No
domingo de 18 de junho de 1815 aconteceu a batalha de Waterloo. Foi a última
batalha de Napoleão Bonaparte e que decidiu o fim de seu império. Era o fim de
seu governo de 100 dias após a fuga de Elba, onde tinha sido encaminhado para
reinar sobre uma pequena ilha. Em 22 de
junho ele abdicou do trono. Foi mandado pelos ingleses para Santa Helena, onde
morreu em 1821.
Napoleão
foi um general, corso de nascimento, que se destacou no governo do Diretório,
na Revolução Francesa. No fim de 1799 após dar um golpe de Estado tornou-se
primeiro consul e em dezembro de 1804 foi coroado imperador da França. Até 1812 já tinha
conseguido vencer batalhas importantes
contra os países inimigos de seu império como a Áustria, Prússia e Rússia. Austerlitz
foi uma batalha de grande glória para Napoleão, quando os exércitos russo e
austríaco foram derrotados. Mas sua
marinha unida à da Espanha sofreu grande derrota em Trafalgar e em 1812 deu-se o
início da derrocada napoleônica com a desastrosa campanha da Rússia, que
praticamente acabou com o grande exército de aproximadamente 600.000 soldados,
o chamado "Exército das 20 nações".
Em Leipzig,
na Batalha das Nações, em 1813, seu exército que já estava muito enfraquecido,
viu-se com os efetivos ainda mais reduzidos e com a moral mais abalada. Ainda
assim Napoleão resistiu mais algum tempo em território francês, tentando
impedir a tomada da França pelos aliados, no entanto suas tropas não tinham
mais condições para se opor a forças mais poderosas, tendo ele de renunciar em
1814 e em maio do mesmo ano chegava a Elba.
Com a
volta de Napoleão à França, o rei Bourbon Luís XVIII fugiu e o corso formou
novo governo. Mas os aliados de novo formaram uma coligação (a sétima) contra
ele, que para enfrentá-los montou novo exército, sendo que parte dele de
veteranos de outras campanhas.
O
escritor Bernard Cornwell em sua obra "Waterloo" sobre a chegada de Napoleão em Paris em 1815 escreveu:
" Sua majestade imperial, Napoleão Bonaparte, tinha 46 anos quando entrou
no Palácio das Tulherias, em Paris, onde uma multidão entusiasmada aguardava
sua chegada. Estava reunida havia horas. O rei, o gordo Luís XVIII, fugira de
Paris, indo para Ghent, no Reino dos Países Baixos..."
Segundo o
mesmo autor: "Em 1814, o jovem esguio, vistoso, desaparecera, substituído
por uma figura barriguda, de cabelos curtos, pele amarelada e mãos e pés muito
pequenos. Não era alto, pouco mais de 1,70 metro, no entanto ainda era
hipnótico.Este era o homem que se erguera para dominar toda a Europa, um homem
que conquistara e perdera um império, que redesenhara os mapas, refizera a
Constituição e reescrevera as leis da França..."
E ainda: "Era um administrador extraordinário,
mas não queria ser lembrado assim. Sobretudo era um líder militar. Seu ídolo
era Alexandre, o Grande. Em meados do século XIX, na Guerra Civil Americana,
Robert Lee, o grande general confederado, viu seus soldados executando uma
manobra brilhante e vitoriosa numa batalha e disse, de maneira memorável,
"é bom que a guerra seja tão terrível, do contrário passaríamos a gostar
muito dela". Napoleão passou a gostar muito, amava a guerra.Talvez fosse
seu primeiro amor, porque combinava a excitação do risco com a alegria da
vitória. Ele tinha a mente de um grande estrategista, mas quando a marcha
terminava e o inimigo se encontrava flanqueado, ainda exigia enormes
sacrifícios de seus homens..."
Reunidos
em Viena, onde eram discutidas questões europeias desde a derrubada de Napoleão
em 1814, o rei da Prússia, o imperador da Áustria e o tsar da Rússia, resolveram
declarar guerra a Napoleão. Prússia, Rússia, Inglaterra e Áustria decidiram
organizar cada país um exército de 150.000 soldados que deveriam convergir para
a França. A Grã-Bretanha impossibilitada de formar um exército tão grande
ofereceu ajuda financeira aos outros coligados. O escolhido para comandar um primeiro
exército aliado contra Napoleão, na atual Bélgica (naquele tempo fazia parte
dos Países Baixos), foi o duque de Wellington,
heroi da campanha inglesa na Espanha contra os franceses.
