonstrações populares
até então verificadas em São Paulo. Partindo o féretro da Rua Caetano Pinto, no
Brás, estendeu-se o cortejo, como um oceano humano, por toda a avenida Rangel
Pestana até a então Ladeira do Carmo em caminho da Cidade, sob um silencio
impressionante, que assumiu o aspecto de uma advertência. Foram percorridas as
principais ruas do centro. Debalde a Policia cercava os encontros de ruas. A
multidão ia rompendo todos os cordões, prosseguindo sua impetuosa marca até o
cemitério. À beira da sepultura revezaram os oradores, em indignadas
manifestações de repulsa à reação (…) No regresso do cemitério, uma parte da
multidão reuniu-se em comício na Praça da Sé; a outra parte desceu para o Brás,
até à rua Caetano Pinto, onde, em frente à casa da família do operário
assassinado, foi realizado outro comício."
Os
pontos que o movimento grevista decidiu divulgar em 11 de Julho de 1917 foram:
1. - Que sejam postas em liberdade todas as
pessoas detidas por motivo de greve;
2. - Que seja respeitado do modo mais absoluto
o direito de associação para os trabalhadores;
3. - Que nenhum operário seja dispensado por
haver participado ativa e ostensivamente no movimento grevista;
4. - Que seja abolida de fato a exploração do
trabalho de menores de 14 anos nas fábricas, oficinas etc.;
5. - Que os trabalhadores com menos de 18 anos
não sejam ocupados em trabalhos noturnos;
6. - Que seja abolido o trabalho noturno das
mulheres;
7. - Aumento de 35% nos salários inferiores a
$5000 e de 25% para os mais elevados;
8. - Que o pagamento dos salários seja
efetuado pontualmente, cada 15 dias, e, o mais tardar, 5 dias após o
vencimento;
9. - Que seja garantido aos operários trabalho
permanente;
10. - Jornada de oito horas e semana inglesa;
11. - Aumento de 50% em todo o trabalho
extraordinário.
Consequências:
Em
São Paulo houve aumento de 20% no salário, direito de associação e a não demissão
das pessoas que participaram da greve e a
possibilidade de serem analisadas pelos patrões outras exigências dos
trabalhadores. O movimento operário teve reconhecimento, os patrões passaram a
ter uma consideração em suas decisões que não tinham antes a respeito dos
operários. No dia 16 de julho a greve acabou.
Segundo
a autora Clara Ribeiro:
“No ano de 1917 o mundo estava enfrentando a Primeira Guerra Mundial, trazendo destruição e estragos econômicos e sociais nos países europeus. Ademais, havia a ascensão no poder por comunistas na Rússia.
No Brasil, a realidade era uma séria instabilidade econômica por conta da falta de alimentos e aumento da inflação. Dessa forma, as fábricas brasileiras começam a abrir atraindo pessoas do campo que procuravam melhores condições de vida.
Entretanto, as condições de trabalho nas fábricas eram terríveis, visto que não existia legislação trabalhista, as jornadas de trabalho podiam durar 16 horas diárias, assim como mulheres e crianças eram sujeitados a trabalhos pesados.
Greve Geral de 1917 –
Movimento Operário
Até 1906 só havia uma instituição de nível nacional até que foi criada a
chamada Confederação Operária Brasileira, por iniciativa dos sindicatos do Rio
de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia.
Todavia, existia as Sociedades de Socorro Mútuo e Caixas Beneficentes com objetivos sociais. Através delas eram garantidos que seus membros recebessem assistência médica e indenização em caso de acidente de trabalho. Contudo, a história começa a mudar com a chegada de imigrantes europeus para trabalharem nas fábricas, sobretudo italianos e espanhóis, que trouxeram contigo princípios socialista e de cunho organizacional.
Por conta disso, eles buscavam demonstrar a necessidade da organização e movimentação por parte dos operários em busca de direitos trabalhistas.
Greve Geral de 1917 –
Como começou?
A primeira paralisação ocorreu no bairro da Mooca na cidade de São Paulo
na fábrica Crespi que tinham ao menos 2000 trabalhadores. Os funcionários
pediam aumento de salário, diminuição da jornada de trabalho, fim do trabalho
infantil e do trabalho feminino nos turnos noturnos.
Outras fábricas da região passam a aderir as movimento, além de comícios em realizados pela cidade inspirados por ideias anarquistas e socialistas.
Cria-se então um Comitê de Greve em 8 de julho de 1917, entretanto, há uma forte repressão por parte da polícia, que ocasionou o assassinato do sapateiro espanhol José Martinez.”
Segundo a Professora de História Juliana Bezerra:
“A Greve Geral de 1917 foi um movimento provocado pelos operários e comerciantes de São Paulo nos meses de junho e julho.
Os trabalhadores pediam melhores
condições de trabalho e aumento de salário. Depois de cinco dias de paralisação
geral, os grevistas tiveram suas reivindicações atendidas.
Contexto Histórico
No final do século 19, com a Segunda
Revolução Industrial, o operariado de países como Inglaterra, Espanha e
Alemanha, organiza-se para pressionar os patrões garantirem condições dignas de
trabalho.
Porém, nem sempre os problemas eram
resolvidos de forma pacífica. Como exemplo temos a Semana Trágica de Barcelona,
1909, quando os operários em greve foram massacrados pelo governo.
Em 1917, o mundo vivia a Primeira
Guerra Mundial que fazia estragos econômicos e sociais nos países europeus.
Igualmente, assistia a tomada do poder por socialistas e comunistas, na Rússia.
Por sua vez, o Brasil vivia um período
de instabilidade econômica provocada pela escassez de alimentos e,
consequentemente, de inflação.
As primeiras fábricas, no Brasil,
começaram a abrir atraindo camponeses que buscavam na cidade melhores
oportunidades de salário e vida. As condições de trabalho nessas fábricas eram
as piores possíveis. Não havia legislação trabalhista, as jornadas duravam até
16 horas por dia, mulheres e crianças realizavam trabalhos pesados e as
questões laborais eram resolvidas com a polícia.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+da+greve+geral+de+1917+no+brasil&hl=en&sxsrf=APwXEdcf5uJlY60aNq6A3tMR1bo62Rbw3g%3A