sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O poeta brasileiro José Júlio da Silva Ramos

 








Em 16 de dezembro de 1930, aos 77 anos, falecia na cidade do Rio de Janeiro o poeta, filólogo e professor José Júlio da Silva Ramos. Ele foi um membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 37, sucedido após a sua morte por Alcântara Machado e depois por  Getúlio Vargas. Era pernambucano, nascido no Recife, em 6 de março de 1853. Seu pai era o médico João da Silva Ramos e sua mãe a portuguesa Emília Augusta Ramos.

Na infância esteve bastante tempo em Portugal, sob a responsabilidade de tias maternas e onde terminou o curso de humanidades, na Escola Acadêmica de Lisboa. Em 1872 matriculou-se no curso jurídico da Universidade de Coimbra, tendo se formado em 1877. Regressou ao Brasil em 1881, indo morar no Rio de Janeiro, onde passou a exercer a profissão de professor de línguas estrangeiras. De 1890 a 1984 foi inspetor de escola. Em 1899 foi nomeado Diretor e professor de Filosofia do Ginásio Fluminense, em Petrópolis e em 1903 passou a ser professor substituto no Colégio Dom Pedro II e lá, por concurso, recebeu a cadeira de Português e foi também diretor. Tinha um jeito especial de lecionar, sem dar atenção aos compêndios de gramática, o que atraía muitos alunos . Ele também foi professor no Colégio Resende, no Sion e no SacreCoeur. Foi um colaborador de publicações brasileiras e portuguesas: “O Paiz”; “A Gazeta”, “A Semana” etc. Adotou o pseudônimo de Júlio Valmor e assim escreveu no Brasil na “Revista Brasileira e na “Revista da Academia Brasileira de Letras. Em Portugal escreveu para “O Ocidente”, “Revista Ocidental” e “Diário da Manhã”.

José Júlio conviveu com grandes escritores portugueses, como os poetas João de Deus e Guerra Junqueiro. Em Coimbra (1871), ainda como estudante universitário, publicou o livro que ele denominou de Adejos.

 O seu filho, Flávio Ramos, foi o primeiro goleiro e o maior goleador daqueles tempos, tendo sido o fundador do clube Botafogo Football Club, depois conhecido como Botafogo de Futebol e Regatas.

José Júlio, além de Adejos,publicou as seguintes obras: Pela vida afora, Rio de Janeiro, 1922; A reforma ortográfica, 1926; Centenário de João de Deus, 1930. Foi integrante do grupo que fundou a Academia Brasileira de Letras e escolheu para patrono de sua cadeira o poeta Tomás Antônio Gonzaga. Foi segundo secretário na Academia Brasileira de Letras e assinou os primeiros estatutos da academia. Apesar de eleito para presidente da Academia, em 22 de dezembro de 1927,ele recusou. Conhecia profundamente a língua portuguesa e ficou muitos anos de sua vida ensinando-a.

José Júlio não gostava de publicidade, foi muito bom na arte epistolar e teve cartas dirigidas aos escritores que enviavam livros para ele, publicadas pela imprensa. Destacava-se pela generosidade. Quando era paraninfo falava com constância da importância da prática do bem.

 

Em 1929 ele disse:

"...Nenhum problema dos maiores em cuja solução ainda empenhada a humanidade, considero de mais alto valor do que o da paz universal.
Como porém, há de o homem viver em paz com os outros homens, se não vive em paz consigo mesmo?  Se continua a alimentar as ruins paixões: a inveja, o ciúme, o ódio, os amores inconcessos que lhe vão corroendo todas as entranhas e afrouxando todas as fibras. De mim, vos direi que, se me sentisse capaz de odiar quem quer que fosse, primeiro, me odiaria a mim mesmo. Alistai-vos nos exércitos da paz, propagai aos ideias de concórdia em todos os meios em que vos encontrardes: na família, nos grêmios, nas academias, nos congressos...


SÊDE SÁBIOS SE O PUDERDES SER, MAS, ANTES DE TUDO, SÊDE BONS".

 

Poemas de José Júlio da Silva Ramos:

 

“Nós

Eu e tu: a existência repartida

Por duas almas; duas almas numa
Só existência. Tu e eu: a vida
De duas vidas que uma só resuma.

Vida de dois, em cada um vivida,
Vida de um só vivida em dois; em suma:
A essência unida à essência, sem que alguma
Perca o ser una, sendo à outra unida.

Duplo egoísmo altruísta, a cujo enleio
No próprio coração cada qual sente
A chama que em si nutre o incêndio alheio.

Ó mistério do amor onipotente,
Que eternamente eu viva no teu seio,
E vivas no meu seio eternamente. “

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“Rico, vivia a sós, desde longínqua data,

Afagava o metal resplandecente e louro...

Nem um pão a ninguém. Somente ouro e mais o ouro,

Entre pedras faiscando e baixelas de prata.

 

Conservava o vintém com a devoção de um mouro.

Surge, porém, a dor que o despreza e maltrata

E, depois, vem a morte erguendo a foice ingrata,

Que o lança em desespero a fundo sorvedouro...

 

Sem o corpo de carne é um louco que esbraveja,

Quer governar, ainda, a migalha e a badeja;

Enjaulado na sombra, excita-se e reage.

 

E conquanto pranteie e se lamente embora,

O infeliz Harpagão possui somente, agora,

Uma cama de terra e um cobertor de laje.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=AOaemvLzrX0H2Npfd_isDKlF_XBSBfRTCA:1638566473103&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+jose+julio+da+silva+ramos+poeta&




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