sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Artigo sobre Joaquim Nabuco

















Joaquim Nabuco foi diplomata, historiador, jurista, orador, abolicionista, escritor, participante da política brasileira e jornalista formado pela Faculdade de Direito do Recife. É comemorado no dia de seu nascimento o Dia Nacional do Historiador. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Seu nome completo era Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, nasceu no Recife, em 19 de agosto de 1849. Foi educado em família de escravocratas, porém em sua vida tornou-se um defensor da liberdade dos escravos. Elogiou a generosidade dos escravos e criticou o egoísmo do senhor. Caracterizou-se como humanista e pronunciou as seguintes frases: "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil” e “O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”(um dizer que deveria ser seguido por certos líderes que se dizem “patriotas” hoje em dia).  Houve outras frases dele que demonstravam esse humanismo: “A consciência é o último ramo da alma que floresce; só dá frutos tardios” e “A história da escravidão africana na América é um abismo de degradação e miséria que não se pode sondar.”

Ele era o quarto filho do jurista (e depois senador) baiano José Tomás Nabuco de Araújo Filho, que atuou como juiz do caso dos rebeldes da Revolução Praieira, em Pernambuco e de Ana Benigna de Sá Barreto Nabuco de Araújo (irmã do marquês do Recife, Francisco Paes Barreto). O nome Joaquim foi dado a ele em homenagem a São Joaquim, pois nasceu no dia que o santo é homenageado pelos católicos. Em dezembro de 1849 ele foi deixado aos cuidados de sua madrinha no engenho Massangana enquanto seus pais partiam para a corte imperial.Um professor particular do Recife o ensinou as primeiras letras.

Em 1852 seus pais voltaram, mas a pedido da madrinha continuou morando com ela até 1857 (quando faleceu). Da madrinha recebeu educação religiosa e também foi influenciado pela cultura dos escravos do engenho. Foi morar com os pais no Rio de Janeiro e em 1859 conheceu alguém que o influenciou por muitos anos, o Barão de Tautphoeus. Entrou em 1860 no Colégio Dom Pedro II, tirando altas notas e lá começou sua formação política e literária. Publicou sua primeira poesia, a ode “O Gigante da Polônia”, em homenagem a seu pai, que foi elogiada por Machado de Assis.

 
Seu pai foi do Partido Conservador e depois trocou para o Liberal. Em 1865 Joaquim Nabuco formou-se como bacharelem Letras. Na época tornou-se amigo de Machado de Assis. Foi colega do poeta Castro Alves, do jurista Ruy Barbosa e dos futuros presidentes Rodrigues Alves e Afonso Pena na Faculdade de Direito de São Paulo (um dos principais centros liberais e abolicionistas do Brasil Imperial) .

Voltou em 1869 para o Recife e foi lá que terminou seu curso de Direito. Seu primeiro caso no tribunal foi o de um escravo acusado de matar seu dono e um guarda. Nabuco conseguiu que o escravo tivesse sua pena reduzida. Escreveu na época o livro “A escravidão”, que só foi publicado anos depois. Já estando formado em ciências sociais e jurídicas foi para o Rio de Janeiro em 1871 e passou a escrever no jornal “A Reforma” no qual defendia o abolicionismo. Ficou ao lado dos maçons quando houve a Questão Religiosa envolvendo a Igreja Católica e a maçonaria. Defendeu uma Igreja nacional independente de Roma. Influenciado pelo escritor francês Ernesto Renan, passou a acreditar na visão de Jesus como um mestre intelectual, mas não como filho de Deus. Chegou a escrever em 1872 o livro “Le Droit du Meurtre” em homenagem a Renan e outro em homenagem a Camões (“Camões e os Lusíadas”).


