quinta-feira, 22 de junho de 2017

A Operação Barbarrosa e a Batalha de Okinawa na Segunda Guerra Mundial




Pretendo neste artigo falar de dois fatos históricos da Segunda Guerra Mundial, ambos fatos de um dia 22 de junho: 

O início da Operação Barbarrosa e o fim da Batalha de Okinawa.

1-A Operação Barbarrosa


 A Operação Barbarrosa foi uma grande operação militar para invadir a União Soviética, rompendo o pacto de não agressão entre nazistas e soviéticos de 1939. Participaram do início da invasão cerca de 3,8 milhões de soldados do Eixo, 3 350 veículos blindados, 2 770  aeronaves , 7.200 peças de artilharia numa frente de 2900 km e foram também utilizados  750.000 cavalos.

Do lado soviético havia no início da invasão alemã, 3,2 milhões de soldados, 11.000 veículos blindados e 9.110 aeronaves. 

A campanha alemã pretendia destruir as forças armadas soviéticas no estilo das “guerras relâmpago” que os nazistas empregaram contra outros países como Polônia, Holanda, França, Noruega, Iugoslávia e Grécia, com ataques rápidos e maciços ao inimigo, forçando-os a rendição sem demora.

Havia como objetivo inicial uma rápida tomada da parte europeia da União Soviética a oeste da linha que liga as cidades de Arkhangelsk e Astrakhan, chamada de linha A-A na Diretiva nº 21 de Hitler. 

Entretanto,   as coisas não saíram como ele esperava. Em fins de dezembro de 1941 o exército alemão encontrou muitas dificuldades, como o clima que foi mudando, havendo chuvas e depois neve, o terreno enlameado pelas ditas chuvas (que atolava veículos) e a grande extensão territorial da União Soviética, o que dificultava muito a logística e para piorar com ataques de guerrilheiros soviéticos por trás das linhas alemães, cortando linhas de abastecimento.

  O exército soviético em janeiro de 1942 já conseguia causar uma paralisação dos ataques alemães.  Embora não tenha alcançado o objetivo desejado de uma conquista total do território inimigo e a vitória sobre este, as tropas alemãs haviam conseguido tomar as mais importantes áreas econômicas do território soviético, concentradas principalmente  na Ucrânia.
 
Apesar desses sucessos alcançados, os alemães não conseguiram formar novamente uma força ofensiva que chegasse até Moscou.

O fracasso alemão na Operação Barbarossa em destruir o exército inimigo, tornou complicadas as futuras operações dentro do território soviético, tendo todas estas tentativas  falhado, como a continuação do Cerco de Leningrado e a grande derrota alemã em Stalingrado.  Com a falha da Operação Barbarossa, foi aberto um novo front na Segunda Guerra, a Frente Oriental. 

Nessa, foram empregadas mais forças do que em qualquer outro teatro de guerra da história, havendo nesse front algumas das maiores batalhas da Segunda Guerra Mundial.

A seguir um trecho do livro "Inferno, o Mundo em Guerra, 1939-1945" de Max Hastings: 

"Muitos meses se passaram antes que os Aliados vissem que a maré da guerra virara. Em 1942 o Eixo teria êxitos espetaculares. Contudo, é uma realidade histórica crucial que altos funcionários do Terceiro Reich se deram conta, já em dezembro de 1941, de que a vitória militar se tornara impossível, porque a Rússia não fora derrotada. Depois alguns alimentaram esperanças de que a Alemanha pudesse negociar uma paz aceitável. Mas eles, e talvez Hitler, nos recessos mais íntimos de sua mente, sabiam que o momento estratégico decisivo ficara para trás. O general Jodl, o mais próximo e leal conselheiro militar do Führer, disse, em 1945, que seu chefe compreendera, em dezembro de 1941, que "a vitória não podia mais ser alcançada". A conclusão não significava, é claro, que Hitler se sentisse confortável com a derrota alemã: em vez disso, ele agora previa uma guerra prolongada, que exporia as divisões fundamentais entre a União Soviética e as democracias ocidentais. Sua intenção era alcançar êxitos suficientes no campo de batalha para forçar os inimigos a propor termos aceitáveis, esperança que se agarrou até abril de 1945... E ainda: "Somente o tempo mostraria que a luta estava destinada a seguir até o fim e que a ruptura que o ditador previa entre o Ocidente e a União Soviética de fato chegaria, porém tarde demais para salvar o Terceiro Reich".


