Uma personagem histórica feminina de
destaque no processo de independência do Brasil foi Leopoldina Carolina
Josefa de Habsburgo-Lorena (conhecida no Brasil como Maria Leopoldina, pois ela
passou a adotar esse nome quando veio para o Brasil), que foi arquiduquesa da
Aústria, primeira esposa de Dom Pedro I e imperatriz consorte do Brasil. Ela nasceu
em 22 de janeiro de 1797, no Palácio Hofburg, em Viena, Arquiducado da Áustria,
no Sacro Império Romano-Germânico. De 12 de outubro de 1822 a 11 de dezembro de
1826 ela foi imperatriz do Brasil e por um curto período, de 10 de março a 2 de
maio de 1826 foi rainha consorte de Portugal e Algarves. Seu pai era o
imperador austríaco Francisco I e sua mãe era a princesa Maria Teresa de
Nápoles e Sicília, segunda esposa de Francisco. A rainha da França, Maria
Antonieta, guilhotinada durante a Revolução Francesa, era tia-avó de
Leopoldina, que teve como cunhado o imperador da França Napoleão Bonaparte,
casado com Maria Luísa, a irmã mais velha de Leopoldina.
Leopoldina teve esmerada educação quando criança e
adolescente, pois os príncipes da família Habsburgo tinham uma educação com
base em uma tradição que iniciou com Leopoldo II, avô dela. Para ele “as crianças
deveriam ser desde cedo inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade,
compaixão e desejo de fazer o povo feliz". Essa família da realeza
austríaca tinha fortes costumes católicos e também procurava ter uma ótima
formação científica e cultural, com aprendizado nas áreas de política internacional
e sobre como governar. Leopoldina foi criada nesses princípios.
Com sua ampla formação
cultural, ela foi considerada por estudiosos como a articuladora do processo de
Independência do Brasil, entre 1821 e 1822. Segundo Paulo Rezzuti, em sua obra
“Dona Leopoldina — A história não contada: A mulher que arquitetou a
Independência do Brasil”, ele diz sobre ela: abraçou o Brasil como seu país, os
brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”. Diversas vezes
ela agiu como conselheira do príncipe Dom Pedro como na questão que levou ao
“Dia do Fico”. Dom Pedro em cartas ocasiões precisou se ausentar e foi ela que
ficou como regente, sendo considerada a primeira mulher a se tornar chefe de
estado de um país americano independente.
Sobre a família Habsburgo, de
onde vinha Leopoldina, essa família reinou na Áustria de 1282 até 1918 (ano
final da I Guerra Mundial). Seu pai foi o último imperador do Sacro Império
Romano Gemânico, dissolvido por Napoleão em 1804.
O nascimento de Leopoldina
aconteceu durante as guerras napoleônicas, época muito difícil para a família
Habsburgo. A Áustria se envolveu na maior parte desses conflitos contra
Napoleão, que chegou a invadir Viena. Em um acordo com Napoleão, o imperador
austríaco Francisco ofereceu sua filha Maria Luisa como esposa para ele.
A mãe de Leopoldina morreu quando ela tinha dez anos e sua madrasta, a terceira esposa de Francisco I, era sua prima e tinha vastos conhecimentos culturais e era inclusive amiga de Goethe, famoso poeta alemão. Foi ela que se dedicou muito à educação de Leopoldina, incentivando o gosto pela literatura e pela música de autores como Beethoven e Joseph Haydn. Os filhos de Francisco I a chamavam de “querida mamãe” e tinham uma educação voltada para a cortesia, caridade, a necesidade de sacrifícios pessoais pelo bem do Estado. Nessa educação existiam disciplinas como: leitura, escrita, alemão, francês, italiano, dança, desenho, pintura, história, geografia e música; em módulo avançado, matemática (aritmética e geometria), literatura, física, latim, inglês, grego, canto e trabalhos manuais. Leopoldina teve predileção por ciências naturais, em destaque para botânica e mineralogia. Ela mesma fez coleções de moedas, plantas, flores, minerais e conchas. Antes de vir para o Brasil, ela já dominava 6 línguas, aprendeu rapidamente o português em 1816 e interessou-se por conhecimentos a respeito das terras brasileiras. Leopoldina e seus irmãos na Áustria visitavam museus, fábricas, fazendas e participava de bailes, iam a peças teatrais e tocavam instrumentos musicais. Eram estimulados a falar em público, praticando a oratória ea saber portar-se diante do povo.
