sábado, 29 de maio de 2021

Homenagem ao compositor Nelson Sargento

 






Nelson nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1924. Seus pais eram Olímpio José de Mattos e Rosa Maria da Conceição. O pai era cozinheiro e trabalhava no armazém Dragão. Sua mãe também era cozinheira e fazia trabalhos domésticos. Eles moravam na casa do comerciante Manoel Ferreira Dias, atacadista de secos e molhados. O convívio de Nelson com seu pai foi muito limitado. O pai morreu de gangrena porque feriu o pé em um acidente na cozinha de um restaurante e não houve tratamento adequado. Quando isso aconteceu ele e mãe de Nelson já estavam separados.

A mãe de Nelson foi morar no morro do Salgueiro e lavava roupa para famílias para assim poder ter condições de se sustentar. No morro do Salgueiro, aos dez anos, Nelson passou a tocar tamborim e a desfilar pela escola “Azul e Branco”. A união dessa escola de samba com outras duas (“Unidos do Salgueiro” e “Depois eu Digo”) deu origem à escola Acadêmicos do Salgueiro.

A mãe de Nelson, Rosa,  tinha um relacionamento com um homem mais velho que ela, Arthur Pequeno, tecelão na fábrica de tecidos Bom Pastor. Arthur era amigo do português Alfredo Lourenço, compositor na Estação Primeira de Mangueira. Com a morte de Arthur, Rosa foi viver com Alfredo, que trabalhava como empreiteiro da construção civil. Era também um português letrista, compositor de sambas.

Na adolescência, com o apoio do padrasto, Nelson foi se destacando na música. Em 1949 venceu a seletiva de sambas-enredo da Mangueira com o samba “Apologia ao Mestre”, que fez com Alfredo Lourenço. A Mangueira foi campeã no mesmo ano. Em 1950 Nelson e Alfredo compuseram SALTE (Saúde, lavoura, transporte e educação) e a escola foi campeã novamente. Outra composição deles, em 1955,  foi “As quatro estações ou Cântico à natureza”. Em 1958 Nelson foi eleito presidente da ala de compositores da Mangueira e então teve influência dos sambistas mais antigos da escola como Carlos Cachaça, Saturnino, Aluísio Dias e Cartola, que foi um mestre para ele. No restaurante Zicartola, que pertencia  a Cartola e Dona Zica, Nelson passou a cantar entre 1964 e 1965, ficando mais conhecido como sambista e participou com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do musical “Rosas de Ouro”.

Com vários sambistas Nelson fez parte de grupos ligados ao samba como  A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos.

Sambas de Nelson foram gravados por outros sambistas como Paulinho da Viola e Beth Carvalho. E em 1979 Nelson gravou seu primeiro disco solo: “Sonho de Sambista”. Em 1986 ele gravou seu segundo álbum de estúdio: “Encanto da paisagem”. O terceiro LP veio em 1990: “Inéditas de Nelson Sargento”. Em 1998 ele, Elton Medeiros e o grupo Galo Preto gravaram o álbum: “Só Cartola”. Em 2001 e 2008 foram lançados os último álbuns de Nelson: Flores da Vida e Versátil.

Nelson Sargento em sua vida compôs mais de 400 músicas. Ele também foi artista plástico e escrevia poesias. Lançou os livros “Prisioneiro do mundo”; "Um certo Geraldo Pereira”  e “Pensamentos” . Participou dos filmes “O Primeiro Dia”, “Orfeu” e foi tema do documentário "Nelson Sargento da Mangueira". "

 Desde 2005 ele fazia tratamento para um câncer de próstata e em maio de 2021 foi internado no Instituto Nacional de Câncer apresentando desidratação e anorexia e testou positivo para a Covid-19, mesmo tendo sido vacinado meses antes com as duas doses da vacina e veio a falecer no dia 27. Teve dezessete irmãos. Foi casado com Evonete Belizario Mattos e com ela criou nove filhos, sendo seis biológicos.

Segundo Alana Gandra, repórter da Agência Brasil-Rio de Janeiro em 27/05/2021:

“(...) Quase um século de vida. Nelson Sargento simboliza a tradição do samba carioca. Foi baluarte, presidente de honra, memória viva da Estação Primeira de Mangueira. O tamanho desta escola no coração do sambista, ele mesmo definiu: "A Mangueira é uma religião”

Nelson foi Zumbi dos Palmares no desfile vitorioso da Mangueira, em 2019, sobre os nossos heróis que não estão nos livros.