2-A Batalha de Okinawa:

A Batalha de Okinawa  foi  no final da Segunda Guerra Mundial. A Alemanha já tinha se rendido e o Japão ainda resistia. Começou em 01 de abril e terminou em 22 de Junho de 1944.

A batalha aconteceu na ilha de Okinawa, no arquipélago de Ryukyu, caracterizando-se pelo maior ataque anfíbio durante a campanha do Pacífico e foi a maior batalha marítimo-terrestre-aérea da história, ocorrendo de Abril a Junho de 1945.

As forças oponentes eram de 250.000 combatentes norte-americanos e 86.000 combatentes japoneses, apoiados por 39.000 conscritos locais.

Os japoneses novamente usaram ataques kamikazes contra navios dos Estados Unidos. Entre 1 de abril e 25 de maio de 1945, vários ataques kamikaze foram tentados, envolvendo mais de 1 500 aeronaves.

Foram usados pelos japoneses alunos do Ensino Médio, organizados na linha de frente, parte mandada para combate e outra parte na enfermagem.

A defesa principal estaria no sul de Okinawa, sob comando do tenente-general Mitsuru Ushijima, seu chefe de Estado-maior, o tenente-general Isamu Chō e seu chefe de operações, o coronel Hiromichi Yahara. No norte, o coronel Takehido Udo estava no comando. As forças da marinha eram comandadas pelo almirante Minoru Ōta. O comando japonês sabia da superioridade americana em termos de qualidade de equipamentos e número de tropas, assim como seu muito maior poder de fogo.

A grande Operação Ten-Go (Ten-go sakusen) foi uma tentativa de ataque feito por dez navios poderosos japoneses, liderados pelo couraçado Yamato e sob comando do almirante Seiichi Ito. A operação japonesa fracassou, a frota foi bastante bombardeada por aviões dos Estados Unidos, tendo sido 06 navios japoneses afundados e 01 seriamente danificado, impedindo essa força de cumprir seu objetivo.

Os EUA penetraram no Mar da China com uma força naval constituída de 40 navios-aeródromos, 18 couraçados, 200 contratorpedeiros, centenas de navios de transporte, cruzadores, cargueiros, submarinos, caças- minas, navios de desembarques e mais uma infinidade de outras embarcações. Foram afundados pelos kamikases japoneses 60 embarcações norte-americanas.

Inicialmente, as primeiras forças americanas a chegar eram da 77ª Divisão de Infantaria, que desembarcou nas ilhas Kerama, a 24 km a oeste de Okinawa, em 26 de março. Essas ilhas caíram em cinco dias. A operação deu aos aliados um porto para os seus navios.

A luta em terra durou cerca de 81 dias, começando em 1 de abril de 1945. As primeiras tropas americanas a chegar eram da 77ª Divisão de infantaria, que desembarcou nas ilhas Kerama, 24 km a oeste de Okinawa, em 26 de março. Kerama caiu em apenas cinco dias. 

Em 31 de março, fuzileiros americanos da força de reconhecimento, desembarcaram em Keise Shima, sem sofrer oposição, em quatro ilhotas a apenas 13 km da cidade de Naha, a capital de Okinawa.

O general Ushijima concentrou as principais linhas defensivas de sua guarnição na montanhosa região localizada ao sul da ilha. Em 1º de abril de 1945 iniciou-se a conquista de Okinawa.

Após um intenso bombardeio aeronaval os fuzileiros norte-americanos desembarcaram na parte central da ilha. A estratégia americana para a invasão de Okinawa era dividir a ilha em duas partes.

 O norte da ilha ficou sob  responsabilidade dos fuzileiros e o sul com divisões do  Exército. O norte foi conquistado em quatro dias. No sul da ilha  localizavam-se as cidades de Shuri e Naha que eram cercadas por terrenos escarpados que propiciava aos japoneses a construção de cadeias de fortificações interligadas através de túneis (linha Shuri).

