quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Propostas para Belém

 




Em novembro Belém capital do Pará terá, como os outros municípios brasileiros, eleições para prefeito e vereadores. Resolvi escrever este artigo pensando na realidade da cidade onde nasci e moro. Não com intuito partidário e nem de elogiar ou criticar prefeitos ou candidatos, mas apenas analisar a realidade de Belém e dar algumas sugestões.

Belém, segundo a Wikipédiaé o município mais populoso do Pará e o segundo da região Norte, com uma população de 1 492 745 habitantes, segundo estimativa do IBGE em 2020, e o 12º município mais populoso do Brasil. Ocupa a 22ª posição no ranking de IDH por capital (0,746, alto)[ e a sexta posição na lista de maiores IDH da região Norte – 3º maior IDH por capital por região.”

Em 12 de janeiro de 2018, o Portal G1 PA dizia:

“Belém 402 anos é uma série de duas reportagens produzidas pelo G1 que mostram os desafios enfrentados pela capital paraense, como o avanço da violência, os problemas com saneamento básico, educação e moradia, bem como o avanço cultural e gastronômico atingido pela cidade no país e no mundo.” Também destacava o portal as condições de acessibilidade e meio ambiente e o crescimento desordenado do território de Belém, com dificuldades nos serviços básicos à população.

O portal em 2018 criticava a situação do lixo, os esgotos a céu aberto, a falta de uma maior arborização no entorno de domicílios. Também foi mencionado que  40% da população de Belém não tinha água encanada, uma realidade que não deve ter tido mudanças substanciais até 2020. E o mesmo portal mencionou que em 2018 a água tratada na torneira chegava a 61,8% da população, conforme relato do Plano Municipal de Saneamento Básico e Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Belém (PMSB). E outro fator citado foi em relação à infraestrutura urbana, com Belém tendo um índice muito ruim (0,094), envolvendo dificuldades referentes à Iluminação pública, pavimentação, calçada, meio-fio, bueiro ou boca de lobo, rampa para cadeirantes etc. E ressaltando que somente 36% das famílias da Grande Belém tinham nesse ano de 2018 ruas com urbanização completa (possivelmente em dois anos não deu para mudar muito esta realidade).

Sobre moradias, o portal mencionava a realidade na Região Metropolitana de Belém: “São milhares de pessoas vivendo em moradias inadequadas: em casas de apenas um cômodo, cortiços, barracos, e em coabitação familiar, quando mais de uma família vive em um mesmo imóvel”.

Sobre a violência, o Portal G1 relatava: “Em 2017, 855 pessoas foram mortas na região metropolitana de Belém. Segundo o levantamento da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Segup), quase sempre o perfil das vítimas é o mesmo. A maioria é homem, com idade entre 16 e 33 anos, negra e vive em áreas periféricas. Outro dado relevante pela semelhança é o modo de operação dos executores. Geralmente são homens encapuzados em carros de cores branca, preta e prata ou em motos.” O governo atual do Pará mostra otimismo dizendo que está havendo declínio em certos aspectos da criminalidade.

O portal G1 em janeiro de 2018 também relatou que nesse ano mais de 78 mil crianças em Belém estavam fora da escola e que muitas mães que trabalham não tinham com quem deixar seus filhos pequenos, sendo necessárias mais vagas em creches ligadas ao poder municipal.

 Em uma reportagem de julho de 2019 do jornal “O Liberal” foram mencionados alguns desafios para o próximo prefeito como a destinação do lixo; a mobilidade urbana; a reforma do Ver-o-Peso; o saneamento urbano

 O site Leia Já aponta também outro problema que acontece quando há fortes chuvas em Belém: os constantes alagamentos, que tem causado perdas para cidadãos como por exemplo, eletrodomésticos, móveis e utensílios que ficam danificados. E também o mesmo site destaca que ainda muito o que melhorar em relação às Unidades Básicas de Saúde.