Sobre a educação de Leopoldina
nos diz Paulo Rezzutti em “Dona Leopoldina, A História não contada”:
“(...) Aos 14 anos as lições já
eram diferentes, como podemos ver por esta outra carta, datada de 11 de abril
de 1,814:
“Tenho três novos
mestres:1-abade Rogier, como mestre de geometria e matemática, que estudei
durante o outono e o inverno e onde fiz meus maiores progressos; agora estou
repetindo-as; 2-o abade Neumann, como mestre de numismática, três vezes por
semana das dez às onze, que me diverte muito; 3-o abade Stelzhamer, três vezes
por semana, das oito às nove da noite, que me aborrece muito e com quem não
faço muitos progressos...”. E também o mesmo autor:
“Cada arquiduque tinha sua própria corte. No caso
de Leopoldina, duas mulheres ocupavam em seu pequeno mundo papeis importantes.
Uma era Maria Ulrica, condessa Von Lazansky, camareira- mor, responsável pelo
ensino de boas maneiras, etiqueta e cerimonial e pela supervisão dos estudos. A
outra era Francisca Annony, responsável pelas roupas da arquiduquesa, por sua
higiene e cuidados corporais(....). Toda vida de Leopoldina seguia regras e um
cronograma preestabelecido, assim como uma ordem de precedência clara (...). A
madrasta de Leopoldina foi uma boa esposa e mãe extremosa com os filhos que
herdara do casamento anterior do marido. Chegava a tomar ela própria a lição
das crianças e impor-lhes castigos quando não queriam estudar. Foi a
responsável pela introdução de Leopoldina ao Pietas Austriaca. A
imperatriz Maria Ludovica cuidou da preparação dela ao catecismo e levou-a à
sua primeira eucaristia. Logo após a partida de Maria Luisa em direção ao seu
destino na França, Leopoldina ingressou, em 3 de maio de 1810, na Ordem
da Cruz Estrelada, uma ordem exclusivamente feminina e aristocrática. Seus
membros deveriam se dedicar à oração, à adoração da Santa Cruz, a levar uma
vida de virtude e a praticar obras de assistência espiritual, além de se
envolverem em trabalhos de caridade (...)” .
Leopoldina era uma mulher que foi educada para ser capaz de exercer função de governante, tendo além dos conhecimentos que obteve por meio de estudos, interesses por ciências naturais, em especial botânica e mineralogia. Ela não só era muito estudiosa, como também desenhava, pintava e sabia tocar instrumentos musicais.
Sobre o casamento de Leopoldina e Pedro,
constituiu-se como parte de uma estratégia política de Portugal e da Áustria.
Os casamentos envolvendo reinos europeus naquela época funcionavam como meio de
se obter apoios políticos e até mesmo para forjar alianças. O grande negociador
do lado português foi o Marquês de Marialva. Em 29 de novembro de 1816 foi
assinado o acordo entre os países sobre o casamento e em 13 de maio de 1817 o
arcebispo de Viena realizou o casamento, mas Dom Pedro não estava presente, foi
por procuração. Dom Pedro foi representado por Carlos da Áustria-Teschen,
arquiduque, tio de Leopoldina e importante chefe militar. Em 6 de novembro de
1817, quando Leopoldina já estava no Brasil, ela e Pedro receberam uma benção
nupcial no Rio de Janeiro.