No cinema, ganhou troféu em Gramado pela trilha sonora de um documentário que contou a vida dele. Também foi premiado no Theatro Municipal, entre todos os gigantes da MPB: “Me dê as flores em vida. Meu Deus, estou recebendo as flores em vida. Obrigado, meu Deus, sou seu fã.”

O reconhecimento chegou até no Japão, e ele comemorou os 95 anos no palco.

Nas quatro estações da vida, Nelson Sargento deu show de dignidade. Um rei de verdade, que deixa seu tesouro para todos nós.(...)”

Alguns sambas de Nelson Sargento:

Falso Amor Sincero


O nosso amor é tão bonito
Ela finge que me ama
E eu finjo que acredito

O nosso falso amor é tão sincero
Isto me faz bem feliz
Ela faz tudo que eu quero
Eu faço tudo que ela diz

Aqueles que se amam de verdade
Invejam a nossa felicidade.

(Por isso e que eu vivo a dizer)

 

Compositor: Nelson Sargento

Para escutar em : https://www.vagalume.com.br/nelson-sargento/falso-amor-sincero.html

 

Encanto da Paisagem

Morro és o encanto da paisagem
Suntuoso personagem
De rudimentar beleza
Morro, progresso lento e primário
És imponente no cenário
Inspiração da natureza

Na topografia da cidade
Com toda simplicidade,
És chamado de elevação
Vielas, becos e buracos
Choupanas, tendinhas, barracos
Sem discriminação

Morro, pés descalços na ladeira
Lata d'água na cabeça
Vida rude alvissareira
Crianças sem futuro e sem escola
Se não der sorte na bola
Vai sofrer a vida inteira

Morro, o teu samba foi minado
Ficou tão sofisticado, já não é tradicional
Morro, és lindo quando o sol desponta
E as mazelas vão por conta do desajuste social

 

Compositor: Nelson Sargento

Para escutar em : https://www.vagalume.com.br/nelson-sargento/encanto-da-paisagem.html

 

Bálsamo

Eu me encontrei quando encontrei você
Seu carinho
Foi um bálsamo
No meu sofrer

Apaguei da memória o passado triste
Renasceu em mim
A vontade de viver
A felicidade
Envolveu as nossas vidas

É uma bênção do céu
O nosso amor
Agora que eu lhe encontrei
Jamais irei lhe perder
Eu tenho carinho
Eu tenho paz
Eu tenho você

Compositor: Nelson Sargento

Para escutar:https://www.letras.mus.br/nelson-sargento/balsamo

 

Nas Asas da Canção

Vou viajar nas asas da canção
Até encontrar a inspiração pra compor
Um sublime poema de amor

Quero reunir as mais lindas notas musicais
Pra fazer feliz meu coração
Que já sofreu demais

Ó musa
Me ajude como outrora
Não me abandone agora
No ocaso da vida

Sei que a minha mente está cansada
Foram tantas madrugadas
Quantas ilusões perdidas

Quero versos com muito lirismo
Para tirar do abismo, meu pobre coração
Rica melodia emoldurando
A fantasia da minha imaginação


Compositor: Nelson Sargento e Dona Ivone Lara

Para escutar: https://www.letras.mus.br/nelson-sargento/nas-asas-da-cancao/

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01ctglO-XowGEuTxfTgTjo59XeKSA:1622330488097&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+nelson+sargento&sa


quinta-feira, 27 de maio de 2021

O compositor alemão Johannes Brahms

 







Em 7 de maio de 1833 nascia em Hamburgo, na Alemanha, o compositor romântico alemão Johannes Brahms . O regente alemão, pianista e compositor Hans Von Bullow disse que Brahms estava entre os “três Bs” dos maiores compositores alemães (Brahms, Beethoven e Bach), tendo chamado a primeira sinfonia de Brahms de “´decima de Beethoveen”.

 

Brahms era o terceiro filho de Johanna Henrika, que trabalhava em uma pequena loja na qual tinha sociedade e seu pai era Johan Jacob Brahms, contrabaixista da Orquestra Filarmônica de Hamburgo, que tocava em bares e tavernas para ganhar dinheiro.