Napoleão
conseguiu reunir na França um exército de 360.000 homens e decidiu partir para
atacar os aliados na Bélgica com uma parte desse efetivo, 125.000 soldados
experientes, o "Exército do Norte".
Napoleão
calculava que demoraria para austríacos e russos chegarem logo até a França. Os
primeiros estavam formando seu exército e os outros estavam longe. Mas o
exército prussiano e mais um exército anglo-holandês estavam se preparando na Bélgica. O imperador francês considerava que
se conseguisse vencer esses dois exércitos os outros aliados perderiam o ânimo.
Se derrotasse Wellington, ele achava que poderia haver uma mudança no governo
inglês que poderia deixá-lo continuar governando e a aliança inimiga se desfaria.
Era um palpite dele. Ele pensou que se pudesse dividir os dois exércitos ao
norte, poderiam ser vencidos e assim a coligação perderia força.
Embora
experiente, o exército napoleônico tinha uma fraqueza considerável que era o
alto-comando. Dos vinte generais que estavam vivos, ele só poderia contar com
dez. Dois dos melhores marechais não participariam do confronto na Bélgica,
Davout e Suchet, o primeiro porque ficaria como ministro da guerra em Paris e o
outro ficaria defendendo a fronteira leste da França contra um possível ataque
austríaco. Um novo marechal foi nomeado, o marquês de Grouchy e havia Ney, o
chamado "o mais bravo entre os bravos", que era entusiasmado e
esquentado.
Em 15 de
junho Napoleão atravessou a fronteira e alguns pequenos enfrentamentos começam
entre franceses e prussianos. O líder do exército prussiano era Blucher. Segundo
Cornweel: "A campanha de Waterloo é toda baseada em estradas. Estradas e
encruzilhadas. Os exércitos precisavam de estradas. A cavalaria e a infantaria
avançavam pelo campo sem estradas, embora seu progresso fosse dolorosamente
lento, mas os canhões e as carroças precisavam delas..."
E ainda:
"Nivelles é a última estrada de ligação que permitirá aos britânicos vir
para ajudar os prussianos, então Blucher ordena uma parada ali. Há um problema,
porém. O duque de Wellington esperou demais e o Exército britânico-holandês
está se concentrando tardiamente. O imperador roubou uma marcha, e a
encruzilhada vital de Quatre Bras_o lugar onde esse exército precisa se reunir
para ajudar Blucher_está praticamente indefesa. Tome essa encruzilhada e o
exército do duque de Wellington não poderá avançar para ajudar os prussianos. E
ao amanhecer de 16 de junho o imperador envia o marechal Ney para conquistar
Quatre Bras.
Havia uma
importância estratégica no cruzamento de
Quatre Bras, pois o grupo que o controlasse
poderia mover-se até o sudeste ao longo da
estrada de Nivelles a Namur até os exércitos francês e prussiano comprometidos
na Batalha de Ligny. Se o exército anglo-aliado de Wellington pudesse combinar
com o prussiano, suas forças conjuntas seriam maiores que as de Napoleão. Se um
ou mais dos corpos de exército de Ney pudessem golpear aos prussianos pelo flanco enquanto Napoleão atacava frontalmente,eles poderiam
não só ser derrotados, mas também aniquilados..."
Ao nascer
do sol em 16 de junho os aliados poderiam esperar duas batalhas, uma em Ligny e
outra em Quatre Bras. Mas Ney não foi totalmente eficaz em Quatre Bras contra
os holandeses que faziam a defesa, não conseguindo conquistar de imediato o
cruzamento de estradas. Os holandeses então receberam reforços dos britânicos. Se
Ney tivesse sido mais ágil ocupando o cruzamento, poderia ir sem muita demora ao
encontro de Napoleão. Esse esperava que Ney, sendo bem sucedido, chegaria a
tempo de se juntar a ele e esmagar os prussianos em Ligny.
Aliás a
importância de Quatre Bras me lembra um pouco a batalha de Bastogne (também na Bélgica), onde um
cruzamento de vias também foi importante e defendido com ardor pelos soldados
dos Estados Unidos contra os alemães. A resistência em Bastogne foi essencial
para uma derrota mais rápida dos nazistas nas Ardenas.
Outro
fator que atrapalhou Napoleão foi o desfalque de quase 22.000 soldados do marechal
D'Erlon que foram enviadas para reforçar Ney contra os ingleses em Quatre Bras.