Bem, diante da realidade apresentada, acredito que o próximo prefeito terá muito trabalho pela frente. Terá de fazer uma análise técnica rigorosa da situação do município e procurar meios de superar os problemas.

Como funcionário público municipal que sou desejo que sejam vistas as necessidades dos órgãos públicos e ver o que pode ser melhorado. Em relação aos servidores, analisar as pendências referentes aos planos de carreira para resolver o que precisa ser atualizado e  proporcionar boas  condições de trabalho, como também a  contínua capacitação e valorização dos servidores. Poderiam ser feitas comissões bem representativas de servidores por órgão para debater com as diretorias sobre propostas de melhorias para os órgãos e para os servidores.

Em relação ao Transporte e Trânsito, eu sugiro procurar estabelecer uma maior integração modal, como por exemplo, ônibus e bicicleta, ônibus e transporte hidroviário e entre este modal e a bicicleta. As instalações e veículos precisam ter qualidade, ser adequadamente fiscalizados. E é preciso reforçar a educação para todos os componentes do sistema de trânsito e de transporte do município, procurando fortalecer os elos com as escolas para que desde a infância seja valorizada a educação voltada para a ética e a cidadania, o que poderá ser muito útil na formação de cidadãos mais solidários em relação ao trânsito e ao transporte, com mais cooperação do que competição. Nos terminais de integração e terminais hidroviários (onde for possível), poderia haver apresentações culturais, como pequenos shows de músicos para entreter e animar os usuários.

Em relação ao meio ambiente, procurar arborizar mais a cidade; verificar a situação das árvores em praças e ruas, cuidando das árvores e das áreas verdes da cidade; proporcionar ótimos métodos de coleta de lixo; criar uma estrutura eficaz de limpeza e educar os cidadãos sobre a importância do meio ambiente e para isto debater nas escolas, nos centros comunitários, nas igrejas sobre a questão da importância de cada um fazer a sua parte. Poderiam também ser criados parques ecológicos em Outeiro e Mosqueiro, assim como revitalizar o parque do bairro da Marambaia. 

Na Educação, dar as devidas condições estruturais às escolas, valorizar os professores e reforçando os vínculos com as comunidades, procurando fazer projetos em conjunto com estas comunidades. As questões de meio ambiente, trânsito e os valores ligados à cidadania podem ser mais discutidos com alunos e suas famílias. Atividades de esporte e música seriam mais valorizadas para os alunos.

No Turismo, seria muito bom restaurar o nosso rico patrimônio histórico. Deveria haver um projeto arquitetônico e cultural abrangente. Antigos prédios poderiam se tornar museus, locais de cultura, educação e lazer. Há tanto potencial em áreas mais antigas de Belém para fazer serestas, apresentações de grupos folclóricos, de música popular e regional, venda de comidas típicas e de artesanato amazônico. E as nossas ilhas (como também a orla de Icoaraci)  poderiam encontrar melhores condições para receber os turistas, assim como haver uma ótima estrutura de circulação e de segurança. Para isto poderia haver reunião entre representantes da prefeitura e dos habitantes das ilhas.

Os chamados camelôs teriam de ser melhor organizados nas vias e poderiam participar dos projetos culturais, vendendo comidas e objetos para cidadãos de Belém e turistas. Seriam colocados à disposição deles cursos de aperfeiçoamento como línguas, atendimento ao público, técnicas de venda, informática etc.

Na Saúde que se faça uma análise das dificuldades dos locais de atendimento e se procure melhorar o que está deficiente, assim como reforçar a prevenção. Por exemplo, a prevenção de conflitos no trânsito poderá evitar que haja mais pessoas feridas e um melhor saneamento pode reduzir a ocorrência de certas doenças.

A questão do saneamento é fundamental. Fazer as obras necessárias e educar as pessoas tem que ser uma prioridade. Os  esgotos sem corretas condições sanitárias tem de ser alvos de ações de melhoramento e as pessoas tem que ter condições de descartar seu lixo e seu entulho sem poluir as ruas e os canais, assim como tem que se educar para não sujar estes lugares. E os infratores terão de ser penalizados conforme a legislação vigente. 

