Nelson nasceu na cidade do Rio de
Janeiro, em 25 de julho de 1924. Seus pais eram Olímpio José de Mattos e Rosa
Maria da Conceição. O pai era cozinheiro e trabalhava no armazém Dragão. Sua
mãe também era cozinheira e fazia trabalhos domésticos. Eles moravam na casa do
comerciante Manoel Ferreira Dias, atacadista de secos e molhados. O
convívio de Nelson com seu pai foi muito limitado. O pai morreu de gangrena
porque feriu o pé em um acidente na cozinha de um restaurante e não houve
tratamento adequado. Quando isso aconteceu ele e mãe de Nelson já estavam
separados.
A mãe de Nelson foi morar no morro do
Salgueiro e lavava roupa para famílias para assim poder ter condições de se
sustentar. No morro do Salgueiro, aos dez anos, Nelson passou a tocar tamborim
e a desfilar pela escola “Azul e Branco”. A união dessa escola de samba com
outras duas (“Unidos do Salgueiro” e “Depois eu Digo”) deu origem à escola
Acadêmicos do Salgueiro.
A mãe de Nelson, Rosa, tinha
um relacionamento com um homem mais velho que ela, Arthur Pequeno, tecelão na
fábrica de tecidos Bom Pastor. Arthur era amigo do português Alfredo Lourenço,
compositor na Estação Primeira de Mangueira. Com a morte de Arthur, Rosa foi
viver com Alfredo, que trabalhava como empreiteiro da construção civil. Era
também um português letrista, compositor de sambas.
Na adolescência, com o apoio do
padrasto, Nelson foi se destacando na música. Em 1949 venceu a seletiva de
sambas-enredo da Mangueira com o samba “Apologia ao Mestre”, que fez com
Alfredo Lourenço. A Mangueira foi campeã no mesmo ano. Em 1950 Nelson e Alfredo
compuseram SALTE (Saúde, lavoura, transporte e educação) e a escola foi campeã
novamente. Outra composição deles, em 1955, foi “As quatro estações
ou Cântico à natureza”. Em 1958 Nelson foi eleito presidente da ala de
compositores da Mangueira e então teve influência dos sambistas mais antigos da
escola como Carlos Cachaça, Saturnino, Aluísio Dias e Cartola, que foi um
mestre para ele. No restaurante Zicartola, que pertencia a Cartola e
Dona Zica, Nelson passou a cantar entre 1964 e 1965, ficando mais conhecido
como sambista e participou com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do
Cavaquinho e Anescarzinho do musical “Rosas de Ouro”.
Com vários sambistas Nelson fez parte
de grupos ligados ao samba como A Voz do Morro e Os
Cinco Crioulos.
Sambas de Nelson foram gravados por
outros sambistas como Paulinho da Viola e Beth Carvalho. E em 1979 Nelson
gravou seu primeiro disco solo: “Sonho de Sambista”. Em 1986 ele gravou seu
segundo álbum de estúdio: “Encanto da paisagem”. O terceiro LP veio em 1990:
“Inéditas de Nelson Sargento”. Em 1998 ele, Elton Medeiros e o grupo Galo Preto
gravaram o álbum: “Só Cartola”. Em 2001 e 2008 foram lançados os último álbuns
de Nelson: Flores da Vida e Versátil.
Nelson Sargento em sua vida compôs mais
de 400 músicas. Ele também foi artista plástico e escrevia poesias. Lançou os
livros “Prisioneiro do mundo”; "Um certo Geraldo
Pereira” e “Pensamentos” . Participou dos filmes “O Primeiro Dia”,
“Orfeu” e foi tema do documentário "Nelson Sargento da
Mangueira". "
Desde 2005 ele fazia tratamento
para um câncer de próstata e em maio de 2021 foi internado no Instituto
Nacional de Câncer apresentando desidratação e anorexia e testou positivo para
a Covid-19, mesmo tendo sido vacinado meses antes com as duas doses da vacina e
veio a falecer no dia 27. Teve dezessete irmãos. Foi casado com Evonete
Belizario Mattos e com ela criou nove filhos, sendo seis biológicos.