Mas D'Erlon estava bloqueado nas
estradas por tropas inimigas e teve de contornar para chegar até as tropas de
Ney e no caminho foi avisado por mensageiros para voltar a ajudar Napoleão em
Ligny. E assim, não pôde ajudar Ney a esmagar a resistência em Quatre Bras e
nem a Napoleão para destruir completamente os prussianos em Ligny.
Os
resultados dessas batalhas anteriores a Waterloo (o nome da batalha foi dado
por Wellington, mas a batalha não foi travada nesta povoação) influenciaram no
resultado final. Segundo Cornwell: " Wellington vencera sua batalha, pelo
menos em termos de frustrar o objetivo francês. Mantivera a encruzilhada e
negara a Ney a chance de virar para o leste e avançar contra os prussianos. Não
era uma vitória pequena. Se Ney, ou mesmo D'Erlon, tivesse atacado a direita
prussiana, a Batalha de Ligny poderia ter acabado em total debandada do
exército de Blucher. Isto não
acontecera. O exército prussiano fora vencido, mas estava intacto e constituía
valiosa força combatente..."
A batalha
acabou às 21h30 quando já havia anoitecido. O combate custou a Ney 4.000 homens
e a Wellington 4.800. Nenhum dos grupos chegou a controlar definitivamente o
cruzamento de Quatre Bras e, portanto, não puderam enviar reforços aos
exércitos que lutavam em Ligny.
O
exército de Blucher seguiu para o norte e o de Wellington se deslocou para se
estabelecer na cadeia de elevações de Mont-Saint-Jean. O marechal Ney poderia ter atrapalhado
bastante os anglo-ingleses e lhe infringido baixas, pois enquanto muitos se retiravam
de Quatre Bras poderia ter desferido ataques, mas ficou inativo. Se Ney tivesse
atacado tropas em retirada, poderia ter causado sérios danos.
Napoleão
para perseguir os prussianos que se retiraram após a batalha de Ligny enviou
uma parte de seu exército, com 33.000 homens, sob o comando de Gruchy, para persegui-los
e evitar assim uma união entre anglo-holandeses e prussianos. Mas Grouchy
falhou e enfrentou uma parcela das tropas prussianas deixadas para enganá-lo,
enquanto o grosso das tropas de Blucher puderam participar da batalha final. Também
o general francês Lobau fracassou em atacar tropas prussianas em deslocamento. Napoleão durante a batalha ficou esperando em vão o retorno de Grouchy, pois suas tropas poderiam ajudar bastante o exército francês que atacava.
Durante a
chamada batalha de Waterloo, Wellington contava com 23 mil ingleses e 44 mil
soldados aliados, vindos da Bélgica, dos Países Baixos e de pequenos estados
alemães, num total de 67 mil homens apoiados por 160 canhões. Os
franceses contavam com 74 mil homens e 250 canhões. Eles efetuaram vários
ataques com infantaria e cavalaria, com bravas defesas dos anglo-holandeses. Houve
ataques destemidos de soldados franceses que gritavam: "Viva o
Imperador". Os canhões de ambos os lados fizeram muitas vítimas.
Havia
chovido muito à noite e o terreno estava molhado. Napoleão esperou até às 11:00
do dia 18 de junho para atacar para dar tempo ao terreno de secar. Mas mesmo
assim, ainda havia lama e as balas de canhão que eram disparadas e que poderiam
quicar produzindo estragos maiores, enterravam na lama. Também o terreno ainda
enlameado deixou mais lentos os ataques da infantaria e da cavalaria dos franceses, dando vantagem aos defensores.
Napoleão
também tentou inicialmente um ataque de distração a uma posição inglesa fortificada
e deslocou milhares de soldados. Mas Wellington não caiu na armadilha e não
deixou mais que 1.200 homens no local. Os soldados franceses enviados para lá atacaram
enfrentaram fortíssima resistência e desfalcaram o exército que atacava os
ingleses em outras partes da linha de frente.
