Em 17 de dezembro de 1905 nasceu o
escritor Erico Lopes Veríssimo, em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Foi um
escritor brasileiro da segunda fase modernista, chamada de fase de
consolidação. Foi um dos melhores romancistas brasileiros. Nasceu em
uma família de posses, que entrou em decadência econômica. Seu pai
era o farmacêutico Sebastião Verissimo da Fonseca e sua mãe era Abegahy
Lopes. Esteve muito doente quando criança, tendo sido diagnosticado com
meningite e boncopneumonia, mas conseguiu sobreviver com ajuda médica. Estudou
na infância no Colégio Venâncio Aires, em Cruz Alta. Em 1914, com quase 14
anos, criou a revista Caricatura, fazendo desenhos e escrevendo.
Aos treze anos de idade leu autores nacionais como Joaquim Manuel de Macedo e
Aluísio de Azevedo, assim como escritores do exterior (Walter Scott, Émile Zola
etc). Em 1920 passou a estudar no Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre.
Nesse colégio se destacou como primeiro aluno da turma.
Em dezembro de 1922 Érico Veríssimo
terminou seus estudos no Colégio Cruzeiro do Sul, ano em que seus pais se
separaram. Érico, seu irmão mais novo e sua irmã adotiva passaram a morar na
casa dos avós maternos. O pai se perdeu em dívidas, perdendo bens da família.
Em 1923, Érico conseguiu emprego no armazém de um tio e depois foi trabalhar no
Banco Nacional do Comércio. Na época transcreveu obras de Euclides da Cunha e
de Machado de Assis, também se interessando pela música lírica. Passou a ler
mais os autores nacionais e estrangeiros. Em 1926, ele tornou-se sócio de uma
farmácia, mas o negócio faliu em 1930, o que levou Érico a ter uma dívida
por anos. Outra ocupação dele nesse período foi a de professor de literatura e
de língua inglesa.
Em 1929, Érico ficou noivo e publicou o
texto Chico: um Conto de Natal, na revista “Cruz Alta em Revista”.
Seus contos Ladrão de Gado e A Tragédia dum
Homem Gordo foram enviados por um amigo à Revista do Globo e no
jornal Correio do Povo foi publicado o conto A Lâmpada
Mágica.
Em outubro de 1930 o pai de Érico
mudou-se para Santa Catarina e eles não se viram de novo. Érico, sem dinheiro e
desempregado, foi para Porto Alegre, para viver como escritor. Ele foi
contratado como secretário de redação da Revista do Globo e tinha encontros com
autores como Mário Quintana e Augusto Meyer no centro da cidade.
Em 1931 há o casamento de Érico em Cruz
Alta com Mafalda Halfen Volpe e o casal passa a morar em Porto
Alegre, tendo dois filhos, Clarissa e o futuro escritor Luís Fernando
Veríssimo. Com a finalidade de aumentar sua renda, Érico iniciou traduções do
inglês para o português. Também começou a colaborar para as edições de domingo
dos jornais Diário de Notícias e Correio do Povo. Foi promovido em 1932 ao
cargo de diretor na Revista do Globo. Nesse ano é publicado a sua obra Fantoches,
que era uma coletânea de contos, grande parte em forma de pequenas peças de
teatro. Não houve uma boa venda dos exemplares desse livro.
No ano de 1933, Érico publicou seu
romance Clarissa (o primeiro que foi publicado) e também
traduziu o livro Contraponto, de Aldous Huxley. Em 1935 publicou o
segundo romance, Caminhos Cruzados, que foi criticado pela Igreja Católica e
pelo Departamento de Ordem Pública e Social, o que fez o autor ser chamado na
polícia. Em 1936 publicou outros dois romances, na verdade continuações
de Clarissa: Música ao Longe (que levou o prêmio
Machado de Assis) e Um lugar ao Sol. Também criou um programa
infantil na Rádio Farroupilha: O Cube dos Três Porquinhos, que teve
de sair do ar por causa da repressão do Estado Novo. Em 1938 foi publicada a
obra de Érico Veríssimo considerada a primeira de repercussão nacional: Olhai
os Lírios do Campo. Essa obra foi traduzida para várias línguas. Passou a
ser conselheiro literário da Editora Globo. Outros escritores estrangeiros
foram escolhidos por ele para serem traduzidos como Thomas Mann, Virgínia Wolf,
Balzac etc. Em 1940, Veríssimo publicou Saga.