Após os intensos bombardeios provocados pela aviação e navios norte-americanos, as florestas da ilha ficaram totalmente devastadas.

Nessa área encontrava-se soldados japoneses e  civis dispostos a fazer frente ao avanço dos fuzileiros. O fogo de casamatas causaram pesadas baixas aos soldados norte-americanos Sem o apoio naval, os soldados tiveram que destruir cada bunker numa luta feroz.

Após 82 dias de intensos combates, os japoneses perderam o controle da ilha, porém sua disposição de lutar até o fim permanecia firme. Então, com mais seis dias de ofensiva norte-americana, os ataques japoneses começaram a enfraquecer. O norte da ilha tinha caído em 20 de Abril. O sul caiu em 22 de Junho.

A seguir um trecho do livro "Inferno, O Mundo em Guerra", de Max Hastings: " Quando Okinawa foi declarada segura em 22 de junho, 82 dias  depois do desembarque inicial de Buckner, as baixas do exército e dos fuzileiros navais totalizavam 7.503 mortos e 36.613 feridos fora de combate, a maioria casos de trauma de guerra. Adicionalmente, a marinha americana teve 4.907 mortos e mais de oito mil feridos. Quase toda a força defensora em terra firme pereceu, juntamente com milhares de nativos de Okinawa..."





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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.


Figura: Google. 