Segundo Ronaldo Vainfas, em sua obra:
“Dicionário do Brasil Imperial”:
“(...) O casamento de Leopoldina com Dom Pedro, realizado
por procuração em 1817, inseria-se na política tradicional de estabelecer
relações entre as casas reais através de laços matrimoniais, mas, para a
Áustria, servia ainda como instrumento para estender à América sua política
legitimista, defendida por Metternich no Congresso de Viena, visando a
contrabalançar os movimentos liberais na porção espanhola do continente, em sua
maioria autonomistas e republicanos. Já Para Portugal, significava, no difícil
equilíbrio da política internacional da conjuntura pós-napoleônica, buscar
novas alianças com potências europeias, a fim de reduzir a influência britânica
no mundo luso-brasileiro.
Ao chegar ao Brasil, em novembro de 1817, Dona
Leopoldina veio acompanhada de uma missão científica, formada por naturalistas,
desenhistas e pintores, que ampliaram o conhecimento do país (...)”.
Paulo Rezzutti comenta em sua obra já citada:
“(...) A união entre os Habsburgos e os
Bragança abria não apenas à Áustria, mas para os demais Estados germânicos, os
portos do Brasil, até então controlados exclusivamente pelo comércio com a
Inglaterra. Comercialmente, ter uma Habsburgo como rainha desse novo Reino
americano era muito interessante, afinal, isso poderia vir a ajudar na retomada
do crescimento econômico austríaco.”
Leopoldina, tinha sido criada em uma monarquia
absolutista e de início ficou assustada com movimentos políticos brasileiros,
temendo uma revolução no estilo da Revolução Francesa, que levou o rei e a
rainha (tia-avó de Leopoldina) a serem executados. Mas, depois de algum tempo,
essa mulher inicialmente temerosa em relação com as questões políticas no
Brasil acabou se envolvendo nas questões entre Brasil e Portugal, tomando
partido ao lado dos brasileiros. Ela, ao lado do ministro brasileiro José
Bonifácio, foram de imensa importância para o processo de independência do
Brasil. Leopoldina passa a ter uma postura mais liberal em favor do Brasil e
com a partida de Dom João VI para Portugal em abril de 1821, as tensões foram
aumentando. Leopoldina, mesmo com sua formação em uma corte absolutista
europeia procurou influenciar Pedro em defesa das liberdades para o Brasil,
como quando as cortes portuguesas queriam que ele voltasse para Portugal (Dia
do Fico). Ela escreveu no fim de 1821 uma carta à seu secretário Schäffer,
mostrando ser uma princesa empenhada na causa brasileira. Ela decidiu, antes
mesmo de Dom Pedro, permanecer no Brasil diante das exigências vindas de
Portugal. Dava algumas sugestões a Pedro e muitas vezes influenciava outras
pessoas que tinham ligação direta com ele para que o aconselhassem
politicamente. Ela, antes do marido, percebeu o jogo que as Cortes portuguesas
faziam no sentido de subjugar a família real portuguesa e de dominar o Brasil.
Leopoldina refletiu que o Brasil poderia ser uma nação independente importante.
Em agosto de 1822 Dom Pedro foi para São Paulo para
tratar de assuntos políticos e Leopoldina ficou como Princesa Regente Interina
do Brasil. Tinha sido nomeada por Dom Pedro como chefe do Conselho de Estado em
13 de agosto de 1822. Possuía poderes legais para governar o Brasil na ausência
do marido. Ela soube que Portugal estava agindo para estabelecer um controle
sobre o Brasil. O ministro José Bonifácio de Andrada e Silva a orientou a tomar
medidas sérias e ela reuniu-se em 2 de setembro com o Conselho e envia carta a
Dom Pedro junto com uma carta escrita por José Bonifácio e mais cartas que tinham
sido mandadas de Portugal contendo críticas a Dom João e Dom Pedro.
A seguir trechos da carta de Leopoldina:
“É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja
persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta
presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua
presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína (...)."O pomo
está maduro, colhei-o já, senão apodrece”.
