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Hannah Arendt nasceu em 14 de outubro de 1906,
em Linden-Limmer,
no Reino de Hânover, Império Alemão que hoje em dia é Hanôver, Baixa Saxônia,
na Alemanha. Foi uma filósofa política alemã, de origem judaica, que teve como
maiores interesses a Teoria Política, a Modernidade e a Filosofia da História.
Foi influenciada por pensadores como os Pré-Socráticos, Sócrates, Platão,
Ariostóteles, Santo Agostinho, Maquiavel, Montesquieu, Kant, Tocqueville,
Kierkegaard, Marx, Nietzsche, Russell, Jaspers, Benjamim e outros.
Além de filósofa, foi jornalista e professora
universitária. Não gostava de ser classificada como "filósofa".
Preferia que suas publicações fossem classificadas como "teoria
política" e defendia um conceito de
"pluralismo" na área da política. Sofreu perseguições no tempo
do nazismo, o que a fez emigrar. Para Arendt, o pluralismo na área política que
ela defendia proporciona o potencial de uma liberdade e igualdade política
entre as pessoas. Tinha um posicionamento crítico diante da democracia representativa,
preferindo um sistema de conselhos ou outros meios de se exercer uma democracia
direta. Realizou discussões críticas de filósofos como Sócrates, Platão,
Aristóteles, Kant, Heidegger e Jaspers. Como pensadora independente, foram
importantes seus trabalhos sobre filosofia existencial, sua reivindicação da
discussão política livre e a teoria do totalitarismo.
Foi uma
pensadora original, estando entre diferentes campos de conhecimento e
especialidades, devido ao seu sistema de análise, com influência de Heidegger.
Em relação
ao conceito trabalho, Hanna faz uma crítica a Marx, pois ela entendia que há a
possibilidade de o trabalho ser produtivo ou improdutivo, os dois
possibilitando entendimento e produzindo objetos pela simples ação do sujeito.
Para Marx, só é considerado o trabalho produtivo como fonte de objeto e
matéria, não considerando o improdutivo.
Quando Hannah tinha três
anos, foi com seus pais a Konigsberg, na
Prússia (que hoje em dia é a cidade russa de Kaliningrado). Os antepassados dela
eram de lá. Seu pai, o engenheiro Paul Arendt, participante do Partido
Social-Democrata Alemão, veio a morrer em 1913. A mãe de Hannah, Martha, que
tinha ideias social-democratas, a educou
de forma liberal. Com seus avós pôde conhecer o judaísmo reformista e
participou quando bem jovem do movimento judeu sionista.
Foi uma adolescente bem
instruída, tendo lido já aos quatorze anos a Crítica da Razão Pura, de Kant e a Psicologia das Concepções de Mundo, de Jaspers. Aos 17 anos foi
sozinha para Berlim, onde teve aulas de teologia cristã e estudou a obra do
filósofo Kierkegaard. Voltou a Königsberg em 1924 e nesse ano começou seus
estudos na Universidade de Marburg. Lá assistiu às aulas de Martin Heidegger e
Nicolai Hartmann, como também aulas de grego e teologia protestante do
professor Rudolf Bultmann.
Hanna e seu professor Heidegger,
casado e pai de família, 17 anos mais velho que ela, foram amantes. Mas em 1926
ela decidiu mudar sua vida e trocou de universidade, indo para a Universidade
Albert Ludwig, de Freiburg, passando a ter como orientador o filósofo Edmund
Husserl. Estudou também na Universidade de Heidelberg, formando-se em 1928,
tendo como tutor Karl Jaspers. Sua tese foi O conceito de amor em Santo
Agostinho.
Ela vai para Berlim em 1929, passando a viver com
Günther Stern, o qual já conhecia e depois casaram-se. O casamento foi até
1937. Foram morar em Heidelberg por pouco tempo e mudaram-se para Frankfurt
onde viveram um ano. Ela passou a colaborar para o jornal Frankfurter Zeitung.
Estudou na época a obra de Rahel Varnhagen (que viveu entre os séculos XVIII e
XIX), uma intectual judia convertida ao cristianismo.
Hanna conseguiu uma bolsa de estudos na Associação
de ajuda para a ciência alemã. Leu obras de Marx e Trotsky, analisou a exclusão
social dos judeus, com base no conceito de pária.
Ela preferiu usar outro conceito, o de "arrivista". Em 1932 publicou
na revista História dos Judeus na
Alemanha o artigo "O Iluminismo e a questão judaica". No mesmo
ano escreveu uma crítica sobre o livro O
problema da mulher na atualidade, de Alice Ruhle Gerstel, comentando a
emancipação da mulher na vida pública e discute suas limitações.
Seu marido emigrou para Paris em março de 1933 e
ela trabalhou para uma organização sionista, na qual estudava a perseguição aos
judeus. Usou sua casa como local de trânsito para refugiados. A Gestapo a
prendeu por oito dias em julho de 1933. Nesse ano ela defendia que era preciso
a luta contra o nazismo. Ela desprezava a "adaptação" ao novo regime
de muitos intelectuais. Por causa disso, houve um conflito com Leo Strauss, que
tinha um pensamento conservador. Ela rompeu sua amizade com Heidegger por causa
que ele entrou no partido nazista e só voltou a reatar laços em 1950.
