Em 14 de maio de 1948 foi criado oficialmente o
Estado de Israel. O processo de formação das comunidades judaicas na região da
Palestina está ligado às última décadas do século XIX, quando foi criado, por
intelectuais judeus no início da década de 1890, o movimento sionista. Tal movimento tinha por objetivo principal o
combate ao antissemitismo, que continuava existindo na Europa após séculos,
desde a Idade Média e que era intenso no século XIX.
Um dos maiores líderes do movimento sionista ou
Sionismo, foi Theodor Herzl (1860-1904). Os líderes desse
movimento defendiam a volta dos judeus à Palestina, para que formassem um
Estado moderno.
Assim, várias comunidades de judeus que estavam
espalhadas pelo mundo passaram a se reunir em torno de um fundo financeiro para
custear a compra de terras na região da Palestina, que na época era território
do Império Otomano. Na virada do século XIX para o século XX, começou
a migração de judeus para a região.
Em 1917, enquanto acontecia a Primeira Guerra
Mundial (1914–1918), Arthur Balfour,
que era um influente líder político britânico, enviou uma declaração ao lorde Rothschild, um banqueiro judeu e
financiador de projetos judaicos na Palestina. Essa declaração foi chamada “Declaração
de Balfour" e apoiava a criação, na
Palestina, de um lar para os judeus. Esse plano também defendia o reconhecimento dos direitos
civis e religiosos dos povos islâmicos, ao mesmo tempo em que estava disposto a
ajudar árabes em outras regiões. Havia a
intenção de criar uma província chamada Transjordânia para os palestinos. Mas foi um erro crer que os árabes aceitariam
passivamente que os judeus se instalassem na região.
Com o fim da I Guerra Mundial (1914-1918), houve
uma mudança política na Palestina com o término do Império Otomano. Coube a um
dos países vencedores da guerra, a Grã-Bretanha, administrar a região após a
guerra.
Os britânicos criaram, em 1920, o Mandato
Britânico da Palestina, uma forma de administração de todo o território
palestino. Tal mandato só findou em 1948. No período do Mandato houve conflitos
no mundo, com o surgimento de extremismos nacionalistas, sendo criados partidos
fascistas em países europeus e o partido nazista na Alemanha, sendo que esse
pregava contra os judeus. As perseguições aos judeus na Europa nos anos 30 e 40
provocaram uma migração massiva de judeus para a Palestina. Também surgem na
região movimento radicais nacionalistas de judeus e também de muçulmanos.
Em 1922, havia 84 mil judeus e 590 mil árabes e uma
década depois a população judaica era já de aproximadamente 180 mil. Os
muçulmanos da Palestina começaram cada vez a questionar a presença cada vez
maior dos judeus e os conflitos começaram entre muçulmanos e judeus, que
formaram uma milícia chamada Haganah. Na época destacou-se o
líder sionista David Ben-Gurion, que procurava seguir as orientações do Mandato
Britânico e acreditava ser possível haver uma divisão da região entre
palestinos e judeus. Mas uma seção do movimento sionista era extremista,
liderada por Zeev Jabotinsky e, depois, Menachem Begin,
que queria subverter o Mandato Britânico, tendo a intenção de aumentar
o território judaico, ocupando todo o
território palestino, incluindo a região onde se encontra hoje o reino da Jordânia.
Concomitante ao surgimento dessas correntes do
movimento sionista, a Segunda Guerra Mundial acabava e era revelado ao mundo o
sofrimento dos judeus durante o Holocausto, perpetrado pelo nazismo. A questão
da formação do Estado de Israel passou a ser mais discutida e a radicalização
dos grupos nacionalistas dos judeus e dos palestinos aumentou. Na época, o
Congresso Sionista Mundial solicitou que um milhão de judeus fossem acolhidos
na Palestina.
Além dos grupos palestinos contrários à criação de
Israel, havia países árabes como o Egito e a Síria, que também se posicionavam
contra. Nesse clima, houve um sério atentado à bomba por terroristas judeus que
matou o ministro britânico para assuntos no Oriente Médio, Lord Moyne.
Com o aumento da tensão, a Inglaterra transferiu
a responsabilidade de resolver o problema para a ONU. Este órgão internacional
criou, em maio de 1947, o Comitê Especial para Palestina
(UNSCOP) a fim de tratar da decisão pela partilha territorial. Esse comitê aconselhou a criação de dois estados
independentes, um judeu e outro palestino. O relatório elaborado também estabeleceu que os lugares sagrados aos
dois povos deveriam ser permanecer neutros, sob a tutela permanente das Nações
Unidas.