Enfim, na questão da área de Segurança, é preciso ver o que a Guarda Municipal pode fazer dentro de suas atribuições. Ela que começou como uma guardiã do patrimônio público municipal. Que a Guarda tenha as condições necessárias para cumprir suas obrigações legais e que seus integrantes possam participar de cursos para se aprimorarem e para terem um comportamento exemplar diante da população.

Belém é uma cidade com muita beleza e com um grande potencial. No entanto, os problemas são vários e com certeza deve haver mais que não foram citados por mim. O que pretendi especialmente foi dar um incentivo e dar sugestões que podem ser analisadas e mesmo melhoradas. Como servidor público, como educador e como cidadão quero ver minha cidade ainda mais bonita e que seus cidadãos tenham mais qualidade de vida. Governar não é fácil e administrar uma capital com mais de um milhão de habitantes e com diversos problemas a serem solucionados exigirá um amplo esforço das autoridades. E a questão financeira também pode limitar muitas ações, apesar de poder até haver vontade do governante de fazer mais. Desejo ao futuro prefeito um ótimo trabalho, de forma democrática e que Belém possa se desenvolver cada vez mais em termos econômicos, sociais, estruturais e de bem estar de seus cidadãos.  

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Márcio José Matos Rodrigues-Psicólogo e Professor de História

 

 

Figura: https://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&tbm=


domingo, 25 de outubro de 2020

A Segunda Batalha de El Alamein, uma batalha importante da Segunda Guerra Mundial

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

No dia 23 de outubro de 1942 começou a Segunda Batalha de El Alamein, que terminaria em novembro, encerrando a fase de expansão do Eixo na área do norte da África e o foi o começo de uma reviravolta que levaria em 13 de maio de 1943 à rendição das últimas forças italianas e alemães na Tunísia, possibilitando uma posterior invasão da Itália pelos Aliados. 

 Na verdade, as batalhas no norte da África começaram em junho de  1940. A Itália tinha se juntado à Alemanha no chamado Eixo e Mussolini tinha ordenado que forças italianas que estavam na Líbia fizessem um ataque às forças britânicas que estavam no Egito para que as tropas inglesas fossem derrotadas ou expulsas desse país e a Itália assim pudesse dominar uma área importante estrategicamente, como também militarmente. 

 A Líbia estava sob dominação italiana desde 1912, depois de uma guerra da Itália contra o Império Turco. E em 1935 o governo fascista começou a enviar dezenas de milhares de italianos para a Líbia. No Egito os britânicos tinham desde 1936 contingentes militares para proteger seus interesses, incluindo o Canal de Suez, importante passagem naval. Também a Inglaterra possuía bases da Marinha em Alexandria e Port Said.

Mussolini , alegando ser uma questão de orgulho nacional, não quis inicialmente apoio alemão no ataque aos ingleses no Egito. Ele queria controlar grande parte do Mar Mediterrâneo.  O problema maior dos italianos era que o seu país não estava em condições militares para uma guerra contra outras potências europeias. Não tinha uma força área em condições de enfrentar os britânicos e também possuía uma força blindada inferior. 

O ditador italiano subestimou a força que a Inglaterra tinha no Egito. O  exército italiano era mais numeroso (quase 200 mil soldados) que o britânico (tinha somente 36 mil soldados na região). Mussolini acreditava que as forças inglesas estavam em  desvantagem e vulneráveis. Assim, ordenou a invasão.  Mas houve oficiais graduados do exército italiano que discordaram da posição de Mussolini. Um desses oficiais era o general Rodolfo Graziani, governador da Etiópia, que achou imprudência atacar os britânicos, considerando a realidade do exército italiano na Líbia, destacando a fraqueza da força aérea italiana na região. 

