O
poeta Guilherme de Andrade de Almeida, que também foi advogado,
jornalista, heraldista, crítico de cinema, ensaísta, tradutor brasileiro, membro da
Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,
do Instituto de Coimbra e do Seminário de Estudos Galegos de Santiago de
Compostela nasceu em 24 de julho de 1890, em Campinas, São
Paulo. Seu pai era Estevam de Araújo Almeida, professor de direito e
jurista e sua mãe era Angelina de Andrade. Guilherme de Almeida formou-se em
Direito em 1912. Em 1916 publica com autoria conjunta com o escritor Oswald de
Andrade as peças teatrais em francês Moncoeur balance e Leurâme. Ele
estreou na poesia em 1917 com a publicação do livro “Nós”, no qual há
apenas sonetos. Guilherme de Almeida e
seu irmão Tácito de Almeida tiveram participação ativa na organização da Semana
de Arte Moderna de 1922. Guilherme criou em 1925 a conferência que aconteceu
nas cidades de Porto Alegre, Recife e Fortaleza para difusão da poesia moderna,
com o título: "Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”.
O poema de Guilherme de Almeida com o título
"A Carta Que Eu Sei de Cor”, que consta no livro "Era uma vez”, do mesmo autor, foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra, em
1930, na importante conferência "Poesia Moderníssima do Brasil".
Guilherme também foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo, na qual lecionava Ciência Política. Também foi um dos
fundadores da Revista Klaxon, que buscava divulgar ideias modernistas. Ele
participou do grupo verde-amarelista e foi o autor da arte da capa da citada
revista e também elaborou a capa do livro "Paulicéa Desvairada”, cujo
autor era Mário de Andrade. Teve significativa influência de obras dos autores
Olavo Bilac e do português Antônio Nobre. O parnasianismo e o simbolismo
influenciaram a poesia de Guilherme de Almeida antes de 1922.
Guilherme
foi colaborador da Revista de Antropofagia e para ela escreveu poemas-piada, do
tipo que fazia Oswald de Andrade. Em 1930 entrou para a Academia Brasileira de
Letras, o primeiro modernista a entrar nesta instituição. E em 1958 coroado
como o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros”( os outros foram Olavo
Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). Na sua poesia ele dominava
grandemente os processos rítmicos e verbais, assim como o verso livre,
utilizando os recursos da língua, a onomatopeia, as assonâncias e aliterações.
Essencialmente na sua poesia há o ritmo no “sentir, no pensar, no dizer”.
Destacou-se na sua arte no verso e nesse aspecto foi considerado pelo poeta
Manuel Bandeira como o maior em língua portuguesa. Também Guilherme de Almeida
foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês haikai no
Brasil.
O poeta combateu na Revolução Constitucionalista de
1932, tendo sido exilado em Portugal. Escreveu o poema Nossa Bandeira,
dedicado a São Paulo. Também criou a letra do Hino dos Bandeirantes,
que se tornou hino oficial do Estado de São Paulo. Também foi o autor da letra
do hino da Força Pública (atual Polícia Militar de São Paulo). Foi considerado
"O poeta da Revolução de 32”, tendo escrito o poema Moeda Paulista e
a Oração ante a última trincheira e a letra do "Hino
Constitucionalista de 1932”. Também homenageou a bandeira do Estado de São
Paulo com o poema Treze listras. A letra da Canção do
Expedicionário, em referência aos soldados brasileiros que lutaram na
Segunda Guerra Mundial, também é dele, assim como a letra do Hino da
Televisão Brasileira.
O poeta também foi desenhista amador e dedicada à
heráldica, criando por exemplo o brasão das seguintes cidades: São Paulo ,
Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé
(MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP).Foi presidente da Comissão Comemorativa do
Quarto Centenário da cidade de São Paulo.Foi redator do jornal O Estado de São
Paulo e do Diário de São Paulo. Foi diretor da Folha da Manhã e da Folha da
Noite. Ganhou o Prêmio Jabuti de literatura em 1968.