 

Johannes Brahms  teve suas primeiras aulas de violino e violoncelo com seu pai. Esse, percebeu que o filho tinha talento. Quando Johannes tinha oito anos, seu pai contratou Otto Cossel como professor de piano para ele. Johanes fez seu primeiro concerto público aos dez anos interpretando Mozart e Beethoven e começou a frequentar com seu pai as tabernas para tocar. Depois passou a tocar em cervejarias de Hamburgo com seu pai. Outro professor em sua infância foi Eduardo Marxsen que era regente da Filarmônica de Hamburgo e compositor. Ele deu ao jovem Brahms noções de composição. Enquanto ficava tocando à noite nas cervejarias, Johanes conheceu o violinista húngaro Eduard Remenyi. Eles fizeram concertos por cidades alemãs e Brahms nessa ocasião conhece o famoso violinista Joseph Joachim, o talentoso pianista Liszt e o casal Schumann.

 

Robert e Clara Schumann, em 1853, o consideraram um gênio e Robert recomendou obras de Brahms aos seus editores, tendo também escrito o artigo “Novos Caminhos” na Nova Gazeta Musical, chamando Brahms de jovem águia" e de "Eleito". Brahms apaixonou-se por Clara e ambos trocavam cartas, mas não há provas que tenham tido um relacionamento amoroso.

 

Por alguns anos Brahms ficou morando ora em Hanôver, na casa de seus amigo, o violinista Joachim, ora em Düsseldorf, na casa dos Scumann. Mas em 1856 morre Robert Schumann e Brahms consegue o emprego de mestre de capela do principado de Lippe-Detmold.

 

Em 1860 um grupo no qual Brahms fazia parte divulga um manifesto contra a escola neo-alemã, de Liszt e Wagner. Brahms foi chamado de reacionário por admiradores dessa escola. Em 1863 passa a morar em Viena e consegue o emprego de diretor da Singakademie e lá regia coros e elaborava programas musicais. Para poder se dedicar exclusivamente à composição, ele pede demissão depois de um ano e vive então de recursos oriundos da edição de suas obras e tocando em concertos e recitais.  O crítico Eduard Hanslick deu-lhe apoio. Porém o reconhecimento de Brahms como grande compositor só veio com a estreia de sua obra Um Requiem Alemão, em 1868 e de 1872 a 1875 dirigiu a Sociedade dos Amigos da Música, que era uma conhecida instituição de música de Viena. Em 1876 estreou sua Primeira Sinfonia, que teve sucesso. Passou a ser chamado de o sucessor de Beethoven. Também Brahms se destacou como um continuador da obra de Schubert, compondo lieder. Divulgou a música de Bach, que ainda não era muito valorizada em Viena.


Como pessoa, Brahms era generoso e gentil, mesmo tendo modos rudes. Passou a morar em um simples apartamento e procurava ajudar amigos músicos quando tinham necessidades, inclusive Dvorak e Mahler. Não casou, vivendo solitariamente, com seus anos sendo marcados pelas estreias de obras suas, temporadas longas de verão e viagens, em especial à Itália. Quis parar de compor em 1890, após ter concluído a obra Quinteto de Cordas op. 111. Mas ainda compôs duas Sonatas para Clarineta e Piano, o Trio para Clarineta, Cello e Piano, e o Quinteto para Clarineta e Cordas, influenciado pelo encontro com o clarinetista Richard Mülhfeld. A obra Quatro Canções Sérias foi a última publicada por Brahms, que em 1896 dedicou a coletânea como presente de aniversário a si mesmo. No mesmo ano Clara Schumann, por quem ele tinha grande afeto, morre.

 

Brahms veio a falecer em 3 de abril de 1897, aos 63 anos, tendo sido sepultado como celebridade no mesmo cemitério em que foram enterrados seus mestres Beethoven, Mozart e Schubert.


Diferentemente de Wagner, que dividiu com Brahms a atenção no final do século XIX na música, esse último não se dedicou à ópera, sendo que sua obra está ligada à fusão da expressividade romântica com a preocupação formal clássica. Seu estilo de modulação foi inovador, com uso de modulações repentinas no discurso harmônico. 

 

Brahms não gostou de ser envolvido em uma disputa entre os conservadores e os “modernistas”. Na defesa da obra de Brahms, Arnold Schoenberg, o pai do dodecafonismo, disse em uma conferência nos Estados Unidos em 1933 que Brahms tinha sido inovador e revolucionário.