 Após a declaração de guerra pela Itália, em 10 de junho de 1940, os italianos invadiram o Egito com uma força numerosa, porém com muitas dificuldades. Sem apoio aéreo suficiente e sem condições de abastecer tantos soldados que tinham avançado além da capacidade logística italiana. Em dezembro de 1940 os ingleses começaram uma contra-ofensiva (Operação Compass). Os italianos foram expulsos do Egito e começaram a recuar para a Líbia, com perda considerável em homens e equipamentos, ficando em uma situação que levava perigo para a própria existência do exército italiano no norte da África, tendo os ingleses entrado na Líbia.

Em 19 de fevereiro de 1941, foi criado na Alemanha o Afrika Korps com a finalidade de dar apoio aos italianos, de forma defensiva na África. E em março desse ano, essa força expedicionária alemã foi enviada à Líbia, tendo como comandante o general Erwin Rommel ( chegou a ser chamado de “Raposa do Deserto” por causa de seus sucessos na campanha africana), que tinha se destacado como comandante de uma divisão blindada (a 7 ª Divisão Panzer, chamada de “Divisão Fantasma”) na invasão da França. Quando o Afrika Korps chegou na Líbia, o exército italiano estava muito enfraquecido e Rommel, que tinha ordens apenas de dar sustentação aos italianos, por meio de observações descobriu que as forças inglesas estavam muitos distendidas, sem uma ligação muito consistente com seus meios de suprimentos no Egito. Diante dessa análise, mesmo com uma força inicialmente bem limitada do Afrika Korps, ele resolveu atacar junto com divisões italianas( que tinham recebido reforços), os ingleses que tinham avançado pela Líbia. Ao realizar esse ataque, Rommel contrariou  as ordens recebidas do Alto Comando Alemão, que não tinham autorizado uma ofensiva.

A ofensiva de alemães e italianos fez os britânicos recuarem na primavera de 1941, tendo alcançado Tobruk, onde tropas sob o comando inglês foram cercadas. Na ocasião, a Inglaterra tinha tido consideráveis perdas na Grécia contra os alemães, o que influenciou na campanha da África. Ainda assim lançou a Operação Cruzada, que forçou as forças do Eixo a recuarem. Mas em junho de 1942 o  Afrika Korps já tinha tendo sido reforçado. E então, com duas divisões de tanques e mais o 20º exército italiano, Rommel teve seu momento de maior glória na África quando a cidade portuária de Tobruk, na Líbia, foi conquistada no final da batalha de Gazala ( que ocorreu entre 26 de maio e 21 de junho de 1942), na qual pelo lado da Inglaterra havia tropas britânicas, indianas, sul-africanas e voluntários da França Livre.

A vitória em Gazala, com a captura de Tobruk , revelou-se importante, porém não foi um momento decisivo, pois as forças britânicas e suas aliadas não foram destruídas e recuaram para El Alamein, no Egito. As forças do Eixo se beneficiaram com os armamentos, veículos e alimentos dos britânicos que estavam em Tobruk. A Inglaterra enfrentou algumas dificuldades na campanha do norte da África, pois desviou forças que poderiam ter lutado na área devido a ações realizadas na Grécia e no Oriente Médio (Líbano, Síria, Irã, Iraque) nos anos de 1941 e 1942.

O Alto Comando Alemão, diante de vitórias que tinham sido conseguidas por Rommel,  sonhava na época com a conquista do Egito e, consequentemente, do Canal de Suez, que era um meio muito importante para passagem de navios e também existiam planos de anexar campos de petróleo do Oriente, por meio de um avanço de tropas do Eixo que lutavam na África que deveriam alcançar forças alemães que lutavam na União Soviética. Também havia interesse em impressionar a Turquia com uma grande conquista e atraí-la para o lado da Alemanha. A conquista de Suez pelo Eixo teria representado uma terrível perda para o Império Britânico, pois precisava muito desse canal para a comunicação com a Índia, sua principal colônia. É de se destacar que o Eixo, em 1942, tinha consideráveis dificuldades de receber suprimentos e equipamentos por causa da ação da Marinha da Inglaterra e essa nação tinha menos dificuldades nesse sentido, apoiada por seus navios. O fracasso do Eixo em eliminar a capacidade da ilha de Malta como base naval, apesar de intensos e constantes bombardeios, também foi fator favorável ao Império Britânico. Uma arma que foi usada com sucesso por Rommel contra blindados ingleses foi o canhão de 88 mm, que estava sendo utilizado como arma anti-aérea.