sábado, 17 de junho de 2017

A Batalha de Waterloo




No domingo de 18 de junho de 1815 aconteceu a batalha de Waterloo. Foi a última batalha de Napoleão Bonaparte e que decidiu o fim de seu império. Era o fim de seu governo de 100 dias após a fuga de Elba, onde tinha sido encaminhado para reinar sobre uma pequena ilha.  Em 22 de junho ele abdicou do trono. Foi mandado pelos ingleses para Santa Helena, onde morreu em 1821.
Napoleão foi um general, corso de nascimento, que se destacou no governo do Diretório, na Revolução Francesa. No fim de 1799 após dar um golpe de Estado tornou-se primeiro consul e em dezembro de 1804 foi coroado imperador da França. Até 1812 já tinha conseguido  vencer batalhas importantes contra os países inimigos de seu império como a Áustria, Prússia e Rússia. Austerlitz foi uma batalha de grande glória para Napoleão, quando os exércitos russo e austríaco foram derrotados.  Mas sua marinha unida à da Espanha sofreu grande derrota em Trafalgar e em 1812 deu-se o início da derrocada napoleônica com a desastrosa campanha da Rússia, que praticamente acabou com o grande exército de aproximadamente 600.000 soldados, o chamado "Exército das 20 nações".
Em Leipzig, na Batalha das Nações, em 1813, seu exército que já estava muito enfraquecido, viu-se com os efetivos ainda mais reduzidos e com a moral mais abalada. Ainda assim Napoleão resistiu mais algum tempo em território francês, tentando impedir a tomada da França pelos aliados, no entanto suas tropas não tinham mais condições para se opor a forças mais poderosas, tendo ele de renunciar em 1814 e em maio do mesmo ano chegava a Elba.
Com a volta de Napoleão à França, o rei Bourbon Luís XVIII fugiu e o corso formou novo governo. Mas os aliados de novo formaram uma coligação (a sétima) contra ele, que para enfrentá-los montou novo exército, sendo que parte dele de veteranos de outras campanhas.
O escritor Bernard Cornwell em sua obra "Waterloo"  sobre a chegada de Napoleão em Paris em 1815 escreveu: " Sua majestade imperial, Napoleão Bonaparte, tinha 46 anos quando entrou no Palácio das Tulherias, em Paris, onde uma multidão entusiasmada aguardava sua chegada. Estava reunida havia horas. O rei, o gordo Luís XVIII, fugira de Paris, indo para Ghent, no Reino dos Países Baixos..."
Segundo o mesmo autor: "Em 1814, o jovem esguio, vistoso, desaparecera, substituído por uma figura barriguda, de cabelos curtos, pele amarelada e mãos e pés muito pequenos. Não era alto, pouco mais de 1,70 metro, no entanto ainda era hipnótico.Este era o homem que se erguera para dominar toda a Europa, um homem que conquistara e perdera um império, que redesenhara os mapas, refizera a Constituição e reescrevera as leis da França..."
E ainda:  "Era um administrador extraordinário, mas não queria ser lembrado assim. Sobretudo era um líder militar. Seu ídolo era Alexandre, o Grande. Em meados do século XIX, na Guerra Civil Americana, Robert Lee, o grande general confederado, viu seus soldados executando uma manobra brilhante e vitoriosa numa batalha e disse, de maneira memorável, "é bom que a guerra seja tão terrível, do contrário passaríamos a gostar muito dela". Napoleão passou a gostar muito, amava a guerra.Talvez fosse seu primeiro amor, porque combinava a excitação do risco com a alegria da vitória. Ele tinha a mente de um grande estrategista, mas quando a marcha terminava e o inimigo se encontrava flanqueado, ainda exigia enormes sacrifícios de seus homens..."
Reunidos em Viena, onde eram discutidas questões europeias desde a derrubada de Napoleão em 1814, o rei da Prússia, o imperador da Áustria e o tsar da Rússia, resolveram declarar guerra a Napoleão. Prússia, Rússia, Inglaterra e Áustria decidiram organizar cada país um exército de 150.000 soldados que deveriam convergir para a França. A Grã-Bretanha impossibilitada de formar um exército tão grande ofereceu ajuda financeira aos outros coligados. O escolhido para comandar um primeiro exército aliado contra Napoleão, na atual Bélgica (naquele tempo fazia parte dos Países Baixos), foi o  duque de Wellington, heroi da campanha inglesa na Espanha contra os franceses.
Napoleão conseguiu reunir na França um exército de 360.000 homens e decidiu partir para atacar os aliados na Bélgica com uma parte desse efetivo, 125.000 soldados experientes, o "Exército do Norte".
Napoleão calculava que demoraria para austríacos e russos chegarem logo até a França. Os primeiros estavam formando seu exército e os outros estavam longe. Mas o exército prussiano e mais um exército anglo-holandês estavam se preparando na  Bélgica. O imperador francês considerava que se conseguisse vencer esses dois exércitos os outros aliados perderiam o ânimo. Se derrotasse Wellington, ele achava que poderia haver uma mudança no governo inglês que poderia deixá-lo continuar governando e a aliança inimiga se desfaria. Era um palpite dele. Ele pensou que se pudesse dividir os dois exércitos ao norte, poderiam ser vencidos e assim a coligação perderia força.
Embora experiente, o exército napoleônico tinha uma fraqueza considerável que era o alto-comando. Dos vinte generais que estavam vivos, ele só poderia contar com dez. Dois dos melhores marechais não participariam do confronto na Bélgica, Davout e Suchet, o primeiro porque ficaria como ministro da guerra em Paris e o outro ficaria defendendo a fronteira leste da França contra um possível ataque austríaco. Um novo marechal foi nomeado, o marquês de Grouchy e havia Ney, o chamado "o mais bravo entre os bravos", que era entusiasmado e esquentado.
Em 15 de junho Napoleão atravessou a fronteira e alguns pequenos enfrentamentos começam entre franceses e prussianos. O líder do exército prussiano era Blucher. Segundo Cornweel: "A campanha de Waterloo é toda baseada em estradas. Estradas e encruzilhadas. Os exércitos precisavam de estradas. A cavalaria e a infantaria avançavam pelo campo sem estradas, embora seu progresso fosse dolorosamente lento, mas os canhões e as carroças precisavam delas..."
E ainda: "Nivelles é a última estrada de ligação que permitirá aos britânicos vir para ajudar os prussianos, então Blucher ordena uma parada ali. Há um problema, porém. O duque de Wellington esperou demais e o Exército britânico-holandês está se concentrando tardiamente. O imperador roubou uma marcha, e a encruzilhada vital de Quatre Bras_o lugar onde esse exército precisa se reunir para ajudar Blucher_está praticamente indefesa. Tome essa encruzilhada e o exército do duque de Wellington não poderá avançar para ajudar os prussianos. E ao amanhecer de 16 de junho o imperador envia o marechal Ney para conquistar Quatre Bras.
Havia uma importância estratégica no  cruzamento de Quatre Bras, pois o grupo que  o controlasse  poderia mover-se até o sudeste ao longo da estrada de Nivelles a Namur até os exércitos francês e prussiano comprometidos na Batalha de Ligny. Se o exército anglo-aliado de Wellington pudesse combinar com o prussiano, suas forças conjuntas seriam maiores que as de Napoleão. Se um ou mais dos corpos de exército de Ney pudessem golpear aos prussianos pelo flanco enquanto Napoleão atacava frontalmente,eles poderiam não só ser derrotados, mas também aniquilados..."