Érico Veríssimo morou por três meses
nos Estados Unidos. Lá ele proferiu conferências, sendo financiado pelo
Departamento de Estado devido à Política Boa Vizinhança de
Franklin Roosevelt. Já no Brasil, quando estava passando em um lugar com seu
irmão viu quando uma mulher caiu de um prédio. Esse fato o inspirou para
escrever o romance O Resto é Silêncio, cujo início começa com um
suicídio de uma mulher.
Quando esteve em 1943 novamente nos
Estados Unidos, mais uma vez a convite do Departamento de Estado, ficou por
dois anos, lecionando Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia, em
Berkeley. Sobre suas viagens ao exterior, ele escreveu Gato preto em
campo de neve e A volta do gato preto. Um dos motivos para
Érico aceitar morar por um tempo nos Estados Unidos foi a sua não concordância
com a ditadura de Vargas.
Em 1947 começou a escrever a
trilogia O Tempo e o Vento, considerada a sua obra-prima. O
primeiro volume, O Continente, foi publicado em 1949. Nessa época o
autor colabora com a revista luso-brasileira Atlântico. Outros
volumes de O Tempo e o Vento foram publicados em 1952 (O
Retrato) e em 1954 (Noite).
Retornou aos Estados Unidos, ficando lá
no período de 1953 a 1956, quando assumiu a direção do Departamento de Assuntos
Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. Em 1957, em
Porto Alegre, iniciou o livro México a respeito de uma viagem
a este país.
Érico teve um infarto do miocárdio em
1961. Em 1962, entrega O Arquipélago, outra parte
de O Tempo e o Vento para ser publicada. Em 12 de outubro de
1963 a mãe de Érico morre. Em 1965 foi publicado o romance O Senhor
Embaixador (uma reflexão sobre a América Latina). Nesse ano ganha da
Câmara Brasileira de Livros o prêmio Jabuti, na categoria romance. Em 1966
publica sua autobiografia: O Escritor diante do Espelho. Em 1971
escreve o romance Incidente em Antares, com base em aspectos da
história do Brasil, criando Antares, uma cidade fictícia. Em 1972 Érico
relançou a obra Fantoches (que tinha sido publicada
primeiramente 40 anos antes) e em 1973 publica o primeiro volume de Solo
de Clarineta, que era uma segunda e mais ampla autobiografia. Em 28 de
novembro de 1975, em Porto Alegre, o autor morre de infarto. O
segundo volume de Solo de Clarineta é publicado postumamente
em 1976. O amigo Drumond escreveu o poema A falta de Érico Veríssimo em
homenagem ao escritor falecido:
A falta de Érico Veríssimo
Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira.
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.
Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda – como tarda!
a clarear o mundo.
Falta um boné, aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo
a derramar-se lentamente.
Falta o casal passeando no trigal.
Falta um solo de clarineta.
Carlos Drumond de Andrade
A Professora Licenciada em Letras
Daniela Diana destaca as principais obras de Érico Veríssimo:
“Érico Veríssimo possui uma vasta obra
dentre contos, romances, novelas, ensaios, literatura infanto-juvenil,
biografias, autobiografias e traduções.
Alguns pesquisadores afirmam que sua
obra pode ser dividida em três fases: romance urbano, romance histórico e
romance político.
