segunda-feira, 5 de junho de 2017

Dia D







Tenho escrito sobre algumas datas especiais. Resolvi então  escrever sobre o Dia D, 06 de junho de 1944, o dia em que as chamadas forças aliadas desembarcaram nas praias da Normandia, na França, criando uma nova frente contra os nazistas que ainda ocupavam uma área considerável da Europa e que estavam enfrentando desde 1941 os soviéticos, que nesse ano de 1944 já estavam empurrando os alemães de volta para sua nação, eles que no início da chamada Operação Barbarrosa chegaram bem perto de Moscou, capital da URSS e também desde julho de 1943 uma força composta de soldados de vários países aliados combatia os nazi-fascistas em solo italiano. 

Uma outra frente de ataque aos alemães já tinha sido sugerida por Stalin em encontros com Roosevelt e Churchill em encontros iniciais com lideranças dos Estados Unidos e Inglaterra ou por meio de comunicações escritas. Stalin esperava que um ataque feitos por britânicos e norte-americanos aliviaria a pressão na frente oriental contra os soviéticos que perdiam a cada ano na guerra milhões de combatentes. O ataque à Itália foi uma forma de enfraquecer mais os alemães, porém o ataque tão esperado seria contra o exército alemão na França, que não teve condições materiais para ser realizado em 1943 e muito menos em 1942. 

Quando finalmente os ataques aconteceram no Dia D, os alemães possuíam uma rede fortificada não só na costa francesa, como no litoral de países ocupados até a Noruega. Os aliados faziam questão de confundir Hitler, espalhando informações falsas para que o Alto Comando alemão pensasse que a invasão seria em outro lugar, na Noruega ou no ponto que os alemães mais esperavam, o passo de Calais, na França, o ponto mais próximo da Inglaterra e que portanto oferecia mais condições para um deslocamento e desembarque de tropas de forma mais rápida.  

O fato é que até o dia da invasão, os nazistas ainda acreditavam que ela se daria com mais probabilidade em Calais. Essa ilusão permitiu que divisões alemães ficassem mais ao norte, impossibilitadas de participar de imediato do enfrentamento aos aliados. 

Horas antes dos desembarques os aliados realizaram assaltos aerotransportados, com paraquedistas e planadores que saltaram atrás das linhas alemãs para destruir armas e pontos de defesa, assim como controlar pontes e estradas para impedir que reforços fossem imediatamente deslocados para as praias. Também ataques da Resistência Francesa a ferrovias e locais estratégicos e bombardeios maciços às instalações germânicas e à infraestrutura necessária ao seu exército causaram sérios danos, atrapalhando as comunicações e o transporte de soldados e blindados. 

No Dia D, na chamada Hora H, cerca de 156.000 combatentes de nações aliadas, em especial Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá desembarcaram nas praias da Normandia que foram chamadas de Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword. A luta mais encarniçada foi em Omaha, uma das duas praias escolhidas para serem alvo dos Estados Unidos.  

As fortificações na costa da Normandia tinham sido organizadas pelo famoso general alemão Rommel, que estabeleceu linhas de defesa fixas com casamatas, ninhos de metralhadoras, cercas, obstáculos contra barcos, minas terrestres etc. Mas parte das forças alemãs de defesa eram de tropas de segunda linha, como poloneses e russos deslocados da Europa Oriental para lutarem na defesa da França ocupada contra os aliados. E havia divisões de tanques, as chamadas Divisões Panzer, que não foram logo enviadas para as áreas de desembarque, o que poderia ter complicado as coisas para os invasores. Outro fator de desvantagem para os alemães foi a supremacia aérea aliada, pois a força aérea alemã estava muito ocupada em defender a Alemanha dos ataques aéreos dos Estados Unidos e Inglaterra e também dando apoio na chamada Frente Oriental contra os soviéticos.

