quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O pintor brasileiro Victor Meirelles

 




Victor Meirelles de Lima foi um pintor e professor brasileiro que nasceu em 18 de agosto de 1832 em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina. Como pintor sua especialidade era a pintura histórica. Foi aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Seus pais eram os imigrantes portugueses Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição dos Prazeres, comerciantes de poucas posses que viviam em Nossa Senhora do Desterro. Teve só um irmão. Com cinco anos começou a aprender latim, português e aritmética, mas na sua infância já fazia desenhos de bonecos, paisagens e copiando imagens de gravuras e folhetos.  

 

Segundo relatou José Arthur Boiteux:

"Aos cinco anos mandaram-no os pais à Escola Régia e tão pequeno era que o professor para melhor dar-lhe as lições sentava-o aos joelhos. Quando voltava à casa o seu passatempo era o velho Cosmorama que Antonio Meirelles comprara por muito barato e ótimo curioso que era, concertava sempre que o filho quebrava, o que era comum, algumas das peças. Aos dez anos não escapava a Victor estampa litografada: quantas lhes chegassem às mãos, copiava-as todas. E quem pela loja de Antonio Meirelles sita à Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos, esquina da Rua da Conceição passasse, pela tardinha, invariavelmente veria o pequeno debruçado sobre o balcão a fazer garatujas, quando não as caricaturas dos próprios fregueses que àquela hora lá se reuniam para os indefectíveis dois dedos de prosa".

 

Victor Meirelles teve aulas quando estava entre 10 e 11 anos, em 1843, com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira e Paiva, que lhe ensinou francês e filosofia . Também cuidou para que o conhecimento de  latim de Victor melhorasse, que teve apoio de sua família para que desenvolvesse seu talento. Em 1845, o professor de desenho e engenheiro argentino Mariano Moreno, que era também doutor em direito e em teologia, além de jornalista, político e ex-secretário da primeira Junta de Governo das Províncias Unidas do Rio da Prata, passou a dar aulas de desenho geométrico para Victor, que na mesma época completou seus estudos gerais no Colégio dos Jesuítas, no qual tinha aulas de latim, francês, filosofia, história elementar, geografia, retórica e geometria. É possível que por esse tempo Victor Meirelles tenha conhecido artistas viajantes que faziam suas artes baseadas na natureza e no povo local.

O conselheiro do Império, Jerônimo Coelho, viu alguns dos desenhos de Victor e gostou deles, mostrando-os a Félix-Émile Taunay, que era diretor da Academia Imperial de Belas Artes e que aceitou que Victor, com apenas 14 anos, ingressasse como aluno da Academia. Ele então foi morar na cidade do Rio de Janeiro em 1847, para participar das aulas de desenho, com os custos pagos por alguns patrocinadores. Alguns de seus professores foram Manuel Joaquim de Melo Corte Real, Joaquim Inácio da Costa Miranda e José Correia de Lima, que foi aluno do pintor francês Debret. Em 1848 Victor ganhou uma medalha de ouro. Após uma passagem por sua cidade natal para ver seus pais, em 1849 voltou aos estudos, tendo tido muito sucesso em pintura histórica. Era considerado um aluno brilhante, com boas notas em todas as disciplinas. Ganhou em 1852 o Prêmio de Viagem à Europa com a pintura São João Batista no Cárcere.

Em junho de 1843 Victor chegou em Havre, França. Tinha quase 21 anos. Esteve por pouco tempo em Paris e foi para Roma, que era seu objetivo. Fez contato com outros dois artistas brasileiros da Academia que lá estavam estudando: Agostinho da Mota e Jean Leon Pallière, que o auxiliaram no conhecimento do mundo das artes romano. Deram dicas para ele sobre os mestres em pintura que ele podia conhecer. Ficou tempo com o professor Tommaso Minardi, que tinha um método muito rígido, sem dar liberdade à criatividade dos alunos. Victor então mudou para as aulas de Nicola Consoni, que fazia parte da Academia de São Lucas, que era rigoroso, porém com ele Victor pôde aprender mais sobre pinturas de modelo vivo, o que seria útil para obras de pintura histórica que ele pretendia realizar. Também procurou treinar no tipo de pintura aquarela e conheceu mais a arte antiga de Roma.

