Victor Meirelles de Lima foi um pintor e professor
brasileiro que nasceu em 18 de agosto de 1832 em Nossa Senhora do Desterro
(atual Florianópolis), em Santa Catarina. Como
pintor sua especialidade era a pintura histórica. Foi aluno da Academia Imperial
de Belas Artes. Seus pais eram os imigrantes portugueses Antônio
Meirelles de Lima e Maria da Conceição dos Prazeres, comerciantes de poucas
posses que viviam em Nossa Senhora do Desterro. Teve só um irmão. Com
cinco anos começou a aprender latim, português e aritmética, mas na sua
infância já fazia desenhos de bonecos, paisagens e copiando imagens de gravuras
e folhetos.
Segundo
relatou José Arthur Boiteux:
"Aos
cinco anos mandaram-no os pais à Escola Régia e tão pequeno era que o professor
para melhor dar-lhe as lições sentava-o aos joelhos. Quando voltava à casa o
seu passatempo era o velho Cosmorama que Antonio Meirelles comprara por muito
barato e ótimo curioso que era, concertava sempre que o filho quebrava, o que
era comum, algumas das peças. Aos dez anos não escapava a Victor estampa
litografada: quantas lhes chegassem às mãos, copiava-as todas. E quem pela loja
de Antonio Meirelles sita à Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos,
esquina da Rua da Conceição passasse, pela tardinha, invariavelmente veria o
pequeno debruçado sobre o balcão a fazer garatujas, quando não as caricaturas
dos próprios fregueses que àquela hora lá se reuniam para os indefectíveis dois
dedos de prosa".
Victor
Meirelles teve aulas quando estava entre 10 e 11 anos, em 1843, com o padre
Joaquim Gomes d’Oliveira e Paiva, que lhe ensinou francês e filosofia . Também
cuidou para que o conhecimento de latim de Victor melhorasse, que
teve apoio de sua família para que desenvolvesse seu talento. Em 1845, o
professor de desenho e engenheiro argentino Mariano Moreno, que era também
doutor em direito e em teologia, além de jornalista, político e ex-secretário
da primeira Junta de Governo das Províncias Unidas do Rio da Prata, passou a
dar aulas de desenho geométrico para Victor, que na mesma época completou seus
estudos gerais no Colégio dos Jesuítas, no qual tinha aulas de latim, francês,
filosofia, história elementar, geografia, retórica e geometria. É possível que
por esse tempo Victor Meirelles tenha conhecido artistas viajantes que faziam
suas artes baseadas na natureza e no povo local.
O
conselheiro do Império, Jerônimo Coelho, viu alguns dos desenhos de Victor e
gostou deles, mostrando-os a Félix-Émile Taunay, que era diretor da Academia
Imperial de Belas Artes e que aceitou que Victor, com apenas 14 anos,
ingressasse como aluno da Academia. Ele então foi morar na cidade do Rio de
Janeiro em 1847, para participar das aulas de desenho, com os custos pagos por
alguns patrocinadores. Alguns de seus professores foram Manuel Joaquim de Melo
Corte Real, Joaquim Inácio da Costa Miranda e José Correia de Lima, que foi
aluno do pintor francês Debret. Em 1848 Victor ganhou uma medalha de ouro. Após
uma passagem por sua cidade natal para ver seus pais, em 1849 voltou aos
estudos, tendo tido muito sucesso em pintura histórica. Era considerado um
aluno brilhante, com boas notas em todas as disciplinas. Ganhou em 1852 o
Prêmio de Viagem à Europa com a pintura São João Batista no Cárcere.
Em junho de 1843
Victor chegou em Havre, França. Tinha quase 21 anos. Esteve por pouco tempo em
Paris e foi para Roma, que era seu objetivo. Fez contato com outros dois
artistas brasileiros da Academia que lá estavam estudando: Agostinho da Mota e
Jean Leon Pallière, que o auxiliaram no conhecimento do mundo das artes romano.
Deram dicas para ele sobre os mestres em pintura que ele podia conhecer. Ficou
tempo com o professor Tommaso Minardi, que tinha um método muito rígido, sem
dar liberdade à criatividade dos alunos. Victor então mudou para as aulas de
Nicola Consoni, que fazia parte da Academia de São Lucas, que era
rigoroso, porém com ele Victor pôde aprender mais sobre pinturas de modelo
vivo, o que seria útil para obras de pintura histórica que ele pretendia
realizar. Também procurou treinar no tipo de pintura aquarela e conheceu mais a
arte antiga de Roma.
Depois de Roma,
foi para Florença, visitou os museus da cidade e teve grande impressão sobre as
obras de Veronese. Praticou então copiando a arte desse pintor e de
outros como Ticiano, Tintoretto e Lorenzo
Lotto. Enviava para o Brasil pinturas suas para comprovar o seu desempenho
nos estudos no exterior. Causou ótima impressão e o governo brasileiro renovou
em 1856 sua bolsa de estudos por mais três anos e foi indicado a ele uma lista
de novos estudos específicos obrigatórios.