Ao nascer do sol em 16 de junho os aliados poderiam esperar duas batalhas, uma em Ligny e outra em Quatre Bras. Mas Ney não foi totalmente eficaz em Quatre Bras contra os holandeses que faziam a defesa, não conseguindo conquistar de imediato o cruzamento de estradas. Os holandeses então receberam reforços dos britânicos. Se Ney tivesse sido mais ágil ocupando o cruzamento, poderia ir sem muita demora ao encontro de Napoleão. Esse esperava que Ney, sendo bem sucedido, chegaria a tempo de se juntar a ele e esmagar os prussianos em Ligny.

Aliás a importância de Quatre Bras me lembra um pouco a batalha de Bastogne (também na Bélgica), onde um cruzamento de vias também foi importante e defendido com ardor pelos soldados dos Estados Unidos contra os alemães. A resistência em Bastogne foi essencial para uma derrota mais rápida dos nazistas nas Ardenas.

Outro fator que atrapalhou Napoleão foi o desfalque de quase 22.000 soldados do marechal D'Erlon que foram enviadas para reforçar Ney contra os ingleses em Quatre Bras. Mas D'Erlon  estava bloqueado nas estradas por tropas inimigas e teve de contornar para chegar até as tropas de Ney e no caminho foi avisado por mensageiros para voltar a ajudar Napoleão em Ligny. E assim, não pôde ajudar Ney a esmagar a resistência em Quatre Bras e nem a Napoleão para destruir completamente os prussianos em Ligny.

Os resultados dessas batalhas anteriores a Waterloo (o nome da batalha foi dado por Wellington, mas a batalha não foi travada nesta povoação) influenciaram no resultado final. Segundo Cornwell: " Wellington vencera sua batalha, pelo menos em termos de frustrar o objetivo francês. Mantivera a encruzilhada e negara a Ney a chance de virar para o leste e avançar contra os prussianos. Não era uma vitória pequena. Se Ney, ou mesmo D'Erlon, tivesse atacado a direita prussiana, a Batalha de Ligny poderia ter acabado em total debandada do exército de Blucher.  Isto não acontecera. O exército prussiano fora vencido, mas estava intacto e constituía valiosa força combatente..."

A batalha acabou às 21h30 quando já havia anoitecido. O combate custou a Ney 4.000 homens e a Wellington 4.800. Nenhum dos grupos chegou a controlar definitivamente o cruzamento de Quatre Bras e, portanto, não puderam enviar reforços aos exércitos que lutavam em Ligny.

O exército de Blucher seguiu para o norte e o de Wellington se deslocou para se estabelecer na cadeia de elevações de Mont-Saint-Jean.  O marechal Ney poderia ter atrapalhado bastante os anglo-ingleses e lhe infringido baixas, pois enquanto muitos se retiravam de Quatre Bras poderia ter desferido ataques, mas ficou inativo. Se Ney tivesse atacado tropas em retirada, poderia ter causado sérios danos. 

Napoleão para perseguir os prussianos que se retiraram após a batalha de Ligny enviou uma parte de seu exército, com 33.000 homens, sob o comando de Gruchy, para persegui-los e evitar assim uma união entre anglo-holandeses e prussianos. Mas Grouchy falhou e enfrentou uma parcela das tropas prussianas deixadas para enganá-lo, enquanto o grosso das tropas de Blucher puderam participar da batalha final. Também o general francês Lobau fracassou em atacar tropas prussianas em deslocamento. Napoleão durante a batalha ficou esperando em vão o retorno de Grouchy, pois suas tropas poderiam ajudar bastante o exército francês que atacava.

