O escritor, dramaturgo romântico,
orador, poeta, ministro e secretário de
estado honorário português João Baptista da
Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu em 4 de fevereiro de 1799, na
freguesia de Vitória, cidade do Porto. Foi figura importante para o teatro
português e com destaque no romantismo em Portugal. Foi ele o autor da proposta
para se construir o Teatro Nacional de Dona Maria II, assim como foi
fundamental para que criasse o Conservatório de Arte Dramática,
sendo responsável também pela criação da
Inspeção-Geral dos Teatros e do Panteão Nacional.
Almeida Garret era o segundo filho
de António Bernardo da Silva Garrett (1740-1834),
selador-mor da Alfândega do Porto, e de Ana Augusta de Almeida Leitão
(1770-1841). Teve três irmãos e uma irmã.
Quando criança, o poeta viveu na Quinta
do Sardão, em Oliveira do Douro (Vila Nova de Gaia). Essa propriedade pertencia
ao avô materno de Almeida Garret. Sobre sua infância disse o escritor:
"Nasci no Porto, mas criei-me em (Vila Nova de) Gaia". Na ocasião da
invasão napoleônica de Portugal, o poeta foi morar na Ilha Terceira dos Açores,
tendo orientações de seu tio paterno D.Frei Alexandre da Sagrada Família da
Silva Garret, o Bispo de Angra, que desejava que Almeida Garret fosse seguir a
carreira eclesiástica.
Em 1816 o poeta saiu dos Açores, foi
para Coimbra e ingressou na faculdade de Direito. Lá foi um dos organizadores
de uma uma loja maçônica, que será frequentada por alunos da Universidade. Em
1818 escolheu ser chamado definitivamente como Almeida Garrett (Almeida pelo
lado da avó materna, e Garrett pelo lado da avó paterna, nascida em Madrid em
1710). Ele foi processado em 1821 por ter publicado O Retrato
de Vénus . Por causa dessa obra ele foi
considerado materialista, ateu e imoral. Mas o poeta foi absolvido.
Participou da Revolução Liberal de 1820. Como dirigente estudantil e
orador defendeu vigorosamente o chamado vintismo, tendo escrito um
hino patriótico, recitado no Teatro de
São João. Em 1821, funda a Sociedade dos Jardineiros.
Durante o Cerco do Porto, Garret se
colocou junto aos liberais, sendo voluntário do Batalhão Acadêmico. Foi para o
exílio na Inglaterra após a Vila-francada (golpe político-militar contra os
liberais). Antes de viajar à Inglaterra tinha ele casado com Luísa Midosi, que
tinha 14 anos. Nesse país, Garret conheceu o movimento romântico inglês,
visitou castelos medievais e ruínas de igrejas góticas, além de ter também se
inteirado de obras de Shakespeare, Walter Scott e outros autores. Essas novas
experiências em solo inglês influenciaram em obras futuras.
Em 1824 Garret foi
para a região do Havre, na França. Depois foi para
Paris. Escreveu em 1825 “Camões” e em 1826 “Dona Branca”.
Foram os poemas conhecidos como as primeiras obras da literatura romântica em
Portugal. Em 1826 junto com outros portugueses que tinham emigrado, Garret
voltou a Portugal. Passou a trabalhar com jornalismo e fundou o jornal
diário O Português, que durou de 1826 a 1827. E em 1827 fundou o
jornal semanário O Cronista. Colaborou com as revistas Revista
Universal Lisbonense com a Semana de Lisboa .
Por motivos políticos Garret foi para a Inglaterra em 1828, pois o rei Miguel,
de tendências absolutistas, voltou a Portugal. Nesse ano a filha recém-nascida
de Garret morre. Ele publica Adozinda, na Inglaterra.
Em 1832, estava nos
Açores onde se integra à expedição comandada por D. Pedro IV (o Dom Pedro I do
Brasil). Nos Açores transfere-se para o corpo académico. No mesmo ano, ao lado
de intelectuais como Alexandre Herculano e Joaquim Antônio de Aguiar, fez parte
do Desembarque do Mindelo (1832) e do Cerco do Porto (1833). Em 2 de Novembro
de 1833 é nomeado vogal-secretário da Comissão de reforma geral dos
estudos. Foi nomeado consul-geral e encarregado de negócios em
Bruxelas. Envolveu-se com o movimento chamado Setembrismo. Esteve no meio das
discussões políticas dos anos de 1837 e 1838 que levaram à aprovação da
Constituição de 1838, e na renovação do teatro nacional. Foi nomeado em 20 de
Dezembro cronista-mor do Reino, organizando logo no princípio de 1839 um curso
de leituras públicas de História. Passa para a oposição em julho de 1841 depois
de ter atacado a política do ministro Antônio José d'Ávila, ações que levam à
sua demissão de todos os cargos públicos. Fez oposição em 1842 à Carta
proclamada no Porto por Costa Cabral. Foi eleito deputado nas eleições para a
nova Câmara dos Deputados. Em 1843 começou a publicar, na Revista Universal
Lisbonense, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a
viagem ao vale de Santarém.