 

Segundo especialistas na obra de Brahms, há quatro fases na obra do compositor: a primeira na juventude dele, com um romantismo exuberante e áspero; a segunda, depois de 1855, que é a fase de consolidação, até 1868; a terceira é aquela das obras sinfônicas e corais; a quarta é a mais curta, com obras mais simples e concentradas, de 1890 até 1896.

 

Muitas das obras de Brahms eram dedicadas ao piano. Obras de destaque foram por exemplo:25 Variações e Fuga sobre um Tema de Handel e os dois grupos de Variações sobre um Tema de Paganini, e as Variações sobre um Tema de Haydn. Também vale a pena destacar, considerando as obras para piano, as Baladas op. 10,os Intermezzos op. 117 e as Klavierstücke op. 118 e 119. Na Música de Câmara dentre as mais importantes há o Trio op. 8, o Sexteto de Cordas nº 1 e o Quarteto para Piano op. 25, que foi depois orquestrado por Schoenberg.

 

A maior parte da obra do compositor esteve ligada às canções como os liederRomanzenaus Magelone e as Quatro Canções Sérias. As obras Um Requiem AlemãoCanção do Destino e a Rapsódia para Contralto destacam-se na música para coral.

 

A primeira obra-prima orquestral de Brahms é o Concerto para Piano nº 1, também tendo destaque as Variações sobre um Tema de Haydn em sua versão orquestral e as suas quatro sinfonias.


Entre os concertos destacam-se o Concerto para Violino, o Segundo Concerto para Piano e o Concerto Duplo, para Violino e Violoncelo.


Segundo a autora Dilva Frazão:

 

“ (...) Brahms iniciou de fato sua carreira de compositor aos 17 anos, mas era extremamente crítico em relação à sua produção musical. Centenas de trabalhos foram destruídos por ele antes que apresentasse ao público seu Scherzo em Mi Menor Op. 4 e as Sonatas em Dó Maior (Opus 1) e Fá Menor (Opus 2). Suas composições nesse período incluem música para piano, música de câmara e obras para coral masculino.(...)”

 

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Mestres da música. Brahms-Abril Cultural,1982:

“É um jovem que, já no berço foi embalado pelas graças e pelos gênios dos heróis. Chama-se Johanes Brahms e veio de Hamburgo (...). Apresenta todos os indícios que nos autorizam a proclamar ser ele um predestinado (...). Além de tudo, tem uma elevada virtude, a modéstia (...). Nós lhe damos as boas vindas como um mestre entre os mestres”. Robert Schumamm.

 

Maxsen, professor de piano: “A memória de Brahms era tão grande que jamais levava partituras durante suas excursões. Tinha na cabeça todo o repertório de Rémenyi, formado por obras de Bach, Beethoven, Thalberg, Liszt e Mendelssohn”.

 

Brahms para Clara Schuman: “ Vosso marido e vós foram as mais belas experiências de minha vida, sua maior riqueza, seu mais nobre significado”.

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Grandes Compositores da Música Clássica, Abril Coleções, 2009

 

“Brahms, o equilíbrio entre o clássico e o romântico

Pergunte a um músico de orquestra o seu compositor favorito e ele provavelmente responderá Johanes Brahms. Eis a razão: interpretar Brahms é uma delícia. Sua escrita orquestral é tão perfeita que transforma cada músico da orquestra-o spalla ou a quarta trompa, tanto faz-em um solista.

A música de Brahms, seja ela sinfônica, de câmara ou para piano solo, tem um espírito quase religioso, mas que por vezes se rompe, revelando sua juventude como pianista nas tabernas de Hamburgo, na Alemanha. Ele soa extremamente natural aos nossos ouvidos e, ao mesmo tempo, imprevisível. Nunca nos dá o óbvio. Oferece um discurso inteligente e sofisticado, de emoções profundas e verdadeiras...” Roberto Minczuck

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Sugestões para ouvir:

 

Hungarian Dance #5 byJohannes Brahms - YouTube

 

J. Brahms, Op.118 Intermezzo em Fá menor - YouTube

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00xSqxNykXk5cGKIMMyS4CgozgxPg:1622167741165&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+brahms&sa


sexta-feira, 21 de maio de 2021

O pintor renascentista italiano Sandro Botticelli


 



 

  

 

 

Em 17 de maio de 1510 falecia em Florença, na Itália, o pintor italiano do período renascentista Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi, conhecido como Sandro Botticelli, sendo sepultado na Igreja de Todos os Santos, na qual tinha pintado, 30 anos antes, a Êxtase de Santo Agostinho. Botticelli era um apelido que ele e um de seus irmãos tinham e siginfica em italiano “pequeno tonel”.