 

Depois de Roma, foi para Florença, visitou os museus da cidade e teve grande impressão sobre as obras de Veronese. Praticou então copiando a arte desse pintor e de outros como TicianoTintoretto e Lorenzo Lotto. Enviava para o Brasil pinturas suas para comprovar o seu desempenho nos estudos no exterior. Causou ótima impressão e o governo brasileiro renovou em 1856 sua bolsa de estudos por mais três anos e foi indicado a ele uma lista de novos estudos específicos obrigatórios.

 

Em 1856, Victor foi para Milão e Paris. Procurou, por recomendação do diretor da Academia no Brasil, Araújo-Porto-Alegre, ser aluno do artista francês Paul Delaroche, porém esse logo faleceu e Victor então procurou outro mestre na França, o pintor romântico Léon Cogniet, um integrante da Escola de Belas Artes de Paris. Também foi estudar com outro pintor francês, André Gastaldi, jovem como Meirelles, porém com uma visão artística mais avançada, possibilitando a este ter mais conhecimento sobre cores. Victor nessa época tinha uma dedicação integral à pintura. Seus esforços foram recompensados e ele teve sua bolsa prorrogada por mais dois anos. É dessa época a sua obra famosa A Primeira Missa no Brasil, que ele pintou entre 1858 e 1861 e que foi muito elogiada no Salão de Paris.

 

Ao voltar da Europa, estando no Brasil, fez parte do grupo de pintores preferidos de Dom Pedro II, sendo incluído no programa de mecenato do imperador, aderindo ao ideal da monarquia de renovação da imagem do Brasil, com a criação de símbolos visuais de sua história.

 

Foi também professor da Academia de Belas Artes e possibilitou a formação de pintores bem sucedidos. Pintou obras como a Batalha dos Guararapesa Moema, A Passagem de Humaitá e o Combate Naval do Riachuelo, além de paisagens e retratos. Era considerado na sua fase áurea um dos maiores artistas do Segundo Império. Foi muito elogiado pela sua técnica, pelo tipo de sua inspiração e a qualidade de suas obras, assim como pela sua personalidade e dedicação. Foi admirado no Brasil e no exterior. Foi premiado pelo imperador, sendo o primeiro dos pintores nacionais a conquistar admissão no Salão de Paris.  

A obra Primeira Missa foi exposta no Brasil, sendo muito homenageado por Dom Pedro II,. No Rio de Janeiro foi professor de pintura histórica. Foi muito elogiado por alunos por ser um professor muito dedicado, paciente e atencioso, que desejava o progresso de seus alunos. Pintou por encomenda da família imperial a obra o Casamento da Princesa Isabel e um retrato do imperador em 1864, ano em que recebeu a Ordem de Cristo. Pintou também retratos de nobres e membros da camada política do Império. Em 1871 pintou o Juramento da Princesa Regente. Recebeu a Imperial Ordem da Rosa no grau de cavaleiro

Há nas obras de Victor Meirelles uma eclética síntese de referências neoclássicas, românticas e realistas. É um conjunto de obras que pertencem à tradição acadêmica brasileira. Há também influências barrocas e do grupo dos Nazarenos. Ele é considerado pela crítica atual como um dos precursores da pintura moderna brasileira e um dos principais pintores do século XIX.

Em 1883 foi exposta uma nova versão do Combate Naval de Riachuelo, que se perdera em uma viagem. Em 1885 esteve na Bélgica onde esteve associado ao belga Henri Lagerock, fundando com ele uma empresa de panoramas. A obra Panorama do Rio de Janeiro foi exposta em Bruxelas em 1887, com uso de um cilindro giratório que possibilitava aos espectadores apreciar as vistas em 360 graus. Em 1889 a mesma obra foi exposta na Exposição Universal de Paris, onde foi premiada com medalha de ouro e muito elogiada pela imprensa.

