Quero homenagear
aqui uma grande cantora da música brasileira, Nara Leão. Ela nasceu
em 19 de janeiro de 1942 na cidade de Vitória no Espírito Santo e era filha de
Jairo Leão, um advogado descendente de portugueses dos Açores e de Altina
Lofego, uma professora descendente de italianos
da região de Basilicata. Nara
mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha um ano com sua irmã mais velha Danuza
Leão e seus pais.
Na
infância era muito tímida e começou a ter aulas de violão aos 12 anos. Aos 14
anos foi estudar violão na academia de Carlos Lyra e Roberto Menescal, em
Copacabana. Aos 18 anos (1960), já era
professora na academia.
Nara fazia reuniões no apartamento de seus pais (na
Avenida Atlântica, em Copacabana) e aí, em 1957, nasceu a Bossa Nova. Nessas
reuniões participavam pessoas destacadas e ligadas ao gênero, como Roberto Menescal,
Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli.
Começou a participar de shows em universidades e
boates. Ficou tão ansiosa em um de seus primeiros shows, que se apresentou de
costas para o público.
Houve a reaproximação de Carlos Lyra e inicia-se assim seu interesse
pelo samba de morro, influenciada por Lyra.
Em 1963 participou ao lado de Vinicius de Moraes e
Carlos Lyra na comédia Pobre Menina Rica.
O cronista Sérgio Porto atribuiu a ela o título de musa da Bossa Nova. Sua consagração acontece com a apresentação do
espetáculo Opinião, que fazia
críticas à repressão dos militares que tinham dado um golpe em 1964. Teve de
se afastar por problemas na voz e Maria Bethania a substituiu no teatro.
Nara vai se engajando mais em atividades políticas
e passa a ser cantora de canções de protesto nos anos 60, simpatizando com
ações dos Centros Populares de Cultura da UNE, que foram extintos pelo regime
militar. Nessa época, em 1964, grava seu primeiro disco, com seus primeiros
sucessos nacionais, entre eles o samba Diz
que fui por aí, composto por Zé Keti e Hortêncio Rocha. O lançamento desse disco surpreendeu por causa
do resgate de músicas de sambistas como Cartola e Nelson Cavaquinho. Passou a
se apresentar na televisão e em boates do Rio de Janeiro como cantora solo. De
início foi criticada quando rompeu com a Bossa Nova, mas depois, devido ao seu
talento, passou a ser bem aceita pelo público.
Ela interpretou
A Banda, de Chico Buarque, em
1966, no Festival de Música Popular Brasileira. A música foi a vencedora no
Festival.
Nara
Leão também interessou-se pelo movimento Tropicalista e participou do
disco-manifesto Tropicália ou Panis et
Circensis, de 1968.
Namorou com Roberto Menescal de 1957
a 1958, amigo dos tempos de escola. Teve seu primeiro emprego como secretária
de redação do "Tabloide UH", no jornal Última Hora, que era
propriedade de Samuel Weiner, que era casado com a irmã de Nara. Depois de
meses Nara chegou a ser repórter do tabloide. Como funcionária do jornal conheceu
o redator Ronaldo Bôscoli, que era envolvido com música e os dois começaram a
namorar. Foi nesse período que Nara começou a despontar como cantora. E em 1960
Nara terminou o namoro com Bôscoli porque ele se envolveu com a cantora Maysa.
Nesse mesmo ano conheceu o cineasta moçambicano Ruy Guerra e com ele namorou,
tendo eles se casado em 1962.
Em 1965, ano em que já estava bem conhecida por sua
bela voz e por suas opiniões críticas sobre questões sociais e políticas, ela
se divorcia de Ruy Guerra. Tira férias e passa a viajar, indo para Nova York e
países europeus. Nessa ocasião fez terapia e cursos direcionados à música e
teatro. Gravou na época discos, fez shows e foi apresentadora de programas de
tv.
