sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

O Poeta satírico Gregório de Matos Guerra

 

                                                                       

                                                                                                                                                          


Em 23 de dezembro de 1636 nascia em Salvador, Bahia, um dos grandes poetas do período barroco de Portugal e do Brasil, Gregório de Matos Guerra, na época do Brasil colônia. Foi chamado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, devido a críticas à Igreja Católica e à sociedade de Salvador. Foi também advogado. É considerado o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa do período colonial. Teve influências dos autores espanhóis Góngora, Gracián, Calderón e Quevedo.

Gregório nasceu em uma rica família de empresários de obras e pessoas ligadas ao serviços administrativo. Tinha nacionalidade portuguesa, por ser o Brasil colônia de Portugal. Era então luso-brasileiro. Seu pai nasceu em Guimarães, cidade portuguesa.

Na infância estudou em Senador Canedo, no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Depois foi para Portugal estudar em Lisboa em 1650 e na Universidade de Coimbra, em 1652, formando-se em 1661. Trabalhou como juiz de fora na cidade de Alcácer do Sal. Foi representante da Bahia nas Cortes de Lisboa em 27 de janeiro de 1668. E recebeu o cargo de procurador em 1672 pelo Senado da Câmara da Bahia. Em 1674 voltou a representar a Bahia nas cortes portuguesas. 

Só em 1679 Gregório voltou ao Brasil e foi nomeado desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça. O rei de Portugal Dom Pedro II nomeou, em 1682, Gregório como tesoureiro-mor da Sé. Já tinha nesse tempo a fama em Portugal de ser poeta satírico e improvisador.

Por se recusar a usar batina e não aceitar imposição das chamadas ordens maiores, Gregório de Matos foi destituído dos cargos que ocupava pelo novo arcebispo, João da Madre de Deus. Passou então a fazer sátiras sobre os costumes do povo de todas as classes sociais da Bahia e também satirizando os nobres baianos. Sua poesia é  corrosiva e erótica, embora tenha tido características por vezes líricas e sagradas. E devido à forma livre de se comportar, Gregório foi denunciado ao tribunal da Inquisição, com acusações de que não tirava o barrete da cabeça ao passar pelas procissões e de que tinha difamado Jesus Cristo. Mas não foram adiante as acusações.

Teve boa relação com o governador Antônio Felix Machado da Silva, que o hospedou. Mas os poemas de Gregório irritaram algumas pessoas poderosas. Em 1694 o então governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho faz acusações contra ele e o poeta fica com sua segurança em risco,  sendo deportado para Angola por influência de uma autoridade da época, que era amigo de Gregório, Dom João de Lencastre, evitando um possível assassinato. Lá em Angola colaborou com o governo representante de Portugal contra uma conspiração militar e como recompensa foi permitido ao poeta voltar ao Brasil, porém não para Bahia. Ele foi viver em Recife e nessa cidade faleceu depois em 26 de novembro de 1696 por causa de uma doença que pegou em Angola. Demonstrou arrependimento sobre atitudes que teve em relação à Igreja Católica.

Características das obrasFusionismo: harmonia entre os opostos; Culto ao contraste: Antropocentrismo versus teocentrismo, Sagrado versus profano, Luz versus sombra, Paganismo versus cristianismo, Racional versus irracional; Oposição e contradição: uso de antíteses e paradoxos; Pessimismo; Feísmo; Rebuscamento da linguagem; Imagens hiperbólicas; Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras; Conceptismo ou quevedismo: jogo de idéias; Morbidez; Sentimento de culpa; Consciência da fugacidade do tempo; Concepção trágica da vida; Carpe diem: aproveite o momento; Uso de hipérbatos e sinestesia; Emprego da medida nova: decassílabos.

  

Obras:

O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou em 1813 a coletânea Florilégio da Poesia Brasileira, com 39 dos poemas de Gregório de Matos.A mesma obra foi publicada em 1850 em LisboaDe 1923 a 1933 Afrânio Peixoto publicou outros poemas de Gregório em seis volumes, pela Academia Brasileira de Letras. A parte dos poemas considerada pornográfica foi publicada em 1968 por James Amado.

Destaca-se entre seus poemas o "A cada canto um grande conselheiro", no qual são criticadas autoridades da “cidade da Bahia" (Salvador). Os "grandes conselheiros" são os indivíduos que “nos querem governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro". É uma crítica que pode ser generalizada, indo além dos governantes da Bahia colonial, sendo uma crítica para os maus governantes no geral. Para o poeta o "grande conselheiro” age hipocritamente, sabendo acusar os outros, mas não vendo seus próprios pecados. Sobre o poema "Buscando a Cristo"  houve estudiosos que questionaram se o referido poema  seria mesmo de Gregório.