Os pintores Pedro Américo e Victor Meirelles tiveram seus talentos reconhecidos por muitos, que os chamavam de gênios, no entanto alguns críticos os consideravam autores de plágio. Também formaram-se grupos de admiradores de Pedro e outros de Victor, cada grupo achando que seu ídolo era melhor pintor nas cenas de batalhas da Guerra do Paraguai. Os jornais e revistas acabaram participando da discussão. Também Victor Meirelles foi fortemente criticado no seu tempo, alvo de polêmicas, quando havia uma disputa entre os acadêmicos e os modernistas. As críticas o abalaram muito emocionalmente. Quando a República substituiu o Império, Meirelles foi considerado pelo novo governo como figura ligado à Monarquia e ele então ficou no ostracismo, passando a ter muitas dificuldades financeiras.

Em 1891, estando sem emprego, instalou sua obra Panorama do Rio em uma instalação especial e cobrava um ingresso para cada visitante. Depois deixou o acesso livre aos escolares e ofereceu a eles materiais didáticos complementares à obra, com fins educativos. Em 1893 o Panorama e a Primeira Missa foram exibidos com sucesso na Exposição Universal de Chicago, nos Estados Unidos. Também nesse ano fundou uma escola de pintura com Décio Villares e Eduardo de Sá, mas aulas duraram apenas meses.

Em 1896 ele pintou a sua segunda composição panorâmica, representando a entrada da Esquadra Legal na baía de Guanabara, sobre um acontecimento da Revolta da Armada de 1894. Em 1898 o governo ordenou que ele desmontasse a instalação onde exibia o Panorama do Rio, Victor ficou sem rendas, precisando da auxílio de alguns amigos. A obra Panorama do Descobrimento do Brasil, que estava incompleta, foi exibida na mostra do IV Centenário do Descobrimento. O presidente Campos Salles ficou muito impressionado com a obra. Porém o artista estava sem apoios e não conseguia sucesso em suas exposições posteriores, quis apresentar obras suas na Europa, mas não obteve patrocínio que bancasse o emprendimento. Doou seus panoramas, desenhos e estudos para ao Museu Nacional. Mas não houve cuidado necessário para a preservação.

Desiludido e sem recursos financeiros, o pintor morreu em 22 de fevereiro de 1903, aos 71 anos de idade. Foi casado com Rosália Fraga, mas com ela não teve filhos, embora ele tivesse adotado o filho que ela tinha de um relacionamento anterior.

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Em 1843, Victor Meirelles começou a estudar francês, filosofia e latim com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira. Em 1845, iniciou seus estudos artísticos com o argentino Marciano Moreno.

Sua habilidade chamou a atenção do conselheiro do Império Jerônimo Francisco Coelho, que em 1847 o levou para o Rio de Janeiro e o matriculou na Academia Imperial de Belas Artes. Com apenas 14 anos, ele estudou com José Correia de Lima, que foi aluno de Debret.

No ano seguinte, recebeu uma medalha de ouro da Academia. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados para a “pintura histórica”

.Em 1852, com o quadro São João Batista no Cárcere, ganhou como prêmio uma viagem para a Europa e passou oito anos na Itália e na França.

Em Roma, Victor Meirelles foi aluno de Nicola Consoni, da Academia de São Lucas, com quem realizou uma série de estudos com modelos vivos, importante para a pintura histórica.

Em seguida, ele viajou para Veneza, onde se encantou com a técnica e o colorido dos pintores venezianos. Como estudo, copiava as obras de Ticiano, Tintoretto e Lorenzo Lotto.

Com o excelente rendimento na sua prestação de contas, recebeu da Academia Imperial a renovação de sua bolsa de estudos por mais três anos. Seguiu para Paris, onde permaneceu até 1860.

Nesse período, analisou as obras de Horace Vernet, renomado por suas pinturas de batalhas. Aperfeiçoou sua pintura com Léon Cogniet, André Gastaldi e Paul Delaroche, da Escola de Belas Artes.

Como sugestão de seu mentor intelectual, Manuel de Araújo Porto Alegre, diretor da Academia Imperial, Victor Meirelles pintou sua primeira grande obra “Primeira Missa no Brasil” (1858-1860), da maneira como foi descrita na carta de Pero Vaz de Caminha, que lhe valeu espaço e elogios no prestigioso Salão de Paris de 1861.

