quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

A escritora brasileira Nélida Piñón


 

No dia 17 de dezembro de 2022 faleceu em Lisboa, Portugal, aos 85 anos, a escritora brasileira Nélida Cuínas Piñón, que foi integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), na qual tomou posse em 3 de maio de 1990. Ela foi a primeira mulher a presidir a ABL (1996-1997).

Nélida Piñón nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 3 de maio de 1937. Era filha de Lino Piñón Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado. Seus pais eram de origem galega. Nélida teve mais de 20 livros publicados (romances, contos, ensaios, discursos e memórias). Ela formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), tendo sido editora e participado do conselho editorial de revistas no Brasil e exterior. No Rio de Janeiro ocupou cargos no conselho consultivo de diversas entidades culturais. Em 1961 foi publicado seu primeiro livro, o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, cujos temas são o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus.

Em outro romance, A república dos sonhos, a base é  uma família de imigrantes galegos no Brasil, despertando reflexões a respeito da Galícia, da Espanha e do Brasil. Em 1970 ganhou o Prêmio Walmap de Literatura.

Em 1972 foi publicado o romance “A Casa da Paixão”, que permitiu à autora ganhar o Prêmio Mário de Andrade. Esta obra é considerada um dos melhores e mais conhecidos romances da escritora.

Nélida Piñon ganhou o Prêmio Ficção Pen Club  em 1985 por seu romance “A República dos Sonhos”. Era académica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa , tendo entrado em outubro de 2014 na Real Academia Galega e ocupou a cadeira de número 51 da Academia Brasileira de Filosofia. Ela ganhou o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe em 1995, que foi dado pela primeira vez a uma mulher e para uma autora de língua portuguesa e também ganhou o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991. Ela ganhou vários outros prêmios. O último prêmio dela foi o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras, em 2005. Ela teve obras traduzidas em muitos países.

O presidente atual da ABL, Merval Pereira disse sobre Nélida: "É uma perda para a literatura brasileira. Era, provavelmente, a maior escritora viva do país."

Segundo a autora Dilva Frazão:

“...Nélida Cuinãs Piñon nasceu no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro no dia 3 de maio de 1937. Seus pais, o comerciante Lino Piñon Muíños e Olívia Carmem Cuíñas Piñon são originários da Galícia, do conselho de Cotobade, na Espanha.

Seu nome é um anagrama do nome do avô Daniel. Ainda criança era estimulada para a leitura e já escrevia pequenas histórias. Com 4 anos mudou-se para o bairro de Copacabana. Em seguida morou no Botafogo, quando estudou no Colégio Santo Amaro.

Com nove anos, Nélida já frequentava o Teatro Municipal. Com 10 anos fez sua primeira viagem à terra de seus pais, onde ficou durante quase dois anos.

Na adolescência, morou no Leblon. Estudou Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Com 20 anos perdeu o pai, grande responsável por sua formação como escritora (...)”

E ainda diz Dilva Frazão:

“...Entre 1966 e 1967, Nélida trabalhou como editora assistente da revista Cadernos Brasileiros.

Em 1970 inaugurou e foi a primeira professora da cadeira de Criação Literária da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entre 1976 e 1993 foi membro do Conselho Consultivo da revista Tempo Brasileiro.

Em 1990 foi eleita para a cadeira n.º 30 da Academia Brasileira de Letras. Em 1996 foi a primeira mulher eleita para presidir a ABL por ocasião do seu primeiro centenário.

Entre 1990 e 2003, foi titular da Cátedra Henry Kin Stanford em Humanidades, da Universidade de Miami, onde realizou cursos, debates, encontros e conferência.

Nélida foi escritora-visitante da Universidade de Harvard, da Columbia, de Georgetown, de Johns Hopkins, entre outras.

Ao longo de sua carreira, Nélida colaborou com diversas publicações nacionais e estrangeiras.  Seus contos foram publicados em diversas revistas e fazem parte de antologias brasileiras e estrangeiras.

A obra de Nélida Piñon foi traduzida para diversos países, entre eles, Alemanha, Espanha, Itália, Estados Unidos, Cuba, União Soviética e Nicarágua.