 Em julho de 1942, do dia primeiro ao dia 27, foi travada a Primeira Batalha de El Alamein, que não foi decisiva, porém estrategicamente representou uma vitória inglesa. O exército britânico, nessa fase da guerra na África do norte, já era chamado de Oitavo Exército. Ao recuar para perto da localidade de El Alamein, os britânicos se aproveitaram das características geográficas do local para construir sólidas defesas. Os alemães e italianos não conseguiram destruir os britânicos e esses quando contra-atacaram falharam também em derrotar os alemães, surgindo um impasse.  Após essa batalha, chegou para comandar o Oitavo Exército o tenente-general Bernard Montgomery. 

 Na Primeira Batalha de El Alamein o general britânico Claude Auchnleck tinha sob seu comando aproximadamente 150 mil soldados e as forças do Eixo cerca de 96 mil soldados. O Eixo perdeu 17 mil homens entre mortos, feridos e capturados e as forças britânicas com as suas aliadas (australianos, neozelandeses, indianos etc) tiveram cerca de 13 mil perdas em homens. Depois dessa batalha as forças do Eixo tiveram um enfraquecimento. Os britânicos reforçaram suas defesas após o fracasso de sua contra-ofensiva para derrotar definitivamente Rommel. Esse tentou mais uma vez um ataque na batalha de Alam Halfa e foi forçado a recuar no final de agosto de 1942.

De 23 de outubro a 3 de novembro houve uma batalha decisiva (a Segunda Batalha de El Alamein) que levou a  grandes perdas para as forças do Eixo, que foram forçadas a um enorme recuo, sendo perseguidas pelo Oitavo Exército e Rommel não ficou para o fim da campanha do deserto, indo para a Europa.

Na ocasião, os britânicos comandados por Montgomery contavam com 250 mil homens, mais de mil tanques, 530 aviões, 908 peças de artilharia e cerca de 1450 armas anti-tanque. E do lado do Eixo, cujo maior comandante era Rommel, havia 116 mil soldados, 547 tanques, 480 aviões, 552 peças de artilharia e 496 armas anti-tanque. Havia vantagens para o lado britânico, devido às ações de espionagem dos Aliados, que possibilitavam ter informações antecipadas sobre ataques dos alemães, e graças aos reforços que os ingleses conseguiam fazer chegar à África com muito mais facilidade que os alemães (transportes alemães e italianos eram frequentemente bombardeados). Os alemães além dessas dificuldades estavam sobrecarregados na campanha da União Soviética e com tropas espalhadas por vários países europeus. O poderio britânico também se fez ver no Mediterrâneo, com vitórias contra a Marinha da Itália. Na época, os Estados Unidos abasteciam com muitos armamentos e suprimentos a Inglaterra. Pelo lado do Eixo, parte significativa dos tanques era de qualidade inferior, pois havia muitos tanques italianos menos eficientes e também existiam certos tanques alemães (Panzer III) de tecnologia mais atrasada. Além de seus efetivos em homens e blindados, Rommel procurou também usar fortes medidas defensivas por meio da instalação de vastos campos minados. Outra fraqueza do Eixo quando aconteceu a Segunda Batalha de El Alamein foi a baixa reserva de combustível para os seus aviões.