Em 1861, já consagrado, Victor Meirelles retornou ao Brasil, sendo condecorado por D. Pedro II, com o grau de "Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo" e da "Imperial Ordem da Rosa". Em 1864, pintou os retratos de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina.

Em 1865, Victor Meirelles foi nomeado professor de pintura histórica da Academia Imperial de Belas Artes. Em 1866, pintou Moema, em que retratou a personagem homônima do poema épico, Caramuru, de Santa Rita Durão.

Em 1868, Victor Meirelles recebeu a encomenda para pintar dois quadros históricos ligados à “Guerra do Paraguai”, que estava em pleno andamento. Desloca-se para a região do conflito e instalou seu ateliê a bordo do navio Brasil, onde passou seis meses, elaborando as telas de grandes dimensões:

Combate Naval do Riachuelo Passagem de Humaitá .

De volta ao Rio de Janeiro, ocupou um espaço no Convento de Santo Antônio, que transformou em seu ateliê. Nos anos seguintes produziu inúmeras encomendas da família imperial, entre elas, o Juramento da Princesa Isabel (1875):

Em 1875, iniciou os esboços de mais uma grande obra:  Batalha dos Guararapes .A tela foi exposta na Exposição Geral de Belas Artes.

A partir de 1885, o artista passou a se dedicar à execução de “panoramas”, entre eles destacam-se: Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro e “Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894”.

Meirelles teve um importante papel na formação de diversos pintores durante os 30 anos que lecionou na Academia Imperial de Belas Artes.

Victor Meireles falece no Rio de janeiro, no dia 22 de fevereiro de 1903.”

 

 

Algumas pinturas de Victo Meirelles



Batalha Naval de Riachuelo 




                                                                              Moema


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

 Figura1:

https://www.google.com/search?sxsrf=AJOqlzWqlqOidIjElfJw9nLBGEN5j143iQ:1677119160932&q=imagem+de+victor+meirelles&tbm=isch&source

 

Figura 2:

https://www.google.com/search?q=Naval+Battle+of+Riachuelo&sa=X&stick=H4s

 

Figura 3: https://virusdaarte.net/victor-meirelles-moema/




 


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O pintor brasileiro Cândido Portinari


 


Em 6 de fevereiro de 1962, aos 58 anos, morria devido à intoxicação por chumbo, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, o pintor e desenhista brasileiro Candido Portinari. Ele nasceu em 29 de dezembro de 1903 em Brodowski, São Paulo. Ele pintou mais de cinco mil obras, entre elas pequenos esboços e pinturas em tamanho padrão e também grandes murais, como os painéis Guerra e Paz, que está desde 1956 na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.  

Portinari nasceu em uma fazenda de café, perto de Brodowski, que no inicio do século XX era um distrito do município de Batatais. Seus pais eram os imigrantes italianos, Giovan Battista Portinari (João Baptista Portinari) e Domenica Turcato (Domingas Torquato),da província de Vicenza, região do Vêneto.

Quando menino Portinari manifestou logo habilidade em artes, mas não terminou seus estudos no ensino Primário. Ele foi convidado a se juntar como ajudante de um grupo de pintores e escultores, que atuavam na restauração de igrejas quando ele tinha 14 anos. E aos 16 anos foi estudar na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) no Rio de Janeiro. Aos 20 anos passa a participar de exposições e sendo elogiado em jornais. O pintor passa a se interessar pelo movimento modernista nas artes.

Depois de tentar em 1926 e 1927 ganhar a medalha de ouro do Salão da ENBA, finalmente ele consegue em 1928. Portinari disse que não ganhou nos dois anos anteriores porque os juízes não gostaram dos elementos modernistas nas suas obras. Na terceira vez ele adotou uma arte mais tradicional. Com a conquista de 1928 ele ganha uma medalha de ouro e uma viagem para a Europa. Passou a viver em Paris por dois anos, cidade na qual conheceu artistas como Van Dongen e Othon Friesz. Lá ele conheceu sua futura esposa, a uruguaia Maria Martinelli.

