segunda-feira, 19 de junho de 2023

O Dia Internacional da Eliminação da Violência Sexual em Conflito Armado

 




O dia 19 de junho é o Dia Internacional da Eliminação da Violência Sexual em Conflito Armado. Por que esta data especial? Porque a violência sexual em conflito tem efeitos em gerações, ameaçando a segurança humana e internacional. São atos cruéis usados na guerra envolvendo tortura, terror e repressão. Em vários casos, torna-se difícil a vida para os que sobreviveram. Eles enfrentam obstáculos para relatar crimes desse tipo e também pode ficar complicado o acesso a serviços de apoio. É essencial que sejam investigados tais crimes e os culpados precisam ser punidos e que sejam feitos esforços no sentido de erradicar estes crimes.

Como surgiu essa data? Ela foi criada pela Assembleia Geral da ONU por meio da assinatura da Resolução 69/293, no dia 19 de Junho de 2015,para chamar a atenção para esta questão que muitas vezes não é revelada publicamente e para lembrar ao mundo os que sofreram violência sexual em conflitos armados. Sam Kutesa, que na época era presidente da assembléia, disse que que todas as formas de violência sexual praticadas em zonas de conflito, são graves violações dos direitos humanos.Que tipos de violência estão relacionados nesta questão? Estupro, escravidão sexual; prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada e qualquer outra violência sexual de gravidade comparada, perpetrada contra mulheres, homens, meninas e meninos, que seja direta ou indiretamente ligada ao conflito armado.

O tráfico de pessoas quando cometido em situações de conflito para fins de violência ou exploração sexual também é considerado em relação a esta questão da violência sexual em conflitos. Há casos caracterizados como crimes de guerra ou crimes contra a humanidade e representam graves violações ao Direito Internacional Humanitário e ao Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Em 2017 foi lançada pelo governo britânico a segunda versão do Protocolo Internacional sobre a documentação e a investigação de violência sexual em conflito. Desde 2012 foi estabelecida uma Iniciativa de Prevenção de Violência Sexual em Conflito (PSVI). Em 2021 foi lançada a minuta do Código e Conduta Global Centrado no Sobrevivente para a documentação e investigação de violência sexual relacionada a conflitos ou atrocidades (CARSV). Este documento é conhecido como “Código Murad”, por causa de Nádia Murad, prêmio Nobel da Paz de 2018, pelos seus esforços na luta contra o uso da violência sexual como arma de guerra. Nádia é da minoria yazidi no Iraque. Ela foi sequestrada e violentada por membros do grupo extremista Estado Islâmico. Atualmente ela luta contra o tráfico sexual de mulheres. O “Código” foi desenvolvido pelo Instituto de Investigações Criminais Internacionais, com a concordância do Instituto Nádia.

Também há a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de Número 1820, que destaca que a violência sexual é usada como uma tática de guerra e assim é uma ameaça para a segurança e a paz mundial.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de suas agências, dá apoio aos grupos atingidos por este tipo de violência. Uma destas agências é o Fundo das Nações Unidas para a População, que apoia projetos direcionados à assistência jurídica, apoio psicológico e acesso a tratamento médico. Segundo especialistas, para cada estupro que foi relatado em conexão com um conflito, 10 a 20 casos ficam sem a devida documentação.

Entre casos recentes de violência sexual utilizada como tática de guerra podem ser citados conflitos do século XXI na África como na região de Tigré e na Nigéria e nos anos 90 do século XX na Guerra da Bósnia.

Também na Segunda Guerra Mundial houve muitos casos de violências sexuais. Nas invasões e ocupações de amplos territórios, houve terror contra populações civis e mulheres ficaram expostas à violências diversas dos soldados. Nos casos dos exércitos alemão e soviético os estupros coletivos eram tolerados e até incentivados em algumas situações.

Vê-se que a violência sexual em conflitos é algo terrível e monstruoso que tem ocorrido desde há muito tempo, em muitos lugares e que precisa ser combatido. Citando o caso da Segunda Guerra Mundial, conflito no qual houve uma violência extrema contra civis, incluindo violações de centenas de milhares (ou mesmo milhões) de mulheres, destaco o que disse o historiador Norman Davies sobre comportamentos de soldados soviéticos em relação às mulheres alemãs:

“A cultura da violação em massa foi encorajada tanto pelas atitudes dos homens, como pelas disposições das autoridades militares. ''Os soldados do Exército Vermelho não acreditam em 'ligações individuais' com mulheres alemãs'', escreveu um dramaturgo soviético no seu diário de guerra. ''Nove, dez, doze homens ao mesmo tempo violam-nas coletivamente.'' Podiam prevaricar impunemente. ' A NKVD (…) não punia os seus soldados por violação, mas apenas se apanhassem doenças venéreas através do contato com as vítimas que, na maioria das vezes, tinha sido contaminadas por outros violadores''. Este procedimento lembra a prática instituída pelo Exército americano, cujos soldados depois de terem sido proibidos de ''confraternizar'' pagavam uma multa de 65 dólares ao receberem tratamento para doenças venéreas.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

 https://www.google.com/search?q=mulheres+alem%C3%A3s+em+Berim+destru%C3%ADda+pela+guerra&tbm


O Patrono da Artilharia do Brasil Emílio Mallet

 




Em 10 de junho de 1801 nascia em Dunquerque, na França, Emile Louis Mallet, que veio a ser anos depois o Marechal Emílio MalletBarão de Itapevi. É o patrono da Artilharia do Brasil. Na data de seu nascimento é comemorado o Dia da Artilharia.

