sexta-feira, 2 de julho de 2021

O poeta brasileiro Guilherme de Almeida

 





O poeta Guilherme de Andrade de Almeida, que também foi advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, ensaísta, tradutor brasileiro, membro da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto de Coimbra e do Seminário de Estudos Galegos de Santiago de Compostela nasceu em 24 de julho de 1890, em Campinas, São Paulo. Seu pai era Estevam de Araújo Almeida, professor de direito e jurista e sua mãe era Angelina de Andrade. Guilherme de Almeida formou-se em Direito em 1912. Em 1916 publica com autoria conjunta com o escritor Oswald de Andrade as peças teatrais em francês Moncoeur balance Leurâme. Ele estreou na poesia em 1917 com a publicação do livro “Nós”, no qual há apenas sonetos. Guilherme de Almeida e seu irmão Tácito de Almeida tiveram participação ativa na organização da Semana de Arte Moderna de 1922. Guilherme criou em 1925 a conferência que aconteceu nas cidades de Porto Alegre, Recife e Fortaleza para difusão da poesia moderna, com o título: "Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”.

O poema de Guilherme de Almeida com o título "A Carta Que Eu Sei de Cor”, que consta no livro "Era uma vez”, do mesmo autor, foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1930, na importante conferência "Poesia Moderníssima do Brasil". Guilherme também foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na qual lecionava Ciência Política. Também foi um dos fundadores da Revista Klaxon, que buscava divulgar ideias modernistas. Ele participou do grupo verde-amarelista e foi o autor da arte da capa da citada revista e também elaborou a capa do livro "Paulicéa Desvairada”, cujo autor era Mário de Andrade. Teve significativa influência de obras dos autores Olavo Bilac e do português Antônio Nobre. O parnasianismo e o simbolismo influenciaram a poesia de Guilherme de Almeida antes de 1922.

Guilherme foi colaborador da Revista de Antropofagia e para ela escreveu poemas-piada, do tipo que fazia Oswald de Andrade. Em 1930 entrou para a Academia Brasileira de Letras, o primeiro modernista a entrar nesta instituição. E em 1958 coroado como o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros”( os outros foram Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). Na sua poesia ele dominava grandemente os processos rítmicos e verbais, assim como o verso livre, utilizando os recursos da língua, a onomatopeia, as assonâncias e aliterações. Essencialmente na sua poesia há o ritmo no “sentir, no pensar, no dizer”. Destacou-se  na sua arte no verso e nesse aspecto foi considerado pelo poeta Manuel Bandeira como o maior em língua portuguesa. Também Guilherme de Almeida foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês haikai no Brasil.

O poeta combateu na Revolução Constitucionalista de 1932, tendo sido exilado em Portugal. Escreveu o poema Nossa Bandeira, dedicado a São Paulo. Também criou a letra do Hino dos Bandeirantes, que se tornou hino oficial do Estado de São Paulo. Também foi o autor da letra do hino da Força Pública (atual Polícia Militar de São Paulo). Foi considerado "O poeta da Revolução de 32”, tendo escrito o poema Moeda Paulista e a Oração ante a última trincheira e a letra do "Hino Constitucionalista de 1932”. Também homenageou a bandeira do Estado de São Paulo com o poema Treze listras. A letra da Canção do Expedicionário, em referência aos soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial, também é dele, assim como a letra do Hino da Televisão Brasileira. 

O poeta também foi desenhista amador e dedicada à heráldica, criando por exemplo o brasão das seguintes cidades: São Paulo , Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP).Foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.Foi redator do jornal O Estado de São Paulo e do Diário de São Paulo. Foi diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite. Ganhou o Prêmio Jabuti de literatura em 1968.

Guilherme de Almeida faleceu em 11 de julho de 1969, aos 78 anos, em São Paulo (SP)

 

Obras:Nós (1917);A Dança das Horas (1919);Messidor (1919);Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920);Era Uma Vez (1922);A Flauta que Eu Perdi (Canções Gregas) (1924);Natalika, prosa (1924);A Flor que Foi um Homem (1925);Encantamento (1925);Meu (1925);Raça (1925);Simplicidade (1929); Gente de Cinema, prosa (1929);Você (1931);Carta à Minha Noiva (1931);Cartas que Eu Não Mandei (1932);O Meu Portugal, prosa (1933);Acaso (1939);Cartas do Meu Amor (1941);Poesia Vária (1947);Histórias, Talvez..., prosa (1948); O Anjo de Sal (1951);Acalanto de Bartira (1954);Camoniana (1956);Pequeno Cancioneiro(1957);Rua (1961);Cosmópolis, prosa (1962);Rosamor (1965);Os Sonetos de Guilherme de Almeida (1968)

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Algumas frases e poesias de Guilherme de Almeida:

 

 

“Indiferença

Hoje voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo, esquecido de te olhar - coitado!
Vai – coitada! esquecida de que existo:
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado!