Segundo alguns autores, a guerra teria sido ganha de qualquer forma pelos soviéticos, sem a invasão da Normandia. Porém, os custos em vidas seriam muito maiores para a URSS e poderia talvez a guerra durar bem mais tempo, prolongando o sofrimento dos povos de nações ocupadas e dos prisioneiros de campos de concentração nazistas. Também as perdas no lado soviético foram  geralmente maiores e as forças alemães eram mais numerosas na parte oriental da Europa para impedir a invasão soviética da Alemanha. Esse páis havia sofrido derrotas terríveis para o exército soviético, como a batalha de Kursk, em julho de 1943, quando uma quantidade significativa de blindados alemães tinha sido destruída, sem que se pudesse substituir adequadamente as perdas e também o número de mortos, feridos e capturados alemães era considerável, estando já a Alemanha, no início de 1944 com sérias dificuldades para conseguir substitutos para os soldados que eram perdidos. 

Em agosto de 1944 a resistência alemã na Normandia já estava destroçada. A força aérea americana era implacável, destruindo formações blindadas e de infantaria dos alemães. No entanto, os tanques mais modernos e eficientes dos alemães, o Pantera e o Tigre, embora em número bem menor que os tanques  aliados, provocaram pesadas perdas nas tropas aliadas, destruindo diversos tanques adversários.  Muito mais soldados aliados foram chegando após o dia D e mais material bélico.

Com a retirada alemã, a França foi sendo libertada. Ela que em 1940 tinha sido sofrido uma derrota humilhante e sido ocupada em grande parte pelos alemães até 1942, quando Hitler ordenou a total ocupação desse país.  A guerra só acabou em maio de 1945 na Europa. Porém, a bem sucedida invasão aliada na chamada Operação Overlord mostrou a grande superioridade aliada em quantidade de armas e em aviação, como também um potencial enorme em recursos humanos e industriais diante de uma Alemanha já muito abalada depois de várias batalhas e muitos bombardeios às suas fábricas, instalações militares e cidades, o que impossibilitava uma reposição maciça de equipamentos e soldados como seria necessária diante das perdas cada vez maiores que ocorriam. 

Deixar a incumbência da derrota alemã nas mãos dos russos também implicaria em uma situação militar, econômica, política e social muito diferente da que houve após a vitória definitiva em maio de 1945, pois a influência soviética seria muito maior, com a ocupação não só da parte oriental da Alemanha e sim da Alemanha como um todo e possivelmente de outros países que estavam ocupados pelos alemães. Quais seriam as consequências disso? Com certeza um stalinismo (regime altamente autoritário)  mais espalhado pela Europa e com mais força diante dos Estados Unidos e Inglaterra. Portanto, o Dia D foi não só o início de uma nova frente, como também um começo de uma tomada de posição militar e política em territórios europeus importantes, o que resultaria na formação dos blocos antagônicos na Europa da Guerra Fria, um comandado pelos Estados Unidos e outro pela União Soviética (URSS). 

A seguir alguns trechos da obra "Inferno, o Mundo em Guerra de 1939 a 1945" do historiador Max Hastings: 

"... A batalha do Dia D custou aos britânicos, americanos e canadenses apenas três mil mortos, preço desprezível para uma conquista estratégica decisiva. O povo da Normandia, porém, sofreu terrivelmente por sua libertação, perdendo tantas vidas em 6 de junho quanto os invasores. Os soldados aliados chocaram a população pelo seu desprezo pela propriedade civil ..."

"...Eisenhower e seus generais sempre reconheceram que a "batalha de ampliação" nas semanas seguintes ao Dia D seria tão crucial quanto os desembarques: se os alemães concentrassem forças na Normandia com mais rapidez que os aliados, os invasores poderiam ser despejados_como Hitler esperava e exigia. Os planejadores de simulações deram contribuição vital com sua brilhantemente sofisticada operação Fortitude, que convenceu os alemães de uma contínua ameaça ao passo de Calais, onde forças importantes permaneceram durante semanas..."

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: Imagem do Google. 

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