Sou paraense,e, como tal, quis escrever
um artigo sobre o Carimbó, que é definido atualmente como um conjunto musical
que envolve o uso de instrumentos como os tambores (carimbós), onça
(nome dado para a cuíca), reco-reco (instrumento dentado feito de bambu), viola
e outros e mais a dança. O termo “Carimbó”, conforme o Glossário Paraense de
Vicente Chermont de Miranda, publicado em 1905, seria um “tambor feito de
madeira oca e coberto, em uma de suas extremidades, por um couro de veado”. A
definição serve na atualidade como explicação do formato do instrumento com
suas características principais. Há nos dias atuais uma variante musical que é
o “carimbo eletrônico”, que utiliza uma bateria eletrônica e guitarras, em vez
de marcação rítmica com os tradicionais tambores.
Segundo a Professora licenciada em
Letras Márcia Fernandes:
“O Carimbó é uma dança de roda típica
do nordeste do Pará, estado da Região Norte do Brasil, popular entre os
nortistas e nordestinos.
Também chamado de Pau e Corda, Samba de
roda do Marajó e Baião típico de Marajó, a dança do Carimbó é realizada em
pares e marcada por movimentos giratórios.
Origem do Carimbó
A palavra "carimbó" é de
origem indígena. Do tupi korimbó (pau que produz som) resulta
da junção dos elementos curi, que significa “pau”, e mbó,
que significa “furado”.
O nome faz referência ao curimbó,
principal instrumento musical utilizado nessa manifestação folclórica. O
curimbó é uma espécie de tambor tocado com as mãos, feito com um tronco
escavado e oco.
O Carimbó do Pará foi trazido ao Brasil
pelos escravos africanos. Posteriormente, foram incorporadas influências
indígenas e europeias, especialmente ibéricas.
O costume da dança surgiu com o hábito
dos agricultores e dos pescadores que, ao fim dos trabalhos diários, dançavam
ao ritmo do tambor.”
Segundo especialistas sobre o Carimbó,
este surgiu do batuque e como foi dito antes, tem influências dos negros,
mestiços e caboclos na dança que passou a fazer parte aos costumes do folclore.
A questão regional é forte , podendo se perceber isso claramente quando se vê
os ensaios do "Carimbó na Roça", ocasião na qual os
dançarinos e dançarinas vestidos com roupas de chita ou mescla, cabeça
coberta por turbantes ou chapéus, como se fossem para o roçado, levando ao
ombro, manivas, tipiti, paneiro, ralo, foice, machado, terçado, cavador, enxada
e outros instrumentos para um plantio ou mutirão. A toada, os volteios rápidos,
os requebros, as mexidas nos quadris e a esperteza nos passos, são próprios do
Carimbó.
A dança do Carimbó , em certos lugares
do Pará como Marapanim, antes era tida como dança de temporada, de 25 de
dezembro até o Dia de Reis, em 06 de janeiro. Em Vigia, outro município
paraense, o Carimbó é conhecido como Zimba e o ato de se dizer "vamos
zimbar" significa convidar o outro para dançar o citado ritmo. É
interessante que existia em Marapanim a figura do Mestre Inspetor, o caboclo
que fazia comércio com sua canoa entre Marapanim e Abaetetuba e que em 25 de dezembro
patrocinava uma “noite de Carimbó” em sua casa. Os homens tinham de estar
vestidos de paletó e gravata.
Com o passar do tempo, houve alterações
no estilo do Carimbó, por causa da questão do mercado musical. Gravadoras e
artistas foram mudando o Carimbó original para o Carimbó de Vanguarda ou
Carimbó Eletrônico, com o uso de instrumentos de sopro, guitarras, baixos,
substituindo o chamado pau do Carimbó, que era escavado e com couro em uma das
extremidades. Houve assim uma modificação naquele Carimbó original e nativo
devido a fins comerciais.
O ritmo carimbó foi reconhecido em 2014
como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan). E em junho de 2017 foi criada a Lei
Municipal Pinduca, pela Câmara Municipal de Belém. Esta lei diz que as
rádios da capital paraense incluirão na programação o Momento do Carimbó.