 

Sandro Botticelli nasceu em Florença, em primeiro de março de 1445. Um irmão dele o ensinou ourivesaria. Quando adolescente, foi aprendiz no ateliê de Fillipo Lippi, tendo ajudando esse artista nas decorações da Catedral de Prata. Foi estudante na Escola Florentina do Renascimento. Recebeu influências do artista Masaccio e das tendências do estilo Gótico tardio. Interessou-se pela perspectiva central e foi um estudioso das esculturas da Antiguidade. Estudou com o artista Andrea del Verrochio, entre 1467 e 1470, um professor de Leonardo da Vinci. Sandro com vinte e cinco anos abriu o seu ateliê de pintura. Era o ano de 1470 e a ele foi dito para pintar a obra A Coragem, que ficaria no Tribunal do Palácio do Mercado.  Esteve em Roma em 1481 onde pintou os afrescos As Provações de MoisésO Castigo dos Rebeldes e A Tentação de Cristo. As últimas obras revelavam um expressionismo trágico. O pintor usava todas as cores, principalmente as cores frias. Na arte de tendência religiosa, pintou com destaque São Sebastião e um afresco sobre Santo Agostinho.

 

 

Com a expulsão dos Médici de Florença, Botticelli passou a seguir o monge beneditino Girolamo Savonarola que via a religião de uma forma rígida. Nessa fase o pintor criou as pinturas: A Natividade Mística e A Crucificação Mística. Essas obras revelam um fervor religioso do pintor e uma mudança em seu estilo.

 

Também foi um talentoso retratista e graças a sua habilidade fantástica de transpor para a linguagem formal todas as concepções de seus clientes ele foi um dos pintores mais disputados daquela época.

 

Embora não sendo muito lembrado por muito tempo, em tempos posteriores, no século XIX, sua arte passa a ser valorizada, especialmente pela interpretação filosófica de suas obras.

 

Botticelli foi contratado e protegido pela poderosa família Médici, tendo feito para membros dessa família registros da pintura com base na mitologia. Fez trabalhos também para outras famílias importantes de Florença e para o Vaticano, tendo pintado afrescos na Capela Sistina. Entre as obras que pintou para as ricas famílias estão o Retrato de Giuliano de Médici e A adoração dos Magos.

 

Sandro Botticelli participava do meio artístico e cultural relacionado à família Médici e foi influenciado pelo neoplatonismo cristão, unindo princípios dessa corrente com ideias clássicas. Segundo alguns estudiosos, sua obra Minerva e o Centauro estaria relacionada à ideia do amor desenvolvida pelo filósofo neoplatônico Marsilio Ficino. Na sua obra O Nascimento de Vênus, a deusa Vênus possivelmente seja a fonte do amor divino, numa visão ao mesmo tempo pagã e cristã. O nascimento de Vênus poderia ser a esperança em um “renascimento”. Também a obra A Primavera pode ter tido inspiração em outras obras artísticas.

 

Em 1472 Botticelli ingressou na fraternidade Companhia de São Lucas, que era voltada à caridade promovida por artistas. Em 1473 o pintor foi para Pisa para fazer uma pintura na catedral da cidade. Essa obra não existe mais.

 

Uma mulher nobre da cidade costeira italiana de Portovenere, de nome Simoneta Vespucci, serviu de modelo para as obras O Nascimento de Vênus e A Primavera. Era conhecida como a mulher mais bela do Renascimento. Ela era amante do irmão mais novo de Lourenço de Médici, Juliano de Médici, e casada com Marco Vespucci, que era primo do navegador Américo Vespucci. Simoneta morreu aos 23 anos de tuberculose. Mesmo ela tendo morrido, Botticelli continuou a usar seu rosto como modelo para pinturas. O pintor quis que antes de morrer fosse enterrado aos pés dela.