Durante a chamada batalha de Waterloo, Wellington contava com 23 mil ingleses e 44 mil soldados aliados, vindos da Bélgica, dos Países Baixos e de pequenos estados alemães, num total de 67 mil homens apoiados por 160 canhões. Os franceses contavam com 74 mil homens e 250 canhões. Eles efetuaram vários ataques com infantaria e cavalaria, com bravas defesas dos anglo-holandeses. Houve ataques destemidos de soldados franceses que gritavam: "Viva o Imperador". Os canhões de ambos os lados fizeram muitas vítimas.

Havia chovido muito à noite e o terreno estava molhado. Napoleão esperou até às 11:00 do dia 18 de junho para atacar para dar tempo ao terreno de secar. Mas mesmo assim, ainda havia lama e as balas de canhão que eram disparadas e que poderiam quicar produzindo estragos maiores, enterravam na lama. Também o terreno ainda enlameado deixou mais lentos os ataques da infantaria e da cavalaria dos franceses, dando vantagem aos defensores.

Napoleão também tentou inicialmente um ataque de distração a uma posição inglesa fortificada e deslocou milhares de soldados. Mas Wellington não caiu na armadilha e não deixou mais que 1.200 homens no local. Os soldados franceses enviados para lá atacaram enfrentaram fortíssima resistência e desfalcaram o exército que atacava os ingleses em outras partes da linha de frente.

Enfim, quando os prussianos finalmente conseguiram chegar para participar da batalha, os franceses tiveram de tirar uma parte considerável de suas forças para se defenderem deles, o que enfraqueceu seu ataque principal. Assim, Wellington pôde reunir suas tropas e fazer o ataque final após firme defesa pela sua infantaria contra os últimos ataques franceses. A batalha estava perdida para Napoleão, que voltou para a França e teve de renunciar. Seu destino seria a ilha de Santa Helena. A seguir um trecho de Cornwell sobre o fim da batalha:


 "O general Pierre Cambronne comandava uma brigada da Guarda e estava em um dos quadrados. Sua posição era desesperançada. As infantarias britânica e hanoveriana (havia batalhões alemães lutando com os ingleses) o haviam alcançado e oficiais pediam à Guarda para se render. E assim nasceu uma das lendas mais duradouras de Waterloo, a de que Cambronne respondeu "A Guarda morre, mas não se rende!" Foram boas palavras, e quase certamente inventadas por um jornalista francês alguns anos depois da batalha. Na outra versão, Cambronne grita uma única palavra: "Merde!" As duas respostas ficaram famosas, ambas excelentes reações diante da derrota inevitável. O próprio Cambronne alegou ter dito: "Camaradas como nós não se rendem", mas ele se rendeu. Foi derrubado do cavalo com uma bala de mosquete que esfolou sua cabeça e o deixou inconsciente..."

Dizem alguns estudiosos que a saúde de Napoleão estava tão afetada ( inclusive ele sofria de hemorroidas), que isso o perturbava em suas decisões. Não se pode dizer com certeza se isso realmente influenciou, mas de fato Napoleão já era um homem mais esgotado e não tinha mais a energia e a rapidez de raciocínio de antes. 
Dessa forma, enquanto Wellington se movia constantemente durante a batalha, incentivando seus soldados, Napoleão se movimentava bem menos, mais observando e despachando os batalhões para a frente, enquanto Ney é que liderava no campo de batalha. Também custou a enviar à batalha a sua Guarda Imperial, corpo de elite, que talvez pudesse ter influenciado mais se fosse enviada mais rapidamente. Outro fator importante foram os erros de seus altos oficiais comandantes desde o início da campanha.

No total de perdas, os franceses, entre mortos e feridos, perderam mais de 30.000 soldados, os prussianos 7.000 na frente de Plancenoit e os britânico-holandeses cerca de 14.000.
Se Napoleão tivesse ganho poderia ter ficado muito mais tempo no poder? Possivelmente não. As outras nações inimigas dificilmente se acomodariam. Os impérios austríaco e russo poderiam ter atacado uma França já enfraquecida após anos de guerras. Seria mais um banho de sangue e mais sacrifícios para a população francesa. A genialidade de Napoleão na guerra já não era mais a mesma e nem existiam mais tantos bons generais franceses.  Portanto, creio que pode-se se dizer que Waterloo precisava ser ganha pelos aliados para encerrar de vez a Era Napoleônica e as guerras que afligiam a Europa entre Napoleão e os seus inimigos. Napoleão era considerado um usurpador pelas potências europeias, um "fora da lei".