Guilherme de Almeida
faleceu em 11 de julho de 1969, aos 78 anos, em São Paulo (SP)
Obras:Nós (1917);A Dança
das Horas (1919);Messidor (1919);Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920);Era
Uma Vez (1922);A Flauta que Eu Perdi (Canções Gregas) (1924);Natalika, prosa
(1924);A Flor que Foi um Homem (1925);Encantamento (1925);Meu (1925);Raça
(1925);Simplicidade (1929); Gente de Cinema, prosa (1929);Você (1931);Carta à
Minha Noiva (1931);Cartas que Eu Não Mandei (1932);O Meu Portugal, prosa (1933);Acaso
(1939);Cartas do Meu Amor (1941);Poesia Vária (1947);Histórias, Talvez...,
prosa (1948); O Anjo de Sal (1951);Acalanto de Bartira (1954);Camoniana
(1956);Pequeno Cancioneiro(1957);Rua (1961);Cosmópolis, prosa (1962);Rosamor
(1965);Os Sonetos de Guilherme de Almeida (1968)
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Algumas frases e
poesias de Guilherme de Almeida:
“Indiferença
Hoje voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.
Passo, esquecido de te olhar - coitado!
Vai – coitada! esquecida de que existo:
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado!
Se, às vezes, sem querer, nos entrevemos,
se, quando passo, teu olhar me alcança,
se meus olhos te alcançam, quando vais,
Ah! Só Deus sabe e só nós dois sabemos!
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
daqueles tempos que não voltam mais!”
“E cruzam-se as
linhas
No fino tear do
destino
Tuas mãos nas minhas”
“Neblina? Ou vidraça
Que o quente alento
da gente
que olha a rua,
embaça?”
“Olho a noite pela
vidraça. Um beijo que passa acende uma estrela”
“Noite. Um silvo no
ar.
Ninguém na estação. E
o trem
passa sem parar.”
“Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na
varanda
Cheiro de calor”
“Uma árvore nua
aponta o céu. Numa
ponta
brota um fruto. A
lua?”
“Por que estás assim
violeta? Que
borboleta
morreu no jardim?”
“Leve escorre e
agita.
A areia. Enfim, na
bateia
fica uma pepita”
“O ar. A folha. A
fuga.
No lago, um círculo
vago
No rosto uma ruga”.
“Chuva de Primavera
Vê como se atraem
Nos fios os pingos
frios!
E juntam-se. E caem.”
“Outubro
Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas
folhas
Do velho salgueiro”.
“Um sábio me dizia:
esta existência
Não vale a angústia
de viver. A ciência,
Se fóssemos eternos,
num transporte
De desespero
inventaria a morte
Uma célula orgânica
apareceu
No infinito do tempo.
E vibra e cresce
E se desdobra e
estala num segundo
Homem, eis o que
somos neste mundo.
Assim falou-me o
sábio e eu comecei a ver
dentro da própria
morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó
mocidade,
És relâmpago ao pé da
eternidade!
Pensa: o tempo anda
sempre e não repousa;
Esta vida não vale
grande coisa.
Uma mulher que chora,
um berço a um anto;
O riso, às vezes,
quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a
luta que intimida
quatro círios acesos:
eis a vida
Isto me disse o monge
e eu continuei a ver
dentro da própria
morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia:
para o pobre
a vida, é o pão e o
andrajo vil que o cobre
Deus, eu não creio
nesta fantasia.
Deus me deu fome e
sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.
Assim falou-me o
pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!
Pela primeira vez eu
comecei a ver,
dentro da própria
vida, o encanto de viver.”
Quando as folhas
caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos…
E que dirá de
nós toda essa gente,
quando passarmos
mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"
E por onde eu passar
e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos…
E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto…
Hão de falar os teus cabelos brancos…
Quando as folhas
caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos…
E que dirá de nós
toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"
E por onde eu passar
e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos…
E por nós, na
tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas
do meu rosto…
Hão de falar os teus
cabelos brancos…
“Soneto XXXVIII
Quando a chuva
cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
_Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!”
ESSA,QUE EU HEI DE
AMAR...
Essa,que eu hei de
amar perdidamente um dia,
Será tão loura,e vagarosa,e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem,pela janela,
trazer luz e calor a esta alma escura e fria.
E,quando ela passar,tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração que vela...
E ela irá como o sol,e eu irei atrás dela
como sombra feliz...-- Tudo isso eu me dizia,
quando alguém me chamou.Olhei:um vulto louro,
e claro,e vagaroso,e belo,na luz de ouro
do poente,me dizia adeus,como um sol triste...
mas ias tão perdido em teu sonho
dourado,
meu pobre sonhador,que nem sequer me viste!
"Ó namorados que
passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!
Desperta os ninhos
vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…
Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!
Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!”
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Márcio José Matos
Rodrigues
Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03Naty6Tc9R5pa1LS2dEtZuodV5Sw:1625252463918&source=univ&tbm=isch&q=image+de+guilherme+de+almeida+modernismo&sa=
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