No mês de julho de 2019 fui à cidade de Goiás e tive a
honra de conhecer a casa onde Cora viveu parte de sua vida. A casa hoje em dia
é um museu. Essa casa é antiga, tendo sido construída em meados do século
XVIII, sendo uma das primeiras
edificações da antiga Vila Boa (Goiás).
Cora era mulher simples do povo, doceira, que se
também era escritora de contos e poemas.
Ela nasceu em 20 de agosto de 1889 com o nome de
Ana Lins dos Guimarães Peixoto na cidade de Goiás, no estado de mesmo nome. Seu
pai era Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, que foi desembargador,
nomeado pelo imperador Dom Pedro II e de Jacinta Luisa do Couto Brandão. Cora
cursou só até a terceira série do curso primário.
Seus primeiros contos e poemas foram escritos
quando ela tinha somente 14 anos e os publicou no jornal de poemas "A
Rosa", que foi criado junto com algumas amigas. Teve seu conto
"Tragédia na Roça" publicado no "Anuário Histórico e Geográfico
do Estado de Goiás, já usando o pseudônimo de Cora Coralina. Fugiu com o
advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas em 1911 e foi morar no interior
de São Paulo, na cidade de Avaré. O fato não foi bem visto na sociedade
conservadora da época na cidade de Goiás.
Em 1922 houve um convite para Cora participar da
Semana de Arte Moderna, porém seu marido não permitiu sua participação. Em
1934, após seu marido ter morrido, passou a trabalhar como doceira para poder
sustentar seus quatro filhos. Escreveu poemas e fazia doces. Seus poemas estavam
relacionados à sua história e ao meio onde foi criada. Na sua opinião os doces
cristalizados que fazia eram melhores que os poemas que ela escrevia em folhas
de caderno. Em São Paulo começou a ser vendedora de livros e em 1936 foi morar
em Andradina e escrevia para o jornal da cidade.
Em 1959, já em sua cidade natal e com 70 anos quis
aprender datilografia para que pudesse enviar suas poesias para editores. Pude
ver esta máquina quando estive na casa dela, assim como cadernos onde ela tinha
poesias escritas.
Foi em 1965, quando tinha 75 anos, que ela realizou
o sonho de publicar seu primeiro livro: "O Poema dos Becos de Goiás e
Estórias Mais" e em 1970 já ocupava a cadeira de número 5 da Academia
Feminina de Letras e Artes de Goiás. Lançou "Meu Livro de Cordel",
seu segundo livro, em 1976. O poeta Carlos Drummond de Andrade elogiou as obras
de Cora em 1980 e então um público maior começou a se interessar pelos escritos
dela.
Foi convidada em seus últimos anos de vida para
participar de conferências e programas de televisão. Recebeu o título de
Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás e em 1983 recebeu o
"Prêmio Juca Pato" da União Brasileira de Escritores, com o livro
"Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha". Passou a ocupar a
cadeira número 38 da Academia Goiana de Letras. Em 10 de abril de 1985 Cora
Coralina faleceu em Goiânia, capital de Goiás.
Pude visitar o museu (inclusive a biblioteca de
Cora e sua cozinha onde fazia doces) e o quintal da casa de Cora, com suas plantas
e uma fonte. Uma mulher realmente de fibra, corajosa, trabalhadora e talentosa.
Tirei fotos e comprei um livro com poesias dela. Neste dia 20 de agosto ela
faria 130 anos. Deixo aqui minha homenagem a ela, com este artigo, junto com
algumas fotos da casa dela e poesias que ela escreveu.
Obras de Cora Coralina
Poemas dos Becos de Goiás e
Estórias Mais, poesia, 1965
Meu Livro de Cordel, poesia, 1976
Vintém de Cobre: Meias Confissões
de Aninha, poesia, 1983
Estórias da Casa Velha da Ponte, contos,
1985
Os Meninos Verdes, infantil, 1980
Tesouro da Casa Velha, poesia,
1996 (obra póstuma)
A Moeda de Ouro Que um Pato
Engoliu, infantil, 1999 (obra póstuma)
Vila Boa de Goiás, poesia, 2001
(obra póstuma)
O Pato Azul-Pombinho, infantil,
2001 (obra póstuma)
Mais poemas ainda poderão ser publicados postumamente.
A seguir alguns poemas de Cora Coralina:
Poema: Meu Destino
"Nas
palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida..."
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida..."
"Nasci antes do tempo
Tudo que
criei e defendi
nunca deu
certo
Nem foi
aceito.
E eu
perguntava a mim mesma
Por quê?
Quando
menina,
ouvia
dizer sem entender
quando
coisa boa ou ruim
acontecia
a alguém:
fulano
nasceu antes do tempo.
Guardei.
Tudo que
criei, imaginei e defendi
nunca foi
feito.
E eu
dizia como ouvia
a moda de
consolo:
nasci
antes do tempo.
Alguém me
retrucou:
você
nasceria sempre
antes do
seu tempo.
Não
entendi e disse Amém."
Ofertas de Aninha (Aos Moços)
Eu sou
aquela mulher
a quem o
tempo
muito
ensinou.
Ensinou a
amar a vida.
Não
desistir da luta.
Recomeçar
na derrota.
Renunciar
a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar
nos valores humanos.
Ser
otimista.
Creio
numa força imanente
que vai
ligando a família humana
numa
corrente luminosa
de
fraternidade universal.
Creio na
solidariedade humana.
Creio na
superação dos erros
e
angústias do presente.
Acredito
nos moços
Exalto
sua confiança,
generosidade
e idealismo.
Creio nos
milagres da ciência
e na
descoberta de uma profilaxia
futura
dos erros e violências do presente.
Aprendi
que mais vale lutar
do que
recolher dinheiro fácil.
Antes
acreditar do que duvidar.
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Fotos que
tirei:
Casa de Cora Coralina (Museu)
Casa de Cora Coralina (Museu)
Casa de Cora Coralina-Quintal
Casa de Cora Coralina-Entrada do Museu
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagens+de+cora+coralina&clien
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