Defendeu a separação entre Estado e Religião e também a laicidade do ensino público. Nessa época era um crítico da Igreja Católica. Disse então: "Não sou inimigo da Igreja Católica. Basta ter ela favorecido a expansão das artes, ter sido o fator que foi na história, ser a Igreja da grande maioria dos brasileiros e da nossa raça, para não me constituir em seu adversário. Quando o catolicismo se refugia na alma de cada um, eu o respeito; é uma religião da consciência, é um grande sentimento da humanidade. Mas do que sou inimigo é desse catolicismo político, desse catolicismo que se alia a todos os governos absolutos, é desse catolicismo que em toda a parte dá combate à civilização e quer fazê-la retroceder".


Em período posterior de sua vida, Nabuco mudou seu posicionamento, ficando mais favorável à Igreja e disse: "Do que preciso fazer renúncia, em favor das traças que o consumiram, é de tudo o que nesses opúsculos escrevi em espírito de antagonismo à religião, com a mais soberba incompreensão de seu papel e da necessidade, superior a qualquer outra, de aumentar a sua influência, a sua ação formativa, reparadora, em todo o caso, consoladora, em nossa vida pública e em nossos costumes nacionais, no fundo transmissível da sociedade".


Com recursos oriundos da herança de sua madrinha pôde viajar pela Europa, passando pela França, assim como Inglaterra, Suíça e Itália. Conheceu nessas viagens europeus ilustres da época como Ernest Renan, Hippolyte Taine, George Sand e teve uma audiência privada com o o papa. 

A convite de Dom Pedro II voltou ao Brasil com o objetivo de fazer palestras sobre a Europa, tendo publicado o livro “Amouret Dieu”. 

Uma relação amorosa que Nabuco teve em sua juventude por 14 anos foi com a investidora financeira ligada a poderosa família cafeicultora paulista, Eufrásia Teixeira Leite. Ela e sua irmã tinham recebido uma grande herança após a morte de seus pais. Depois do fim do romance com Eufrásia (romance que durou até 1887), aos 38 anos, ele se casou com Evelina Torres Soares Ribeiro, no Rio de Janeiro, em 1889. Ela era sobrinha da condessa de Tovar e do visconde de Torres, como também era neta do barão de Itambi e sobrinha-neta do visconde de Itaboraí. Tiveram cinco filhos, três homens e duas mulheres. 

Na sua luta contra a escravidão, Nabuco escreveu obras e atuou politicamente. Em 1878 e em outras legislaturas fez campanhas abolicionistas na Câmara dos Deputados. Teve grande participação na luta que levou à abolição da escravidão no Brasil em 1888. Ele era um monarquista abolicionista.  Para ele, a abolição não deveria ser feita de modo violento e sim com base em uma consciência nacional de que haveria benefícios à sociedade com o fim da escravidão. 

A sua principal obra escrita foi “O Abolicionismo", publicada em 1883. Nela fez uma análise da influência da escravidão na sociedade brasileira. Mostrava a necessidade de resolver o problema da forte divisão social ligada à escravidão. Outra obra de destaque foi“Um Estadista do Império”, que dizia respeito ao pai de Joaquim Nabuco, uma obra importante sobre a história do período imperial. Outras obras foram: “Camões e os Lusíadas”; “Minha Formação”; “Campanha abolicionista no Recife”; “O Erro do Imperador”; “Escravos”; Porque continuo a ser monarquista ; “Balmaceda”; “O dever dos monarquistas”; "Escritos e discursos literários”.

Joaquim Nabuco continuou sendo um fiel monarquista mesmo após a proclamação da República em 1899. Nesse ano é convidado para chefiar a delegação brasileira em Londres, em nome do presidente da República, Campos Sales, para defender perante a coroa britânica a causa dos limites entre o Brasil e a Guiana Inglesa.

Foi embaixador nos Estados Unidos no período de 1905 a 1910. Lá fez três conferências em inglês sobre os Lusíadas de Camões. Tornou-se amigo pessoal do presidente Theodore Roosevelt. A Universidade de Yale concedeu a ele o grau de doutor honoris causa em Letras e foi convidado a pronunciar o discurso oficial de encerramento do ano letivo quando na ocasião da colação de grau da Universidade de Chicago.  Quando esteve visitando a Inglaterra e a França por esses tempos defendia o pan-americanismo e presidiu a III Conferência Pan-americana que aconteceu em 1906 no Rio de Janeiro.  A carreira de Nabuco na diplomacia com certeza o destaca como um homem de grandiosos valores e erudição, o que com certeza na época o credenciava para representar o nosso país frente a outros países como os Estados Unidos.

