quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Os poetas Casimiro de Abreu e João Cabral de Melo Neto




Vou falar de  dois escritores nascidos do mês de janeiro: Casimiro de Abreu e João Cabral de Melo Neto.


Casimiro de Abreu









 
Em 4 de janeiro de 1839, nasceu em Barra de São João, no Rio de Janeiro, o poeta romântico brasileiro Casimiro José Marques de Abreu, que escreveu a obra Meus Oito Anos, um dos poetas mais populares da literatura brasileira.

Seu pai era o comerciante português José Joaquim Marques de Abreu e sua mãe era Luísa Joaquina das Neves, fazendeira de Barra de São João. O casal teve três filhos, mas não eram oficialmente casados. Barra de São João atualmente é um distrito do município “Casimiro de Abreu”. O poeta estudou em Nova Friburgo, a maior cidade da região serrana da província. Lá ele só completou os estudos primários. 

Trabalhou com o pai no comércio quando foi para o Rio de Janeiro aos treze anos e depois foi para Portugal em 1853, vivendo quatro anos por lá e entrou em contato com o meio dos escritores e escreveu grande parte de suas obras. 

Escreveu o drama Camões e o Jau, em 1856, que foi representado em teatro de Lisboa, sendo muito aplaudido.

Retornou ao Brasil em 1857, passando a trabalhar no armazém de seu pai. Fez amizade com Machado de Assis e escreveu para jornais, permanecendo em uma vida boêmia. Suas poesias foram editadas em 1859 com o título de Primaveras

Tinha linguagem simples, foi um dos poetas mais populares do Romantismo no Brasil. Após sua morte, suas obras tiveram sucesso literário no Brasil e em Portugal. Nas suas obras havia o sentimento relativo à casa paterna, à saudade da terra natal, à tristeza e ao amor.Sua poesia possuía um lirismo ingênuo de adolescente.

Teve destaque na Segunda Geração do Romantismo, sendo o patrono da cadeira de número 6 da Academia Brasileira de Letras. Colaborou com as revistas O Panorama e A ilustração luso-brasileira

Ficou noivo de Joaquina Alvarenga Silva Peixoto em 1860 e no mesmo ano tentou curar a tuberculose que o atingiu. Veio a falecer no dia 18 de outubro de 1860, aos 21 anos, na Fazenda Indaiaçu, localizada atualmente no município de Casimiro de Abreu. Foi sepultado em Barra de São João, como tinha pedido. 

Poema:

Meus Oito Anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dia
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor! (...)


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João Cabral de Melo Neto


Foi um poeta brasileiro da terceira geração modernista do Brasil, conhecida como Geração de 45. Além de poeta, foi escritor e diplomata, conhecido como “poeta engenheiro”. Ele se destacou por seu rigor estético, de modo racional e equilibrado. Nasceu no Recife, Pernambuco, em 6 de janeiro de 1920, filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmen Carneiro Leão Cabral de Melo. O poeta era primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. 


Ficou famoso principalmente por causa de sua obra “Morte e Vida Severina”. Sua obras ficaram conhecidas em vários países, com livros seus publicados em línguas como o espanhol, o alemão e o inglês. 


Gostava muito de futebol e foi jogador pelo time juvenil do Santa Cruz Futebol Clube, do Recife, conseguindo o título de campeão em 1935.

Trabalhou inicialmente na Associação Comercial de Pernambuco e no Departamento de Estatística do Estado de Pernambuco.Aos 18 anos de idade, em 1938, começou a freqüentar o Café Lafayette,reduto da intelectualidade recifense.

 
Em 1942 foi para o Rio de Janeiro com a família. Lá publicou “Pedra do Sono”, seu primeiro livro. Em 1945 iniciou trabalho no Departamento de Administração do Serviço Público, criado pelo governo de Vargas.Ingressou em 1946 no quadro de diplomatas brasileiros.

Viajou para diversos países e foi cônsul- geral nacidade do Porto, em Portugal, cargo em qual ficou até 1987. Em 15 de agosto de 1968 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Ao ir perdendo a visão, passa a sofrer de depressão, morrendo em 9 de outubro de 1990, aos 79 anos, após sofrer um ataque do coração. Ele dizia:“escrever é estar no extremo de si mesmo”.

Obras de João Cabral de Melo Neto: Considerações sobre o poeta dormindo, 1941;Pedra do sono, 1942;O engenheiro, 1945;O cão sem plumas, 1950;O rio, 1954;Quaderna, 1960;Poemas escolhidos, 1963;A educação pela pedra, 1966;Morte e vida severina e outros poemas em voz alta, 1966;Museu de tudo, 1975;A escola das facas, 1980;Agreste, 1985;Auto do frade, 1986;Crime na Calle Relator, 1987;Sevilla andando, 1989.


Recebeu prêmios como:

Por conta do seu trabalho literário, o escritor recebeu diversas homenagens e prêmios:Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo;Prêmio Olavo Bilac, concedido pela da Academia Brasileira de Letras;Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro;Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; etc.