O entendimento de Hanna Arendt sobre a situação dos judeus foi, segundo ela, influenciado pelos estudos sobre questão
judaica e a assimilação cultural de Kurt
Blumenfeld, diretor e porta-voz do movimento sionista.
Tendo se separado de seu primeiro marido em 1939, a
filósofa casou-se em 1940 com o poeta
anarquista Heinrich Blucher e chegou a Lisboa em janeiro de 1941 após ter
escapado da França ocupada pelos nazistas, ajudada pelo economista e
historiador Albert Hirschman. Soube em Lisboa da morte de seu amigo Walter
Benjamim na França e ficou muito triste. O tempo que ficou em Lisboa, afetada
emocionalmente pelos acontecimentos, refletiu-se em seu ensaio Nós Refugiados, publicado em 1943, sobre
a questão da cidadania, que ela dizia ser “o direito a ter direitos”.
Já nos Estados Unidos, país onde foi morar após
sair de Portugal, trabalhou em editoras e organizações judaicas. Ainda esteve
na Alemanha, quando acabou a guerra e reencontrou Heidegger e procurou ajudá-lo
na sua reabilitação, pois estava marcado por ter simpatizado com o regime
nazista.
Hanna ensinou na Universidade de Chicago, nos
Estados Unidos, de 1963 a 1967 e desse ano em diante passa a lecionar em Nova
York.
Faleceu em 4 de dezembro de 1975 (aos 69 anos) e
está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson, em Nova York, nos Estados Unidos.
Obras:
O primeiro livro de Hanna é O Conceito de amor em Santo Agostinho: Ensaio de uma interpretação
filosófica, que na realidade era sua tese, editada em primeira vez em
Berlim em 1929. Ela considerava Santo Agostinho um filósofo e não um sacerdote.
No livro "As origens do totalitarismo",de
1951, ela faz uma relação, polêmica, de semelhança entre nazismo e stalinismo,
como ideologias totalitárias, mostrando como o meio totalitário precisa da
banalização do terror, da manipulação das massas, acriticismo diante da
mensagem do poder. Para ela, tanto Hitler como Stalin exploraram a solidão organizada das massas.
Em
1958, foi publicado A Condição Humana,
na qual ela utiliza a tripartição grega e destaca a importância da política
como ação e como processo. Ela diz:
"Com a expressão 'vita
activa', pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor,
trabalho e ação. (...) O labor é a actividade que corresponde ao processo
biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. O
trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana
(...). O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente
diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a
mundanidade. A ação, única atividade que se exerce directamente entre os homens
sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da
pluralidade, ao facto de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o
mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política;
mas esta pluralidade é especificamente 'a' condição (...) de toda a vida
política."
O livro "Entre o Passado e o Futuro”,
publicado em 1961, é uma espécie de reunião dos temas da obra de Arendt ao
longo de diferentes períodos. Ele fala sobre política, direitos, nazismo,
totalitarismo, marxismo, refúgio, pátria, sionismo, nação e a questão dos
judeus. Trata-se de uma espécie de súmula de seu pensamento, consistindo em uma
importante ferramenta para compreendê-lo.
Em 1963, publica Sobre a Revolução, analisando a Revolução Francesa e a Revolução
Americana, comparando-as, explicando suas semelhanças e diferenças. Diz que para
se ter preservação da liberdade se as instituições pós-revolucionárias interiorizarem
e mantiverem vivas as ideias revolucionárias. Também nesse ano publica Eichmann em Jerusalém, contendo os cinco
artigos que escreveu sobre o julgamento do oficial nazista Eichmann,
descrevendo-o como alguém terrível e
horrivelmente normal, um burocrata que quis cumprir ordens com zelo, por amor ao dever. O último livro desse
ano é : Sobre a Violência, que procura compreender a razão de o mundo
viver uma escalada de destruição e guerras. Para ela o poder é destruído pela
violência, porque se baseia na exclusão da interação e da cooperação entre as
pessoas. Ela entende que a base do poder é convivência e cooperação.
Seu último livro, “Homens em Tempos Sombrios”
foi publicado em 1968. Nele se podem ver
ensaios biográficos de homens e mulheres que viveram os "tempos
sombrios" da primeira metade do século XX, com o surgimento do
totalitarismo, também destacando as mentes de Hermann Broch, Rosa Luxemburgo,
Jaspers, Bertold Brecht, Walter Benjamim, Heidegger e outros, refletindo sobre
erros e acertos dessas personalidades.
Frases:
“Uma existência vivida
inteiramente em público, na presença de outros, torna-se, como diríamos,
superficial.”
“Uma vida sem pensamento é
totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência
– ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não
pensam são como sonâmbulos.”
“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.”
“O revolucionário mais radical se
torna um conservador no dia seguinte à revolução.”
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagens+de+hannah+arendt&client=firefox-b-d&sxsrf=ACYBGNQAr
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