Faleceu aos 60 anos, de uma doença chamada Policetemia vera, em Washington, Estados Unidos, no dia  17 de janeiro de 1910 Foi sepultado no Recife, no cemitério de Santo Amaro.

A seguir a poesia “O Gigante da Polônia” de Joaquim Nabuco:

O GIGANTE DA POLÔNIA
(Trechos de uma ode)
..........................................

Anjo tutelar, propício nume
Do Polaco terreno, ufano logra
Ovações mil a mil da pátria cara!
Vistula fero, da Polónia o guarda!
 
.................................................

O Vistula espumoso é incentivo
Do brio, do denodo e da braveza,

Que ao Polaco assinala um posto d'honra
Marcando dos heróis o lugar primo!

.......................................................

Sentinela fiel, guarda em vigília,
Do morticínio atroz ali sangrento
Ele foi testemunha. Enraivecido,
Suas águas com sangue misturadas,
Para os mares do norte arroja afoito!...
Elas são, bem que tácito, um protesto,
Que na mente dos povos alto clama.
Para os bravos Polacos d'hoje, e dontem,
Para os da fé valentes defensores,
Vingança!

Hidra que os Russos assoberba.
Na história a Polônia se apresenta;

Não lhe paga o presente o seu passado,
Quando a orbe do Cossaco ameaçado
Com o sangue dos seus salvou a custo,
Seus atos de bravura o mundo espantam,
Seus feitos de heroísmo ele contempla,
Seu presente brilhante o maravilha!...

Um bárbaro colosso transportado
De inóspitas paragens para a Europa,
Chamar-se de Europeu indigno povo!...
Inerte e rude massa sem cultivo,
Sem crença, sem amor, letras, nem artes,
Eis ao que se resume o grande império,
Que o oriente da Europa abrange largo!
Prolongada extensão possui ele hoje;
Despótico autocrata as leis lhe dita;
Seu exército imenso é de carrascos...

.....................................................

Entretanto os polacos não trepidam
Em, nas lanças agudas dos inimigos.
Morte de bravos ir buscar, pujantes,
Não lhes assusta o cadafalso erguido,
Nem da morte o cortejo os intimida.
As geladas campinas da Sibéria,
Onde mil infelizes se lamentam,
Onde chora a mulher seu caro esposo,
Onde o filho pranteia o pai ausente;
Os pesados grilhões, fortes cadeias,
De seus cansados membros - opressores:
A vista aterradora dos suplícios,
E a presença constante dos algozes,
O alento desses bravos não comovem,
Nem no peito tão pouco a chama abafam
Nem a voz da consciência nalma calam!
Em sagrado holocausto, nora pátria,
Cada dia mais vítimas se oferecem! ...
Seu sangue fertiliza o solo bravo ...
Novos, brotam do chão guerreiros fortes...
Pela pátria se finam - ai vêm novos.
A Polônia de Antéus é terra fértil!...
Um constante lidar entre dois povos!
Dois povos, dois anelos mutuados!
Este, a morte, o horror, a tirania;
Aquele, a religião, a pátria e a vida!
Um, combate para o jugo impor, odioso,
Outro, para dele libertar a pátria;
Um, pretende apertar grilhões de escravo,
Outro, o elo romper, que o prende à Rússia!
Por ser tirano aquele, fere e mata;
Este, ali pela pátria morde o solo!
A morte desses bravos não choremos.
Porque, noutra vida, um Deus existe,
Que sabe premiar os grandes feitos...
Um Deus que tem para os bons a Eternidade,
Um Deus que tem para os maus torturas grandes.


__________________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+joaquim+nabuco&client
















Nenhum comentário:

Postar um comentário