A sua obra Morte e Vida Severina foi adaptada para a música, teatro e cinema. É relatada a saga de um retirante nordestino que vai para o Sudeste do Brasil para buscar melhores condições de vida. Abaixo um trecho do poema Morte e Vida Severina:


Morte e vida severina (trecho), 1954/1955

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História






Figura 1:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+casimiro+de+abreu&client=firefox-b-d&sxsrf=ACYBGNRSZzpHs_yg0LCiuj96XixVF1WWRg:1580438591699&tbm=isch&source

Figura 2:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+jo%C3%A3o+cabral+de+melo+neto&
 
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O filósofo iluminista francês Montesquieu












Em 18 de janeiro de 1689, no castelo de La Bréde, próximo a Bordéus, nascia Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu. Ele foi um filósofo e escritor francês que ficou muito conhecido por causa de sua teoria da separação de poderes.

Ele veio de uma família nobre e teve uma formação iluminista, tendo estudado com padres oratorianos. Sua mãe era Marie Françoise de Pesnel, de origem inglesa, cuja família tinha negócios no ramo de vinhos. Seu pai era Jacques Secondat, um nobre francês.

Entrou para a faculdade de Direito da Universidade de Bordéus aos 16 anos e formou-se em Direito em 1708, indo para Paris para continuar seus estudos. Após a morte do pai, voltou à La Bréde e em 1715 casou-se com Jeanne de Lartigue. Um ano depois, com a morte de um tio, herdou uma fortuna. Foi nomeado Barão de Montesquieu.

Tornou-se crítico severo da monarquia absolutista e do clero católico. Em Paris participava dos círculos da boemia literária. Presidiu o tribunal provincial de Bordéus entre 1716 e 1726. Esteve na Inglaterra de 1729 a 1731 e fez longas viagens pela Europa. 

Montesquieu sonhava com a limitação do poder absoluto dos reis, mas era um conservador e se identificava com seu grupo social, a nobreza. As convicções de Montesquieu o aproximam dos ideais de uma aristocracia liberal. Ele não era a favor de um despotismo, porém não apoiava a ideia de que o povo tomasse o poder.

Escreveu Cartas Persas (1721), Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734), o Espírito das Leis (1748) e contribuiu junto com Diderot e D’Alembert para a Enciclopédia

Montesquieu se aprofundou em estudos de base iluminista que tinha começado no Colégio Juilly, fazendo ligações das ciências naturais com as humanas. Na sua obra Cartas Persas, fez uma sátira aos costumes e à Filosofia francesa, criticando autoridades políticas e religiosas.

Estudou na Academia Francesa aos 39 anos. Conheceu obras importantes como as do historiador Pietro Giannone e do filósofo Vico. Na Inglaterra entrou para a maçonaria e para a Academia Real.

Montesquieu, no seu tempo vendo o progresso das Ciências Físicas e Naturais, propôs que a sociedade, assim como na natureza, devia reger-se por leis. Passou a estudar para descobrir as leis sociais. Leu muito sobre os impérios antigos como o romano, o cartaginês, o egípcio, o persa, o chinês, o japonês, o turco e povos como os hebreus, árabes etc.

Na sua obra “Do Espírito das Leis”, que se tornou muito lida no meio jurídico e entre os estudiosos sociais, há um estudo amplo sobre as áreas de Direito, História, Economia, Geografia e teoria política, sendo publicada em 1748. A obra foi inspirada nas teorias de John Locke. Nessa obra se discute sobre as instituições e as leis, buscando-se compreender as diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Foi uma obra que tornou-se fonte das doutrinas constitucionais liberais. 

Apesar de muito elogiado, ele também foi alvo de represálias e chegou a publicar um livro resposta chamado “Defesa do Espírito das Leis”.

Montesquieu defendia que o poder deveria ser dividido em Poder Executivo, responsável pela administração do território e concentrado nas mãos do monarca; Poder Legislativo, responsável pela elaboração das leis e representado por câmaras de parlamentares; Poder Judiciário, responsável pela fiscalização do cumprimento das leis e exercido pelos juízes. Montesquieu dizia: "Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente". Ainda completa: "O poder de julgar não deve ser outorgado a um senado permanente, mas exercido por pessoas extraídas do corpo do povo, num certo período do ano, de modo prescrito pela lei, para formar um tribunal que dure apenas o tempo necessário."

Ele era a favor da Monarquia Parlamentar. Para ele existiam as seguintes formas de governo: República, tendo como princípio o Patriotismo; Aristocracia, tendo como princípio a Moderação; Monarquia, tendo como princípio a honra e o Despotismo, tendo como princípio o terror. Outra classificação era: Monarquia, o governo de um só; Aristocracia, o governo de vários; Democracia, o governo do povo. Essas seriam formas puras. Também para ele havia a Tirania, uma corrupção da Monarquia; a Oligarquia, uma corrupção da Aristocracia; e a Demagogia, uma corrupção da Democracia. Essas seriam formas impuras.

Faleceu em Paris, aos 66 anos no dia 10 de Fevereiro de 1755 e foi sepultado na L'eglise Saint-Sulpice, na mesma cidade. 

Frases:

"As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros."

"O estudo foi para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida, não havendo nenhum desgosto de que uma hora de leitura não me tenha consolado."

"A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios."

"É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha o poder, tende a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder."

As conquistas são fáceis de fazer, porque as fazemos com todas as nossas forças; são difíceis de conservar, porque as defendemos só com uma parte das nossas forças.”

Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria difícil. Mas como queremos ficar mais felizes do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do que realmente são.”

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             Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ACYBGNRyjNfJmrT0i5MpsqxNBTPjMo2_JQ:1579918614439&q=figura+de+montesquieu&tbm=isch&source=univ&client=firefox