Enfim,
quando os prussianos finalmente conseguiram chegar para participar da batalha, os franceses tiveram de tirar uma parte considerável de suas forças para
se defenderem deles, o que enfraqueceu seu ataque principal. Assim, Wellington pôde reunir suas
tropas e fazer o ataque final após firme defesa pela sua infantaria contra os
últimos ataques franceses. A batalha estava perdida para Napoleão, que voltou
para a França e teve de renunciar. Seu destino seria a
ilha de Santa Helena. A seguir um trecho de Cornwell sobre o fim da batalha:
"O general Pierre Cambronne comandava uma brigada da Guarda e estava em um dos quadrados. Sua posição era desesperançada. As infantarias britânica e hanoveriana (havia batalhões alemães lutando com os ingleses) o haviam alcançado e oficiais pediam à Guarda para se render. E assim nasceu uma das lendas mais duradouras de Waterloo, a de que Cambronne respondeu "A Guarda morre, mas não se rende!" Foram boas palavras, e quase certamente inventadas por um jornalista francês alguns anos depois da batalha. Na outra versão, Cambronne grita uma única palavra: "Merde!" As duas respostas ficaram famosas, ambas excelentes reações diante da derrota inevitável. O próprio Cambronne alegou ter dito: "Camaradas como nós não se rendem", mas ele se rendeu. Foi derrubado do cavalo com uma bala de mosquete que esfolou sua cabeça e o deixou inconsciente..."
"O general Pierre Cambronne comandava uma brigada da Guarda e estava em um dos quadrados. Sua posição era desesperançada. As infantarias britânica e hanoveriana (havia batalhões alemães lutando com os ingleses) o haviam alcançado e oficiais pediam à Guarda para se render. E assim nasceu uma das lendas mais duradouras de Waterloo, a de que Cambronne respondeu "A Guarda morre, mas não se rende!" Foram boas palavras, e quase certamente inventadas por um jornalista francês alguns anos depois da batalha. Na outra versão, Cambronne grita uma única palavra: "Merde!" As duas respostas ficaram famosas, ambas excelentes reações diante da derrota inevitável. O próprio Cambronne alegou ter dito: "Camaradas como nós não se rendem", mas ele se rendeu. Foi derrubado do cavalo com uma bala de mosquete que esfolou sua cabeça e o deixou inconsciente..."
Dizem alguns estudiosos que
a saúde de Napoleão estava tão afetada ( inclusive ele sofria de
hemorroidas), que isso o perturbava em suas decisões. Não se pode dizer com certeza
se isso realmente influenciou, mas de fato Napoleão já era um homem mais
esgotado e não tinha mais a energia e a rapidez de raciocínio de antes.
Dessa forma, enquanto
Wellington se movia constantemente durante a batalha, incentivando seus
soldados, Napoleão se movimentava bem menos, mais observando e despachando os batalhões para a frente,
enquanto Ney é que liderava no campo de batalha. Também custou a enviar à batalha a sua
Guarda Imperial, corpo de elite, que talvez pudesse ter influenciado mais se
fosse enviada mais rapidamente. Outro fator importante foram os erros de seus altos
oficiais comandantes desde o início da campanha.
No total de perdas, os franceses, entre mortos e feridos, perderam mais de 30.000 soldados, os prussianos 7.000 na frente de Plancenoit e os britânico-holandeses cerca de 14.000.
No total de perdas, os franceses, entre mortos e feridos, perderam mais de 30.000 soldados, os prussianos 7.000 na frente de Plancenoit e os britânico-holandeses cerca de 14.000.
Se
Napoleão tivesse ganho poderia ter ficado muito mais tempo no poder?
Possivelmente não. As outras nações inimigas dificilmente se acomodariam. Os
impérios austríaco e russo poderiam ter atacado uma França já enfraquecida após
anos de guerras. Seria mais um banho de sangue e mais sacrifícios para a
população francesa. A genialidade de Napoleão na guerra já não era mais a mesma
e nem existiam mais tantos bons generais franceses. Portanto, creio
que pode-se se dizer que Waterloo precisava ser ganha pelos aliados para
encerrar de vez a Era Napoleônica e as guerras que afligiam a Europa entre
Napoleão e os seus inimigos. Napoleão era considerado um usurpador pelas potências europeias, um "fora da lei".
O Duque de Wellington disse em uma carta a uma
amiga sobre Waterloo:
"Enquanto estou no meio
daquilo fico atarefado demais para sentir qualquer coisa; mas logo depois a
sensação é deplorável. É praticamente impossível pensar em glória. A mente e os
sentimentos ficam exauridos. Fico desconfortável até mesmo no momento da vitória,
e sempre digo que, depois de uma batalha perdida, o maior sofrimento é uma
batalha vencida. Não apenas você perde amigos queridos com os quais convivia
como é obrigado a deixar para trás. É certo que que se tenta fazer o melhor por
eles, mas como isso é pouco! Nesses momentos, qualquer sentimento em seu íntimo
fica amortecido. Só agora estou começando a retomar meu estado de ânimo
natural, mas não desejo mais combate algum".
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura: Imagem do Google
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