quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A Questão México - Estados Unidos

Tem-se falado ultimamente em alguns aspectos envolvendo o México e os Estados Unidos. Entre estes aspectos podem ser citados os Tratados Comerciais (TPP e NAFTA) e a construção de um muro separando os dois países.

Na verdade, há todo um histórico envolvendo as duas nações, desde o surgimento das duas como países independentes, os Estados Unidos no século XVIII e o México no início do século XIX.

Quando os Estados Unidos foram formados, após a independência em relação à Inglaterra, seu território estava restrito a uma faixa de terra no leste da América do Norte. Mas após alguns anos, começou uma política expansionista, invadindo terras indígenas e adquirindo territórios de nações europeias, isto é, Inglaterra, França e Espanha.

Após conflitos iniciais com a Inglaterra, houve a negociação de alguns territórios ao norte, tendo a Inglaterra preservado o Canadá. Em relação à França, a grande região da Lousiana foi vendida por Napoleão Bonaparte. Na ocasião, começou a haver interesses de expansão dos Estados Unidos em direção a territórios espanhois na América do Norte. De início o interesse era na região texana, mas houve um acordo e a Espanha acabou negociando a Flórida. Também houve na época o início de uma colonização americana no Texas. Vale lembrar que a Espanha apoiou a independência das 13 colônias em relação à metrópole inglesa, o que facilitou o entendimento.

Com a independência do México, começaram a haver conflitos de interesses. Se de início houve um governo mexicano de estilo mais federalista, o que era mais favorável aos colonos americanos,depois a situação começou a mudar com um processo de centralização que era mais desconfiado em relação a essa colonização estrangeira. E ao mesmo tempo havia ainda combates entre expedições espanholas recolonizadoras e forças nacionais mexicanas. Esses fatos aconteceram durante a década de 20 do século XIX. Destacou-se como líder mexicano contra as invasões espanholas o general Santa Ana.

Nos anos 30  foi a França a potência invasora que reclamava o não cumprimento de um acordo comercial. Nesse tempo os Estados Unidos proclamava sua "Doutrina Monroe": "A América para os americanos", contrapondo-se às intervenções europeias e também implicitamente querendo dizer que os Estados Unidos passariam a ser a potência dominante em toda a América.

Há de se destacar que em 1829 milícias americanas atacavam propriedades mexicanas no Texas e no mesmo ano houve a oferta pelo embaixador dos Estados Unidos de compra do território por até 5 milhões de dólares, o que foi rejeitado pelo governo mexicano.

Os atritos envolvendo o Texas acabaram gerando uma guerra, primeiro com a destruição em 1836 pelo exército mexicano do Forte do Alámo, ocupado por colonos americanos e mais tarde com a derrota mexicana dias depois por forças armadas dos colonos na batalha de San Jacinto, o que levou à independência do Texas.

Em 1845, o governo dos Estados Unidos declarou que o Texas seria anexado, o que provocou reação do governo mexicano, que ainda não concordava com a perda daquele território. Iniciou-se em 1846 uma série de batalhas na Guerra Mexicano-Americana, que terminou definitivamente em 1848, com a derrota do México que foi obrigado a vender por cerca de 15 milhões de dólares grande parte de seu território (que corresponde atualmente aos atuais estados de Califórnia, Nevada, Texas, Utah, Novo México a áreas do estados de Arizona, Colorado e Wyoming). Na ocasião, ficou famosa a chamada "Doutrina do Destino Manifesto" que defendia o direito "civilizador" dos Estados Unidos sobre outros povos.

Em 1853, devido aos interesses estadunienses em construir um ferrovia, o governo mexicano foi induzido a vender por cinco milhões de dólares mais uma parte de seu território(compra de Gadsden).

É interessante que os resultados da aquisição de novos territórios acabaram influenciando na Guerra de Secessão dos Estados Unidos de 1861-1865, pois a maioria dos novos territórios não adotaram a escravidão, o que afetou no equilíbrio de poder entre os estados.

Os Estados Unidos apoiaram o governo mexicano durante a invasão francesa nos anos 60 do século XIX, quando foi formado um império europeu no México. Mas também ampliaram investimentos, principalmente quando o general Porfírio Diaz abriu o México ao capital estrangeiro, o mesmo Porfírio que teria dito em uma ocasião: "Pobre México! Tão distante de Deus, tão perto dos Estados Unidos".

Durante os anos de 1914-1917 houve intervenções militares dos Estados Unidos no México, ficando famosas as ações de guerrilha  de Francisco Villa ("Pancho Villa"). Era a época da doutrina do "Big Stick" ("Grande Porrete").

Já mais recentemente, destaca-se a expansão industrial mexicana ao norte, com empresas dos Estados Unidos se instalando na região (as empresas maquiladoras), influenciando por um lado na economia mexicana, com novos empregos (e as empresas americanas se beneficiam com os baixos salários), mas por outro lado, inchando cidades mexicanas na área. E aumentou muito também a imigração clandestina de mexicanos nos Estados Unidos à procura de novas oportunidades.

O aumento dos imigrantes provocou um reforço da fiscalização de fronteira, com o início da construção de sistema de vigilância que começou em 1994 e  que já abrangia cerca de um terço da fronteira. A problemática se acentua com a vontade de Trump  em aumentar a parte murada e cobrar as obras do governo mexicano.

Vê-se assim toda uma história de expansionismo dos Estados Unidos em relação ao México. Os dois são grandes parceiros comerciais. Mas como ficará o México com a desistência dos Estados Unidos em relação ao Tratado do Pacífico (já que Trump já anunciou a saída) e a proposta de revisão do NAFTA (acordo entre México, Estados Unidos e Canadá) e mais a questão do muro?

Se a nova relação entre os dois países piorar, poderá haver aumento da  pobreza mexicana e os carteis de drogas poderão se fortalecer. Seria bom Trump ser mais flexível.


Márcio José Matos Rodrigues - professor de História


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