Mallet tinha 17 anos quando veio para o Brasil e foi morar na cidade do Rio de Janeiro. Sua família era ligada à nobreza francesa. O imperador Dom Pedro I o convidou para entrar na carreira militar. Assim, Mallet foi se matricular na Academia Real Militar do Império, iniciando como primeiro cadete em 13 de novembro de 1822. Posteriormente escolheu se formar pelo curso de Artilharia. Já como segundo tenente, ele comandou uma bateria de Artilharia a Cavalo durante a Campanha da Cisplatina, no período de 1825 a 1828. Pela bravura na batalha de Passo do Rosário, ele recebeu a promoção à capitão. Depois do fim dessa guerra, ele casou-se com Joaquina Castorina de Medeiros, filha de um rico fazendeiro em Bagé, Rio Grande do Sul, que tinha parentesco com o Marechal Osório, que era colega e amigo de Mallet no Exército.

Foi demitido em 1831 do serviço ativo do Exército, devido a "não ser brasileiro nato". Em 1837 lutou no conflito chamado de Revolução Farroupilha, liderando uma Bateria a Cavalo, tendo sido dada a ele a incumbência de fortificar a vila de Rio Grande. Recebeu o título de Major da Guarda Nacional. Depois tornou-se, com a interferência de Luís Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias), Chefe de Estado-Maior do comandante militar gaúcho Bento Manuel Ribeiro. Após o fim da guerra no Rio Grande do Sul, Mallet saiu da ativa e foi cuidar de suas terras em Bagé.

Em 1851 Mallet foi reintegrado ao Exército Imperial e participou da campanha na Guerra do Prata, envolvendo forças do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Durante o referido conflito Mallet pelo seu valor como militar passou a ser muito respeitado pela tropa brasileiro, pelos aliados e  inimigos. Participou também em 1864 e 1865, com o exército brasileiro aliado ao Partido Colorado, contra Aguirre, do partido Blanco, no Uruguai, em 1864 e 1865.

Na Guerra do Paraguai, Mallet liderava como tenente-coronel o Primeiro Regimento de Artilharia a Cavalo. Destacou-se nas vitórias brasileiras de Passo da Pátria, Estero Bellaco e em Tuiuti, a maior batalha da América do Sul. Nessa batalha ele tinha mandado cavar um fosso profundo para proteger a artilharia, o que foi muito importante para a vitória contra os paraguaios. Mallet disse uma frase que ficou conhecida: “Eles que venham. Por aqui não passarão.” Pela sua atuação em Tuiti Mallet foi promovido à coronel. Depois exerceu a função de Comandante da 1ª Brigada de Artilharia e teve participação relevante nas Batalhas de Humaitá, Piquiciri, Angustura, Lomas Valentinas e Campo Grande. Na fase final dessa guerra Mallet foi o comandante-chefe do comando-geral de artilharia do Exército. E ao terminar a guerra recebeu a promoção para Brigadeiro.

Mallet foi promovido em janeiro de 1879 a Marechal de Campo, em 11 de outubro de 1884 a Tenente-General e em 15 de julho de 1885 a Marechal de Exército. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em  2 de janeiro de 1886.

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História




sábado, 10 de junho de 2023

Poesias para duas Samaumeiras

 






Samaumeira


Ó velha e frondosa amiga,

Contemplo em dor teu cruel destino.

Quantas vezes conversamos sem palavras,

Sorrimos pelas alegrias

E choramos sem lágrimas visíveis

Pelas dores de todas as árvores.

Quando eu me sentava junto a ti,

Era-me agradável,

A tua companhia.

Lembro-me que eu queria

Ser poderoso e altivo

Como tu eras!

Mas eis que aprendi,

Que a força do rio,

É como a corrente da História,

Fluindo por entre os anos,

Atingindo poderosos soberanos

Que tropeçaram em suas vaidades.

Perdeste tua última batalha contra as águas

Que somente, tão somente seguiam seu caminho.

Agora sozinho,

Vejo teu cadáver imponente,

A despertar espanto em curiosos seres humanos;

E nos mais sensíveis,

Sentirem-se impotentes,

Por nada poderem fazer,

Misto de pena por te perder

E admiração em ver tal gigante abatido.

Velha senhora meu coração está ferido,

Desta vez minhas lágrimas são visíveis!

 

Abril de 1995

* Homenagem a uma frondosa samaumeira, que ficava no campus universitário da Universidade Federal do Pará, em Belém, que tombou pela força das águas do Rio Guamá. Ela ficava próxima ao rio e o rio acabou levando a margem e derrubando a árvore.

 

  

A Samaumeira de Nazaré.


Adeus Samaumeira,

Tu te estatelaste ,

Assim como tantas mangueiras,

Que foram ao chão.

Não mais os gritos,

Dos periquitos.

Agora sem ti,

Tudo fica mais esquisito.

Ficou um buraco,

Onde antes era bonito.

Olhar para ti nas noites de Círios,

Era olhar para o infinito,

Era viajar em rios,

Rumo à floresta amazônica.

Talvez haja um paraíso das grandes árvores,

Onde uma orquestra sinfônica,

Toque sinfonias ,

Lindas melodias.

Ah! Samaumeira,

Vai faltar algo em meu dia,

Foi-se parte de minha alegria

E por mais que eu queira

Fingir que ali estás,

Ouvirei os lamentos do velho Siqueira,

Que namorou a teus pés,

A mais formosa.

Ali onde tantos passaram com fé!

Ó tu rainha entre as frondosas,

Os romeiros iam à Basílica de Nazaré

E à Sé.

Que se plantem rosas

Em tua memória.

O choro dos pássaros vai no vento,

Tu ficavas ali em paz...

Testemunha da História!

Que os saudosos se lembrem de ti não como a poderosa,

Mas como a que marcou um tempo,

Que não volta mais!


Fevereiro de  2023

*Para a Samaumeira do largo de Nazaré , que teve seu fim.

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+samaumeira&tbm