Na época foi pensado na criação de uma bandeira de
um Brasil independente, com o verde da casa de Bragança e o amarelo da casa de
Habsburgo-Lorena. Ela foi aclamada imperatriz em primeiro de dezembro de 1822 e
se esforçou para que cortes europeias reconhecessem a independência do Brasil,
tendo escrito cartas para Dom João e para o imperador da Áustria.
Leopoldina havia recebido em agosto de 1822 uma
carta de senhoras baianas, dando parabéns a ela pelo seu papel nas decisões
tomadas por Pedro em prol do Brasil. Leopoldina em carta ao marido destacou a
atitude daquelas mulheres baianas: "prova que as mulheres têm mais ânimo e
são mais aderentes à causa boa”.
Leopoldina sofreu ao saber do envolvimento de Dom
Pedro I com Domitila de Castro (que teve uma filha com o imperador reconhecida
por ele publicamente) e ao ter de aceitar a amante dele como dama de companhia.
Em uma viagem a Bahia, em 1826, Domitila acompanhou o casal real. Leopoldina se
sentia humilhada e essa situação a abalou profundamente nos aspectos moral e
psicológico. Leopoldina escreveu a sua irmã Maria Luisa dizendo: “O monstro
sedutor é a causa de todas as desgraças”. O herdeiro do trono, que seria o
futuro Dom Pedro II, nasceu em 1825. Ela já tinha tido outros filhos, mas nem
todos sobreviveram. Em 1826 Leopoldina estava depressiva e com problemas de
saúde. Ela era amada pelo povo e havia desentendimentos dela com o imperador.
Muitos brasileiros rezavam pela saúde dela. O embaixador do reino da Prússia
escreveu para Berlim:
“A consternação no meio do povo era indescritível;
nunca [...] foi visto igual sentimento uníssono. O povo se encontrava
literalmente nos joelhos rogando ao Todo Poderoso pela conservação da
imperatriz, as igrejas não se esvaziavam e nas capelas domésticas todos se
encontravam de joelhos, os homens formavam procissões, não de habituais que
quase costuma provocar risos, mas sim de verdadeira devoção. Em uma palavra,
tal inesperada afeição, manifestada sem dissimulação, deve ter sido para a alta
enferma uma verdadeira satisfação”.
Um jornal brasileiro, o Diário
Fluminense, publicou em 7 de dezembro de 1826:
“Já pelos boletins, já pessoalmente dirigindo-se à
Imperial Quinta, onde se mistura grandes e pequenos, nacionais, e estrangeiros,
ricos e pobres, com as lágrimas nos olhos, o rosto abatido e o coração
repassado de amargura e inquietação, fazem tremendo esta pergunta – Como está a
Imperatriz?”.
O religioso Frei Sampaio assim descreveu o momento:
“Nunca se observou na estrada de São Cristóvão
maior concurso de povo; atropelavam-se as carruagens; todos corriam em
lágrimas, entretanto que no centro da cidade giravam as procissões de preces,
com suas imagens, e com acompanhamento de todo o clero, assim regular ou
secular. O povo não pode ver sem público sinais de piedade a imagem de Nossa
Senhora da Glória, que nunca saiu de seu templo, e que pela primeira vez, debaixo
de muita chuva, ia como visitar a princesa, que aparecia todos os sábados aos
pés dos seus altares [...] Não houve, em uma palavra, irmandade alguma, que não
levasse à Capela Imperial os Santos da maior devoção."