Grandes nomes do Carimbó:
1- MestresDuluca e Lucindo Costa |
Estes
mestres do Carimbó são originários do município de Marapanim. Os mestres Duluca
e Lucindo, já falecidos, deixaram um número significativo de composições,partituras
e um trabalho poético abrangente. Eles podem ser entendidos mais como historiadores
regionalistas que como cantores/compositores, pois exploraram bem o cotidiano,
os costumes, e as tradições. Lucindo Costa compôs uma música especial
que foi considerada por especialistas como antológica. A seguir alguns versos
desta composição: "Se
eu soubesse que tu vinhas, Mestre
Lucindo tinha um pensamento do caboclo paraense, com alto sentimento Romântico
de quem nasceu perto do mar, usando sua criatividade de poeta.
Alguns
grupos e conjuntos de carimbó substituíram o rebolir por remexer. Essa mudança
afetou a música em seu sentido original, porque a Moro-oca que Lucindo
menciona é um local fictício ou cabana indígena e o rebolir é arredondar o
amido da mandioca para que seja produzido o caroço ideal da farinha de tapioca,
não tendo relação com remexer ou requebrar.
Os
anseios e o amor pela mulher amada estavam presentes nas músicas de mestre Lucindo,
que utilizava elementos do seu cotidiano, de sua visão de mundo, com base Na
sua realidade onde existia o mar, com pescarias e a confecção de artefatos de
pescaria.Os instrumentos preferidos para essas músicas eram então a viola ou
o banjo rústico. Abaixo mais um exemplo dessa criatividade: "Bateu
vento na roseira, Além
das palavras de amor, também em suas músicas há momentos de depressão, desilusão
e incompreensão: "Se
esta mulher fosse minha, Também
em suas músicas há momentos de aconselhamento baseados em sua experiência
de vida:
"A
folha da bananeira Há a questão ecológica presente em seu canto: "Minha
rolinha que marisca pelo chão, Ele
também enalteceu a beleza da natureza e as praias onde ele pescava: "A
praia do Algodoal
E fez
uma canção de despedida como forma de perpetuar a sua morte: "Adeus
morena. O cantar de mestre Lucindo e dos mestres
Malagueta, Membeca, Duluca tem com uma de suas características a defesa dos
mais fracos e destacando o espírito de sobrevivência dos seres vivos como o
camarão, maçarico, as rolinhas, o sarará etc, alertando-os do perigo em
relação a predadores e ao Homem: "Olha
a cobra passarinho "Cuidado,
sarará, que lá vem maguari, " Nesses mestres percebe-se todo um universo que
lhes é comum: A mulher, o mar, os elementos da composição do mar (peixes
e mariscos), a natureza e a exuberância praianas. A questão da pesca é muito
forte nas composições desses autores de carimbo ligados à Marapanim: "A
onda jogava prá lá, . |
Pescador-Mestre
Lucindo
Pescador, pescador por que é
Que no mar não tem jacaré?
Pescador, pescador por que foi
Que no mar não tem peixe-boi?
Eu quero saber a razão
Que no mar não tem tubarão
Eu quero saber por que é
Que no mar não tem jacaré
Ah! Como é bom pescar
Na beira mar
Em noite de luar
Ah! Como é bom pescar
Na beira mar
Em noite de luar
Anel de
Ouro-Mestre Lucindo
A menina bonita
Tem anel de ouro
Parece um tesouro
O dedinho dela
A menina bonita
Tem anel de ouro
Parece um tesouro
O dedinho dela
Ai quem me dera
Que eu fosse rico
Se eu tivesse dinheiro
Casaria com ela
Ai quem me dera
Que eu fosse rico
Se eu tivesse dinheiro
Casaria com ela.
Para ouvir
Mestre Lucindo - Foi ela que me deixou
https://www.youtube.com/watch?v=KuzdlftBab4
CARIMBÓ MESTRE LUCINDO - AS MELHORES DO
MELHOR - O PANDA SOUND - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=eTNDFXSWZzo
2- Mestre Verequete:
Outro mestre que destaco é o Mestre
Verequete, cujo nome completo é Augusto Gomes Rodrigues, nascido em 1916 em
Quatipuru, interior do município de Bragança, no Pará e que morreu em 3 de
novembro de 2009. Ele foi um músico brasileiro, cantor e compositor de carimbo,
participando do grupo musical O Uirapuru. Foi chamado de “Rei
do Carimbó”. Ele e outros grandes do carimbó como Mestre Vieira, Pinduca e Mestre Cupijó mudaram os rtimos populares
paraenses com a introdução de outros elementos e assim tornando esses ritmos em
sucessos do rádio.