Com a ocorrência da
revolução da Maria da Fonte e da Guerra Civil da Patuleia, Garret tem de se
esconder por seu apoio aos revoltosos. Com o regresso do governante Costa
Cabral ao poder, o poeta tem de se afastar da vida política parlamentar até
1852.
Em 1851 Garret funda
o jornal Regeneração. Leu outros autores de
destaque como Schiller, Goethe e Herder. Tornou-se um dos maiores oradores
portugueses. Em 1850 subscreveu com outros intelectuais portugueses
um protesto contra a “lei das rolhas”, que tratava da liberdade de expressão,
com restrições à imprensa. Com as mudanças políticas que acontecem em Portugal,
Garret é nomeado sucessivamente para a redação das instruções ao projeto da lei
eleitoral, como plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé, para a
comissão de reforma da Academia das Ciências, vogal na comissão das bases da
lei eleitoral, e na comissão de reorganização dos serviços públicos e outras
funções de destaque. Em 25 de junho de 1851 Almeida Garret recebe o título de
Visconde de Almeida Garrett.
Garret
era considerado um tipo de “dândi”, vestindo-se com elegância e frequentando
salões das altas rodas sociais. Teve relacionamento amorosos diversos. Um de
seus amores foi sua primeira esposa com quem se casou em 11 de Novembro de
1822. Não foi um casamento feliz. Eles se separaram em 1836. Ele passou a viver
com Adelaide Deville Pastor de 17 anos até 1841, quando ela faleceu por
complicações no parto. O casal teve três filhos. O
primeiro morreu com um ano. O segundo com meses de idade e uma filha que viveu
mais de 50 anos.
Teve um caso amoroso
com Rosa de Montúfar y García-Infante, da nobreza espanhola, esposa de Joaquim
António Velez Barreiros, 1º Barão e 1º Visconde de Nossa Senhora da Luz e que
foi Ministro e Governador de Cabo Verde.
Em 9 de dezembro de
1854 Almeida Garret morre em Lisboa, vitimado por um câncer de fígado. Foi sepultado
no Cemitério dos Prazeres e em 3 de Maio de 1903 seus restos mortais
foram transladados para o Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. Posteriormente, em
dezembro de 1966, houve o translado para o Panteão Nacional da Igreja de Santa
Engrácia.
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“Não: plantai
batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis
caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais
depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como
tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos.
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste
mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de
tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de
homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já
calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho
desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à
desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam
no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia
andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos
que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e
fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o
que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.”
(Almeida Garret).
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Segundo
a Professora licenciada em Letras Daniela Diana:
“Almeida Garrett foi um escritor e
dramaturgo português, um dos maiores representantes do romantismo.
Ademais, é considerado o introdutor do
romantismo no país e um dos maiores gênios da literatura de língua portuguesa.
Nomeado 1º Visconde de Almeida Garrett,
(título concedido por D. Pedro V em 25 de Junho de 1854), Almeida Garrett foi o
refundador do teatro português.
Auxiliou na concepção das ideias para a
construção do Teatro Nacional de D. Maria II, na época Teatro Normal, assim
como na fundação do Conservatório de Arte Dramática.
Além disso, teve intensa atuação
política, lutando contra o absolutismo, sendo deputado, orador, cronista-mor,
par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.”
Segundo a Biblioteconomista
e professora Dilva Frazão:
“(...) Em 1816, Almeida Garrett deixou a família e retornou para o
continente. Ingressou no curso de Direito na Universidade de Coimbra e
entrou em contato com as ideias liberais.
Jovem, com aspirações políticas, Almeida Garrett se envolveu ativamente
na Revolução Liberal do Porto de 1820, que exigia o estabelecimento de uma
monarquia constitucional em Portugal.
Em 1821 concluiu a Licenciatura e estabeleceu-se em Lisboa onde
ingressou no Ministério do Interior e pouco depois passou a dirigir o serviço
de instrução pública.
Em 1823, com a volta do absolutismo, na contra revolta liderada por D.
Miguel, Garrett teve que deixar Portugal e exilou-se na Inglaterra. Foi no
exílio que entrou em contato com a literatura romântica de Lord Byron e Valter
Scott.
