No dia 17 de dezembro
de 2022 faleceu em Lisboa, Portugal, aos 85 anos, a escritora brasileira Nélida
Cuínas Piñón, que foi integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), na
qual tomou posse em 3 de maio de 1990. Ela foi a primeira mulher a presidir a
ABL (1996-1997).
Nélida Piñón nasceu
na cidade do Rio de Janeiro em 3 de maio de 1937. Era filha de Lino Piñón
Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado. Seus pais eram de origem galega. Nélida
teve mais de 20 livros publicados (romances, contos, ensaios, discursos e memórias).
Ela formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio), tendo sido editora e participado do conselho
editorial de revistas no Brasil e exterior. No Rio de Janeiro ocupou cargos no
conselho consultivo de diversas entidades culturais. Em 1961 foi publicado seu
primeiro livro, o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, cujos temas
são o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus.
Em outro
romance, A república dos sonhos, a base é uma família de
imigrantes galegos no Brasil, despertando reflexões a respeito da Galícia, da
Espanha e do Brasil. Em 1970 ganhou o Prêmio Walmap de Literatura.
Em 1972 foi publicado
o romance “A Casa da Paixão”, que permitiu à autora ganhar o Prêmio
Mário de Andrade. Esta obra é considerada um dos melhores e mais conhecidos
romances da escritora.
Nélida Piñon ganhou
o Prêmio Ficção Pen Club em 1985 por seu romance “A
República dos Sonhos”. Era académica correspondente da Academia
das Ciências de Lisboa , tendo entrado em outubro de 2014 na Real
Academia Galega e ocupou a cadeira de número 51 da Academia
Brasileira de Filosofia. Ela ganhou o Prêmio Internacional Juan
Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe em 1995, que foi dado
pela primeira vez a uma mulher e para uma autora de língua portuguesa e também
ganhou o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra,
em 1991. Ela ganhou vários outros prêmios. O último prêmio dela foi o Prêmio
Príncipe das Astúrias de Letras, em 2005. Ela teve obras traduzidas em
muitos países.
O presidente atual da
ABL, Merval Pereira disse sobre Nélida: "É uma perda para a literatura
brasileira. Era, provavelmente, a maior escritora viva do país."
Segundo a autora
Dilva Frazão:
“...Nélida Cuinãs Piñon nasceu no bairro de Vila Isabel, Rio de
Janeiro no dia 3 de maio de 1937. Seus pais, o comerciante Lino Piñon Muíños e
Olívia Carmem Cuíñas Piñon são originários da Galícia, do conselho de Cotobade,
na Espanha.
Seu nome é um anagrama do nome do avô Daniel. Ainda criança era
estimulada para a leitura e já escrevia pequenas histórias. Com 4 anos mudou-se
para o bairro de Copacabana. Em seguida morou no Botafogo, quando estudou no
Colégio Santo Amaro.
Com nove anos, Nélida já frequentava o Teatro Municipal. Com 10 anos fez
sua primeira viagem à terra de seus pais, onde ficou durante quase dois anos.
Na adolescência, morou no Leblon. Estudou Jornalismo pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Com 20 anos perdeu o pai, grande
responsável por sua formação como escritora (...)”
E ainda diz Dilva Frazão:
“...Entre 1966 e 1967, Nélida trabalhou como editora assistente da
revista Cadernos Brasileiros.
Em 1970 inaugurou e foi a primeira professora da cadeira de Criação
Literária da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre 1976 e 1993 foi membro do Conselho Consultivo da revista Tempo
Brasileiro.
Em 1990 foi eleita para a cadeira n.º 30 da Academia Brasileira de
Letras. Em 1996 foi a primeira mulher eleita para presidir a
ABL por ocasião do seu primeiro centenário.
Entre 1990 e 2003, foi titular da Cátedra Henry Kin Stanford em
Humanidades, da Universidade de Miami, onde realizou cursos, debates, encontros
e conferência.
Nélida foi escritora-visitante da Universidade de Harvard,
da Columbia, de Georgetown, de Johns Hopkins, entre outras.
Ao longo de sua carreira, Nélida colaborou com diversas publicações
nacionais e estrangeiras. Seus contos foram publicados em diversas
revistas e fazem parte de antologias brasileiras e estrangeiras.
A obra de Nélida Piñon foi traduzida para diversos países, entre eles,
Alemanha, Espanha, Itália, Estados Unidos, Cuba, União Soviética e Nicarágua.