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Sobre Gregório de Matos diz a autora Daniela Diana:

 

Filho de Maria da Guerra e Gregório de Matos, pertencia a uma família abastada cujo pai era um nobre português.

Gregório estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia e, em 1691, formou-se em Direito em Coimbra, Portugal.

Trabalhou como juiz, no entanto, sua grande paixão era a literatura. Retornou ao Brasil, exercendo os cargos de vigário-geral e tesoureiro-mor, entretanto, foi afastado por se recusar a usar batina.

Faleceu com 59 anos dia 26 de novembro de 1696, na cidade de Recife. O motivo de sua morte está associado a uma febre que contraiu quando foi condenado ao degredo em Angola.

Obras e Características

A obra de Gregório de Matos reúne mais de 700 textos de poemas líricos, satíricos, eróticos e religiosos.

Inseridas no movimento do barroco, reúnem pitorescos jogos de palavras, variedade de rimas, além de uma linguagem popular e termos da língua tupi e outras línguas africanas.

No entanto, Gregório não publicou seus poemas em vida, tendo muita controvérsia sobre a autoria de alguns escritos.

Inicialmente, alguns de seus poemas foram publicados pelo historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, visconde de Porto-Seguro, no livro "Florilégio da Poesia Brasileira" (1850) editado em Lisboa (...)

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Ao terminar o curso de Humanidades em 1652, Gregório de Matos seguiu para Portugal. Em 1653 ingressou na Universidade de Coimbra, onde cursou Direito Canônico.

Depois de formado em Direito, Gregório exerceu o cargo de curador de órfãos e em 1661 habilitou-se a um cargo na magistratura portuguesa. Em 1663 foi nomeado Juiz de Alcácer de Sal, no Alentejo. Nessa época escreveu seus primeiros poemas satíricos.

Graças ao casamento com Micaela de Andrade, de família ilustre, em 1671 foi nomeado juiz do cível em Lisboa. Em 1678 ficou viúvo e recorreu ao arcebispo da Bahia para voltar ao Brasil.

Apelido "Boca do Inferno"

Em 1681, Gregório de Matos estava de volta a Salvador como procurador da cidade, junto à Corte portuguesa. Levava uma vida boêmia e escrevia versos e sátiras gozando de todos, sem poupar as autoridades civis e eclesiásticas da Bahia, recebendo o apelido de “Boca do inferno”.

Embora Gregório não fosse padre, o arcebispo D. Gaspar Barata fez dele vigário-geral da Bahia a fim de ocupar o cargo de tesoureiro-mor da Sé, uma forma de dar maior compostura ao bacharel Gregório, já que sua língua virulenta criava terríveis inimigos.

Depois da morte de D. Gaspar, em 1686, Gregório se negou a receber ordens sacras e a vestir o hábito religioso, acabou perdendo o cargo de tesoureiro-mor e voltou a exercer a advocacia.

Casou-se então com Maria dos Povos, com quem teve um filho. Em 1694, por suas críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola na África.

Em Angola, Gregório de Matos tornou-se conselheiro do governo e, como recompensa por serviços prestados, obteve autorização para voltar ao Brasil, não mais para a Bahia.

Em 1694 estava de volta ao Brasil indo viver no Recife, Pernambuco, longe das perseguições que lhe moviam na Bahia, embora proibido judicialmente de fazer suas sátiras.

Gregório de Matos faleceu na cidade do Recife, no dia 26 de novembro de 1695. (...)”

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Alguns Poemas de Gregório de Matos:

À Dona  Ângela


Anjo no nome, Angélica na cara,

Isso é ser flor, e Anjo juntamente,

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Em quem, senão em vós se uniformara?

 

Quem veria uma flor, que a não cortara

De verde pé, de rama florescente?

E quem um Anjo vira tão luzente,

Que por seu Deus, o não idolatrara?

 

Se como Anjo sois dos meus altares,

Fôreis o meu custódio, e minha guarda,

Livrara eu de diabólicos azares.

 

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,

Posto que os Anjos nunca dão pesares,

Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

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Inconstância das coisas do mundo!

Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.

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SONETO VII

Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!

Tu, que em um peito abrasas escondido, (*?) Tu, que em ímpeto abrasas escondido,
Tu, que em um rosto corres desatado,
Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.

Se és fogo como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai! Que andou Amor em ti prudente.

Pois para temperar a tirania,
Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu, parecesse a chama fria.

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagens+de+greg%C3%B3rio+de+matos&sxsrf=ALiCzsZGuSYNfzvelZNtrYawue5RWu144Q%3A1671853017864&source

 

 


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