Começou a namorar o cineasta Cacá Diegues no fim de
1966. Em 1967 casou-se com com ele. No final desse ano foi a Paris cantar e
quando voltou ao Rio fez curso de teatro e participa como atriz no cinema. Em
1968 apresentou musicais em teatro de Ipanema, envolve-se mais na política,
inclusive em protestos contra a ditadura.
Ela e
Caetano Veloso participam em 1969 do filme dirigido pelo marido de Nara, Os Herdeiros. Sentindo-se ameaçada pelo
regime militar, diminuiu seus shows e vai para Portugal cantar. Mas incomodada
com a insistência de fãs, passou a se sentir cansada. Ainda em 1969 dá
entrevistas em Londres afirmando que iria terminar sua carreira de cantora. Ao
voltar ao Brasil teme ser presa e vai morar com o marido em Paris. Decidindo
voltar a cantar, faz shows pela Europa em 1970. E em 28 de setembro de 1970
nasce a primeira filha de Nara com Cacá. Em 17 de janeiro de 1972, já morando
de novo no Rio de Janeiro, nasce o filho Francisco. No mesmo ano fez um dos
papeis principais em um filme de Cacá
Diegues, Quando o Carnaval Chegar.
Mas com o nascimento do filho, reduz suas atividades como cantora.
Participou de mais alguns filmes em 1973, fazendo
também pequenos shows. Volta então a estudar e termina o Ensino Médio. Gravas
discos e participa em festivais em 1974.
Passou no vestibular nesse ano em Psicologia. Mas não concluiu o curso.
Em 1975
lançou um disco e ganhou o troféu de Melhor Cantora do Ano. E em 1977 lançou
novos discos, participando de espetáculos pelo Brasil, apresentando-se em
rádios e Tv, inclusive fora do Brasil. Também nessa época escreve e compõe
melodias. Nesse ano divorcia-se de Cacá Diegues. Tendo passado a morar sozinha
com os filhos, sentiu-se muito deprimida, mas tratando-se com terapia, voltou
com intensidade à música, tendo muito sucesso. Em 1978 fez shows nacionais e
internacionais.
Em 1979 sentiu-se mal e ficou internada e nos anos
1980 viajou pelo Brasil e outros países fazendo shows, com muito sucesso. Participou
na época de atividades em prol da eleição direta para presidente. Tendo em 1986
sua saúde piorado, com fortes dores de cabeça e esquecimentos, sua carreira
como cantora foi afetada, o que a entristeceu. Foi então que foi descoberto que
ela estava com um tumor no cérebro. Não sendo possível operar, ela passou a tomar
medicações contínuas. Passou então a ficar em repouso, em companhia de seu namorado
Marco Antonio Bompet, de seu produtor e da sua irmã.
Com melhoras
em sua saúde fez shows em casas noturnas do Rio em 1987 e 1988. Fez sua última
apresentação no Pará, em 1989. Quando retornou ao Rio tinha dores fortes que
não passavam com os remédios. Entrou em coma e faleceu em 7 de junho. Ao longo
de sua carreira lançou mais de 20 discos.
Abaixo uma das canções que Nara cantava:
Estrada
do Sol
É de manhã, vem o sol mas os pingos da chuva que ontem
caiu
Ainda estão a brilhar, ainda estão a bailar ao vento
alegre que nos traz esta canção
Quero que você me dê a mão
Vamos sair por aí sem pensar no que foi que sonhei, que
sofri, que chorei
Pois a nossa manhã só nos fez esquecer
Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol
É de manhã, vem o sol mas os pingos da chuva que ontem
caiu
Ainda estão a brilhar, ainda estão a bailar ao vento
alegre que nos traz esta canção
Por aí, sem pensar no que foi que sonhei, que sofri, que
chorei
Pois a nossa manhã só nos fez esquecer
Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol
Quero que você me dê a mão
Vamos sair por aí sem pensar no que foi que sonhei, que
sofri, que chorei
Pois a nossa manhã só nos fez esquecer
Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol
É de manhã...
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Márcio José Matos Rodrigues
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+Nara+Le%C3%A3o&client
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