Quando faleceu, Leopoldina estava grávida e
substituía o imperador que foi com tropas para a Província Cisplatina (atual
Uruguai). Era a Guerra Cisplatina entre brasileiros e argentinos. Embora alguns
estudiosos tenham dito que a causa do agravamento do estado de Leopoldina tenha
sido uma agressão física de Pedro, não foi comprovada essa agressão em exames
do esqueleto de Leopoldina no século XX. Mas é verdade que Pedro havia
humilhado muito Leopoldina em um episódio em 20 de novembro de 1826, quando ele
quis que o beija-mão à regente fosse feito na presença dele e de Domitila. Ele
pretendia mostrar que estava tudo bem e que os boatos do romance dele com
Domitila eram falsos. Mas Leopoldina se recusou a entrar na sala do trono. O
imperador, segundo relatos, teria sido muito rude e procurado arrastar
Leopoldina até a sala do trono, sem sucesso, porque Leopoldina não compareceu.
Na sua última carta em 8 de dezembro de 1826 à irmã
Maria Luísa, Leopoldina escreveu:
"Minha adorada mana!"
"Reduzida ao mais deplorável estado de saúde e
tendo chegado ao último ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos,
terei também a desgraça de não poder eu mesma explicar-te todos aqueles
sentimentos que há tanto tempo existiam impressos na minha alma. Minha mana!
Não tornarei a vê-la! Não poderei outra vez repetir que te amava, que te
adorava! Pois, já que não posso ter esta tão inocente satisfação igual a outras
muitas que não me são permitidas, ouve o grito de uma vítima que de tu reclama
- não vingança - mas piedade, e socorro do fraternal afeto para meus inocentes
filhos, que órfãos vão ficar, em poder de si mesmos ou das pessoas que foram
autores das minhas desgraças, reduzindo-me ao estado em que me acho, de ser
obrigada a servir-me de intérprete para fazer chegar até tu os últimos rogos da
minha aflita alma. A Marquesa de Aguiar, de quem bem conheceis o zelo e o amor
verdadeiro que por mim tem, como repetidas vezes te escrevi, essa única amiga
que tenho é quem lhe escreve em meu lugar."
"Há quase quatro anos, minha adorada mana,
como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao
estado da maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro.
Ultimamente, acabou de dar-me a última prova de seu total esquecimento a meu
respeito, maltratando-me na presença daquela mesma que é a causa de todas as
minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-te, mas faltam-me forças para me
lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida a causa da minha morte.
Cadolino, que por ti me foi recomendado, e que me tem dado todas as provas da
maior subordinação e fidelidade, é quem fica encarregado de entregar-te a
presente, e declarar-te o que por muitos motivos não posso confiar a este
papel. Tendo ele todas as informações que são precisas sobre este artigo, nada
mais tenho a acrescentar, confiando inteiramente na sua probidade, honra e
fidelidade."
"Faltaria ao meu dever se, além de ter
declarado ao Marechal e a Cadolino que tenho dívidas contratadas (ou
contraídas?) para sustentar os pobres, que de mim reclamarão algum socorro, e
para as minhas despesas particulares, não dissesse a ti que o Flach, de quem
tenho muitas vezes escrito, é digno de toda tua consideração e de meu Augusto
Pai, a quem peço-te remeter a inclusa (...)”
Ao sofrimento de Leopoldina, muitos do povo tiveram
uma reação de hostilidade em relação à Domitila, a Marquesa de Santos. Sua casa
foi apedrejada e houve um atentado a tiros contra seu cunhado. Ela foi
orientada por ministros e funcionários reais a não frequentar mais a corte.
Em 11 de dezembro no Palácio de São Cristóvão, na
Quinta da Boa Vista, Leopoldina morreu. Nesse dia foi enviado a noticia sobre a
morte dela ao imperador Dom Pedro I. Segundo o relato, ela antes de morrer
tinha febre alta, convulsões e delírios. Muitos brasileiros choraram sua morte.
Na Europa, a imagem de Dom Pedro ficou afetada. Segundo análise do médico legista
Luiz Roberto Fontes em 2012, uma doença grave foi a causadora de aborto e morte
de Leopoldina. Ele disse:
"O que temos condições de dizer, hoje, é do
que a imperatriz não morreu. Se houve mesmo uma briga por causa da traição de
Dom Pedro I, ela não tem a ver com a morte de dona Leopoldina (...)."Ela
teve uma infecção grave, mas não sabemos ainda qual é essa doença. Precisamos
de mais análises para descobrir a causa da morte. A tomografia não mostrou
fratura no fêmur ou em outro osso, descartando a lenda da queda de uma escada
ou do acidente (que teria sido provocado por Dom Pedro). Pelos exames, vimos
que a causa pode ser uma grave infecção que ela teve por três semanas".
