sábado, 29 de julho de 2023

O compositor, cantor e pintor brasileiro Heitor dos Prazeres

 

 


 

 

Em 23 de setembro de 1898 nascia na cidade do Rio de Janeiro o compositor, cantor e pintor brasileiro Heitor dos Prazeres.

Era filho do marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, Eduardo Alexandre dos Prazeres e da costureira Celestina Gonçalves Martins. Heitor tinha duas irmãs mais velhas: Acirema e Iraci. Ele era conhecido por seus familiares como Lino. Aprendeu a tocar clarinete em diversos ritmos (polcas, marchas, valsas, choros) com o seu pai, que morreu quando Heitor tinha sete anos. Tendo estudado nas escolas "Benjamin Constant", colégio dos padres de Sant'Ana e Externato Sousa Aguiar foi expulso de todas, cursando até a quarta série. Aprendeu carpintaria. Hilário Jovino Ferreira, chamado de “Lalau de Ouro", deu a seu sobrinho Heitor o seu primeiro cavaquinho. Seu tio foi um modelo de compositor para ele. Aos 12 anos Heitor já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho. Passando a frequentar reuniões religiosas em casas onde iam músicos experientes Heitor tocava e improvisava ritmos africanos com cavaquinho e instrumentos de percussão. Algumas das casas que ele participava das reuniões eram as vovó Celi, tia Esther, Oswaldo Cruz e tia Ciata. Alguns músicos de destaque que participavam eram Lalau de Ouro, Caninha,  Sinhô, Getúlio Marinho, Donga, Saturnino Gonçalves, Pixinguinha e Paulo da Portela.

Ouvia músicos e orquestras da Belle Époque do Rio de Janeiro frequentando cervejarias e cinemas das proximidades dos locais onde trabalhava como engraxate e vendedor de jornais. Chegou a passar dois meses preso na colônia correcional Dois Rios, na Ilha Grande acusado de vadiagem. Anos depois passou a sair fantasiado de baiana no carnaval, tocando cavaquinho e sendo seguido por muitas pessoas. Suas primeiras composições O limoeiro, Limão  e Adeus, óculos são de 1912.

Junto com outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos e Marçal participou nos anos de 1920 da organização de grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros lugares próximos. Na Mangueira esteve em reuniões com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam etc. Essas reuniões levaram à criação das escolas de samba Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira, no Estácio; Prazer da Moreninha e Vai como Pode, em Madureira. Essas duas últimas unidas formaram a Portela, que veio a ser a Escola preferida por Heitor dos Prazeres. Na primeira competição entre escolas de samba, a Portela ganhou com uma composição de Heitor chamada Não Adianta Chorar. Com Cartola participou da criação da Mangueira. Em 1928 com Nilton Bastos, “Bide” e Mano Rubem formou a União do Estácio.

O célebre cantor Francisco Alves gravou duas composições de Heitor que se tornaram muito populares: Deixaste meu lar e Estás farto de minha vida, ambas de 1925. Da mesma época é também Deixe a malandragem se és capaz. Com sua canção A Tristeza Me Persegue ele ganhou um concurso musical organizado por Zé Espinguela. Espantou-se quando descobriu que a autoria das canção Cassino Maxixe, interpretada por Francisco Alves, era atribuída somente a Sinhô, sem mencionar o nome dele, Heitor dos Prazeres, também um dos autores. Também na canção Ora Vejam Só seu nome foi omitido. Sinhô respondeu a ele dizendo: “Samba é como passarinho, é de quem pegar”. Heitor fez então a música Olha ele, cuidado, denunciando o caso envolvendo a autoria das músicas. Sinhô respondeu a essa música fazendo o samba Segura o Boi. Heitor fez  Rei dos meus sambas, referindo-se a Sinhô, que era chamado de “Rei do Samba”. Essa música foi gravada e distribuída. Depois houve um acordo com Sinhô que lhe pagou uma indenização e reconhecimento de também ser autor das músicas. Mas também houve acusações contra Heitor de se apropriar de sambas de outros compositores como Paulo da Portela e Antônio Rufino.

A Canção do jornaleiro, composta em 1933, tinha uma letra autobiográfica, relacionada à vida de crianças vendedoras de jornais nas ruas, foi usada em uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que foi aberta em 1940.

Teve três filhas do casamento com dona Glória, com quem se casou em1931. Em 1936 ela morreu. Incentivado pelo desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, por Augusto Rodrigues (pintor) e pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, Heitor passou a se dedicar às artes visuais, em especial à pintura. Ele também projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança e fez instrumentos de percussão.

Entre os frequentadores da casa de Heitor dos Prazeres, onde se encontravam pessoas interessadas nos conhecimentos dele baseados na cultura afro-brasileira, estava Noel Rosa, na época estudante de medicina e que seria compositor. Noel pediu a Heitor, um mestre em capoeira, ajuda para enfrentar um marinheiro que andava importunando sua namorada. Noel sugeriu algumas modificações na letra de uma marcha que Heitor cantava e aí surgiu a canção Pierrô Apaixonado, com co- autoria de Noel Rosa, que se tornou um grande sucesso. Na mesma noite Drummond pediu a Heitor que musicasse o seu poema O Homem e seu Carnaval (1934). Heitor não conseguiu fazer a música, mas fez um quadro inspirado no poema. Suas pinturas começaram a ser expostas a partir de 1937, retratando a vida nas favelas. Casou-se pela segunda vez nessa época. Sua segunda esposa era Nativa Paiva e com ela teve dois filhos.

