segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Os Zé Pereira, Os ranchos, os cordões, os blocos e as escolas de samba


Vou falar um pouco de algumas manifestações culturais do Carnaval que não pude abordar em meu artigo anterior por causa do espaço.

Zé Pereira
Para alguns estudiosos esse era o nome ou apelido dado ao cidadão português José Nogueira de Azevedo Paredes. Ele, em 1846, criou a figura do "Zé Pereira", no Rio de Janeiro. Era um tocador de bumbo que pode ter sido o primeiro a introduzir o hábito português de animar a folia carnavalesca ao som de bumbos, zabumbas e tambores de forma anárquica pelas ruas. Embora não exista mais, o Zé Pereira deixou como sucessores a cupica, o tamborim, o reco-reco, o pandeiro e a frigideira que são instrumentos que acompanham os chamados "blocos de sujos" e que também estão presentes em escolas de samba.

Segundo algumas pesquisas, em alguns lugares de Portugal houve também os "Zé Pereiras", assim mesmo chamados e, portanto, o português que o teria introduzido pode ter repetido um nome que já existia em Portugal.

Ranchos:
A partir da chegada da Corte de Portugal no Brasil começaram a surgir novos costumes no Carnaval. Um desses costumes era imitar o desfile de carruagens enfeitadas pelas ruas, ocupadas por pessoas usando máscaras e fantasias vindas de Paris.

O rancho era uma modesta agremiação de carnaval formada por pessoas de origem humilde e fez sua primeira aparição no carnaval carioca em 1873. Os ranchos existiam antes dessa data por influência religiosa, pois desfilavam em comemoração aos festejos natalinos no dia 6 de Janeiro (Dia de Reis). Pessoas fantasiadas de pastores e pastoras, percorriam a cidade cantando e pedindo agasalhos em casas de famílias e criaram um gênero musical chamado de marcha-rancho.

No início do século XX, os ranchos, desfiles de máscaras e fantasias estavam já estabelecidos no Rio de Janeiro pelas sociedades carnavalescas. Havia bailes de carnaval depois dos desfiles em clubes considerados finos, frequentados pela elite brasileira. E os pobres então brincavam em outros bailes como nas festas na Praça Onze, no bairro do Estácio.

Cordões
Criados no final do século XIX, incluíam a utilização da estética das procissões religiosas e mais as manifestações populares como a capoeira e os zé pereiras. Eram grupos de foliões mascarados, guiados pelo som do apito de um mestre e que dançavam pela rua ao sol de um conjunto de percussão. O primeiro cordão foi "Os Invisíveis", mas depois surgiram outros como o "Rosas de Ouro". A compositora Chiquinha Gonzaga compôs para ele a música Ô Abre Alas. Começou a haver uma disputa, às vezes acirrada, entre os cordões e houve também repressão policial com a justificativa de que havia violência no desfile dos cordões.

Segundo a historiadora Rosane Bardanachvili:

"Apesar dos preconceitos, os cordões também eram vistos como guardiões das tradições. Suscitavam ainda um misto de pavor e curiosidade;de rejeição e admiração. Assim, se fossem organizados e “civilizados” poderiam cumprir o papel que deles se esperava."

E ainda:
"Se muitas vezes o carnaval popular cedia às expectativas da elite não significava uma simples submissão ao gosto da cultura dominante. Era assim que os populares podiam continuar nas ruas, mostrando a irreverência, a crítica, o deboche, a brincadeira e a alegria."

Blocos
Enquanto o rancho era uma espécie de cordão mais organizado, que tinha a presença de mulheres e com instrumental mais variado, como violões, cavaquinhos, clarinetes e flautas e já com a presença do porta-estandarte (que seria depois copiado pelas escolas de samba) , os  blocos, que também surgiram no século XIX,  tinham caráter mais improvisado, sem coreografia ou enredo definido. Eram apenas grupos de amigos que queriam sair cantando e dançando pelas ruas. Esses grupos todos, cada um com sua característica, seriam a semente da qual brotaria a Escola de Samba.

Escolas de Samba:
Segundo algumas fontes, a primeira escola de samba foi a Deixa Falar (hoje em dia Estácio de Sá), em 1929. Os integrantes passaram a escolher todo o ano um tema que definiria as fantasias e a música. O anteriormente chamado Carnaval dos Pobres foi ganhando simpatia do resto da sociedade, até mesmo de intelectuais e artistas que começavam a se interessar pela cultura popular.

Getúlio Vargas, nos anos 30, querendo mostrar seu interesse pelas camadas populares, reconheceu o desfile das escolas de samba e procurou dar uma estrutura melhor . A partir daí o evento foi passando pelas mudanças até o momento que conhecemos agora, sendo que no século XX escolas de samba surgiram não só no Rio de Janeiro como em outras partes do país. É interessante ressaltar que Getúlio aproveitou nos anos 40, por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), para estabelecer uma política cultural que buscava usar ideologicamente o samba e as escolas de samba a favor do tipo de sociedade que acreditava ser melhor para o Brasil, reforçando a sua imagem de líder populista e nacionalista.


Márcio José Matos Rodrigues - Professor de História


Imagem do Site: http://bit.ly/2lhDm4U

Nenhum comentário:

Postar um comentário