 

Segundo a professora licenciada em Letras Daniela Diana:

 

 

“(...) Reconhecido pela sagacidade e rapidez, Sandro era filho de um curtidor. Recebeu treinamento para ourives, mas atuou muito cedo no estúdio do pintor renascentista florentino Filippo Lippi (1406-1469), em Florença, de quem foi discípulo.

O estilo de Lippi, um dos mais importantes pintores da época, é evidenciado na maior parte da obra de Botticelli.

Por meio de Lippi, Botticelli apreendeu a técnica da perspectiva linear e o uso de cores pálidas e ressonantes muito usadas nas obras do renascentista.

Também sofreu influência de Antonio Pollaiuolo (1433-1498) e Andrea del Verrocchio (1435-1488) em 1460.

Inquieto e rápido, Botticelli abriu a própria oficina quando tinha somente 25 anos. Ali, ele aplicou o neoplatonismo– de influência platônica – reunindo ideias pagãs em figuras pertencentes ao cristianismo.

Contava com muitos aprendizes que completavam seu trabalho e, assim, teve a capacidade de produzir em grande escala.

A tristeza e melancolia eram a marca de seu trabalho. Em muitas de suas pinturas, a figura feminina é retratada de maneira imponente.

As obras seduziram a importante e influente família Médici, de quem recebeu financiamento e grandes somas de dinheiro.

Por meio dos Médici foi convidado pelo Papado para participar da pintura da Capela Sistina. Realizou o trabalho juntamente com artistas como Pietro Perugino (1446-1523), Domenico Ghirlandaio (1449-1494) e, depois, Michelangelo (1475-1560).

Sete retratos papais e três áreas foram pintadas pelas mãos de Botticelli. Foi vítima de perseguição por parte da Igreja e teve muitas pinturas consideradas ímpias queimadas em fogueiras.

O mesmo destino teve o amigo que o influenciou na velhice, o monge Girolamo Savonarola (1452-1498). Ele foi queimado na fogueira por seu discurso impetuoso tratando sobre a ira de Deus.

Morte

Sandro Botticelli morreu dia 17 de maio de 1510 em sua cidade natal. O artista morreu pobre e atropelado pela popularidade de seus contemporâneos como Michelangelo, Rafael Sanzio e Leonardo Da Vinci. .

Deixou inacabadas as pinturas que retrataram a “ Divina Comédia” de Dante Alighieri. Porém, sua obra foi redescoberta e hoje ele é considerado um dos principais expoentes do Renascimento.

Principais obras e características

A Primavera ou Alegoria da Primavera é considerada a maior pintura mitológica do Renascimento. Segundo historiadores, a obra foi encomendada a Botticelli pela família Médici para dar de presente a uma noiva.

É uma pintura de caráter humanístico e a maioria dos historiadores de arte consideram que o tema central reflete o amor e o casamento. Além disso, ele aborda temas como a sensualidade e fertilidade.

Botticelli concluiu o quadro em 1482, usando a técnica têmpera em uma tela de dimensões de 203 x 314 cm. A pintura está exposta no Galleria degli Uffizi, em Florença.

O Nascimento da Vênus (1484-1486)

No quadro de incrível delicadeza, a deusa Vênus (conhecida como Afrodite na mitologia grega) emerge do mar sobre uma concha. Esse evento esteve alinhado com o mito o qual explica o seu nascimento.”

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Para a autora Dilva Frazão:

“(...) Em seus últimos anos de vida, Botticelli afastou-se quase que completo da vida cotidiana de Florença. Praticamente recluso, preferia a meditação solitária. Após sua morte, só foi redescoberto pelos pintores românticos ingleses no século XIX.”

 

Para  Liane Oleques, Mestre em Artes Visuais:

  

“(...) Botticelli recebeu várias críticas de artistas da época que consideravam sua Vênus deformada, considerando que Botticelli desprezou as correções da figura humana que tanto preservou em pinturas anteriores. No entanto sua Vênus é tão bela que pouco se nota o pescoço alongado ou o modo estranho como o braço esquerdo se liga ao corpo.

Botticelli seguiu firme em seu estilo particular, mesmo recebendo duras crítica até de Leonardo da Vinci, que o criticava por violar os princípios geométricos, além da perspectiva.