Confira abaixo suas principais obras:
- Fantoches
(1932)
- Clarissa
(1933)
- A
vida de Joana d’Arc (1935)
- Música
ao Longe (1935)
- As
aventuras do avião vermelho (1936)
- Um
lugar ao sol (1936)
- Olhai
os Lírios do Campo (1938)
- O
urso com música na barriga (1938)
- Saga
(1940)
- Gato
Preto em Campo de Neve (1941)
- As
Mãos de Meu Filho (1942)
- O
Resto é Silencio (1943)
- A
Volta do Gato Preto (1946)
- O
Tempo e o Vento – 3 volumes (Vol. I “O continente” (1948), Vol. II “O
retrato” (1951) e Vol. III “O arquipélago” (1961))
- Noite
(1954)
- Gente
e Bichos (1956)
- O
Escritor Diante do Espelho (1956)
- O
Senhor Embaixador (1965)
- O
Prisioneiro (1967)
- Incidente
em Antares (1971)”
Frases de Érico Veríssimo:
“Felicidade é a certeza de que a nossa
vida não está se passando inutilmente.”
“O amor está mais perto do ódio do que
a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O
oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença...”
“Quando os ventos de mudança sopram,
umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”
“A gente foge da solidão quando tem
medo dos próprios pensamentos.”
“Precisamos dar um sentido humano às
nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver
deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves
do céu.”
“O objetivo do consumidor não é possuir
coisas, mas consumir cada vez mais e mais a fim de que com isso compensar o seu
vácuo interior, a sua passividade, a sua solidão, o seu tédio e a sua
ansiedade.”
“Como o tempo custa a passar quando a gente espera!
Principalmente quando venta.
Parece que o vento maneia o tempo.”
“Eu não devia observar tanto, pensar
tanto. Se vivesse mais no ar, era mais feliz. Quando a gente quer olhar tudo,
acaba descobrindo o que há de feio no mundo.”
“A vida começa todos os dias.”
“O tempo faz a gente esquecer. Há
pessoas que esquecem depressa. Outras apenas fingem que não se lembram mais.”
“Todos nós somos um mistério para os outros...
E para nós mesmos.”
“A inteligência é o farol que nos
guia, mas é a vontade que nos faz caminhar.”
“Em geral quando termino um livro
encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga
tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que
queria dizer’.”
“A vida vale a pena ser vivida apesar de todas suas dificuldades,
tristezas e momentos de dor e angústia.
O mais importante que existe sobre a face da terra é a pessoa humana. E
surpreender o homem no ato de viver é uma das coisas mais fantásticas que
existe.”
“Pensemos apenas nisto: não fomos
consultados para vir para este mundo e não seremos consultados quando tivermos
de partir. Isso dá bem a medida da nossa importância material na terra, mas
deve ser um elemento de consolo e não de desespero.”
“O amor que ainda não se definiu é como
uma melodia do desenho incerto: deixa o coração a um tempo alegre e perturbado
e tem o encanto fugidio e misterioso de uma música ao longe.”
"Quando muito moço, eu me sentia
como uma personagem que tinha entrado por engano numa peça a cujo elenco não
pertencia. Eu me movia num palco estranho sem ter ideia do meu papel, e tudo ao
meu redor parecia impreciso, absurdo e relativo."
“O espírito de gentileza podia salvar o
mundo. O que nos falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem
para homem, de povo para povo.”
“Considera a vida de Jesus. Ele foi
antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo”.
“É indispensável que conquistemos este
mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da
persuasão”.
“E quando falo em aceitar a vida não me
refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas,
absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária,
do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente
nos há de levar”.
“Nenhum escritor pode criar do nada.
Mesmo quando ele não sabe, está usando experiências vividas, lidas ou ouvidas,
e até mesmo pressentidas por uma espécie de sexto sentido.”
Sugestão de vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=K_z1uhHdkgE
https://www.youtube.com/watch?v=hwcIXCUaFXo
https://www.youtube.com/watch?v=yiOpPho0Eqs
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Márcio José Matos Rodrigues
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+%C3%A9rico+ver%C3%ADssimo&sxsrf=
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