Quando voltou ao Brasil Portinari já tinha um interesse maior pelo aspecto social. Ele mudou a estética de sua obra, com destaque para cores e a ideia das pinturas. Deixa de adotar a tridimensionalidade em suas obras. Pouco a pouco ele vai se dedicar a murais e afrescos, abandonando as telas pintadas a óleo. Em 1939 ele expõe três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque (EUA). O diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Alfred Barr, fica impressionado com as obras de Portinari. Na década de 40 Barr compra a tela de Portinari chamada "Morro do Rio", que passa a ser exposta de forma individual no Museu de Nova Iorque. É desse tempo que o Portinari criou dois murais para a Biblioteca do Congresso na cidade em Washington. Nesse museu Portinari teve teve um forte impressão com a obra “Guernica” de Pablo Picasso. 

Portinari ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi candidato a deputado federal em 1945 e a senador em 1947, quando perdeu por um número muito pequeno de votos. Nessa época o PCB passava por momentos de perseguição política, havendo suspeitas de que ele perdeu a eleição por motivo fraude promovida por adversários políticos.

Em 1952 Portinari retornou ao Brasil, graças a uma anistia geral e nesse ano ele teve obras suas expostas na Primeira Bienal de São Paulo. Mas nos anos 50 Portinari a saúde de Portinari começou a apresentar problemas, como uma séria intoxicação por chumbo em 1954 chamada saturnismo, por causa das tintas que usava. Apesar de doente ele continuou a pintar e viajar para participar de exposições em outros países (Estados Unidos, Europa e Israel). Ele participa no início de 1962 de uma grande exposição com 200 telas a convite da prefeitura de Barcelona. E veio a falecer nesse ano devido à intoxicação por tintas nas quais havia chumbo. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista. 

Segundo o autor Israel Pedrosa em 2009 no seu artigo “O Pintor do Novo Mundo”:

Sempre que se quis definir Portinari a partir da visão de sua obra, essa definição atingia uma tal abrangência que ultrapassava em muito a caracterização simplesmente humana do pintor.

Foi assim quando de sua exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York, apresentando-o como “Portinario Brazil,”, formulação que dava-lhe o foro de pintor nacional de seu país (...)”

Segundo Liane Carvalho Oleques, Mestre em Artes Visuais (UDESC, 2010) e Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008): 

Um dos maiores artistas brasileiros do século XX retratou com grande emoção a cultura, a infância, as mazelas e as questões sociais do Brasil, contribuindo para que a cultura brasileira fosse reconhecida em âmbito internacional. Cândido Portinari nasceu no interior de São Paulo numa cidadezinha chamada Brodowski em 30 de dezembro de 1903. Filho de imigrantes italianos teve uma infância pobre numa fazenda de café. Desde muito cedo já expressa gosto pela arte, começando a pintar com nove anos de idade.

Portinari participou ativamente, ao lado de escritores, poetas, jornalistas e artistas, da vida cultural e política do país e das mudanças estéticas as quais passava o Brasil no começo do século XX.

 Segundo a Arte-educadora, fotógrafa e artista visual Laura Aidar:

Candido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903 em uma fazenda de café, na cidade de Brodowski, interior de São Paulo.

Filho de italianos, Portinari veio de uma família humilde e era o segundo filho de doze irmãos.

Mesmo com formação escolar apenas até o ensino primário, ele participou da elite intelectual brasileira da década de 1930.

Portinari deixou São Paulo aos 15 anos e fixou residência no Rio de Janeiro, onde se matricula na "Escola Nacional de Belas Artes". Aos 20 anos, Candido já é prestigiado pela crítica nacional.

Contudo, será em 1928, quando conquistou o "Prêmio de Viagem ao Estrangeiro" da Exposição Geral de Belas-Artes, que Portinari ganhará o mundo.

Morou em Paris e outras cidades europeias, onde conheceu artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de Maria Martinelli, uruguaia com quem se casou e viveu toda a vida.