Se, às vezes, sem querer, nos entrevemos,
se, quando passo, teu olhar me alcança,
se meus olhos te alcançam, quando vais,

Ah! Só Deus sabe e só nós dois sabemos!
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
daqueles tempos que não voltam mais!”

 

 

“E cruzam-se as linhas

No fino tear do destino

Tuas mãos nas minhas”

 

“Neblina? Ou vidraça

Que o quente alento da gente

que olha a rua, embaça?”

 

 

 

“Olho a noite pela vidraça. Um beijo que passa acende uma estrela”

 

“Noite. Um silvo no ar.

Ninguém na estação. E o trem

passa sem parar.”

 

“Jasmineiro em flor.

Ciranda o luar na varanda

Cheiro de calor”

 

“Uma árvore nua

aponta o céu. Numa ponta

brota um fruto. A lua?”

 

 

“Por que estás assim

violeta? Que borboleta

morreu no jardim?”

 

 

“Leve escorre e agita.

A areia. Enfim, na bateia

fica uma pepita”

 

 

“O ar. A folha. A fuga.

No lago, um círculo vago

No rosto uma ruga”.

 

 

“Chuva de Primavera

 

Vê como se atraem

Nos fios os pingos frios!

E juntam-se. E caem.”

 

 

Outubro

 

Cessou o aguaceiro.

Há bolhas novas nas folhas

Do velho salgueiro”.

 

 

“Um sábio me dizia: esta existência

Não vale a angústia de viver. A ciência,

Se fóssemos eternos, num transporte

De desespero inventaria a morte

Uma célula orgânica apareceu

No infinito do tempo. E vibra e cresce

E se desdobra e estala num segundo

Homem, eis o que somos neste mundo.

 

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver

dentro da própria morte, o encanto de morrer.

 

Um monge me dizia: ó mocidade,

És relâmpago ao pé da eternidade!

Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;

Esta vida não vale grande coisa.

Uma mulher que chora, um berço a um anto;

O riso, às vezes, quase sempre, um pranto.

Depois o mundo, a luta que intimida

quatro círios acesos: eis a vida

 

Isto me disse o monge e eu continuei a ver

dentro da própria morte, o encanto de morrer.

 

Um pobre me dizia: para o pobre

a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre

Deus, eu não creio nesta fantasia.

Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

 

Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

 

Pela primeira vez eu comecei a ver,

dentro da própria vida, o encanto de viver.”

 

 

 

 

Quando as folhas caírem nos caminhos, 
ao sentimentalismo do sol poente, 
nós dois iremos vagarosamente, 
de braços dados, como dois velhinhos…

 E que dirá de nós toda essa gente, 

quando passarmos mudos e juntinhos? 
- "Como se amaram esses coitadinhos! 
Como ela vai, como ele vai contente!"


E por onde eu passar e tu passares, 
hão de seguir-nos todos os olhares 
e debruçar-se as flores nos barrancos…


E por nós, na tristeza do sol posto, 
hão de falar as rugas do meu rosto… 
Hão de falar os teus cabelos brancos…

 

 

Quando as folhas caírem nos caminhos, 
ao sentimentalismo do sol poente, 
nós dois iremos vagarosamente, 
de braços dados, como dois velhinhos…


E que dirá de nós toda essa gente, 
quando passarmos mudos e juntinhos? 
- "Como se amaram esses coitadinhos! 
Como ela vai, como ele vai contente!"

 

E por onde eu passar e tu passares, 
hão de seguir-nos todos os olhares 
e debruçar-se as flores nos barrancos…

 

E por nós, na tristeza do sol posto,

hão de falar as rugas do meu rosto… 

Hão de falar os teus cabelos brancos…

 

 

 

 

Soneto XXXVIII

 

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais...
_Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!”

 

 

ESSA,QUE EU HEI DE AMAR...

 

Essa,que eu hei de amar perdidamente um dia,
Será tão loura,e vagarosa,e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem,pela janela,
trazer luz e calor a esta alma escura e fria.

E,quando ela passar,tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração que vela...
E ela irá como o sol,e eu irei atrás dela
como sombra feliz...-- Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou.Olhei:um vulto louro,
e claro,e vagaroso,e belo,na luz de ouro
do poente,me dizia adeus,como um sol triste...

 E falou-me de longe:´´Eu passei a teu lado,

mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador,que nem sequer me viste!

 

 

"Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!


Desperta os ninhos vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…


Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada

dos que amaram sem nunca dizer nada,

dos que foram amados sem saber!”

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Márcio José Matos Rodrigues

 

 

 Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03Naty6Tc9R5pa1LS2dEtZuodV5Sw:1625252463918&source=univ&tbm=isch&q=image+de+guilherme+de+almeida+modernismo&sa=

 


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