Neste segundo domingo de agosto quando se comemora o Dia dos Pais no
Brasil, vou abordar a história de uma canção feita por Eric Clapton, um
compositor inglês famoso, que perdeu um filho de maneira trágica e que por isso
fez a canção Tears in Heaven, dedicada a ele. A canção foi
feita em pareceria com Will Jennings.
Tears in Heaven tornou-se uma das melodias mais populares da historia do rock. A conceituada revista Rolling Stone, em 2004 classificou a canção na colocação de número 362 entre as 500 melhores canções de rock. Eric Clapton, autor e intérprete da canção, ganhou graças a ela, em 1993, três prêmios Grammy (melhor canção, melhor gravação e melhor interpretação vocal pop masculina), sendo que a mesma tem sido há vários anos uma das mais tocadas nas rádios. Lory del Santo, a mãe de Conor, o filho de Clapton morto em 1991, evitava ouvir a canção pois lhe causava lembranças dolorosas. Ela disse em uma ocasião em uma entrevista: “Uma vez, quando estava em Amsterdã, colocaram a música no rádio. Ao soarem os primeiros acordes, saí correndo para não ouvi-la”.
Em 27 de agosto de 1990 o empresário de Eric e um colega músico, Stevie
Ray Vaughan, mais duas outras pessoas, tinham morrido em um acidente de
helicóptero, o que abalou Eric. E numa manhã de março de 1991 veio outra perda:
seu filho Conor. Lory (mãe de Conor) e o filho tinham ido visitar Eric em Nova
York. O casal estava separado. Eric ainda era oficialmente casado com Pattie
Boyd (a história de Eric e Pattie eu contei quando escrevi o artigo sobre a
música que Eric fez para Pattie). Quando Eric e Pattie se separaram, Conor
tinha três anos. Eric tinha sido muito ausente na vida do filho e estava
querendo ser um pai mais presente. Na véspera da morte do filho, Eric foi com o
filho a um circo em Long Island. Lory, na entrevista mencionou: “Eles realmente
curtiram muito. Quando Eric voltou, me olhou e disse que finalmente entendia o
que significava ter um filho e ser pai. Estava muito feliz. Era a primeira vez
que Eric passava algumas horas sozinho com nosso filho. Conor, por sua vez,
estava muito emocionado pelo dia tão maravilhoso que havia passado com o pai”.
No dia 20 de março Eric se encontraria com Lory e Conor no apartamento onde mãe
e filho estavam hospedados para que todos fossem ao zoológico.
Lory fez o seguinte relato sobre o fatídico dia 20 de março de 1991:
“Conor brincava com a babá enquanto eu me preparava para ir ao zoo. Eram 11h da
manhã. Gritei do banheiro para que Conor se apressasse, e ele me disse que
estaria pronto em um minuto”. Lory tinha pedido para a babá ficar prestando
atenção no garoto, que corria de um lado para o outro. Enquanto isso, o zelador
do prédio estava limpando as janelas do apartamento. A babá perseguia de
brincadeira o menino. Em dado momento o zelador avisou que a janela estava
aberta e ela parou. Mas Conor não sabia que a janela estava aberta e foi
correndo em direção a ela. Nesse momento Lory escutou a babá gritar, foi ver o
que tinha acontecido e gritou: “Onde está Conor? Onde está Conor?” Ela então
percebeu o que tinha havido e desmaiou. Conor tinha caído da janela do
apartamento, localizado no 53º andar. Clapton disse em um documentário sobre
sua vida a respeito do que aconteceu com seu filho: “Às 11h57, Lory
me ligou gritando e disse: ‘Está morto.” Ele ficou desnorteado, querendo
entender e Lory explicou a ele: “Caiu da janela”. Eric disse nesse documentário
que: “Senti como se saísse de mim mesmo, não podia entender, não podia assumir.
Fui com ele ao hospital mais próximo e me despedi dele. Perdi a fé”. E
destacou: “Conor foi a primeira coisa que aconteceu na minha vida que realmente
tocou meu coração e me fez pensar: “É hora de amadurecer”. Eric tinha vivido
até então uma vida agitada de artista, envolvendo-se muito com álcool e drogas.
Em 1987 tinha deixado as bebidas alcoólicas. Ele tinha questões pessoais que o
inquietaram por anos, como a descoberta de que a pessoa que ele pensava ser sua
mãe era sua avó e a mãe era quem ele pensava ser sua irmã. Seus problemas
existenciais o levavam a momentos autodestrutivos e atrapalhavam seus
relacionamentos.
Com a morte do filho Eric se dispôs a
enfrentar suas questões pessoais de uma forma mais equilibrada. Ele ressaltou
no documentário: "Comecei a abrir as cartas de condolências, que eram
milhares, e entre elas havia uma de Conor. Ele a tinha enviado semanas antes.
