quarta-feira, 7 de julho de 2021

O pensador e poeta Francesco Petrarca

 





O intelectual, pesquisador, filólogo, poeta e humanista Francesco Petrarca nasceu em 20 de julho de 1304 em Arezzo, Itália. Ele aperfeiçoou o soneto, um tipo de poema, que teve sua origem em Giacomo da Lentini e muito usado por Dante Alighieri. Petrarca é considerado o “Pai do Humanismo”. Seus poemas eram redigidos em língua italiana. Seu pai era um notário que foi exilado em Florença por um grupo político chamado Guelfos Negros, em 1302. Petrarca viveu alguns anos de sua infância na cidade de Incisa in Val d’Arno, que fica próxima à Florença. Com a instalação do papado em Avinhão, em 1309, Petrarca fica com sua família nas cidades de Avinhão e Carpentras. Ele foi estudante em Montpellier (1316-1320) e Bolonha (1320-1326). O pai queria que ele se envolvesse com os estudos de Direito, mas Petrarca tinha interesses pela escrita e Literatura Latina.

O pai de Petrarca morreu em 1326 e ele passou a trabalhar em Avinhão em empregos ligados à burocracia, tendo tempo para trabalhar em suas obras escritas. Na época ele lança Africa, sua primeira grande obra. Era um épico em latim sobre o general romano Scipio Africanus. A partir de então ele se torna uma pessoa famosa na Europa. Colecionou manuscritos latinos antigos, sendo um dos intelectuais que redescobriu o conhecimento da Grécia e Roma antigas. Retornou à tradição da laurea poetas, sendo coroado em Roma. Foi um dos participantes da primeira tradução latina de Homero. Trabalhou como embaixador, escrevia cartas e um de seus amigos mais destacados era Boccaccio. Em 1345 Petrarca descobriu uma coleção inédita de cartas de Cícero. É possível que tenha sido ele o primeiro a usar a expressão Idade das Trevas para a Idade Média.

Dizia o poeta que ele, seu irmão e dois empregados tinham chegado ao topo do Monte Ventoux, com 1909 metros. Sobre isso ele escreveu um relato fictício que foi convertido em forma de cartas para o amigo Francesco Dionigi. A data de 26 de abril de 1336, que Petrarca dizia que tinha alcançado o pico da montanha, é considerado o dia do nascimento do alpinismo e Petrarca chamado de o pai do alpinismo. Nos seus últimos anos de vida fez viagens pelo norte da Itália.

Petrarca inspirou a filosofia humanista que influenciou a Renascença. Era um estudioso da História Antiga e Literatura Antiga, estudos que ele considerava de grande valor prático e com grandeza moral. Mesmo tendo sido um cristão devoto ele não percebia que houvesse conflitos entre a realização do potencial humano e a fé religiosa. Vários conflitos internos dele e meditações mostradas em suas obras foram alvo de estudos de filósofos humanistas do Renascimento. Ele enfatizava a importância da solidão e do estudo. Líderes políticos, militares e religiosos na época do Renascimento foram influenciados pelas ideias de Petrarca, destacando que a glória pessoal tinha de se basear no exemplo clássico e na contemplação.

Estando a serviço da Igreja, não lhe foi possível casar-se, porém após sua morte foi dito que era pai de duas crianças. Em 1327, ele teve a visão de uma mulher de nome Laura, na igreja de Santa Clara de Avinhão. A mulher amada, foi homenageada nas Rime Sparse (Rimas Esparsas). Essa obra composta por 366 poemas é mais conhecida como Il Canzoniere, que foi escrito em vernáculo, que era uma linguagem de comércio. A maior parte dessa obra está em forma de soneto (317). Além dos sonetos a sequência contem 29 canzoni, 9 sestina, 4 madrigais e 7 ballate. O poeta foi morar em Pádua em 1367, passando a dedicar-se à contemplação religiosa. Fez uma doação de manuscritos para a cidade de Veneza.

Há a possibilidade de Laura ter sido, na verdade, Laura de Noves, esposa de Huges de Sade, antepassado do famoso Marquês de Sade. No entanto, Petrarca negava que tenha sido ela sua homenageada. Segundo a obra de Petrarca, Laura é muito bonita, com cabelos claros, modesta e digna. Os sentimentos do poeta foram direcionados para os seus poemas de amor, que eram exclamatórios. 

Alguns dos sonetos de Petrarca foram musicados pelo compositor romântico do século XIX, Franz Liszt. A maioria das obras do escritor e poeta foram escritos em Latim, incluindo trabalhos acadêmicos, ensaios introspectivos, cartas e poesias. Em 19 de julho de 1374, Petrarca morreu no Vêneto, Itália.

Principais obras:Triunfos, Meu livro secreto, Sobre os homens famosos, Sobre o lazer religioso, Sobre a vida solitária, Itinerário para a Terra Santa, Epístola,Odes a Laura, De África.

