O compositor francês Maurice Ravel

 

Em 28 de dezembro de 1937, em Paris, faleceu o pianista, maestro e compositor Joseph Maurice Ravel. A sua obra mais famosa foi o Bolero ( a obra musical francesa mais tocada do mundo), que ele achava trivial, tendo dito sobre essa obra: "uma peça para orquestra sem música".  Essa composição foi uma encomenda da bailarina Ida Rubinstein e que foi estreada na Ópera de Paris (1928). Ravel pertenceu ao movimento do impressionismo na música. Além do Bolero, outras obras de destaque dele foram: DaphnisetChloé,  Miroirs, Piano Concerto, Gaspard de La Nuit. Teve influências de compositores como Claude Debussy,Borodin, Schoenberg, Stravinsky, Strauss, Liszt, Mozart etc. Segundo comentaristas, Ravel não pode ser considerado revolucionário, porque na maior parte de sua obra ele segue as convenções formais e harmônicas estabelecidas em sua época. Deixou importantes obras para piano. O impressionismo de Debussy foi um ponto de partida para Ravel, mas depois foi por outro caminho, sendo influenciado por Rimsky-Korsakov e Liszt.

Maurice Ravel nasceu em 7 de março de 1875 em Ciboure, (Ziburu em basco), comuna dos Pirenéus Atlânticos, parte do País Basco francês no contexto histórico da Terceira República Francesa, no governo de Patrice Mac-Mahon. Nessa época a França se destacava no campo artístico, mesmo estando se recuperando do choque causado pela Guerra Franco-Prussiana dos anos 1870 e 1871. Ravel nasceu quatro dias depois da estreia da ópera Camen, de Bizet.  Seus pais eram o engenheiro Joseph Ravel (de origem suíça e saboia) e sua mãe era Marie Delouart-Ravel (francesa de origem basca). Maurice teve um irmão, Édouard Ravel, com o qual teve bom e duradouro relacionamento. Em junho de 1875 os Ravel mudaram-se para Paris e o compositor não voltou à terra natal antes dos seus 25 anos. Tempos depois iria ter uma residência em Saint-Jean-de-Luz, onde passava as férias ou trabalhava. Os pais de Ravel incentivaram-no quando ele demonstrou que era muito talentoso na música. Aos seis anos teve aulas de piano com Henry Ghys. De início, Ravel não queria se esforçar muito em suas aulas de música e seu pai lhe prometia algumas pequenas recompensas. Em 1887 passou a estudar harmonia, contraponto e composição com Charles René. O período do fim do século XIX era um tempo cultural efervescente em Paris, que era propício para estimular o desenvolvimento de Ravel na música. 

As primeiras composições de Ravel foram: Ballade de la reine morte d’aimer (Balada da rainha morta de amor, 1894), Sérénadegrotesque (Serenata grotesca, 1894), Menuetantique (1895), Habanera (1895 - para dois pianos). Essas composições que demonstravam uma personalidade marcante e um estilo em evolução. Em 1897 Ravel teve como professores André Gedalge (no contraponto) e Gabriel Fauré, que elogiou Ravel dizendo que ele era “muito bom aluno, laborioso e pontual” e “sinceridade que se desarma”. Quando Ravel terminou seus estudos compôs Abertura para Shéhérazade, que estreou em 1899, com ótima aceitação do público. Outra obra foi Pavanepour une infante défunte (Pavana para uma infanta defunta), uma obra que se caracteriza como sendo uma dança lenta para um cortejo ou procissão. Tal obra foi composta em 1901.Em 1889 Ravel ingressou no Conservatório de Paris e passou a ser aluno de Charles de Bériot. Foi lá que veio a conhecer o pianista espanhol Ricardo Viñes e os dois se tornaram grandes amigos, sendo que o espanhol foi o intérprete das melhores obras de Ravel. Os dois vieram a participar do grupo chamado Les Apaches. A música do Extremo Oriente que ouviu na Exposição Universal de 1889 impressionou Ravel, que se encantou também com a música de Emmanuel Chabrier e Erik Satie. Mozart, Saint-Saens e Debussy eram alvos da admiração de Ravel. Entre os escritores, ele foi influenciado por Edgar Alan Poe, Baudelaire, Condillac e em especial por Stéphane Mallarmé. Em 1891 conquistou o primeiro prêmio numa competição interna em 1891, fase em que conheceu Claude Debussy, outro astro da música.

Por não ter seguido regras do Conservatório, tendo o corpo de jurados considerado as obras dele muito “avançadas”, não ganhou o Prêmio de Roma nas quatro vezes que concorreu, o que levou a críticas que causaram mudança na direção da instituição. E em 1911, em oposição à Sociedade Nacional de Música ele fundou a Sociedade Musical Independente. Nesse processo Ravel em fase muito inspirada criou obras  como L'Heure Espagñole e Rapsodie Espagñole (1907), importantes peças para piano e o balé Daphnis et Chloé para o Balé Russo de Sergei Diaghilev em 1912..

Ravel tinha passado a morar sozinho em 1908, após a morte do pai. Outras obras importantes foram “Valses nobleset sentimentales” (1911), “Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé” (1913) e “La Tombeau de Couperin” (obra composta entre 1914 e 1917), que se trata de uma suíte para piano em seis movimentos, cada um desses movimentos dedicado a um amigo perdido na guerra, e faz uma homenagem à música francesa do século 18. Ravel nunca se casou e nem teve filhos, vivendo de forma semi-reclusa em sua casa em Montfort-L’Amaury, às proximidades de Paris. Antes de servir no Exército, na Primeira Guerra Mundial, Ravel apressou-se para concluir o “Trio para piano, violino e violoncelo” . Na guerra ficou até 1917, tendo servido como motorista e sendo dispensado por causa de sua fragilidade física. Nesse ano sofreu o abalo da morte de sua mãe.

Nos anos 20, passou a utilizar elementos de música moderna, como blues e jazz. Do início dessa década são suas obras “La valse”, a “Sonata para violino e violoncelo” e a famosa orquestração de “Quadros de uma exposição”, de Mussorgsky. Em 1925, Ravel finalizou sua segunda ópera, “L’enfantetlessortilèges”.

Em 1928 ele criou o Bolero, como uma espécie de exercício de orquestração. Nesse ano ele esteve tocando no Canadá e nos Estados Unidos. Visitou a Inglaterra onde recebeu o título honorário de Doutor em Música pela Universidade de Oxford. Em 1931 ele compôs o “Concerto para mão esquerda”, para o pianista Paul Wittgenstein, que havia perdido o braço direito na guerra e o “Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior”.

Ravel sofreu em 1932 uma lesão em um acidente de carro, tendo ficado com sequelas irreversíveis. Ficou com problemas de memória e de coordenação dos movimentos. Ainda escreveu mais uma obra em 1934: Don Quichotte à Dulcinée. Depois não pôde mais compor devido aos problemas de saúde decorrentes do acidente. Em 1937, em Paris, tendo fortes dores de cabeça, foi então submetido a uma cirurgia para aliviar a obstrução de um vaso sanguíneo. Após o procedimento ele não recobrou a consciência e faleceu em dezembro, aos 62 anos. Foi sepultado no Cemitério de Levallois-Perret.

 

Sugestão de vídeo:

 

André Rieu - Boléro (Ravel)

https://www.youtube.com/watch?v=LwLABSm0yYc

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.gettyimages.pt/fotos/maurice-ravel