É possível dizer que a produção de Botticelli está dividida em três temas: religiosos, míticos e retratos. São conhecidas cerca de 150 obras de sua autoria realizados em óleo sobre madeira, afrescos e desenhos. Assim entre suas obras de grande importância estão: PrimaveraMinerva e o CentauroVênus e Marte; Jovem com uma medalha; Natividade MísticaA anunciaçãoSalomé com a cabeça de João BatistaA virgem o menino com seis anjosCenas da vida de Moisés; entre outras.

Botticelli não costumava assinar ou datar suas obras, em função disso, tornou-se difícil afirmar a autenticidade e a cronologia de seus trabalhos, já que o artista teve inúmeros discípulos que o ajudavam na execução dos trabalhos, mas que também, fizeram cópias. (...) “

 

 

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Imagens de algumas  obras de Botticelli:

 

 

 

 

 


                                                                 A Primavera




                                                      O nascimento de Vênus



                                                 

                                                      A adoração dos magos


 Sugestões de vídeos:

 

Botticelli | O pintor da beleza | O Nascimento de Vênus | TopARTE #19 | VEDA

 

https://www.youtube.com/watch?v=YNsGho9COA8

 

A PRIMAVERA - Sandro Botticelli |A história por trás da Obra|

https://www.youtube.com/watch?v=UyYmufv4jYk

 

O simbolismo na obra de SANDRO BOTTICELLI - Série Arte no Renascimento

 

https://www.youtube.com/watch?v=NADwMXIfWS

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


Figurashttps://www.google.com/search?source=univ&tbm=isch&q=Imagem+de+sandro+botticelli&client

               https://www.google.com/search?q=A+Primavera+(Botticelli)&client=firefox-b-d&sa

              https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=O+Nascimento+de+Vênus&stick=

    https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=A+Adoração+dos+Magos+(Botticelli)&stic

 

 

 


 



terça-feira, 18 de maio de 2021

Uma mulher que enfrentou o nazismo: Sophie Scholl

 







Em maio de 2021 está sendo comemorado o  centenário de Sophie Scholl. Mas quem foi ela? Sophie Scholl nasceu em 09 de maio de 1921 em Forchtenberg , na Alemanha. Seu nome todo era Sophie Magdalena Scholl. Ela foi condenada à morte por ser uma opositora à política de Hitler e fez parte de um grupo contra o nazismo: A Rosa Branca. A história dessa jovem foi contada em livros, filmes e peças de teatro. É uma inspiração para aqueles que lutam contra regimes autoritários.

O pai de Sophie e de seu irmão mais velho Hans era um crítico dos nazistas e de Hitler. Ele era um político liberal-democrata. Os dois irmãos Scholl de início apoiavam o nazismo e fizeram parte de movimentos nazistas. Ele fazia parte da Juventude Hitlerista e ela da Liga das Meninas Alemães. O pai deles era contrário à participação deles nessas organizações.

Com o passar do tempo, os dois irmãos perceberam uma forte falta de sintonia entre a formação liberal que tiveram e as ideias nazistas e também foram ficando chocados com o tratamento dado aos judeus e assim começaram a se tornar críticos do Terceiro Reich.

Quando o namorado de Sophie, Fritz Hartnagel, foi mandado como um soldado para lutar na guerra, ela disse: "Não consigo entender como algumas pessoas continuamente arriscam a vida de outras. Nunca vou entender e acho que é terrível. Não me diga que é para a pátria. "

Hans, irmão de Sophie, entrou na Universidade de Munique e ela também depois lá ingressou. Os dois se integraram em um grupo de amigos que tinham certos gostos comuns pela arte, cultura e filosofia. Hans era um estudante de medicina e Sophie estudava medicina e biologia, sabendo tocar piano, era pintora e gostava de dançar. Hans já tinha sido preso pela Gestapo entre 1937 e 1938, acusado de pertencer a uma organização juvenil clandestina. Outro rapaz que viria integrar o grupo Rosa Branca, Willi Graf, tinha feito parte do movimento juvenil de ideias católicas chamado Ordem Cinza, um grupo não autorizado pelos nazistas.

