terça-feira, 20 de agosto de 2019

Artigo sobre a poetisa Cora Coralina.

















No mês de julho de 2019 fui à cidade de Goiás e tive a honra de conhecer a casa onde Cora viveu parte de sua vida. A casa hoje em dia é um museu. Essa casa é antiga, tendo sido construída em meados do século XVIII, sendo uma  das primeiras edificações da antiga Vila Boa (Goiás). 


Cora era mulher simples do povo, doceira, que se também era escritora de contos e poemas. 


Ela nasceu em 20 de agosto de 1889 com o nome de Ana Lins dos Guimarães Peixoto na cidade de Goiás, no estado de mesmo nome. Seu pai era Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, que foi desembargador, nomeado pelo imperador Dom Pedro II e de Jacinta Luisa do Couto Brandão. Cora cursou só até a terceira série do curso primário. 


Seus primeiros contos e poemas foram escritos quando ela tinha somente 14 anos e os publicou no jornal de poemas "A Rosa", que foi criado junto com algumas amigas. Teve seu conto "Tragédia na Roça" publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás, já usando o pseudônimo de Cora Coralina. Fugiu com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas em 1911 e foi morar no interior de São Paulo, na cidade de Avaré. O fato não foi bem visto na sociedade conservadora da época na cidade de Goiás. 


Em 1922 houve um convite para Cora participar da Semana de Arte Moderna, porém seu marido não permitiu sua participação. Em 1934, após seu marido ter morrido, passou a trabalhar como doceira para poder sustentar seus quatro filhos. Escreveu poemas e fazia doces. Seus poemas estavam relacionados à sua história e ao meio onde foi criada. Na sua opinião os doces cristalizados que fazia eram melhores que os poemas que ela escrevia em folhas de caderno. Em São Paulo começou a ser vendedora de livros e em 1936 foi morar em Andradina e escrevia para o jornal da cidade. 


Em 1959, já em sua cidade natal e com 70 anos quis aprender datilografia para que pudesse enviar suas poesias para editores. Pude ver esta máquina quando estive na casa dela, assim como cadernos onde ela tinha poesias escritas. 


Foi em 1965, quando tinha 75 anos, que ela realizou o sonho de publicar seu primeiro livro: "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais" e em 1970 já ocupava a cadeira de número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. Lançou "Meu Livro de Cordel", seu segundo livro, em 1976. O poeta Carlos Drummond de Andrade elogiou as obras de Cora em 1980 e então um público maior começou a se interessar pelos escritos dela. 


Foi convidada em seus últimos anos de vida para participar de conferências e programas de televisão. Recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás e em 1983 recebeu o "Prêmio Juca Pato" da União Brasileira de Escritores, com o livro "Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha". Passou a ocupar a cadeira número 38 da Academia Goiana de Letras. Em 10 de abril de 1985 Cora Coralina faleceu em Goiânia, capital de Goiás. 


Pude visitar o museu (inclusive a biblioteca de Cora e sua cozinha onde fazia doces) e o quintal da casa de Cora, com suas plantas e uma fonte. Uma mulher realmente de fibra, corajosa, trabalhadora e talentosa. Tirei fotos e comprei um livro com poesias dela. Neste dia 20 de agosto ela faria 130 anos. Deixo aqui minha homenagem a ela, com este artigo, junto com algumas fotos da casa dela e poesias que ela escreveu. 


Obras de Cora Coralina


Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, poesia, 1965
Meu Livro de Cordel, poesia, 1976
Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha, poesia, 1983
Estórias da Casa Velha da Ponte, contos, 1985
Os Meninos Verdes, infantil, 1980
Tesouro da Casa Velha, poesia, 1996 (obra póstuma)
A Moeda de Ouro Que um Pato Engoliu, infantil, 1999 (obra póstuma)
Vila Boa de Goiás, poesia, 2001 (obra póstuma)
O Pato Azul-Pombinho, infantil, 2001 (obra póstuma)

Mais poemas ainda poderão ser publicados postumamente.

A seguir alguns poemas de Cora Coralina:


Poema: Meu Destino

"Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...

Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos
juntos pela vida..."

"Nasci antes do tempo

Tudo que criei e defendi
nunca deu certo
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?

Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém:
fulano nasceu antes do tempo.
Guardei.

Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
nasci antes do tempo.
Alguém me retrucou:
você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém."

Ofertas de Aninha (Aos Moços)

Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

Acredito nos moços
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.

Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

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Fotos que tirei:  







Casa de Cora Coralina (Museu)







Casa de Cora Coralina (Museu)





                                             Casa de Cora Coralina-Quintal



Casa de Cora Coralina-Entrada do Museu




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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?q=imagens+de+cora+coralina&clien
 





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