Em 23 de dezembro de
1636 nascia em Salvador, Bahia, um dos grandes poetas do período barroco de
Portugal e do Brasil, Gregório de Matos Guerra, na época do Brasil colônia. Foi
chamado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa,
devido a críticas à Igreja Católica e à sociedade de Salvador. Foi também
advogado. É considerado o mais importante poeta satírico da literatura em língua
portuguesa do período colonial. Teve influências dos autores espanhóis Góngora,
Gracián, Calderón e Quevedo.
Gregório nasceu em
uma rica família de empresários de obras e pessoas ligadas ao serviços
administrativo. Tinha nacionalidade portuguesa, por ser o Brasil colônia de
Portugal. Era então luso-brasileiro. Seu pai nasceu em Guimarães, cidade
portuguesa.
Na infância estudou
em Senador Canedo, no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Depois foi para
Portugal estudar em Lisboa em 1650 e na Universidade de Coimbra, em 1652,
formando-se em 1661. Trabalhou como juiz de fora na cidade de Alcácer do Sal.
Foi representante da Bahia nas Cortes de Lisboa em 27 de janeiro de 1668. E
recebeu o cargo de procurador em 1672 pelo Senado da Câmara da Bahia. Em 1674
voltou a representar a Bahia nas cortes portuguesas.
Só em 1679 Gregório
voltou ao Brasil e foi nomeado desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia
pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça. O rei de Portugal Dom Pedro II
nomeou, em 1682, Gregório como tesoureiro-mor da Sé. Já tinha nesse tempo a
fama em Portugal de ser poeta satírico e improvisador.
Por se recusar a
usar batina e não aceitar imposição das chamadas ordens maiores, Gregório de
Matos foi destituído dos cargos que ocupava pelo novo arcebispo, João da Madre
de Deus. Passou então a fazer sátiras sobre os costumes do povo de todas as
classes sociais da Bahia e também satirizando os nobres baianos. Sua poesia
é corrosiva e erótica, embora tenha tido características por vezes
líricas e sagradas. E devido à forma livre de se comportar, Gregório foi
denunciado ao tribunal da Inquisição, com acusações de que não tirava o barrete
da cabeça ao passar pelas procissões e de que tinha difamado Jesus Cristo. Mas
não foram adiante as acusações.
Teve boa relação
com o governador Antônio Felix Machado da Silva, que o hospedou. Mas os poemas
de Gregório irritaram algumas pessoas poderosas. Em 1694 o então governador
Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho faz acusações contra ele e o poeta
fica com sua segurança em risco, sendo deportado para Angola por
influência de uma autoridade da época, que era amigo de Gregório, Dom João de
Lencastre, evitando um possível assassinato. Lá em Angola colaborou com o
governo representante de Portugal contra uma conspiração militar e como
recompensa foi permitido ao poeta voltar ao Brasil, porém não para Bahia. Ele
foi viver em Recife e nessa cidade faleceu depois em 26 de novembro de 1696 por
causa de uma doença que pegou em Angola. Demonstrou arrependimento sobre
atitudes que teve em relação à Igreja Católica.
Características das obras: Fusionismo: harmonia entre os opostos; Culto ao contraste: Antropocentrismo versus teocentrismo, Sagrado versus profano, Luz versus sombra, Paganismo versus cristianismo, Racional versus irracional; Oposição e contradição: uso de antíteses e paradoxos; Pessimismo; Feísmo; Rebuscamento da linguagem; Imagens hiperbólicas; Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras; Conceptismo ou quevedismo: jogo de idéias; Morbidez; Sentimento de culpa; Consciência da fugacidade do tempo; Concepção trágica da vida; Carpe diem: aproveite o momento; Uso de hipérbatos e sinestesia; Emprego da medida nova: decassílabos.
Obras:
O historiador
Francisco Adolfo de Varnhagen publicou em 1813 a coletânea Florilégio
da Poesia Brasileira, com 39 dos poemas de Gregório de Matos.A
mesma obra foi publicada em 1850 em Lisboa. De 1923 a 1933 Afrânio
Peixoto publicou outros poemas de Gregório em seis volumes, pela Academia
Brasileira de Letras. A parte dos poemas considerada pornográfica foi publicada
em 1968 por James Amado.