De início Montgomery lançou  a Operação Bertram, para iludir o Eixo e fazer parecer que o ataque principal seria pelo sul. Foram feitos tanques de mentira e inventado um tráfego de rádio que não era real e as forças de ataque do norte foram escondidas. O truque enganou os alemães, que acharam que o ataque maior viria mesmo do lado sul. Montgomery pretendia atacar de noite ao norte da linha alemã, utilizando a artilharia de forma muito destrutiva e com os sapadores abrindo caminhos no campo minado alemão para as forças britânicas atacarem. Foram planejadas 3 fases: infiltração, desmoronamento e rompimento das linhas inimigas. Assim, o ataque começou em 23 de outubro de 1942. Esse ataque real foi denominado de Operação Lightfoot. Foram usados 882 canhões que disparavam contra as posições alemãs de modo devastador. Os sapadores fizeram seu trabalho e a infantaria avançou. Os impactos da artilharia britânica cortaram várias linhas de comunicação do Eixo. O general alemão Stumme teve um ataque cardíaco e morreu logo no início do ataque britânico, causando por algum tempo problemas na linha de comando. Um contra-ataque alemão não foi bem sucedido. Rommel não estava na África quando os britânicos atacaram e foi chamado para retornar ao comando do Afrika Korps 

Inicialmente as defesas alemãs agüentaram e os britânicos não conseguiam uma penetração mais profunda. Rommel tentou realizar um ataque com forças alemães e italianas, sabendo que o combustível era pouco para fazer um recuo se fosse preciso. Os canhões 88 dos alemães faziam estragos nos blindados ingleses e do lado desses a Real Força Aérea da Inglaterra destruía muitos tanques alemães. Montgomery procurou reforçar a ofensiva e mandou seu grupo de ataque especial chamado de “Ratos do Deserto”. Os britânicos tinham uma grande vantagem numérica em tanques.  

Com a Operação Supercharge o comando britânico . enviou a 9ª Divisão Asutraliana para reforçar o ataque ao norte e Rommel já percebendo a extrema gravidade da situação lançou sua última reserva, a 90ª Divisão Leve África

 Os britânicos lançaram novos ataques a partir de primeiro de novembro, com a liderança ficando com a Primeira Divisão Blindada e os alemães ainda conseguiam resistir. Há grandes perdas por parte dessa divisão. Mas os ataques britânicos não param para que o inimigo fosse cada vez mais enfraquecido. E então Montgomery resolve mandar um forte ataque ao sul, próximo ao centro da linha do Eixo, onde a principal defesa era da Divisão Littorio, uma divisão blindada italiana. Como essa divisão era mais fraca, não resiste ao ataque e começa uma retirada, deixando Rommel em desvantagem maior em número de tanques. Assim, há uma abertura maior de uma brecha da linha que já tinha sido aberta e apesar da resistência alemã, na noite de 3 de novembro soldados escoceses e indianos avançam mais. E para piorar, um petroleiro italiano que deveria abastecer de combustível as forças do Eixo é afundado. 

 Rommel, diante de uma situação terrível para sua forças, resolve que é melhor a retirada para uma outra linha em Daba, que estava distante 90 km para oeste. Mandou um emissário à Alemanha pedindo autorização para a retirada. No entanto, Hitler não aceita a retirada e ordena a resistência até a morte. Eis abaixo o que disse o ditador alemão em sua mensagem:

“Ao Marechal Rommel

É com a maior confiança no seu comando e na coragem das tropas germano-italianas sob o seu comando, que o povo alemão e eu seguimos a luta heroica no Egito. Na situação em que se encontra não pode pensar senão em manter-se, não ceder nem um metro de terreno e lançar todos os canhões e homens que possa para a batalha. Estão a ser enviados consideráveis reforços aéreos para o Comandante Chefe no sul. O Duce e o Comando Supremo Italiano desenvolvem também os maiores esforços para lhe enviar os meios para poder continuar a luta. O inimigo, apesar da sua superioridade, deve também encontrar-se com as forças esgotadas. Não seria a primeira vez na história que se dava o caso de uma vontade forte triunfar sobre os maiores batalhões. Quanto às suas tropas, não lhes pode mostrar outro caminho que não seja aquele que conduz à vitória ou à morte

Adolf Hitler

 

Rommel posteriormente escreveu sobre aqueles fatos:

"Esta ordem pedia o impossível. Uma bomba mata o mais corajoso soldado. Apesar dos nossos francos comunicados sobre a situação, no Quartel-General do Führer ainda não se compreendia qual era a real situação na África. Em vez de armas, gasolina, aviões, mandavam-nos ordens. E ordens não serviam para nada. Ficamos absolutamente aturdidos, e, pela primeira vez na campanha africana, vi-me sem saber o que devia fazer".