Augusto Gomes
ganhou o apelido de Verequete depois de ter narrado a colegas em seu trabalho
que presenciou um acontecimento em um terreiro, no qual um pai de
santo cantou “Chama Verequete”. Os colegas passaram a chamar Augusto
de Verequete.
Verequete buscou
compor carimbó tradicional chamado de “Pau e Corda” ou “Carimbó de Raiz”.
Ele e Pinduca tornaram o carimbó mais popular no Pará e conseguiram mesmo
projeção em outros lugares do Brasil entre os anos das décadas de 1970 e 1980.
Verequete criou aproximadamente 200 músicas, lançou dez discos e quatro CDs.
Alguns sucessos dele: “O carimbó não morreu”, “Chama Verequete”, “Morena
penteia o cabelo” e “Xô peru”.
Verequete
casou-se na primeira vez com Josenilda Pinheiro da Silva (conhecida como Dona
Cenira), com quem teve apenas uma filha,Lucimar Rodrigues. Mas ele tinha quatro
filhos de um relacionamento
Augusto
Rodrigues foi casado com Josenilda Pinheiro da Silva (conhecida como Dona
Cenira), com quem teve apenas uma filha, Lucimar Rodrigues, mas o mestre tinha
outros quatro filhos do primeiro casamento. Cenira e Verequete
conheceram-se em 1975, quando está tinha dezoito anos e trabalhava como garçonete
em uma boate no bairro do Telégrafo, em Belém, que na ocasião contratou o
cantor e o grupo.
A
esposa junto com o filho mais velho, Augusto Carlos, e o neto, Felipe
Rodrigues, também participaram do grupo O Uirapurú.
A
causa da morte de Verequete em 2009 foi uma pneumonia grave e infecção
generalizada, aos 93 anos. Recebeu do presidente Lula o título Comendador da Ordem do Mérito
Cultural, do Ministério da Cultura. Em
2009, Verequete faleceu na cidade de Belém aos 93 anos. Em
2002 Rogério Parreira e Luiz Arnaldo Campos dirigiram o documentário
“Chama Verequete”.
Discografia
do grupo O Legítimo Carimbó (CID) - 1974;O Legitimo Carimbó,
Vol. 2 (CID) - 1974;Conjunto Uirapuru (Tapecar) - 1974;Verequete e o Conjunto
Uirapurú - O Legítimo Carimbó Vol III (CID)- 1975;Al Son De Carimbo
(Tropical) - 1980;Verequete e Conjunto Uirapuru Vol 9 (Gravasom) - 1980;A
Volta Do Carimbó (Gravodisco) – 1994;Verequete da Coluna (Zig Zag) -
1999;Uirapuru Chama Verequete (Na Music) – 2011;Conjunto O Irapuru Do
Verequete (Spot).
Vou Tirar Cipó - 1974
Eu vou para o gapó
Fui tirar cipó
Eu vou para o gapó
Fui tirar cipó
Vem cá moreninha
Vem dançar carimbó
Vem cá moreninha
Vem dançar carimbó
Eu já pulei
Olha o carimbó
Eu vou pular
Olha o carimbó
Eu vou brincar
Olha o carimbó
RRRRRRRRRRRRRR
Olha o carimbó
Opa
Olha o carimbó
Eu vou pó gapó
Fui tirar cipó
Eu vou pó gapó
Fui tirar cipó
Vem cá moreninha
Vem dançar carimbó
Vem cá moreninha
Vem dançar carimbó
Eu já pulei
Olha o carimbó
Eu vou pular
Olha o carimbó
Eu vou brincar
Olha o carimbó
Eu vou rodar
Olha o carimbó
Rá, rá
Olha o carimbó
Ôba
Olha o carimbó
RRRRRRRRRRRRRR
Olha o carimbo
Para ouvir:
https://www.vagalume.com.br/verequete/vou-tirar-cipo-1974.html
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
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