Ela foi sepultada no Convento da Ajuda. Em 1954 o
corpo foi transferido para a Capela Imperial, sob o monumento do Ipiranga, na
cidade de São Paulo.
Leopoldina foi muito popular. Os mais pobres tinham
boa impressão dela, que foi chamada de "mãe dos brasileiros”. No dia de
sua morte pessoas choravam pelas ruas e segundo alguns relatos houve pessoas
escravizadas que teriam dito: “Nossa mãe morreu. O que será de nós? Quem tomará
partido dos negros?”. A morte dela contribuiu para aumentar a perda
da popularidade de Dom Pedro I.
Leopoldina tinha sido, além de importante
politicamente, também uma incentivadora da ciência e das artes. Vieram com ela
da Europa nomes de destaque como o botânico alemão Von Martius, o zoólogo Von
Spix e o pintor Thomas Ender. Também a vinda dela contribuiu para a imigração
germânica, de início com suíços em Nova Friburgo e depois alemães em outros
locais.
Segundo a professora de
História Juliana Bezerra:
“(...) Carolina Josefa Leopoldina de
Habsburgo-Lorena nasceu em 22 de janeiro de 1797. Era a terceira filha do
Imperador da Áustria, Francisco I, e da sua segunda esposa, a Princesa Maria
Teresa Carolina de Nápoles e da Sicília.
No Brasil, passou a assinar como “Maria
Leopoldina”, por ser uma tradição da família real portuguesa incluir
"Maria" entre os nomes das infantas. Também é conhecida em nossa
história como “Imperatriz Leopoldina”, “Dona Leopoldina” ou “Dona Maria
Leopoldina” e "Maria Leopoldina de Áustria".
Educada com esmero na corte vienense, desde cedo
mostrou interesse pela botânica e mineralogia. Nas excursões realizadas com sua
família aproveitava para coletar mostras de minerais e plantas.
Também estudou línguas, história e pintura deixando
várias aquarelas.
Bicentenário: Imperatriz
Leopoldina teve protagonismo na Independência
Mãe de Dom Pedro II e de outros
seis filhos. Esposa humilhada por um marido, Dom Pedro I , que colecionava
amantes.
Essas imagens mais conhecidas da história de Dona
Leopoldina não são tudo.
Só recentemente historiadores passaram a chamar
atenção para o protagonismo da princesa austríaca, que embarcou para o Brasil
para um casamento de conveniências.
Para o escritor Paulo Rezzutti, autor de “Dona
Leopoldina, a história não contada”, a austríaca que se encantou pelo Brasil
tem protagonismo na história da independência muito antes do sete de
setembro.
Articuladora, sagaz e poliglota. Apesar de todas as
humilhações, Leopoldina passou a agir para manter o reino para os filhos.
Segundo a historiadora Mary Del Priore, autora do livro “A carne e o sangue,
sobre a família imperial”, Leopoldina percebeu que era necessário
participar ativamente da política para preservar o trono para os filhos.
Uma princesa que soube se impor. Essa é a avaliação
do historiador Clóvis Bulcão, autor do livro “Leopoldina, a Princesa do
Brasil”.
Os historiadores entendem que o machismo impediu
que o protagonismo de Leopoldina fosse mais retratado.
As novas leituras sobre as ações dela mudam também
o olhar sobre a história da Independência do Brasil. (...)”
______________________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+leopoldina&sxsrf=ALiCzsYJthw83uigM9oP410Q_hTAZ_XRWw%3A1663015755435&source=hp&ei=S5sfY4u6GNDb1sQP7
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