Rommel ficou em dúvida: deveria condenar à morte seus fieis soldados, mesmo diante de ordens superiores? Como um oficial ele considerava que precisava obedecer. Recebeu informações de que havia muito poucos tanques em suas forças. Os britânicos avançaram com forças blindadas muito superiores. O general alemão Thoma, que estava na linha de frente, rendeu-se após a perda dos tanques. Em 4 de novembro, o Marechal Kesselring chega à África e se recusa a acatar a ordem de Hitler de resistir até o fim e manda Rommel começar a retirada, pois era a única forma de salvar o que restava do exército alemão na região. Os britânicos estavam perto de esmagar as forças do Eixo que ainda restavam. Na ocasião, Rommel sabia que os Estados Unidos tinham desembarcado tropas no norte da África e ordenou então a retirada. Lamentou tempos depois não ter desobedecido as ordens de Hitler quando ainda havia tempo de salvar uma parte bem maior de suas forças. O Afrika Korps só não foi totalmente aniquilado porque Montgomery não agiu com eficácia nesse sentido, o que possibilitou aos alemães iniciarem a retirada. A 90ª Divisão Leve África, uma divisão alemã, ficou enfrentando ataques inimigos para possibilitar a retirada do restante das forças do Eixo. 

 O que restou das tropas do Eixo, sob a liderança de Rommel, conseguiu fazer a retirada por mais de mil quilômetros graças à habilidade desse general e à disciplina de seus soldados, mesmo com pouco combustível, com muitos veículos sendo abandonados por problemas mecânicos e com ataques aéreos constantes por parte dos britânicos. Quando essa força chegou em Trípoli, na Líbia, encontrou um grupo de reforço liderado pelo general Von Armim, com modernos tanques pesados e soldados descansados. Entretanto, os alemães em maio de 1943 seriam totalmente derrotados por forças dos Aliados.

Com a vitória em El Alamein, o general Bernard Montgomery foi agraciado com o título de Visconde. Os britânicos e seus aliados nessa batalha tiveram 4810 mortos e 8950 feridos. As forças do Eixo tiveram 9 mil mortos ou desaparecidos, 15 mil feridos e 35 mil prisioneiros.

Segundo o primeiro ministro Winston Churchill após a batalha: "este não é o fim, não é nem o começo do fim, mas é, talvez, o fim do começo". E depois da guerra ele escreveu: "Antes de Alamein nunca tivemos uma vitória, depois de Alamein, nunca tivemos uma derrota”.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00WPRyhhSE20S7mIUAOO6E7vM96Mw:1603648319860&source=univ&tbm

 

sábado, 17 de outubro de 2020

Conflitos na Tailândia

 

 

 

 

 

A Tailândia é um país localizado no sudeste asiático, que tem limite a oeste e noroeste com Mianmar, ao sul com a Malásia, a sudeste com o Camboja e a norte e a leste com o Laos. Sua população é de aproximadamente 68 milhões de pessoas. O nome Tailândia significa “terra dos homens livres” e antes de 1939 chamava-se Sião. A maioria da população é de agricultores, vivendo no campo. Mas nos anos de 1980 iniciou um rápido desenvolvimento econômico. Países como Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Estados Unidos proporcionaram  condições para a industrialização por meio de investimentos e indústrias como têxteis, calçados, alimentos, brinquedos e produtos eletrônicos. As empresas na Tailândia com a produção por encomenda e com o uso de mão de obra barata tiveram altos lucros e assim a Tailândia entrou para os chamados “Tigres Asiáticos”.  Sua principal religião é a budista.