No dia 9 de novembro de 2011, em sua homenagem foi inaugurada em Salvador, Bahia, a Biblioteca Nélida Piñon, a primeira biblioteca do Instituto Cervantes que recebeu o nome de um escritor de língua não hispânica.

Em outubro de 2014 por iniciativa do Concello de Cotobade, com a colaboração da Conselleria de Cultura, Educación e Ordenación Universitaria da Xunta de Galícia, foi lançado o “Prêmio Nélida Piñon”.

Em outubro de 2015 foi inaugurada em Cotobade, Galícia, terra de sua família. A Casa de Cultura Nélida Piñon.

Nélida Piñon faleceu em Lisboa, Portugal, onde estava morando, no dia 17 de dezembro de 2022

Prêmios Literários 

·         Prêmio Walmap com o romance “Fundador” (1970)

·         Prêmio Mário de Andrade com o romance “A Casa da Paixão” (1973)

·         Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte

·         Prêmio Ficção Pen Clube com o romance “A República dos Sonhos” (1985) Prêmio Golfinho de Ouro pelo conjunto da Obra (1990)

·         Prêmio Jabuti – Melhor Romance de 2005 e Melhor Livro do Ano na Categoria Geral (2005) por “Vozes do Deserto”Prêmio Juan Rulfo, no México

·         Prêmio Jorge Isaacs, na Colômbia

·         Prêmio Rosalia de Castro, na Espanha

·         Prêmio Gabriela Mistral, no Chile

·         Prêmio Puterbaugh, nos Estados Unidos

·         Prêmio Menéndez Pelayo da Espanha

·         Prêmio Príncipe de Astúrias pelo Conjunto da Obra (2005)

Doutor Honoris Causa

·         Doutor Honoris Causa da Universidade de Poitiers, França

·         Doutor Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela,   

         Espanha

·         Doutor Honoris Causa da Florida Atlantic University, EUA

·         Doutor Honoris Causa da Universidade de Montreal, Canadá

·         Doutor Honoris Causa da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre

Obras de Nélida Piñon

·         Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo (1961)

·         Madeira Feita Cruz (1963)

·         Tempos das Frutas: contos (1966)

·         Fundador (1969)

·         A Casa da Paixão (1972)

·         Tebas do Meu Coração (1974)

·         A Força do Destino (1977)

·         O Calor das Coisas (1980)

·         Sala das Armas (1983)

·         A República dos Sonhos (1984)

·         Canção de Caetana (1987)

·         O Pão de Cada Dia (1994)

·         Até Amanhã, Outra Vez (1999)

·         A Roda do Vento (1998)

·         Vozes do Deserto (2004)

·         Aprendiz de Homero; ensaio (2008)

·         Coração andarilho: memória (2009)

·         Livro das Horas: memória (2012)

·         A Camisa do Marido (2014)

·         Filhos da América (2016)

·         Uma Furtiva Lágrima (2019)

·         Um Dia Chegarei a Sagres (2020)”

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Frases de Nélida Piñon

“Se a imaginação edifica enredos de amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos.”

“Se a memória simula esquecer os mortos, o amor, albergado no coração e sempre à espreita, a qualquer sinal açoita quem sobrevive às lembranças.”

“O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil.”

 “Se vive e se escreve sem rede de segurança.”

“O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia.”

“Eu não confio no Estado. Eu confio na vigilância da sociedade.”

 “O afeto é uma espada no peito.”

 “Aprendo a amar. Uma arte difícil, nenhuma norma me orienta.”

 “Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez, do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a minha salvaguarda.”

 “Não tenho filhos, mas leitores, capazes por si sós de defenderem a civilização contra os avanços da barbárie. A eles nomeio sucessores de uma linguagem irrenunciável. E, embora duvide às vezes se vale defender alguns princípios hoje contestados, persisto em inscrever certas normas no código dos direitos humanos.”

 “Eu não quero ser inútil. Eu quero que a palavra do escritor tenha algum sentido, utilidade.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsaIxewmDHPIkkWGwsO7ghSHzjQvxw:1671682397366&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+n%C3%A9lida+pi%C3%B1on&fir=Sr7vYozVCZkhkM%

 


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