Regressou ao Brasil em 1931 e nessa época passou a valorizar mais as cores em seus trabalhos, abandonando os conceitos de volume e tridimensionalidade.

Em 1935, Candido Portinari recebeu uma "Menção Honrosa" na Exposição Internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos. Esse acontecimento abriu de vez as portas para o pintor naquele e em outros países. Após isso, produziu três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na "Feira Mundial de Nova York", em 1939.

Contudo, será na década de 40 que este processo de reconhecimento irá se consolidar. O pintor participa da "Mostra de arte latino-americana" no Riverside Museum, em Nova York.

Além disso, destacou-se com sua exposição individual no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York. Tudo isso ao lado de outros grandes artistas consagrados mundialmente.

Nesse momento, Candido Portinari terá o primeiro livro dedicado a sua pessoa, a obra Portinari, His Life and Art, da Universidade de Chicago.

Em 1941, o artista produz os murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, sempre enaltecendo a temática latino-americana.

Mais tarde, o pintor é convidado por Oscar Niemeyer, em 1944, a contribuir com suas obras para o complexo arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).

Nesse projeto, destacaram-se as composições sacras São Francisco e Via Sacra na Igreja da Pampulha.

A primeira exposição de Portinari na Europa será em 1946, quando o pintor regressa à Paris e expõe na renomada Galerie Charpentier no ano seguinte, 1947.

Suas obras terão lugar no salão Peuser, em Buenos Aires, bem como nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, em Montevidéu.

A estada pela América Latina se estende quando Portinari exila-se no Uruguai, por motivos políticos, em 1948.

Ele era ativo no movimento político-partidário e filiado ao "Partido Comunista Brasileiro". Se candidatou a deputado, em 1945, e a senador, em 1947, perdendo em ambas as eleições.

Em 1950, irá receber a medalha de ouro do "Prêmio Internacional da Paz" e, em 1951, é destaque na 1° Bienal de São Paulo.

A década de 50 marcou a vida de Cândido. Isso porque surgem problemas de saúde causados por intoxicação de chumbo presente nas tintas que o pintor utilizava em suas obras.

É nessa época também que ele realiza os famosos murais Guerra e Paz (1953-1956) para a sede da ONU, em Nova York.

Posteriormente, também em Nova York, em 1955, Portinari é honrado com a medalha de ouro da Internacional Fine-Arts Council na categoria melhor pintor do ano.

 Importante ressaltar que Portinari foi o único artista brasileiro convidado para exposição 50 Anos de Arte Moderna, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958.

 Por fim, em meados de 1962, Portinari aceita uma encomenda da prefeitura de Barcelona, contudo, seu nível de intoxicação pelas tintas torna-se fatal e ele falece neste ano em 06 de fevereiro, aos 58 anos.

Frases de Cândido Portinari

“O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável.”

“Estou com os que acham que não há arte neutra. Mesmo sem nenhuma intenção do pintor, o quadro indica sempre um sentido social.”

 “Sou um homem que tem saudade de Deus...”

 “Se há tantos meninos em minha obra em balanços, gangorras é que seria meu desejo fazer com que eles fossem lançados ao ar a virarem belos anjos...”

 

Algumas obras de Portinari



                                                             O Café



                                                                         Retirantes


                                                                      

                                                                    Criança Morta


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figuras:https://www.google.com/search?q=imagem+de+portinari&sxsrf=AJOqlzXvAlDAMhsxyNcamSU5vy_7bR6S8A%3A1676606673317&source=hp&ei=0fzu

 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O poeta do tempo do Brasil colonial José de Alvarenga Peixoto

 




Inácio José de Alvarenga Peixoto, foi  um advogado e poeta do Arcadismo, nascido em 1742 na cidade do Rio de Janeiro, no Estado do Brasil, que na época era uma parte do reino de Portugal. Foi uma das lideranças intelectuais do movimento político conhecido como Inconfidência Mineira. Após sua prisão e julgamento por participação no movimento, ele foi banido para Angola, na África, de onde não podia voltar. Ele pode ter sido o autor da frase em latim que está na bandeira de Minas Gerais: Libertas quae sera tamen.