Teve relacionamentos amorosos com diversas mulheres, entre elas muitas foram treinadas para participar de grupos de música e dança que acompanhavam Heitor em turnês. Fez a música Linda Rosa inspirado numa mulher de nome Rosa. Com ela teve uma filha. Com outra mulher, Carlinda, teve outra filha. Sua paixão pelas mulheres marca canções, sendo algumas delas Deixa a Malandragem, Gosto que me Enrosco e Mulher de malandro.

Participou em São Paulo do Carnaval do Povo, em 1939 e 1941, juntamente com o grupo Embaixada do Samba Carioca. Mais de cem artistas participaram. Era um evento ao ar livre, cuja organização era do radialista e compositor Adoniran Barbosa, sendo transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo. Assim o evento conquistava com o samba terras do Estado de São Paulo e chegando mesmo até Buenos Aires e Montevidéu. O samba tornava-se aceito entre os setores mais ricos e passou a ser ouvido em rádios, cassinos, cinemas etc.

Atuou nos anos 30 com Josephine Baker e Grande Otelo como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca, tendo sido contratado  por Orson Welles como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. Trabalhou na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e em 1943 expôs suas pinturas em exposições locais e do exterior , com seu quadro Festa de São João sendo comprado pela então princesa inglesa Elisabeth numa exposição organizada pela Força Aérea da Inglaterra para arrecadar fundos para vítimas da Segunda Guerra Mundial.

Em 1951, a pedido de Carlos Cavalcante, participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, ganhando o terceiro prêmio nos artistas nacionais com seu quadro Moenda. Para a comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo, Heitor dos Prazeres criou cenários e figurinos para o balé que iria se apresentar em relação a esse acontecimento. Em 1965 Antonio Carlos da Fontoura dirigiu um documentário sobre sua vida e obra

Em 4 de outubro de 1966 no Rio de Janeiro, aos 68 anos de idade, falece Heitor dos Prazeres. Obras de Heitor dos Prazeres encontram-se expostas em museus de vários países. 

 Segundo a professora Dilva Frazão: 

“(...) Heitor dos Prazeres nasceu no Rio de Janeiro, no dia 23 de setembro de 1898. Era filho de Eduardo Alexandre dos Prazeres, marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e da costureira Celestina Gonçalves Martins. Com sete anos ficou órfão de pai, com quem aprendera os primeiros passos da profissão de marceneiro e se alegrava ouvindo o som de polcas, valsas e choros em seu clarinete.

Já mostrando sua vocação musical recebeu do tio Hilário Jovino, o primeiro cavaquinho, e com esforço da mãe, foi matriculado em uma escola profissionalizante, onde cursava o primário e a profissão de marceneiro. Influenciado pelo tio, aprendeu a compor suas primeiras músicas e logo chamou a atenção do compositor e pianista Sinhô.

Ainda jovem, para ajudar nas despesas da casa, foi engraxate, jornaleiro e ajudante de marceneiro. Sempre junto com seu cavaquinho passou a frequentar as reuniões realizadas na casa de Tia Ciata, local também frequentado pelos compositores Sinhô, Donga, Pixinguinha, e João da Baiana, onde na mistura dos ritmos dos instrumentos de percussão com o cavaquinho surgiram vários sambas.

Carreira musical

Na década de 20, já se destacava entre os famosos compositores do carnaval carioca, era chamado de “Mano Heitor do Estácio”. Tocando seu cavaquinho, arrastava os foliões pelas ruas do Rio.

Participou da criação das primeiras escolas de samba, entre elas: a Estação Primeira da Mangueira e da Vai Como Pode, depois transformada em Portela, à qual ele deu as cores azul e branca.

Em 1929, a Portela foi a primeira vencedora do concurso de escolas com sua composição “Não Adianta Chorar”. Em 1931, casou-se com Glória, com quem teve três filhas.

Heitor dos Prazeres, além de participar do elenco da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, se apresentava no Cassino da Urca, onde tocava, cantava e dançava (...)"

 

Carreira de Pintor

Em 1936 ficou viúvo e passou a desenvolver seu gosto pela pintura. Retratava a vida e a cultura das favelas cariocas, pintava as morenas, rodas de samba, crianças brincando de soltar balão e pipas, a vida boêmia nas ruas da Lapa, as primeiras casas nos morros, as festas de rua etc.

Com sua pintura colorida e alegre, participou de algumas exposições e recebeu diversos prêmios e homenagens pelo Brasil, entre eles, o 3º lugar na Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com o quadro “Moenda”, em 1951 e a homenagem com sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1953.

Em 1954 criou os cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Em 1959, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Gea, no Rio de Janeiro.

Heitor dos Prazeres faleceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de outubro de 1966.”

 

Letra de Música:

Pierrot Apaixonado

Um Pierrot apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma Colombina
Acabou chorando
Acabou chorando

A Colombina entrou no botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo "Pierrot cacete, vai tormar sorvete com o Arlequim"

Um Pierrot apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma Colombina
Acabou chorando
Acabou chorando

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o Pierrot aconteceu assim
Levando esse grade chute foi tomar vermute com amendoim

Um Pierrot apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma Colombina
Acabou chorando
Acabou chorando

Um Pierrot apaixonado
Acabou chorando
Acabou chorando

 

Exemplo de pintura: 

 

Roda de Carnaval

 

 



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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História




 

Figuras:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagens+de+heitor+dos+prazeres&tbm=isch&source

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=pierro+apaxonado+letra

https://www.catalogodasartes.com.br/obra/PzctDt/

 

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