O Duque de Wellington disse em uma carta a uma amiga sobre Waterloo:

"Enquanto estou no meio  daquilo fico atarefado demais para sentir qualquer coisa; mas logo depois a sensação é deplorável. É praticamente impossível pensar em glória. A mente e os sentimentos ficam exauridos. Fico desconfortável até mesmo no momento da vitória, e sempre digo que, depois de uma batalha perdida, o maior sofrimento é uma batalha vencida. Não apenas você perde amigos queridos com os quais convivia como é obrigado a deixar para trás. É certo que que se tenta fazer o melhor por eles, mas como isso é pouco! Nesses momentos, qualquer sentimento em seu íntimo fica amortecido. Só agora estou começando a retomar meu estado de ânimo natural, mas não desejo mais combate algum".


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: Imagem do Google

sábado, 10 de junho de 2017

A Batalha do Riachuelo








No dia 11 de junho de 1865 houve uma batalha naval muito importante na chamada Guerra do Paraguai, a Batalha do Riachuelo. O confronto aconteceu às margens do Riachuelo, um afluente do rio Paraguai, em Corrientes, província da Argentina.

O acesso aos rios na região da Bacia do Prata era estratégico, considerando que não havia estradas por ali naquela época. O Paraguai queria um acesso direto ao mar passando pela bacia. 

A guerra tinha começado em 1864 e paraguaios já ocupavam terras no Mato Grosso (hoje em dia seriam no Mato Grosso do Sul) e no início de 1865 haviam invadido a província argentina de Corrientes e a intenção de Solano Lopez, presidente paraguaio, caso vencesse em Riachuelo, era de descer pelos rios, conquistar Montevidéu, capital do Uruguai e controlar terras do Rio Grande do Sul. Os navios brasileiros em Corrientes colocavam em risco o flanco dos invasores paraguaios e Lopez planejou então a ação que levaria à Batalha do Riachuelo, querendo assim destruir a esquadra brasileira na área.

A Força Naval Brasileira contava com nove navios e 2.287 homens, comandados pelo Almirante Francisco Manuel Barroso, português de nascimento.  O Paraguai tinha oito navios armados, com cerca de 1200 homens, sob o comando do Comodoro Meza. Além disso, contava com chatas artilhadas e baterias de canhões nas margens do rio. 

De início, a frota brasileira passava por sérias dificuldades, porém uma manobra ousada de Barroso, atingiu gravemente quatro barcos paraguaios, pois o almirante deu ordem para o navio em que estava, a fragata Amazonas, atingir com sua ponta de aço na proa os navios paraguaios.

Pelo Brasil, morreram 104 pessoas, outros 142 foram feridos, além de 20 desaparecidos e um navio afundado. Do lado paraguaio, foram 351 mortos e 567 feridos e 4 navios afundados. Não haveria a partir de então, mais resistência da marinha paraguaia.  A conquista foi muito importante para a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), que passou a controlar os rios da Bacia do Prata até os limites com o Paraguai. O dia da vitória em Riachuelo é chamado de "Dia da Marinha Brasileira".

Segundo o historiador Francisco Doratioto em seu livro Maldita Guerra (uma obra bem interessante sobre a Guerra do Paraguai):

..."O resultado da batalha do Riachuelo não teve caráter decisivo, pois as forças inimigas sobre o rio Paraguai impediram o domínio dessa via fluvial pela esquadra brasileira, situação que perdurou até 1868. A vitória brasileira permitiu, porém, bloquear o contato marítimo do Paraguai com outros países, que inviabilizou a obtenção de armamentos e mercadorias pelo Prata, e, ainda, pôs fim ao avanço da coluna invasora de Corrientes..."

Frases famosas ligadas à batalha: 

"Ide e trazei-me os navios brasileiros!" (Solano Lopez)
"O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever" (Barroso)
"Sustentar o fogo que a vitória é nossa!" (Barroso)
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: Google.