Em 16 de dezembro de 1930, aos 77 anos,
falecia na cidade do Rio de Janeiro o poeta, filólogo e professor José Júlio da
Silva Ramos. Ele foi um membro fundador da Academia Brasileira de Letras,
ocupando a cadeira de número 37, sucedido após a sua morte por Alcântara
Machado e depois por Getúlio Vargas. Era pernambucano, nascido no
Recife, em 6 de março de 1853. Seu pai era o médico João da Silva Ramos e sua
mãe a portuguesa Emília Augusta Ramos.
Na infância esteve bastante tempo em
Portugal, sob a responsabilidade de tias maternas e onde terminou o curso de humanidades,
na Escola Acadêmica de Lisboa. Em 1872 matriculou-se no curso
jurídico da Universidade de Coimbra, tendo se formado em 1877. Regressou ao
Brasil em 1881, indo morar no Rio de Janeiro, onde passou a exercer a profissão
de professor de línguas estrangeiras. De 1890 a 1984 foi inspetor de escola. Em
1899 foi nomeado Diretor e professor de Filosofia do Ginásio Fluminense, em
Petrópolis e em 1903 passou a ser professor substituto no Colégio Dom Pedro II
e lá, por concurso, recebeu a cadeira de Português e foi também diretor. Tinha
um jeito especial de lecionar, sem dar atenção aos compêndios de gramática, o
que atraía muitos alunos . Ele também foi professor no Colégio Resende,
no Sion e no SacreCoeur. Foi um colaborador de
publicações brasileiras e portuguesas: “O Paiz”; “A Gazeta”, “A Semana” etc.
Adotou o pseudônimo de Júlio Valmor e assim escreveu no Brasil na “Revista
Brasileira e na “Revista da Academia Brasileira de Letras. Em Portugal escreveu
para “O Ocidente”, “Revista Ocidental” e “Diário da Manhã”.
José Júlio conviveu com grandes
escritores portugueses, como os poetas João de Deus e Guerra Junqueiro. Em
Coimbra (1871), ainda como estudante universitário, publicou o livro que ele
denominou de Adejos.
O seu filho, Flávio Ramos, foi o
primeiro goleiro e o maior goleador daqueles tempos, tendo sido o fundador do
clube Botafogo Football Club, depois conhecido como Botafogo de Futebol e
Regatas.
José Júlio, além
de Adejos,publicou as seguintes obras: Pela vida afora,
Rio de Janeiro, 1922; A reforma ortográfica, 1926; Centenário
de João de Deus, 1930. Foi integrante do grupo que fundou a Academia
Brasileira de Letras e escolheu para patrono de sua cadeira o poeta Tomás
Antônio Gonzaga. Foi segundo secretário na Academia Brasileira de Letras e
assinou os primeiros estatutos da academia. Apesar de eleito para presidente da
Academia, em 22 de dezembro de 1927,ele recusou. Conhecia profundamente a
língua portuguesa e ficou muitos anos de sua vida ensinando-a.
José Júlio não
gostava de publicidade, foi muito bom na arte epistolar e teve cartas dirigidas
aos escritores que enviavam livros para ele, publicadas pela imprensa.
Destacava-se pela generosidade. Quando era paraninfo falava com constância da
importância da prática do bem.
Em 1929 ele disse:
"...Nenhum problema dos maiores em cuja
solução ainda empenhada a humanidade, considero de mais alto valor do que o da
paz universal.
Como porém, há de o homem viver em paz com os outros homens, se não vive em paz
consigo mesmo? Se continua a alimentar as ruins paixões: a inveja, o
ciúme, o ódio, os amores inconcessos que lhe vão corroendo todas as entranhas e
afrouxando todas as fibras. De mim, vos direi que, se me sentisse capaz de
odiar quem quer que fosse, primeiro, me odiaria a mim mesmo. Alistai-vos nos
exércitos da paz, propagai aos ideias de concórdia em todos os meios em que vos
encontrardes: na família, nos grêmios, nas academias, nos congressos...
SÊDE SÁBIOS SE O PUDERDES SER, MAS, ANTES DE TUDO, SÊDE BONS".
Poemas de José Júlio da Silva Ramos:
“Nós
Eu e tu:
a existência repartida
Por duas almas; duas almas numa
Só existência. Tu e eu: a vida
De duas vidas que uma só resuma.
Vida de dois, em cada um vivida,
Vida de um só vivida em dois; em suma:
A essência unida à essência, sem que alguma
Perca o ser una, sendo à outra unida.
Duplo egoísmo altruísta, a cujo enleio
No próprio coração cada qual sente
A chama que em si nutre o incêndio alheio.
Ó mistério do amor onipotente,
Que eternamente eu viva no teu seio,
E vivas no meu seio eternamente. “
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“Rico,
vivia a sós, desde longínqua data,
Afagava o
metal resplandecente e louro...
Nem um
pão a ninguém. Somente ouro e mais o ouro,
Entre
pedras faiscando e baixelas de prata.
Conservava
o vintém com a devoção de um mouro.
Surge,
porém, a dor que o despreza e maltrata
E,
depois, vem a morte erguendo a foice ingrata,
Que o
lança em desespero a fundo sorvedouro...
Sem o
corpo de carne é um louco que esbraveja,
Quer
governar, ainda, a migalha e a badeja;
Enjaulado
na sombra, excita-se e reage.
E
conquanto pranteie e se lamente embora,
O infeliz
Harpagão possui somente, agora,
Uma cama
de terra e um cobertor de laje.”
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=AOaemvLzrX0H2Npfd_isDKlF_XBSBfRTCA:1638566473103&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+jose+julio+da+silva+ramos+poeta&
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