Os pais de Alvarenga eram Simão Alvarenga Braga e Ângela Micaela da Cunha. Seus primeiros estudos foram no Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro. Foi depois estudar em Portugal, onde se destacou nos estudos. Formou-se em Bacharel em Direito na Universidade de Coimbra e lá ficou amigo do poeta Basílio da Gama.

Na metrópole foi juiz de fora na vila de Sintra.Voltou para o Brasil e foi senador na cidade de São João del-Rei, em Minas Gerais. Outro cargo que exerceu em Minas foi o de ouvidor da comarca de Rio das Mortes. Casou com a poetisa Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. O casal teve quatro filhos.

Alvarenga no sul de Minas Gerais passou a ser um dono de terras e envolveu-se com a mineração, em especial na cidades de Campanha e São Gonçalo do Sapucaí. Nessa cidade gastou muito de seu dinheiro para abrir um canal de aproximadamente 30 km para a mineração de ouro. Teve amizades com pessoas poderosas da região e junto a outros intelectuais fazia parte de meio com ideias de liberdade influenciadas pelo Iluminismo. Nesse ambiente estavam os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o alferes Joaquim José da Silva Xavier (o "Tiradentes") e Joaquim Silvério dos Reis, que viria a ser um delator. Entre seus influentes amigos estava João Rodrigues de Macedo, rico contratador de impostos de Vila Rica, que ajudou a esposa de Alvarenga após sua condenação e perda de bens.

Quando estava participando da Inconfidência Mineira, Alvarenga Peixoto estava endividado. Ao ser detido após as denúncias contra os inconfidentes, ele foi então primeiramente para a Ilha das Cobras. Após seu julgamento e condenação ele foi enviado para Angola, falecendo por lá pouco tempo depois, devido a uma doença tropical.

O conjunto de suas obras não é grande. Mas nele há alguns dos sonetos mais bem acabados do Arcadismo no Brasil. O foco de suas poesias era o tema amoroso e também uma crítica da sociedade. Seus versos falavam de pastores e rebanho do gado e até mesmo de ninfas e deuses. Em algumas de suas poesias o poeta falava de Minas Gerais e seu momento de exploração das minas.

Entre os poemas do autor havia os poemas laudatórios, que enaltecem um fato ou um personagem. Tinha especial interesse em chamar a atenção para questões sociais, a partir de uma visão crítica da sociedade colonial daquela época. Também percebe-se o  nativismo sentimental em obras suas, há referências clássicas em poesias dele e em alguns momentos exaltou as navegações portuguesas. Embora poeta árcade, há características do Barroco em suas obras líricas, com destaque para o uso de antíteses.

Principais Obras: A Dona Bárbara HeliodoraEstela e Nise;A Maria Efigênia (sua filha); A AléiaA LástimaA Saudade.

 

Segundo a Biblioteconomista e professora Dilva Frazão:

“ (...) Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 1 de fevereiro de 1744. Filho do português Simão de Alvarenga Braga e da brasileira Ângela Micaela da Cunha Peixoto, iniciou seus estudos no colégio dos Jesuítas em sua cidade natal. Com nove anos mudou-se para a cidade de Braga, Portugal, onde concluiu o curso secundário. Seguiu para Coimbra, onde estudou Direito, formando-se em 1769.

Em Portugal, Alvarenga Peixoto exerceu a magistratura na Vila de Sintra, onde permaneceu até 1772. Nessa época escreve um poema em louvor ao Marquês de Pombal. De volta ao Brasil, em 1776, fixou residência em Rio das Mortes (atual São João Del Rei), em Minas Gerais, onde foi nomeado ouvidor. Em 1781 casou-se com a poetisa Bárbara Heliodora, com quem teve quatro filhos.

Após abandonar o cargo de ouvidor, Alvarenga Peixoto passou a se dedicar à mineração, numa época em que Minas Gerais vivia a febre do ouro e dos diamantes. Era proprietário de lavras no sul de Minas. Em 1785 foi nomeado coronel do Primeiro Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde, pelo governador da capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes. (...)”

E ainda a mesma autora: “(...)