No dia 9 de novembro de 2011, em sua homenagem foi inaugurada em
Salvador, Bahia, a Biblioteca Nélida Piñon, a primeira biblioteca do Instituto
Cervantes que recebeu o nome de um escritor de língua não hispânica.
Em outubro de 2014 por iniciativa do Concello de Cotobade, com a
colaboração da Conselleria de Cultura, Educación e Ordenación Universitaria da
Xunta de Galícia, foi lançado o “Prêmio Nélida Piñon”.
Em outubro de 2015 foi inaugurada em Cotobade, Galícia, terra de sua
família. A Casa de Cultura Nélida Piñon.
Nélida Piñon faleceu em Lisboa, Portugal, onde estava morando, no dia 17
de dezembro de 2022
Prêmios Literários
· Prêmio Walmap
com o romance “Fundador” (1970)
· Prêmio Mário
de Andrade com o romance “A Casa da Paixão” (1973)
· Prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de Arte
· Prêmio Ficção
Pen Clube com o romance “A República dos Sonhos” (1985) Prêmio Golfinho de Ouro
pelo conjunto da Obra (1990)
· Prêmio Jabuti
– Melhor Romance de 2005 e Melhor Livro do Ano na Categoria Geral (2005) por
“Vozes do Deserto”Prêmio Juan Rulfo, no México
· Prêmio Jorge
Isaacs, na Colômbia
· Prêmio Rosalia
de Castro, na Espanha
· Prêmio
Gabriela Mistral, no Chile
· Prêmio
Puterbaugh, nos Estados Unidos
· Prêmio
Menéndez Pelayo da Espanha
· Prêmio
Príncipe de Astúrias pelo Conjunto da Obra (2005)
Doutor Honoris Causa
· Doutor Honoris
Causa da Universidade de Poitiers, França
· Doutor
Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela,
Espanha
· Doutor Honoris
Causa da Florida Atlantic University, EUA
· Doutor Honoris
Causa da Universidade de Montreal, Canadá
· Doutor Honoris
Causa da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre
Obras de Nélida Piñon
· Guia-Mapa de
Gabriel Arcanjo (1961)
· Madeira Feita
Cruz (1963)
· Tempos das
Frutas: contos (1966)
· Fundador
(1969)
· A Casa da
Paixão (1972)
· Tebas do Meu
Coração (1974)
· A Força do
Destino (1977)
· O Calor das
Coisas (1980)
· Sala das Armas
(1983)
· A República
dos Sonhos (1984)
· Canção de
Caetana (1987)
· O Pão de Cada
Dia (1994)
· Até Amanhã,
Outra Vez (1999)
· A Roda do
Vento (1998)
· Vozes do
Deserto (2004)
· Aprendiz de
Homero; ensaio (2008)
· Coração
andarilho: memória (2009)
· Livro das
Horas: memória (2012)
· A Camisa do
Marido (2014)
· Filhos da
América (2016)
· Uma Furtiva
Lágrima (2019)
· Um Dia
Chegarei a Sagres (2020)”
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Frases de Nélida Piñon
“Se a imaginação edifica enredos de
amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos.”
“Se a memória simula esquecer os mortos, o amor, albergado no coração e sempre à espreita, a qualquer sinal açoita quem sobrevive às lembranças.”
“O escritor não deve apenas criar, mas
deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores,
sobretudo num país como o Brasil.”
“Se vive e se escreve sem rede de
segurança.”
“O ser humano é um peregrino. É só na
aparência que ele tem uma geografia.”
“Eu não confio no Estado. Eu
confio na vigilância da sociedade.”
“O afeto é uma espada no peito.”
“Aprendo a amar. Uma arte difícil, nenhuma norma me orienta.”
“Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez, do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a minha salvaguarda.”
“Não tenho filhos, mas leitores, capazes por si sós de defenderem a civilização contra os avanços da barbárie. A eles nomeio sucessores de uma linguagem irrenunciável. E, embora duvide às vezes se vale defender alguns princípios hoje contestados, persisto em inscrever certas normas no código dos direitos humanos.”
“Eu não quero
ser inútil. Eu quero que a palavra do escritor tenha algum sentido, utilidade.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsaIxewmDHPIkkWGwsO7ghSHzjQvxw:1671682397366&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+n%C3%A9lida+pi%C3%B1on&fir=Sr7vYozVCZkhkM%
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