Segundo a professora licenciada em Letras, Daniela Diana:

“(...) Petrarca estudou línguas, literatura, gramática, retórica e dialética. Durante sua vida, obteve grande influência na sociedade a partir do momento que foi devoto da igreja, entrando para o Clero, em 1330.

 

Já reconhecido como poeta e grande intelectual da época, Petrarca recebeu o título de “Poeta Laureado” em 18 de abril de 1341. Foi amigo do poeta italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375), que o considerava seu mestre espiritual e cultural.

 

Um fato curioso de sua vida foi quando Petrarca avista Laura, seu grande amor e musa inspiradora, na igreja de Avignon, na França.

 

Ela foi mencionada em diversas obras como “Laura de Noves”, personagem esposa de um nobre francês. Petrarca Faleceu em Arquà, Itália, em 19 de julho de 1374, vítima de malária.

 

“Petrarquismo” foi um movimento literário italiano surgido no século XV que se prolongou até o século XVII, o qual influenciou diversos escritores europeus.

Seu principal foco de estudo foi a poesia lírica de Petrarca, baseada nos temas amorosos. A poética petrarquista destacou-se como exemplo de perfeição a partir de uma linguagem simples e inovações métricas, tal qual o uso de versos hendecassílabos (verso composto de onze sílabas poéticas).

 

A obra de Petrarca é bem vasta, entretanto o humanista destacou-se na poesia, escrevendo mais de 300 sonetos. (...) “

 

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Francesco Petrarca (1304-1374) foi um poeta italiano. Humanista, foi um dos precursores do Renascimento Italiano. Foi o inventor do soneto, poema com 14 versos. É também considerado o pai do Humanismo Italiano.

Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália, no dia 20 de julho de 1304. Filho de um tabelião toscano passou a infância em Avignon, na Provença, onde o papado se instalou de 1309 até o início do século XV.

Em Avignon, fez seus primeiros estudos. Em 1317 ingressou no cursou de Direito na universidade de Montpellier, que continuou em Bolonha, abandonando-o em 1326.

Com a morte do pai, tentou a vida monástica. Ao receber ordens menores, passou a contar com a proteção do cardeal Giovanni Colonna.”

E ainda:

“(...) Em 1337, Petrarca procurou um refúgio no Mont Ventoux e descobriu ali a emoção das belezas naturais, uma das bases da poesia lírica do humanismo renascentista.

Nessa época, escreveu muitas de suas “Epistolas e Metricae” (66 “cartas” em hexâmetros latinos) e várias de suas “Rime” (Poesias) inspiradas por Laura.

Amplamente reconhecido, recebeu convites de Roma e de Paris, para ser coroado como poeta. Recebeu a honraria, em Roma, no dia 8 de abril de 1341, no Capitólio.

Embora tenha trabalhado como diplomata para diversos príncipes do seu tempo, Petrarca não hesitou em apoiar a república romana de Cola de Rienzo e a unificação do país.

Em 1348, Petrarca perdeu vários amigos e a amada Laura durante o surto da peste negra. Procurou o refúgio alpino em Vaucluse, onde organizou seus poemas.

Dividiu os poemas em “In Vita de Laura” e “In Morte di Laura”, que ficaram conhecidos como “Canzoniere”.

A temática do Canzoniere vai muito além de seu amor platônico, pois delineia uma nova lírica a partir da seleção do que havia de mais refinado e vigoroso nos dois séculos anteriores.

Foi Petrarca em suas Rime, o primeiro a realizar uma poética de motivos estritamente psicológicos e vasta meditação sobre a existência terrena em seu conteúdo humano e emocional.

Em 1353, Petrarca fixou-se em Milão, onde permaneceu por mais de oito anos. Em 1361, com um surto da peste, fugiu para Pádua, depois para Veneza. Ali recebeu a visita de grandes amigos, entre os quais Boccaccio.

Em 1367 o poeta retorna para Pádua onde viveu entre a cidade e uma pequena propriedade no campo em Arquà, onde se dedicou intensamente a seus versos.

Em 1370, ele foi chamado a Roma pelo papa Urbano V, e partiu para ver o novo papado romano, mas ao passar por Ferrara, sofreu um acidente vascular.

Mesmo com sequelas, não parou de trabalhar nos poemas e na “Posteritati”, espécie de carta autobiográfica às gerações futuras.

Petrarca faleceu em Aquirà, na região de Mântua, Itália, no dia 19 de julho de 1374. Foi encontrado morto com a cabeça recostada em um volume de Virgílio.

Petrarca inspirou um movimento poético, o “Petrarquismo”, o qual conseguiu muitos adeptos entre o século XV e XVII (...)”

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Frases de Petrarca:

“As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última.”

