Vou falar um pouco de
algumas manifestações culturais do Carnaval que não pude abordar em meu artigo
anterior por causa do espaço.
Zé Pereira
Para alguns
estudiosos esse era o nome ou apelido dado ao cidadão português José Nogueira
de Azevedo Paredes. Ele, em 1846, criou a figura do "Zé Pereira", no
Rio de Janeiro. Era um tocador de bumbo que pode ter sido o primeiro a
introduzir o hábito português de animar a folia carnavalesca ao som de bumbos,
zabumbas e tambores de forma anárquica pelas ruas. Embora não exista mais, o Zé
Pereira deixou como sucessores a cupica, o tamborim, o reco-reco, o pandeiro e
a frigideira que são instrumentos que acompanham os chamados "blocos de
sujos" e que também estão presentes em escolas de samba.
Segundo algumas
pesquisas, em alguns lugares de Portugal houve também os "Zé
Pereiras", assim mesmo chamados e, portanto, o português que o teria
introduzido pode ter repetido um nome que já existia em Portugal.
Ranchos:
A partir da chegada da Corte
de Portugal no Brasil começaram a surgir novos costumes no Carnaval. Um desses
costumes era imitar o desfile de carruagens enfeitadas pelas ruas, ocupadas por
pessoas usando máscaras e fantasias vindas de Paris.
O rancho era uma modesta
agremiação de carnaval formada por pessoas de origem humilde e fez sua primeira
aparição no carnaval carioca em 1873. Os ranchos existiam antes dessa data por
influência religiosa, pois desfilavam em comemoração aos festejos natalinos no
dia 6 de Janeiro (Dia de Reis). Pessoas fantasiadas de pastores e pastoras,
percorriam a cidade cantando e pedindo agasalhos em casas de famílias e criaram
um gênero musical chamado de marcha-rancho.
No início do século XX, os
ranchos, desfiles de máscaras e fantasias estavam já estabelecidos no Rio de
Janeiro pelas sociedades carnavalescas. Havia bailes de carnaval depois dos
desfiles em clubes considerados finos, frequentados pela elite brasileira. E os
pobres então brincavam em outros bailes como nas festas na Praça Onze, no
bairro do Estácio.
Cordões
Criados no final do século
XIX, incluíam a utilização da estética das procissões religiosas e mais as
manifestações populares como a capoeira e os zé pereiras. Eram grupos de
foliões mascarados, guiados pelo som do apito de um mestre e que dançavam pela
rua ao sol de um conjunto de percussão. O primeiro cordão foi "Os Invisíveis", mas depois
surgiram outros como o "Rosas de
Ouro". A compositora Chiquinha Gonzaga compôs para ele a música Ô Abre
Alas. Começou a haver uma disputa, às vezes acirrada, entre os cordões e houve
também repressão policial com a justificativa de que havia violência no desfile
dos cordões.
Segundo a historiadora Rosane
Bardanachvili:
"Apesar dos
preconceitos, os cordões também eram vistos como guardiões das tradições.
Suscitavam ainda um misto de pavor e curiosidade;de rejeição e admiração.
Assim, se fossem organizados e “civilizados” poderiam cumprir o papel que deles
se esperava."
E ainda:
"Se muitas vezes o
carnaval popular cedia às expectativas da elite não significava uma simples
submissão ao gosto da cultura dominante. Era assim que os populares podiam
continuar nas ruas, mostrando a irreverência, a crítica, o deboche, a
brincadeira e a alegria."
Blocos
Enquanto o rancho era uma
espécie de cordão mais organizado, que tinha a presença de mulheres e com
instrumental mais variado, como violões, cavaquinhos, clarinetes e flautas e já
com a presença do porta-estandarte (que seria depois copiado pelas escolas de
samba) , os blocos, que também surgiram
no século XIX, tinham caráter mais
improvisado, sem coreografia ou enredo definido. Eram apenas grupos de amigos
que queriam sair cantando e dançando pelas ruas. Esses grupos todos, cada um
com sua característica, seriam a semente da qual brotaria a Escola de Samba.
Escolas de Samba:
Segundo algumas fontes, a
primeira escola de samba foi a Deixa
Falar (hoje em dia Estácio de Sá), em 1929. Os integrantes passaram a
escolher todo o ano um tema que definiria as fantasias e a música. O
anteriormente chamado Carnaval dos Pobres foi ganhando simpatia do resto da
sociedade, até mesmo de intelectuais e artistas que começavam a se interessar
pela cultura popular.
Getúlio Vargas, nos anos 30,
querendo mostrar seu interesse pelas camadas populares, reconheceu o desfile
das escolas de samba e procurou dar uma estrutura melhor . A partir daí o
evento foi passando pelas mudanças até o momento que conhecemos agora, sendo
que no século XX escolas de samba surgiram não só no Rio de Janeiro como em
outras partes do país. É interessante ressaltar que Getúlio aproveitou nos anos
40, por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), para estabelecer
uma política cultural que buscava usar ideologicamente o samba e as escolas de
samba a favor do tipo de sociedade que acreditava ser melhor para o Brasil,
reforçando a sua imagem de líder populista e nacionalista.
Márcio José Matos Rodrigues -
Professor de História
Imagem do Site: http://bit.ly/2lhDm4U