Em 1856, Victor
foi para Milão e Paris. Procurou, por recomendação do diretor da Academia no
Brasil, Araújo-Porto-Alegre, ser aluno do artista francês Paul Delaroche, porém
esse logo faleceu e Victor então procurou outro mestre na França, o pintor
romântico Léon Cogniet, um integrante da Escola de Belas Artes de Paris. Também
foi estudar com outro pintor francês, André Gastaldi, jovem como Meirelles,
porém com uma visão artística mais avançada, possibilitando a este ter mais
conhecimento sobre cores. Victor nessa época tinha uma dedicação integral à
pintura. Seus esforços foram recompensados e ele teve sua bolsa prorrogada por
mais dois anos. É dessa época a sua obra famosa A Primeira Missa no
Brasil, que ele pintou entre 1858 e 1861 e que foi muito elogiada no Salão
de Paris.
Ao voltar da
Europa, estando no Brasil, fez parte do grupo de pintores preferidos de Dom
Pedro II, sendo incluído no programa de mecenato do imperador, aderindo ao
ideal da monarquia de renovação da imagem do Brasil, com a criação de símbolos
visuais de sua história.
Foi também professor da Academia de Belas Artes e
possibilitou a formação de pintores bem sucedidos. Pintou obras como a Batalha
dos Guararapes, a Moema, A Passagem de Humaitá e o Combate
Naval do Riachuelo, além de paisagens e retratos. Era considerado na sua
fase áurea um dos maiores artistas do Segundo Império. Foi muito elogiado pela
sua técnica, pelo tipo de sua inspiração e a qualidade de suas obras, assim
como pela sua personalidade e dedicação. Foi admirado no Brasil e no exterior.
Foi premiado pelo imperador, sendo o primeiro dos pintores nacionais a
conquistar admissão no Salão de Paris.
A
obra Primeira Missa foi exposta no Brasil, sendo muito
homenageado por Dom Pedro II,. No Rio de Janeiro foi professor de pintura
histórica. Foi muito elogiado por alunos por ser um professor muito dedicado,
paciente e atencioso, que desejava o progresso de seus alunos. Pintou por
encomenda da família imperial a obra o Casamento da Princesa Isabel e um
retrato do imperador em 1864, ano em que recebeu a Ordem de Cristo.
Pintou também retratos de nobres e membros da camada política do Império. Em
1871 pintou o Juramento da Princesa Regente. Recebeu a Imperial
Ordem da Rosa no grau de cavaleiro
Há
nas obras de Victor Meirelles uma eclética síntese de referências neoclássicas,
românticas e realistas. É um conjunto de obras que pertencem à tradição
acadêmica brasileira. Há também influências barrocas e do grupo dos Nazarenos.
Ele é considerado pela crítica atual como um dos precursores da pintura moderna
brasileira e um dos principais pintores do século XIX.
Em
1883 foi exposta uma nova versão do Combate
Naval de Riachuelo, que se perdera em uma
viagem. Em 1885 esteve na Bélgica onde esteve associado ao belga Henri
Lagerock, fundando com ele uma empresa de panoramas. A obra Panorama do
Rio de Janeiro foi exposta em Bruxelas em 1887, com uso de um
cilindro giratório que possibilitava aos espectadores apreciar as vistas em 360
graus. Em 1889 a mesma obra foi exposta na Exposição Universal de Paris, onde
foi premiada com medalha de ouro e muito elogiada pela imprensa.
Os
pintores Pedro Américo e Victor Meirelles tiveram seus talentos reconhecidos
por muitos, que os chamavam de gênios, no entanto alguns críticos os
consideravam autores de plágio. Também formaram-se grupos de admiradores de
Pedro e outros de Victor, cada grupo achando que seu ídolo era melhor pintor
nas cenas de batalhas da Guerra do Paraguai. Os jornais e revistas acabaram
participando da discussão. Também Victor Meirelles foi fortemente criticado no
seu tempo, alvo de polêmicas, quando havia uma disputa entre os acadêmicos e
os modernistas. As críticas o abalaram muito emocionalmente. Quando
a República substituiu o Império, Meirelles foi considerado pelo novo governo
como figura ligado à Monarquia e ele então ficou no ostracismo, passando a ter
muitas dificuldades financeiras.
Em
1891, estando sem emprego, instalou sua obra Panorama
do Rio em uma instalação especial e cobrava um
ingresso para cada visitante. Depois deixou o acesso livre aos escolares e
ofereceu a eles materiais didáticos complementares à obra, com fins educativos.
Em 1893 o Panorama e a Primeira Missa foram
exibidos com sucesso na Exposição Universal de Chicago, nos Estados
Unidos. Também nesse ano fundou uma escola de pintura com Décio
Villares e Eduardo de Sá, mas aulas duraram apenas meses.