Dizia: ‘Te amo, quero te ver de novo. Um beijo’. Nesse momento, vi que eu podia
passar por aquilo sem beber, poderia fazer qualquer coisa”. Lory, mãe de Conor,
não se conformava por ter o zelador ter tirado o vidro da janela e destacou: “O
zelador jamais nos pediu desculpa, e eu deixei de viver a partir daquele
momento. Quando Conor caiu, o zelador chamou a ambulância, mas obviamente não
havia nenhuma esperança. Eric foi vê-lo no IML, mas eu não pude”.
A canção Tears in Heaven foi
composta nove meses depois da morte de Conor. Foi
lançada no álbum Unplugged. Clapton, sensibilizado com o que
houve com seu filho, fez anúncios alertando sobre a necessidade de se colocar
proteção para crianças em janelas e escadas. A canção foi um meio
que Eric encontrou para lidar com a dor de perder um filho. Eric disse: “Fui consciente
de que podia fazer dessa tragédia algo positivo e dediquei minha vida a honrar
meu filho. Peguei uma guitarra e a toquei sem parar durante meses para tentar
enfrentar a situação. A música me salvou, levou a dor... Escrevi Tears
in Heaven para mim porque me sentia terrivelmente mal”. Em 2005 ele a
gravou de novo num disco e a renda se destinou às vítimas do tsunami de 2004
que causou uma tragédia no Sudeste Asiático nesse ano. Eric Clapton casou em 2002
com Melia McEnery . O casal teve três filhas.
Em 2004 ele falou
sobre as canções My Father’s Eyes e Tears in Heaven: "Eu
não sentia mais a sensação de perda, que é uma parte integrante dessas
composições. Eu preciso me conectar com os sentimentos que havia quando compus
essas canções. Acho que esses sentimentos se foram, e eu não quero que eles
voltem novamente. Minha vida mudou desde então. Canções assim só precisam de
uma pausa e talvez eu volte a apresentá-las de uma maneira nova”.
O coautor de Tears in Heaven, Will
Jennings, disse em uma entrevista:
“Eric e eu fomos contratados para escrever uma canção para um filme
chamado Rush. Nós escrevemos uma música chamada 'Help Me Up' para o
final do filme... Eric então viu um outro lugar no filme para incluir mais uma
canção e ele me disse: 'Eu quero escrever uma canção sobre o meu menino.' Eric
tinha a primeira estrofe da canção escrita, que, para mim, é toda a música, mas
ele queria que eu escrevesse o resto das linhas do verso ("'Time can bring
you down, time can bend your knees...'), e ser creditado no lançamento mesmo
dizendo a ele que era tão pessoal que ele mesmo devia escrever tudo sozinho.
Ele me disse que tinha admirado o trabalho que eu tinha feito com Steve Winwood
e, finalmente, não havia mais nada a fazer, mas como ele pediu
(...). Esta é uma canção tão pessoal e tão triste que é única em
minha experiência de escrever canções.”
"Tears In Heaven
Would you know my name
if I saw you in Heaven?
Would it be the same
if I saw you in Heaven?
I must be strong and carry on,
'Cause I know
I don't belong
here in Heaven.
Would you hold my hand
if I saw you in Heaven?
Would you help me stand
if I saw you in Heaven?
I'll find my way
through night and day,
'Cause I know
I just can't stay
here in Heaven.
Time can bring you down;
time can bend your knees.
Time can break your heart,
have you begging please,
begging please.
Beyond the door
there's peace I'm sure,
And I know
there'll be no more
tears in Heaven.
Would you know my name
if I saw you in Heaven?
Would it be the same
if I saw you in Heaven?
I must be strong and carry on,
'Cause I know I don't belong here in
Heaven
'Cause I know I don't belong here in
Heaven"
Tradução em português
"Lágrimas no Paraíso
Você saberia meu nome
Se eu o visse no paraíso?
Seria o mesmo
Se eu o visse no paraíso?
Eu devo ser forte e seguir em frente
Porque eu sei
Que não pertenço
Aqui ao paraíso.
Você seguraria minha mão
Se eu o visse no paraíso?
Você me ajudaria a ficar em pé
Se eu o visse no paraíso?
Encontrarei meu caminho
Pela noite e pelo dia,
Porque eu sei
Que não posso ficar
Aqui no paraíso.
O tempo pode te derrubar,
O tempo pode te fazer ajoelhar.
O tempo pode quebrar seu coração,
Você implora por favor
Implora por favor.
Além da porta
Existe paz, tenho certeza,
E eu sei
Que não haverá mais
Lágrimas no paraíso.
Você saberia meu nome
se eu o visse no paraíso?
Você seria o mesmo
se eu o visse no paraíso?
Eu devo ser forte e seguir em frente,
Porque eu sei que não pertenço aqui ao
paraíso
Porque eu sei que não pertenço aqui ao
paraíso"
Sugestão para escutar:
Eric Clapton: tears in heaven
https://www.youtube.com/watch?v=IvU_zJUFiLA
______________________________________
Márcio José Matos Rodrigues.
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+eric+clapton&sxsrf=ALiCzsZZFvjJ4_8Sz26Unfweuz3WSeTvNw%3A1660515975943&source=hp&e
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