Tem-se falado ultimamente em
alguns aspectos envolvendo o México e os Estados Unidos. Entre estes aspectos
podem ser citados os Tratados Comerciais (TPP e NAFTA) e a construção de um
muro separando os dois países.
Na verdade, há todo um
histórico envolvendo as duas nações, desde o surgimento das duas como países
independentes, os Estados Unidos no século XVIII e o México no início do século
XIX.
Quando os Estados Unidos
foram formados, após a independência em relação à Inglaterra, seu território
estava restrito a uma faixa de terra no leste da América do Norte. Mas após
alguns anos, começou uma política expansionista, invadindo terras indígenas e
adquirindo territórios de nações europeias, isto é, Inglaterra, França e Espanha.
Após conflitos iniciais com
a Inglaterra, houve a negociação de alguns territórios ao norte, tendo a
Inglaterra preservado o Canadá. Em relação à França, a grande região da
Lousiana foi vendida por Napoleão Bonaparte. Na ocasião, começou a haver interesses
de expansão dos Estados Unidos em direção a territórios espanhois na América do
Norte. De início o interesse era na região texana, mas houve um acordo e a
Espanha acabou negociando a Flórida. Também houve na época o início de uma
colonização americana no Texas. Vale lembrar que a Espanha apoiou a
independência das 13 colônias em relação à metrópole inglesa, o que facilitou o
entendimento.
Com a independência do
México, começaram a haver conflitos de interesses. Se de início houve um
governo mexicano de estilo mais federalista, o que era mais favorável aos
colonos americanos,depois a situação começou a mudar com um processo de
centralização que era mais desconfiado em relação a essa colonização
estrangeira. E ao mesmo tempo havia ainda combates entre expedições espanholas
recolonizadoras e forças nacionais mexicanas. Esses fatos aconteceram durante a
década de 20 do século XIX. Destacou-se como líder mexicano contra as invasões
espanholas o general Santa Ana.
Nos anos 30 foi a França a potência invasora que reclamava
o não cumprimento de um acordo comercial. Nesse tempo os Estados Unidos
proclamava sua "Doutrina Monroe": "A América para os
americanos", contrapondo-se às intervenções europeias e também
implicitamente querendo dizer que os Estados Unidos passariam a ser a potência
dominante em toda a América.
Há de se destacar que em
1829 milícias americanas atacavam propriedades mexicanas no Texas e no mesmo
ano houve a oferta pelo embaixador dos Estados Unidos de compra do território
por até 5 milhões de dólares, o que foi rejeitado pelo governo mexicano.
Os atritos envolvendo o
Texas acabaram gerando uma guerra, primeiro com a destruição em 1836 pelo
exército mexicano do Forte do Alámo, ocupado por colonos americanos e mais
tarde com a derrota mexicana dias depois por forças armadas dos colonos na
batalha de San Jacinto, o que levou à independência do Texas.
Em 1845, o governo dos
Estados Unidos declarou que o Texas seria anexado, o que provocou reação do
governo mexicano, que ainda não concordava com a perda daquele território.
Iniciou-se em 1846 uma série de batalhas na Guerra Mexicano-Americana, que
terminou definitivamente em 1848, com a derrota do México que foi obrigado a
vender por cerca de 15 milhões de dólares grande parte de seu território (que
corresponde atualmente aos atuais estados de Califórnia, Nevada, Texas, Utah,
Novo México a áreas do estados de Arizona, Colorado e Wyoming). Na ocasião,
ficou famosa a chamada "Doutrina do Destino Manifesto" que defendia o
direito "civilizador" dos Estados Unidos sobre outros povos.
Em 1853, devido aos
interesses estadunienses em construir um ferrovia, o governo mexicano foi
induzido a vender por cinco milhões de dólares mais uma parte de seu
território(compra de Gadsden).
É interessante que os
resultados da aquisição de novos territórios acabaram influenciando na Guerra
de Secessão dos Estados Unidos de 1861-1865, pois a maioria dos novos
territórios não adotaram a escravidão, o que afetou no equilíbrio de poder
entre os estados.
Os Estados Unidos apoiaram o
governo mexicano durante a invasão francesa nos anos 60 do século XIX, quando
foi formado um império europeu no México. Mas também ampliaram investimentos,
principalmente quando o general Porfírio Diaz abriu o México ao capital
estrangeiro, o mesmo Porfírio que teria dito em uma ocasião: "Pobre
México! Tão distante de Deus, tão perto dos Estados Unidos".
Durante os anos de 1914-1917
houve intervenções militares dos Estados Unidos no México, ficando famosas as
ações de guerrilha de Francisco Villa
("Pancho Villa"). Era a época da doutrina do "Big Stick"
("Grande Porrete").
Já mais recentemente, destaca-se
a expansão industrial mexicana ao norte, com empresas dos Estados Unidos se
instalando na região (as empresas maquiladoras),
influenciando por um lado na economia mexicana, com novos empregos (e as
empresas americanas se beneficiam com os baixos salários), mas por outro lado,
inchando cidades mexicanas na área. E aumentou muito também a imigração clandestina
de mexicanos nos Estados Unidos à procura de novas oportunidades.
O aumento dos imigrantes
provocou um reforço da fiscalização de fronteira, com o início da construção de
sistema de vigilância que começou em 1994 e que já abrangia cerca de um terço da
fronteira. A problemática se acentua com a vontade de Trump em aumentar a parte murada e cobrar as obras
do governo mexicano.
Vê-se assim toda uma
história de expansionismo dos Estados Unidos em relação ao México. Os dois são
grandes parceiros comerciais. Mas como ficará o México com a desistência dos
Estados Unidos em relação ao Tratado do Pacífico (já que Trump já anunciou a
saída) e a proposta de revisão do NAFTA (acordo entre México, Estados Unidos e
Canadá) e mais a questão do muro?
Se a nova relação entre os
dois países piorar, poderá haver aumento da
pobreza mexicana e os carteis de drogas poderão se fortalecer. Seria bom
Trump ser mais flexível.
Márcio José Matos
Rodrigues - professor de História
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