Em
1896 ele pintou a sua segunda composição panorâmica, representando a
entrada da Esquadra Legal na baía de Guanabara, sobre um acontecimento da Revolta
da Armada de 1894. Em 1898 o governo ordenou que ele desmontasse a
instalação onde exibia o Panorama do Rio, Victor ficou sem rendas,
precisando da auxílio de alguns amigos. A obra Panorama do
Descobrimento do Brasil, que estava incompleta, foi exibida na mostra
do IV Centenário do Descobrimento. O presidente Campos Salles ficou
muito impressionado com a obra. Porém o artista estava sem apoios e não
conseguia sucesso em suas exposições posteriores, quis apresentar obras suas na
Europa, mas não obteve patrocínio que bancasse o emprendimento. Doou seus
panoramas, desenhos e estudos para ao Museu Nacional. Mas não houve cuidado
necessário para a preservação.
Desiludido
e sem recursos financeiros, o pintor morreu em 22 de fevereiro de 1903, aos 71
anos de idade. Foi casado com Rosália Fraga, mas com ela não teve filhos,
embora ele tivesse adotado o filho que ela tinha de um relacionamento anterior.
Segundo
a autora Dilva Frazão:
“(...) Em 1843, Victor Meirelles começou a estudar francês, filosofia e
latim com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira. Em 1845, iniciou seus estudos
artísticos com o argentino Marciano Moreno.
Sua habilidade chamou a atenção do conselheiro do Império Jerônimo
Francisco Coelho, que em 1847 o levou para o Rio de Janeiro e o matriculou na
Academia Imperial de Belas Artes. Com apenas 14 anos, ele estudou com José
Correia de Lima, que foi aluno de Debret.
No ano seguinte, recebeu uma medalha de ouro da Academia. Foram dois
anos estudando desenho e três anos voltados para a “pintura histórica”
.Em 1852, com o quadro São João Batista no Cárcere, ganhou
como prêmio uma viagem para a Europa e passou oito anos na Itália e na França.
Em Roma, Victor Meirelles foi aluno de Nicola Consoni, da
Academia de São Lucas, com quem realizou uma série de estudos com modelos
vivos, importante para a pintura histórica.
Em seguida, ele viajou para Veneza, onde se encantou com a técnica
e o colorido dos pintores venezianos. Como estudo, copiava as obras de Ticiano,
Tintoretto e Lorenzo Lotto.
Com o excelente rendimento na sua prestação de contas, recebeu da
Academia Imperial a renovação de sua bolsa de estudos por mais três anos.
Seguiu para Paris, onde permaneceu até 1860.
Nesse período, analisou as obras de Horace Vernet, renomado por suas
pinturas de batalhas. Aperfeiçoou sua pintura com Léon Cogniet, André
Gastaldi e Paul Delaroche, da Escola de Belas Artes.
Como sugestão de seu mentor intelectual, Manuel de Araújo Porto Alegre,
diretor da Academia Imperial, Victor Meirelles pintou sua primeira grande
obra “Primeira Missa no Brasil” (1858-1860), da maneira como foi descrita na
carta de Pero Vaz de Caminha, que lhe valeu espaço e elogios no prestigioso
Salão de Paris de 1861.
Em 1861, já consagrado, Victor Meirelles retornou ao Brasil, sendo
condecorado por D. Pedro II, com o grau de "Cavaleiro da Imperial Ordem de
Cristo" e da "Imperial Ordem da Rosa". Em 1864, pintou os
retratos de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza
Cristina.
Em 1865, Victor Meirelles foi nomeado professor de pintura histórica da
Academia Imperial de Belas Artes. Em 1866, pintou Moema, em que
retratou a personagem homônima do poema épico, Caramuru, de Santa Rita
Durão.
Em 1868, Victor
Meirelles recebeu a encomenda para pintar dois quadros históricos ligados à
“Guerra do Paraguai”, que estava em pleno andamento. Desloca-se para a região
do conflito e instalou seu ateliê a bordo do navio Brasil, onde
passou seis meses, elaborando as telas de grandes dimensões:
Combate Naval do Riachuelo ; Passagem de Humaitá .
De volta ao Rio de Janeiro, ocupou um espaço no Convento de Santo
Antônio, que transformou em seu ateliê. Nos anos seguintes produziu
inúmeras encomendas da família imperial, entre elas, o Juramento da
Princesa Isabel (1875):
Em 1875, iniciou os esboços de mais uma grande obra: Batalha
dos Guararapes .A tela foi exposta na Exposição Geral de Belas Artes.
A partir de 1885, o artista passou a se dedicar à execução de
“panoramas”, entre eles destacam-se: Panorama Circular da Cidade do Rio
de Janeiro e “Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro
em 1894”.
Meirelles teve um importante papel na formação de diversos pintores
durante os 30 anos que lecionou na Academia Imperial de Belas Artes.
Victor Meireles
falece no Rio de janeiro, no dia 22 de fevereiro de 1903.”
Algumas pinturas de
Victo Meirelles:
Moema
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.
Figura1:
https://www.google.com/search?sxsrf=AJOqlzWqlqOidIjElfJw9nLBGEN5j143iQ:1677119160932&q=imagem+de+victor+meirelles&tbm=isch&source
Figura 2:
https://www.google.com/search?q=Naval+Battle+of+Riachuelo&sa=X&stick=H4s
Figura 3: https://virusdaarte.net/victor-meirelles-moema/