Alvarenga Peixoto além de se dedicar à poesia, não deixava de discutir as questões políticas da época e se envolveu com a Inconfidência Mineira. A ele se atribui a bandeira dos inconfidentes, com o verso de Virgílio, “Libertas quae sera Tamen” (A Liberdade ainda que tardia), palavras que serviram de lema à Inconfidência. O movimento fracassou e Alvarenga foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro e depois deportado para Angola, em 1792.

Características da Poesia de Alvarenga Peixoto

Nessa época, além de inserir em seus versos elementos da realidade brasileira, os poetas faziam referência também a ninfas, deuses, pastores e rebanho de gado – elementos típicos do Arcadismo europeu. Encontram-se também referências à mineração e às paisagens mineiras.

Devido ao confisco de seus bens, muitas de suas obras se perderam e pouca coisa restou. A obra do poeta consta de 33 composições, sendo vinte e cinco sonetos de caráter laudatório - dedicados a exaltar uma figura ou um fato público - como a “Ode à Rainha D. Maria I”, monarca de Portugal.

Alguns de seus sonetos refletem o encarceramento, caracterizados pela profunda amargura que lhe atingiu a condenação. Outros se revestem de tom confessional e triste, em consequência da separação familiar. Entre eles destacam-se: “A Dona Bárbara Heliodora”, “Estela e Nise”, “A Maria Efigênia” (sua filha), “A Alteia”, “A Lástima” e “A Saudade”.

                 

Alguns poemas de Alvarenga Peixoto:

Soneto

Não cedas, coração, pois nesta empresa
o brio só domina; o cego mando
do ingrato Amor seguir não deves, quando
já não podes amar sem vil baixeza.

Rompa-se o forte laço, que é franqueza
ceder a amor, o brio deslustrando;
vença-te o brio, pelo amor cortando,
que é honra, que é valor, que é fortaleza.

Foge de ver Alteia; mas, se a vires,
por que não venhamos outra vez a amá-la,
apaga o fogo, assim que a pressentires;

E se inda assim o teu valor se abala,
não lhe mostre no rosto, ah, não suspires!
Calado geme, sofre, morre, estala!

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 À D. BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, Do Norte estrela,

Que o meu destino Sabes guiar,

De ti ausente Triste somente

As horas passo A suspirar.

Por entre as penhas De incultas brenhas

Cansa-me a vista De te buscar;

Porém não vejo Mais que o desejo,

Sem esperança De te encontrar.

Eu bem queria A noite e o dia

Sempre contigo Poder passar;

Mas orgulhosa Sorte invejosa,

Desta fortuna Me quer privar.

Tu, entre os braços, Ternos abraços

Da filha amada Podes gozar;

Priva-me a estrela De ti e dela,

Busca dous modos De me matar!

 

(Poema dedicado à sua esposa,

remetido do cárcere da Ilha das Cobras)

 

 

À MARIA IFIGÊNIA

 

Em 1786, quando completava sete anos.

Amada filha, é já chegado o dia,

Em que a luz da razão, qual tocha acesa,

Vem conduzir a simples natureza:

— É hoje que teu mundo principia.

A mão que te gerou, teus passos guia;

Despreza ofertas de uma vã beleza,

E sacrifica as honras e a riqueza

Às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tu' alma a Caridade,

Que amar a Deus, amar aos semelhantes,

São eternos preceitos de verdade;

Tudo o mais são ideias delirantes;

Procura ser feliz na Eternidade,

Que o mundo são brevíssimos instantes.

 

 



DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS

 

De açucenas e rosas misturadas

não se adornam as vossas faces belas,

nem as formosas tranças são daquelas

que dos raios do sol foram forjadas.

As meninas dos olhos delicadas,

verde, preto ou azul não brilha nelas;

mas o autor soberano das estrelas

nenhumas fez a elas comparadas.

Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,

a cor dos olhos e as tranças d'oiro

podem fazer mil Ninfas melindrosas;

Porém quanto é caduco esse tesoiro:

vós, sobre a sorte toda das formosas,

inda ostentais na sábia frente o loiro!

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+alvarenga+peixoto