Segundo Alana Gandra, repórter da
Agência Brasil-Rio de Janeiro em 27/05/2021:
“(...) Quase um século de vida. Nelson
Sargento simboliza a tradição do samba carioca. Foi baluarte, presidente de
honra, memória viva da Estação Primeira de Mangueira. O tamanho desta escola no
coração do sambista, ele mesmo definiu: "A Mangueira é uma religião”
Nelson foi Zumbi dos Palmares no
desfile vitorioso da Mangueira, em 2019, sobre os nossos heróis que não estão
nos livros.
No cinema, ganhou troféu em Gramado
pela trilha sonora de um documentário que contou a vida dele. Também foi
premiado no Theatro Municipal, entre todos os gigantes da MPB: “Me dê as flores
em vida. Meu Deus, estou recebendo as flores em vida. Obrigado, meu Deus, sou
seu fã.”
O reconhecimento chegou até no Japão, e
ele comemorou os 95 anos no palco.
Nas quatro estações da vida, Nelson
Sargento deu show de dignidade. Um rei de verdade, que deixa seu tesouro para
todos nós.(...)”
Alguns sambas de Nelson Sargento:
Falso Amor Sincero
O nosso amor é tão bonito
Ela finge que me ama
E eu finjo que acredito
O nosso falso amor é tão sincero
Isto me faz bem feliz
Ela faz tudo que eu quero
Eu faço tudo que ela diz
Aqueles que se amam de verdade
Invejam a nossa felicidade.
(Por isso e que eu vivo a dizer)
Compositor: Nelson Sargento
Para escutar em : https://www.vagalume.com.br/nelson-sargento/falso-amor-sincero.html
Encanto da Paisagem
Morro és o encanto da paisagem
Suntuoso personagem
De rudimentar beleza
Morro, progresso lento e primário
És imponente no cenário
Inspiração da natureza
Na topografia da cidade
Com toda simplicidade,
És chamado de elevação
Vielas, becos e buracos
Choupanas, tendinhas, barracos
Sem discriminação
Morro, pés descalços na ladeira
Lata d'água na cabeça
Vida rude alvissareira
Crianças sem futuro e sem escola
Se não der sorte na bola
Vai sofrer a vida inteira
Morro, o teu samba foi minado
Ficou tão sofisticado, já não é tradicional
Morro, és lindo quando o sol desponta
E as mazelas vão por conta do desajuste social
Compositor: Nelson Sargento
Para escutar em : https://www.vagalume.com.br/nelson-sargento/encanto-da-paisagem.html
Bálsamo
Eu me encontrei quando encontrei você
Seu carinho
Foi um bálsamo
No meu sofrer
Apaguei da memória o passado triste
Renasceu em mim
A vontade de viver
A felicidade
Envolveu as nossas vidas
É uma bênção do céu
O nosso amor
Agora que eu lhe encontrei
Jamais irei lhe perder
Eu tenho carinho
Eu tenho paz
Eu tenho você
Compositor: Nelson Sargento
Para escutar:
Nas Asas da Canção
Vou viajar nas asas da canção
Até encontrar a inspiração pra compor
Um sublime poema de amor
Quero reunir as mais lindas notas musicais
Pra fazer feliz meu coração
Que já sofreu demais
Ó musa
Me ajude como outrora
Não me abandone agora
No ocaso da vida
Sei que a minha mente está cansada
Foram tantas madrugadas
Quantas ilusões perdidas
Quero versos com muito lirismo
Para tirar do abismo, meu pobre coração
Rica melodia emoldurando
A fantasia da minha imaginação
Compositor: Nelson Sargento e Dona Ivone Lara
Para escutar: https://www.letras.mus.br/nelson-sargento/nas-asas-da-cancao/
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01ctglO-XowGEuTxfTgTjo59XeKSA:1622330488097&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+nelson+sargento&sa