Em 1824, por questões de necessidade financeira, partiu para a França
onde trabalhou como correspondente comercial em Havre.
Em 1826, Garrett foi anistiado e retornou para Portugal. Dedicou-se ao
jornalismo e fundou o diário “O Português” e o semanário “O Cronista”.
Em 1828 retornou para a Inglaterra, devido ao restabelecimento do regime
absolutista por D. Miguel. Só conseguiu apoio para seu regresso após o
liberalismo sair vitorioso com a Guerra Civil Portuguesa de 1832.
Carreira literária
A obra de Almeida Garrett costuma ser dividida em três fases:
A primeira fase teve início em 1816, quando Garrett escreveu seus
primeiros poemas, com características do “Arcadismo”, devido à formação
neoclássica por ele recebeu. Mais tarde, esses poemas foram reunidos na obra
intitulada “Lírica de João Mínimo”.
Em 1821, Garrett publicou o poema “Retrato de Vênus”, um ensaio
sobre a história da pintura. Seu conteúdo foi considerado uma ameaça à moral e,
por isso, ele respondeu a um processo judicial.
Retrato de Vênus
Vénus, Vénus gentil!
– Mais doce, e meigo
Soa este nome, Ó Natureza augusta.
Amores, graças, revoai-lhe em torno,
Cingi-lhe a zona, que enfeitiça os olhos;
Que inflama os corações, que as almas rende.
Vem, ó Cipria formosa, oh! Vem do Olimpo,
Vem com mago sorriso, com terno beijo,
Fazer-me vate, endeusar-me a lira. (...)
A segunda fase da obra de Garrett mostrou sua tendência romântica
inspirada no Romantismo inglês e enraizada em seu espírito nacionalista e pela
valorização da pureza da língua portuguesa.
Influenciado pela obra de Shakespeare, escreveu o poema Camões.
Publicado em 1825, foi considerado o marco inicial do “Romantismo em Portugal”,
cujo tema é a vida do poeta Luís Vaz de Camões e a composição de seu poema
épico Os Lusíadas.
Movido pela saudade de sua pátria, Garrett publicou também os poemas:
"D. Branca" (1826) e "A Conquista do Algarve" (1826).
A terceira fase da obra de Garrett apresentou-se essencialmente
romântica, quando deixou excelentes poemas lírico-amorosos, entre eles
destaca-se:
Este Inferno de Amar
Este Inferno de Amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
Essa chama que alenta e consome.
Que é a vida – e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me
lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! Despertar? (...)
Teatro Romântico
Almeida Garrett foi também o iniciador do teatro romântico português,
despertando, através dele, o sentimento de patriotismo e o gosto pelos momentos
marcantes da história nacional.
A partir de 1838, desenvolveu uma campanha a favor da edificação do Teatro
Nacional D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
Almeida Garrett escreveu peças neoclássicas, como “Catão” (1822) e
românticas, como “Um Auto de Gil Vicente” (1842), “O Alfageme de Santarém”
(1842), “Frei Luís de Souza” (uma tragédia, obra prima da dramaturgia romântica
portuguesa, 1844) e “D. Filipa de Vilhena” (1846).
Viagens na Minha Terra
Almeida Garrett elevou o gênero literário da prosa através da narrativa
de viagens, escrevendo prosas de ficção, entre elas: “O Arco de Santana”
(romance histórico 1845-1850), e “Viagens na Minha Terra” (1843-1846).
Viagem na Minha Terra é uma obra-prima, mesclada de meditações
filosóficas. Fundamentada em uma viagem que realizou a Santarém, em 1843. O
autor relata, no estilo dissertativo, a narrativa do percurso, entremeado de
comentários a respeito de tudo que observa.
Os episódios revelam os aspectos românticos através das concepções
filosóficas e literárias, como verdadeiro registro da excursão realizada.
Folhas Caídas
Folhas Caídas (1853) foi a última das obras líricas de Garrett e a
melhor de suas composições amorosas. São poesias inspiradas na paixão tardia
por Maria Rosa, esposa do Visconde da Luz. Nelas, o autor retrata os aspectos
verídicos do amor que partem dos desejos sensuais para concretizar-se através
dos sentimentos, como na poesia “Quando Eu Sonhava”.
Quando Eu Sonhava
Quando eu sonhava,
era assim
Que nos meus sonhos a via,
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia,
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para que? – Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava – mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia...”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+almeida+garrett&sxsrf=AJOqlzXve-8WZ9In5IOZNZRM-keqyGdNLw%3A1675655214133&source=hp&ei=LnjgY
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