A Assembleia Geral da ONU elegeu o diplomata brasileiro
Oswaldo Aranha para encaminhar a
questão. Ele era a favor da criação do Estado de Israel. Depois de um tempo de discussões a partilha da Palestina
foi decidida. Os países árabes eram contra. Em reação à decisão da ONU, no fim de 1947 a Liga
Árabe fez ataques a comunidades judaicas.
O líder judeu Ben-Gurion, sem radicalismo, comandou
o processo de formação do novo país e assinou a declaração de Independência de
Israel e foi eleito o primeiro-ministro da república parlamentarista de Israel.
Os países islâmicos, em
solidariedade aos palestinos, não concordaram com a decisão da criação de
Israel considerada autoritária e sem legitimidade. Os árabes diziam ser injusta
a forma de divisão do território palestino imposta (aproximadamente 55% judeu e 45% palestino). Os judeus
justificavam afirmando que seus ancestrais tinha sido donos da Palestina antes
de serem expulsos durante a dominação do Império Romano na chamada diáspora dos
judeus.
Antes mesmo da oficialização da criação do Estado de
Israel houve, em abril de 1948, um fato que acirrou os ânimos entre judeus e
islâmicos. Os habitantes árabes da aldeia de Deir Yassin( na parte ocidental de Jerusalém) foi atacada por um grupo radical de judeus que
teria causado a morte de aproximadamente 200 pessoas (a aldeia tinha uma
população estimada em 400 habitantes). A crueldade causou uma imensa indignação nas nações
muçulmanas.
Foi no mês
seguinte ao massacre, em 14 de maio, que surgiu a República de Israel. As
tropas britânicas se retiraram por ocasião do fim do seu mandato e logo no dia
seguinte se iniciou a primeira de várias guerras da região. Egípcios, sírios,
libaneses e jordanianos atacaram o novo Estado. Embora inferiores em número, os judeus
venceram, no ano seguinte, conquistando mais território para Israel, o que
forçou mais palestinos árabes a fugirem, aumentando o número deles que se
abrigaram em países árabes. Por outro lado, desde a criação de Israel, milhares
de judeus foram migrando para Israel, vindos de diversos lugares do mundo. No
conflito de 1948-1949 foram desalojados ou expulsos mais de 700 mil árabes
palestinos. Era a diáspora palestina.
Israel tem contado durante décadas, com o apoio de
governos dos Estados Unidos, tendo conseguido mais terras em confrontos com
países árabes. Na chamada Guerra dos Seis Dias, Israel ganhou territórios da
Síria, Jordânia e Egito.
A questão que envolve israelenses e palestinos de
origem árabe não foi ainda resolvida. No histórico dos conflitos há episódios
terríveis como o assassinato de atletas judeus na Olimpíada de Munique (1972).
Por outro lado, durante a invasão israelense do Líbano, nos anos 80, os
israelenses possibilitaram o massacre de milhares de palestinos por milícias
libanesas que eram suas aliadas no chamado massacre do campo de refugiados de
Sabra e Chatila. Houve uma iniciativa de paz em 1993, com o líder
palestino Arafat e o primeiro-ministro israelense Ytzhak Rabin, que assinaram um
acordo com a presença do presidente dos Estados Unidos. Mas em novembro de 1995 um jovem radical israelense assassinou
Rabin. Conflitos sangrentos tem acontecido até os dias de hoje e o líder
israelense que agora governa não é dos tipos mais pacíficos. Nos últimos anos tem
sido dado passos importantes na comunidade internacional no reconhecimento de
uma pátria palestina.
Atualmente, a decisão do presidente Donald Trump,
dos Estados Unidos, de mudar a embaixada desse país para Jerusalém (cidade sagrada para ambos os povos) só faz aumentar a tensão
entre as partes. E a semana do aniversário da criação de Israel pode se tornar
muito tormentosa, com embates entre palestinos e israelenses. Os palestinos, ao contrário dos israelenses, não tem boa lembrança da data da criação de Israel, tida por eles, palestinos, como a lembrança amarga de uma tragédia. A paz precisa
acontecer. Mas ela ainda não parece estar próxima.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
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