 

Na atualidade, a Tailândia está passando por momentos conflituosos. Estudantes estão protestando com veemência contra lideranças militares que controlam o país e contra a monarquia secular tailandesa que tem muitos privilégios. Os protestos já causaram prisões de opositores, proibição de reuniões e censura contra mensagens contrárias ao governo.  Os opositores querem que o primeiro ministro Prayut Chan-O-Cha deixe o governo que ocupa desde 2014 quando houve um golpe político e legitimado por meio de eleições suspeitas de terem sido manipuladas em 2019. Também os opositores, na maior parte jovens estudantes, desejam uma modificação na Constituição. No dia 14 de outubro deste ano mais de dez mil manifestantes a favor da democracia marcharam rumo à sede do governo devido ser a data de aniversário (47 anos)  do levante estudantil de 1973 que na época conseguiu a demissão do primeiro-ministro.

 

Durante a história da Tailândia, aconteceram  19 golpes de Estado ou tentativas de golpe a partir de 1932, ano em que foi estabelecida uma monarquia constitucional. Tanto o movimento em defesa da monarquia como os contrários a ela fazem suas manifestações. Os  manifestantes de oposição há meses vem protestando. Interessante ver  que há gestos deles nas manifestações que fazem lembrar filmes dos Estados Unidos.  

 

O atual rei é Vajiralongkor, que subiu ao trono em 2016. O rei é uma figura questionável. Ele tomou posse da fortuna da família real e reforçou seus poderes.

 

 

Entre os manifestantes contrários ao governo está “Rung” (Panusaya Sithijirawattanakul), que encontra-se presa desde o dia 15 de outubro. Ela, pouco tempo antes  havia feito uma declaração que defendia uma reforma na monarquia, tornando-a mais moderna e democrática. Quem são os poderosos, além do monarca? Um sistema oligárquico, altos oficiais do Exército e uma rica camada empresarial em sua maioria sino-tailandesa. O rei possui uma forte  influência, nem sempre bem visível, sobre o círculo do poder.

 

O país passou no século XXI por turbulências como o golpe de Estado que derrubou o primeiro ministro Thaksin Shinawatra em 2006 e a crise política de 2010. Nesse ano aproximadamente 100 mil partidários do ministro derrubado ocuparam o centro da capital, Bangcoc, por dois meses. Os opositores queriam o fim do governo de Abhisit Vejajiva. Houve cerca de 90 mortos e centenas de feridos. E em 2014 houve o golpe de Estado contra Yingluck Shinawatra, irmã do ex- primeiro ministro Thaksin. Tomou o poder então o general Prayut Chan-O-Cha.

 

Os estudantes tentam conseguir as reformas políticas, querendo um regime democrático, questionando a forma que o rei exerce seu reinado, muitas vezes ausentando-se do país e vivendo na riqueza e no luxo. Também é criticada a lei de lesa-majestade que impede críticas ao rei. É importante ressaltar que em 1973 um levante liderado por universitários conseguiu derrubar o governo ditatorial da época. A força de vontade em conseguir seus propósitos pode ser muito parecida, porém a conjuntura era outra, pois naqueles tempos se vivia a Guerra Fria e as ideias políticas daquela época influenciavam o movimento. Os estudantes atuais estão desafiando o estado de emergência e em uma das manifestações gritavam: “ Libertem os nossos amigos!” A polícia tem agido com bastante rigor aos protestos, usando de violência e prendendo manifestantes.  A massa de estudantes terá força suficiente para provocar mudanças como aconteceu em 1932 e 1973? Novos rearranjos entre os poderosos acontecerão, mas mantendo a influência do rei, o poder dos militares e dos grupos dominantes? São questões que ainda não podem ser respondidas, dependendo de quão forte for o movimento estudantil e de como reagirão os poderosos diante da pressão. Há fatores políticos em jogo e também há contrastes econômicos envolvendo grupos sociais que tem interferido nos conflitos que tem ocorrido neste país.

 

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 Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 

Figura: 

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