Este
artigo é sobre o aniversário de publicação do famoso livro do grande poeta
chileno Pablo Neruda livro "20 poemas de amor e uma canção
desesperada", publicado em 15 de junho de 1924. Mas quem foi Pablo Neruda?
O nome dele na verdade era Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, que nasceu em 12 de julho de
1904 em Parral, no Chile. Depois ele mudou o nome para Pablo Neruda. É
considerado um dos maiores poetas latino-americanos e um dos mais importantes
de língua castelhana. Recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1971. Também
recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Oxford em 1965.
Escreveu mais de 40 livros. Suas obras estavam relacionadas a temas sociais,
éticos e políticos, com influências do modernismo e surrealismo. Faleceu em 23
de setembro de 1973, em Santiago, no Chile.
A obra “Vinte poemas de amor e uma canção
desesperada" fala de amor e da ausência da mulher amada. Trata
essencialmente da perda e exaltação dos amores do poeta. Ele reverencia o lado
feminino, utilizando a paisagem típica de sua terra. Explora a sensualidade
sutilmente por meio de metáforas ligadas a elementos da natureza. Tais poemas falam
da complexidade da relação amorosa, com uma mistura de
felicidade com a melancolia, havendo a alegria da posse e a tristeza da
ausência, ao mesmo tempo há a certeza do amor. Segundo críticos, com este
livro há o momento inaugural da poesia de Neruda, pois pela primeira vez a sua
linguagem poética consegue atingir a unidade profunda entre a contenção
retórica e a riqueza vocabular.
O autor tinha apenas
20 anos quando o publicou esse livro, que foi muito bem recebido pelo público.
A partir daí Neruda se tornou o poeta chileno mais conhecido no mundo. Sua
poesia passou a ser traduzida em várias línguas.
O poema "Uma canção desesperada"
encerra o livro. É um poema que se diferencia bastante dos anteriores por seu
tom taciturno e angustiante. Mostra um desespero do narrador e com uma dose de
erotismo. É considerada uma preciosidade no tocante ao conjunto da poesia
latino-americana.
A
seguir alguns dos poemas do livro:
Poema 19
Filha
morena e ágil, o sol que nasce das frutas,
e que dá
essência aos trigos, e que torce as algas,
filho
teu corpo alegre, teus luminosos olhos
e tua
boca que tem o sorriso da água.
O sol
negro e ansioso te enrola nos raios
de
negros fios, quando esticas os braços.
Tu
jogas com o sol como um esteiro
e ele
te põem em teus olhos dois escuros remansos.
Filha
morena e ágil, nada havia que ti me ajunta-se.
Tudo de
ti me afasta, como o meio dia.
É a
delirante juventude da abelha,
a
embriaguez das ondas, a força da espiga.
Meu
coração sombrio te busca, sem embargo,
e amo
teu corpo alegre, tua voz solta e delgada.
Mariposa
morena doce e definitiva,
como o
trigal e o sol, a ampola e água
A canção desesperada
Aparece tua recordação da noite em que estou.
O rio reúne-se ao mar seu lamento obstinado.
Abandonado como o cais de madruga.
É a hora de partir, oh abandonado!
Sobre meu coração chovem frias corolas.
Oh porão de escombros, feroz caverna de náufragos!
Em ti se acumularam as guerras e os vôos.
De ti alcançaram as asas dos pássaros do canto.
Tudo engoliste, como a distância.
Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!
Era a alegre hora do assalto e do beijo.
A hora do espanto que ardia como um farol.
Ansiedade de piloto, fúria de mergulhador cego.
turva embriaguez de amor. Tudo em ti foi naufrágio!
Na infância de nevoa minha alma alada e ferida.
Descobridor perdido. Tudo em ti foi naufrágio!
Fiz retroceder a muralha de sombra,
Andei mais para lá do desejo e do ato.
Oh carne, carne minha, mulher que amei e perdi,
Em ti se acumularam as guerras e os voos.
Como um copo guardando a infinita ternura,
e o infinito esquecimento te espedaçou como a um copo.
Era a negra, negra solidão das ilhas,
e ali, mulher de amor, me acolheram os teus braços.
Era a sede e a fome, e tu foste à fruta.
Era a dor e as ruínas, e tu foste o milagre.
Ah mulher, não sei como me pudeste conter
na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!
Meu desejo por ti foi o mais terrível e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais tenso e ávido.
Cemitério de beijos, ainda há fogo nas tuas tumbas,
ainda os cachos ardem bicados pelos pássaros.
Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos trançados.
Oh a cópula louca de esperança e esforço
em que nos unimos e nos desesperamos.
E a ternura, leve como a água e a farinha.
E a palavra mal começada nos lábios.
Esse foi meu destino e nele viajou a minha vontade,
e nele caiu a minha vontade. Tudo em ti foi naufrágio!
De tombo em tombo inda chamejaste e cantaste
de pé como um marinheiro na proa de um navio.
Ainda floresceste em cantos, ainda rompeste em correntezas.
Oh porão de escombros, poço aberto e amargo.
Pálido mergulhador cego, desventurado fundeiro,
descobridor perdido. Tudo em ti foi naufrágio!
É a hora de partir, a dura e fria hora
que a noite prende a todo horário.
O cinturão ruidoso do mar cinge a costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.
Abandonado como o cais na madrugada.
Só a sombra trêmula se retorce nas minhas mãos.
Ah, mas para além de tudo. Ah, mas para além de tudo.
É a hora de partir. Oh abandonado!
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Márcio José Matos Rodrigues
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