Destaca-se entre
seus poemas o "A cada canto um grande conselheiro", no qual são
criticadas autoridades da “cidade da Bahia" (Salvador). Os "grandes
conselheiros" são os indivíduos que “nos querem governar cabana e vinha,
não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro". É uma
crítica que pode ser generalizada, indo além dos governantes da Bahia colonial,
sendo uma crítica para os maus governantes no geral. Para o poeta o
"grande conselheiro” age hipocritamente, sabendo acusar os outros, mas não
vendo seus próprios pecados. Sobre o poema "Buscando a
Cristo" houve estudiosos que questionaram se o referido poema seria mesmo de Gregório.
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Sobre Gregório de
Matos diz a autora Daniela Diana:
“Filho de Maria da Guerra e
Gregório de Matos, pertencia a uma família abastada cujo pai era um nobre
português.
Gregório estudou no Colégio dos
Jesuítas, na Bahia e, em 1691, formou-se em Direito em Coimbra, Portugal.
Trabalhou como juiz, no entanto, sua
grande paixão era a literatura. Retornou ao Brasil, exercendo os cargos de
vigário-geral e tesoureiro-mor, entretanto, foi afastado por se recusar a usar
batina.
Faleceu com 59 anos dia 26 de
novembro de 1696, na cidade de Recife. O motivo de sua morte está associado a
uma febre que contraiu quando foi condenado ao degredo em Angola.
Obras e Características
A obra de Gregório de Matos reúne
mais de 700 textos de poemas líricos, satíricos, eróticos e religiosos.
Inseridas no movimento do barroco,
reúnem pitorescos jogos de palavras, variedade de rimas, além de uma linguagem
popular e termos da língua tupi e outras línguas africanas.
No entanto, Gregório não publicou
seus poemas em vida, tendo muita controvérsia sobre a autoria de alguns
escritos.
Inicialmente, alguns de seus poemas
foram publicados pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, visconde de
Porto-Seguro, no livro "Florilégio da Poesia Brasileira" (1850)
editado em Lisboa (...)”
Segundo a autora Dilva Frazão:
“Ao terminar o curso de Humanidades em 1652, Gregório de Matos seguiu
para Portugal. Em 1653 ingressou na Universidade de Coimbra, onde cursou
Direito Canônico.
Depois de formado em Direito, Gregório exerceu o cargo de curador de
órfãos e em 1661 habilitou-se a um cargo na magistratura portuguesa. Em 1663
foi nomeado Juiz de Alcácer de Sal, no Alentejo. Nessa época escreveu
seus primeiros poemas satíricos.
Graças ao casamento com Micaela de Andrade, de família ilustre, em 1671
foi nomeado juiz do cível em Lisboa. Em 1678 ficou viúvo e recorreu
ao arcebispo da Bahia para voltar ao Brasil.
Apelido "Boca do Inferno"
Em 1681, Gregório de Matos estava de volta a Salvador como
procurador da cidade, junto à Corte portuguesa. Levava uma vida boêmia e
escrevia versos e sátiras gozando de todos, sem poupar as autoridades civis e
eclesiásticas da Bahia, recebendo o apelido de “Boca do inferno”.
Embora Gregório não fosse padre, o arcebispo D. Gaspar Barata fez dele
vigário-geral da Bahia a fim de ocupar o cargo de tesoureiro-mor da Sé, uma
forma de dar maior compostura ao bacharel Gregório, já que sua língua virulenta
criava terríveis inimigos.
Depois da morte de D. Gaspar, em 1686, Gregório se negou a
receber ordens sacras e a vestir o hábito religioso,
acabou perdendo o cargo de tesoureiro-mor e voltou a exercer a
advocacia.
Casou-se então com Maria dos Povos, com quem teve um filho. Em 1694, por
suas críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola na
África.
Em Angola, Gregório de Matos tornou-se conselheiro do governo e,
como recompensa por serviços prestados, obteve autorização para voltar ao
Brasil, não mais para a Bahia.
Em 1694 estava de volta ao Brasil indo viver no Recife,
Pernambuco, longe das perseguições que lhe moviam na Bahia, embora proibido
judicialmente de fazer suas sátiras.
Gregório de Matos faleceu na cidade do Recife, no dia 26 de
novembro de 1695. (...)”
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Alguns Poemas de
Gregório de Matos:
À Dona Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
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Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.
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SONETO VII
Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!
Tu, que em um peito abrasas escondido, (*?) Tu, que em ímpeto abrasas
escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.
Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura:
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