Hans Scholl e seu amigo Alexander Schmorell fundaram em 1942 o grupo Rosa Branca, que tinha seis membros: Além de Hans e Alexander, havia também os estudantes Sophie Scholl, Christoph Probst e Willi Graf e o professor Kurt Huber. Rosa Branca conseguiu vários colaboradores, com amigos e simpatizantes que ajudavam. O  grupo imprimia e distribuía panfletos para incentivar as pessoas a se posicionarem contra a política nazista, em especial contra a perseguição aos judeus e a guerra. Um dos impressos do grupo dizia: "Não seremos silenciados (...)”. E ainda dizia: "Nós somos sua consciência pesada, a Rosa Branca não o deixará em paz." Também o grupo fazia pichações à noite contra o nazismo. Algumas pichações diziam: “Abaixo Hitler" e "Hitler assassino de massa”.

Os panfletos eram colocados em caixas de correio em casas de cidades da Baviera ou passados adiante por outros meios. Para impressionar os leitores, eram utilizados nos panfletos trechos apocalípticos da Bíblia.

O quinto panfleto  tinha o título “Apelo a todos os alemães!” . Um trecho dele dizia: “Alemães! Vocês e seus filhos querem padecer do mesmo destino que atingiu os judeus? Querem ser medidos com a mesma medida que seus sedutores? Havemos de ser para sempre o povo odiado e repudiado pelo mundo inteiro? Não! Portanto, rompam com a subumanidade nacional-socialista. Provem através de atos que vocês não pensam assim! Uma nova guerra de libertação se inicia. A melhor parte do povo luta ao nosso lado.”

Um dos trechos do sexto e último panfleto, antes dos integrantes do grupo serem presos, em 1943, dizia:

"O nome alemão ficará para sempre danificado se a juventude alemã não se sublevar, vingar e pedir perdão ao mesmo tempo, esmagar seus algozes e encontrar uma nova Europa espiritual."

Os panfletos foram distribuídos e também jogados em 18 de fevereiro de 1943, por Sophie, do último andar da Universidade Ludwig Maximilian, em Munique. No entanto, um funcionário da universidade viu Sophie jogando os papeis e a denunciou à polícia política alemã, a Gestapo. Sophie e Hans foram então presos nesse dia 18 de fevereiro e interrogados.  Christoph Probst também foi preso no mesmo dia que os dois irmãos. Os irmãos não falaram sobre os outros integrantes do grupo Rosa Branca, porém as investigações dos policiais os levaram aos demais membros. Hans e Sophie procuravam, cada um deles, assumir a responsabilidade de tudo que sido tinha feito para poupar os outros. Sophie mentia para proteger seu irmão e ele fazia o mesmo para protegê-la. Os dois tinham profundo amor fraternal um pelo outro.

O juiz nazista Roland Freisler, em um julgamento-espetáculo, os condenou à morte com a acusação de traição. Todos os componentes do grupo Rosa Branca foram executados. Os carcereiros, mesmo sem a permissão dos seus superiores, permitiram aos pais de Hans e Sophie verem seus filhos antes da execução.

Sophie tinha 21 anos no dia 22 de fevereiro de 1943,em Munique. Nessa ocasião ela foi encaminhada para ser morta em uma guilhotina e disse:

"Um dia tão lindo e ensolarado, e eu tenho que ir... O que importa a minha morte, se através de nós, milhares de pessoas são despertadas e movidas para a ação?"

No período de fevereiro a outubro de 1943 foram executadas cerca de 50 pessoas com ligação ao grupo Rosa Branca.

Atualmente a coragem e a determinação de Sophie são lembradas na Alemanha. Escolas e rodovias tem hoje em dia os nomes dela e de seu irmão Hans. Mas há pessoas que consideram que os outros integrantes do grupo Rosa Branca deveriam ser também muito homenageados, pois também tiveram sua importância.

Em homenagem à Sophie Scholl pelos 100 anos de seu nascimento, a casa da moeda alemã fez uma moeda comemorativa. Há um canal no Istagram sobre ela.

Filmes que mostram a história de Sophie Scholl: A Rosa Branca, de 1982; Sophie Scholl, Uma mulher contra Hitler (2005)

 

 

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Sugestão de vídeos:

SOPHIE SCHOLL - a heroína da resistência alemã antinazista | DIE WEIßE ROSE

 https://www.youtube.com/watch?v=lfwNmmxWG08


A Rosa Branca Hans e Sophie Scholl

https://www.youtube.com/watch?v=Xh34mVEUmn4

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk028iwf76-0RxI_xEmSimXZR37OcRg:1621391537301&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+sophie+scholl