“Cinco inimigos da paz habitam-nos - avareza, ambição, inveja, raiva e orgulho. Se conseguirmos bani-los, infalivelmente desfrutaremos a paz perpétua.” 

 "A razão fala e o sentimento morde".

 “É verdade, nós amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há também sempre alguma razão na loucura.”

 “O fim louva a vida e a noite o dia.”

“O amor é a graça suprema da humanidade, o mais sagrado direito da

alma, o elo de ouro que nos une ao dever e à verdade, o princípio

redentor que reconcilia o coração para a vida, e é profético do bem

eterno.”

“Como difícil é salvar a casca da reputação das pedras da ignorância.”

“A monotonia causa o tédio e a cura é a variedade.”

“Quando a paixão entra, a razão sai.”

“O verdadeiro saber é o saber que temos de nós mesmos. De pouco

adianta conhecermos a natureza das coisas e desconhecermos a

natureza do homem.”

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Seis sonetos de Petrarca

 

III

 

Se a minha vida do áspero tormento

E tanto afã puder se defender,

Que por força da idade eu chegue a ver

Da luz do vosso olhar o embaciamento,

 

E o áureo cabelo se tornar de argento,

E os verdes véus e adornos desprender,

E o rosto, que eu adoro, empalecer,

Que em lamentar me faz medroso e lento,

 

E tanta audácia há de me dar o Amor,

Que vos direi dos martírios que guardo,

Dos anos, dias, horas o amargor.

 

Se o tempo é contra este querer em que ardo,

Que não o seja tal que à minha dor

Negue o socorro de um suspiro tardo.

 

 

VIII

 

Ó Pai, depois dos dias ociosos,

Depois das noites a velar em vão,

Com este anseio no meu coração,

Mirando os atos por meu mal viçosos,

 

Praza-te, ó lume, que a outros mais formosos

Caminhos e a mais bela ocupação

Eu me volte, fugindo à dura ação

Do inimigo e aos seus meios cavilosos.

 

Dez anos mais um hoje faz, Senhor,

Que me vi submetido à tirania

Que sobre o mais sujeito é mais feroz.

 

Piedade tem do meu não digno ardor,

Conduz meu pensamento a melhor via,

Lembra-o de que estiveste numa cruz.

 

 XXXII

 

Quanto mais perto estou do dia extremo

Que o sofrimento humano torna breve,

Mais vejo o tempo andar veloz e leve

E o que dele esperar falaz e menos.

 

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos

De amor falando, até que como neve

Se dissolva este encargo que a alma teve,

Duro e pesado, e a paz então veremos:

 

Pois que nele cairá essa esperança

Que nos fez delirar tão longamente

E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

 

E veremos o quão frequentemente

Por coisas dúbias o ânimo se cansa

E que não raro é em vão que se suspira.

 

 

 CLXXXIX

 

Vai o meu barco, cheio só de olvido,

À meia noite, ao árduo mar, no inverno,

Entre Cila e Caríbdis; e ao governo

Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo.

 

A cada remo um pensar atrevido

Parece rir à vaga e ao próprio averno:

Rompe as velas um vento úmido, eterno

De esperanças, desejos e gemidos.

 

Chuva de pranto, névoa de rancor

Afrouxa e banha os cabos extenuados,

De ignorância trançados e de error.

 

Foge-me o doce lume costumeiro,

Razão e engenho da onda são tragados;

E eis que do porto já me desespero.

 

 

 

 CXC

 

Uma cândida cerva me surgiu

sobre o verde gramado – os cornos de ouro –,

entre dois riachos, à sombra de um louro,

na estação fria, mal o sol se abriu.

 

Tão doce em mim tal vista se imprimiu,

que por segui-la toda lida ignoro,

como o avarento em busca de um tesouro,

tanto assim meu tormento se evadiu.

 

“Ninguém ouse tocar-me” – escrito havia

no colo, entre topázios e diamantes,

“que eu fosse livre César ordenou”.

 

Já o claro sol chegava ao meio-dia,

quando eu, de olhos absortos, ignorantes,

escorreguei para a água, e ela escapou.

 

 

 

CCXXXIV

 

Ó minha alcova, que já foste um porto

Às tempestades que cruzei diurnas,

Fonte agora de lágrimas noturnas,

Que no dia, por pejo, ocultas porto;

 

Ó leito, onde encontrei paz e conforto

De tanta mágoa, que dolentes urnas

Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,

Só para mim crueza e desconforto!

 

Porém do meu retiro e do repouso

Não fujo, mas de mim e do pensar,

Que tanta vez segui num devaneio;

 

 

E em meio ao vulgo adverso e inamistoso

(Quem diria?) refúgio vou buscar,

Tal é de ficar só o meu receio.

 

 (Traduções de Renato Suttana)

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

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